Olimpíadas 2012: Superação

O reboot de Blade Runner ao vivo no Estádio Olímpico





Por Cassio Zirpoli

Então, o que dizer de Oscar Pistorius? Com apenas onze meses foi submetido a uma cirurgia. Em 1987, o sul-africano teve as duas pernas amputadas na altura dos joelhos.
Havia nascido em Johannesburgo com uma alteração ortopédica raríssima, chamada de hemimelia fibular. Costuma ocorrer uma vez em cada 40 mil nascimentos.
Cresceu, estudou, tornou-se atleta. Com próteses produzidas com fibra de carbono, passou a correr, e muito. Quis competir nos 400 metros rasos na Olimpíada de Beijing, em 2008, mas o pleito foi rejeitado pelo Comitê Olímpico Internacional.
Acredite, o órgão alegou que as próteses poderiam resultar em uma vantagem, devido ao peso. Foi à justiça e ganhou a causa no Tribunal de Arbitragem Desportiva (TAD). Só não conseguiu a marca mínima para a competição. Medalha de ouro nas Paraolimpíadas.
Esperou e perseverou, como tudo em sua vida. Alcançou a marca para 2012. Neste sábado, estreou na disputa, numa cena desde já antalógica, daquelas de cinema.
Inspirada em uma ficção como Blade Runner. Não por acaso, este é o seu apelido…


O "fantasma" da alienação, ou, porque não assisto à globo!


O Fantasma que ronda o Fantástico




Por  Flávio Ricco

O “Fantástico” sempre se apresentou como a revista eletrônica mais importante da televisão brasileira e efetivamente soube se impor como tal, graças ao trabalho competente das várias gerações que ocuparam o posto de comando, a partir da sua criação, em agosto de 1973, pelo Boni e Armando Nogueira.

Ficaram famosas, desde o começo, as calorosas reuniões das segundas-feiras, quando um grupo de notáveis da TV Globo – Vanucci, Boscoli, Miele, José-Itamar de Freitas, o próprio Armando, Alice Maria, Magaldi, Carlito Maia, Borjalo, Travesso, além de outros, analisava criteriosamente o seu conteúdo - o resultado do que foi ao ar no dia anterior e discutia – e bota discussão nisso, entre tantas sugestões, o que seria escolhido para o próximo.

Uma pena que o tempo não volta nem ao menos para tirar certas dúvidas. Seria interessante hoje ouvir dessas pessoas o que acharam da matéria dos fantasmas e do tempo dedicado a ela na última edição. Ou de um quadro de culinária insistentemente apresentado já há algumas semanas no programa.

Num Brasil como o de agora, percebe-se que o “Fantástico” tem, às vezes, procurado se alienar de temas mais profundos e se aproximado de uma perigosa aliança com a superficialidade. Tentar explicar que fantasma não existe, realmente é para deixar a todos preocupados.


Postado no blog DoLadoDeLá em 07/08/2012


Porto Alegre - A prefeitura da Coca-Cola



Por Erick da Silva


A imagem acima, do prédio da Prefeitura de Porto Alegre, simboliza bem a relação da prefeitura com as empresas privadas. A apropriação dos espaços públicos pela iniciativa privada tem perigosamente se disseminado na cidade. Primeiramente com o prefeito Fogaça (PMDB) e agora com Fortunati (PDT), tem se adotado uma política de "parceria" com a iniciativa privada junto aos espaços públicos da cidade, cujos critérios e objetivos destas parcerias são no mínimo questionáveis e mostram uma incapacidade da própria prefeitura em manter os espaços públicos para a população.


O direito da população a sua cidade se enfraquece, na medida que marcas privadas passam a se apropriar dos espaços públicos, a lógica de mercantilização da cidade passa a prevalecer. A população fica ainda mais apartada dos rumos da cidade, o espaço público, como uma praça, logradouro ou o próprio prédio da prefeitura, tendo sua vinculação a Coca-Cola, por exemplo, passa a imagem de que aquele espaço, que outrora era da população, agora está vinculado aquela marca. 

A história daquele espaço, sua vinculação com seu povo, passa a ser secundário, é a marca da empresa que passa a prevalecer. O caráter público torna-se difuso e a noção de pertencimento e de uso daquele espaço público pela sua população se altera para uma relação de maior distanciamento.

O "direito à cidade", em Porto Alegre nunca esteve tão ameaçado. Como aponta David Harvey, o "'direito à cidade' não é simplesmente um direito de acesso ao que existe. É um direito de participar da construção e da reconstrução do tecido urbano, de formas mais condizentes com as necessidades da massa da população." É estabelecer uma dinâmica democrática sobre a própria concepção de cidade, o que não ocorre em Porto Alegre. 

A gestão dos espaços públicos tem perdido o seu caráter "público". Deixamos de ter uma relação entre a prefeitura e seus cidadão, o que temos é uma relação entre empresas e clientes e todos sabemos que está é uma relação onde o conjunto da população sempre acaba perdendo.

Postado no blog Aldeia Gaulesa em 03/08/2012 


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O julgamento do mensalão em Palomas



Palomas está vivendo um grande alvoroço. Na linguagem local, o lugar anda “alvorotado”. Tudo por causa do julgamento do mensalão palomense, também conhecido por bolsalão de garupa. Palomas, a exemplo da Coreia, é dividida em duas partes, a República Popular de Palomas, ao norte, e o Principado de Palomas, ao sul. Mas, no momento, Palomas encontra-se unificada.
O julgamento do bolsalão tem produzido cenas incríveis. Por exemplo, dois juízes dormindo, enrolados nas suas capas pretas, durante os pronunciamentos dos advogados de defesa. Um deles, entre um ronco e outro, teria exclamado:
– Que falta que me fez um bom pelego!
O Procurador-Geral da República, conhecido por Pachola e Garganta, teve cinco horas para a acusação. Detonou o mundo. Disse que o bolsalão foi a maior sacanagem já montada em Palomas para meter a mão na guaiaca do contribuinte e forrar o poncho de políticos larápios. Garantiu que não foi apenas caixa dois, mas formação de quadrilha. Em bom palomês, afirmou:
– Essa turma formou uma mazorca. Tenho provas robustas contra todos, especialmente contra o mandante, o chefe da mazorca, o intelectual, o mentor, aquele que organizou a sacanagem, o pai de tudo e de todos, o Zé.
Diante da curiosidade dos juízes, todos ainda acordados, o procurador foi preciso:
– É claro que o Zé não deixou rastros, pois esse tipo de coisas se faz entre quatro paredes.
Candoca, sempre sagaz, tirou loga a sua conclusão:
– Ah, é então é como fazer filho!
– Que tem filho com isso, Candoca? – exasperou-se Guma.
– Ora, se fez entre quatro paredes.
– Nem sempre.
– Como assim?
– Tu, por exemplo, foste feito atrás do galpão.
Há duas correntes em Palomas: os que querem condenar com provas e os que querem condenar mesmo sem provas. João da Égua é antigovernista de dar coice em estrela. Não perde ocasião para tirotear o estrelismo, que sempre chama de corrupto:
– Nunca vi tanto ladrão junto. Nem em jogo de truco no bolicho do Adão.
– Então, João, você quer que sejam punidos por corrupção.
– E pelo resto também.
– Que resto?
– O mala-família, essa pouca-vergonha de dar dinheiro para vagabundo, as cotas, essa safazeda de dar vaga em universidade para preguiçoso, dinheiro na cueca, cabide de empregos, comissão da verdade, revanchismo, comunismo e todas essas políticas que só se servem para comprar eleitor e formar uma mangueira eleitoral do tamanho de uma invernada grande.
Mangueira é curral em Palomas.
Chico da Vaca é governista de quatro costados. Para ele o julgamento é puramente ideológico.
– Estão querendo nos condenar pelas nossas qualidades, não por nossos defeitos.
– É qualidade roubar? – enfurece-se João da Égua.
– Não foi roubo, Chico, foi caixa dois.
– Não é ilegal?
– Ilegalzinho no mas. Só isso. Vocês não fizeram o mesmo?
– Mas vocês não eram diferentes, não viviam metendo o dedo nas fuças dos outros, bancando as virgens?
– Então é isso, vingança?
– Vingança, não. Julgamento técnico.
– Técnico? Por que não julgaram primeiro o bolsalão das minas, o pai de todos?
– Pai de todo, não, o fura-bolo.
É um debate de alto nível. Marcolina, do alto dos seus 102 anos, pondera:
– É o roto falando do descosido.
Guma, o oráculo de Palomas, que se prevê o previsível, já apresentou o seu veredicto:
– A corte vai condenar ou absolver. Não dá outra. O Zé não escapa.
– Vai ser condenado? – exulta João.
– Ou absolvido.
– Mas como?
– Esse julgamento será um exemplo.
– Um bom exemplo?
– Ou mau.
– Bueno, tchê, explica isso melhor. Depende de quê?
– Do sono dos ministros.

Postado no blog Juremir Machado da Silva em 07/08/2012
Imagem inserida por mim

Ministros do Supremo envergonham o Brasil





Mostrar o elefante






Há várias maneiras de esconder um elefante. Uma delas é apresentando suas partes em separado. Em um dia, aparece a pata. No dia seguinte, você mostra a tromba. Passa um tempo e vem a cauda. No fim, não se mostra o elefante, mas uma sequência de partes desconectadas.

Desde o início, o mensalão foi apresentado pela grande maioria dos veículos da imprensa nacional dessa maneira. Vários se deleitaram em mostrá-lo como um caso de corrupção que deixaria evidente a maneira com que o PT, até então paladino da ética, havia assegurado maioria parlamentar na base da compra de votos e da corrupção. No entanto o mensalão era muito mais do que isso.

Na verdade, ele mostrava como a democracia brasileira só funcionava com uma grande parte de seus processos ocultados pelas sombras. O jogo ilícito de financiamento de campanha e de uso das benesses do Estado deixava evidente como nossa democracia caminhava para ser uma plutocracia, independentemente dos partidos no poder.

Como a Folha mostrou em uma entrevista antológica, o então presidente do maior partido da oposição, o senador Eduardo Azeredo, havia sido um dos idealizadores desse esquema, que, como ele mesmo afirmou, não foi usado apenas para sua campanha estadual, mas para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu partido.

Não por acaso, o operador chave do esquema, o publicitário Marcos Valério, já tinha várias contas de publicidade no governo FHC. Ninguém acredita que foi graças à sua competência profissional.

Ou seja, a partir do mensalão, ficou claro como o Brasil era um país no qual a característica fundamental dos escândalos de corrupção é envolver todos os grandes partidos.

Mas, em vez de essa situação nos mobilizar para exigir mudanças estruturais na política brasileira (como financiamento público de campanha, reformas que permitissem ao partido vencedor constituir mais facilmente maiorias no Congresso, proibição de contratos do Estado com agências de publicidade etc.), ela serve atualmente apenas para simpatizantes de um partido jogar nas costas do outro a conta do "maior caso de corrupção do pais".

No entanto essa conta deve ser paga por mais gente do que os réus arrolados no caso do mensalão. O STF teria feito um serviço ao Brasil se colocasse os acusados do PT e do PSDB na mesma barra do tribunal. Que fossem todos juntos!

Desta forma, o povo brasileiro poderia ver o elefante inteiro. Com o elefante, o verdadeiro problema apareceria e a indignação com a corrupção, enfim, teria alguma utilidade concreta.