O capitalismo zumbi





Por Fábio Valentim

Ao ler o titulo deste texto, você pergunta do porque chamar de Capitalismo Zumbi, já que poderemos chamar de Capitalismo Selvagem. Se olhar atentamente aos olhos da sociedade você verá que o dinheiro, que é o principal motor do sistema capitalista, está se tornando fonte de muitos problemas sociais do mundo todo. Vemos a humanidade em pânico, onde as pessoas cada vez mais perdem a razão de ser e de viver. Honra, respeito, dignidade, honestidade e amor, estão cada vez mais sendo deixado de lado, e vemos que os seres humanos não estão evoluindo como podem, mas estão regredindo de tal forma que facilmente seriam comparados aos zumbis, que estão sempre insaciáveis, sempre com desejo de comer o outro, como verdadeiros bichos da selva, fazendo com que uns lutam contra os outros, tudo em prol do dinheiro. As pessoas pensam cada vez menos e desejam cada vez mais em consumir. Mas a culpa disso tudo é mesmo do sistema capitalista?

Em primeiro lugar, vamos ao estudo do capitalismo. O capitalismo é o sistema econômico, que objetiva a propriedade privada e o lucro. Isso faz com que o governo deixe assumir o papel de controle de distribuição de renda, e distribuição de posses e propriedades, mas vale lembrar que a maioria das negociações, são de propriedade privada, e além disso, tornou a economia institucionalizada. Entretanto, ao olharmos o sistema, na teoria, vemos que é maravilhoso, mas na prática, o sistema capitalista não é um sistema perfeito. O mesmo capitalismo, que gerou o mercado consumidor, que gerou o liberalismo econômico, ainda não favoreceu a queda da desigualdade social. Ainda vemos práticas usadas, desde a antiguidade, em que os burgueses possuem privilégios. Isso sem falar que esse sistema que deturpa o capitalismo teórico, como forma de obter ainda mais os privilégios sobre os outros, estimula a fome e a miséria sobre todo o mundo.

Se pensarmos bem, o sistema capitalista não mudou muito, tanto no Império Romano, tanto no sistema feudal, tanto no mercantilismo e principalmente no capitalismo. A tendência é sempre os ricos ficarem mais ricos e os pobres ficarem mais pobres. Poderemos pensar que a culpa de toda miséria, se dá pelo próprio capitalismo. Sim, é verdade, mas ele não foi projetado para funcionar dessa forma, pois o mesmo sistema descrito nos livros, nem sempre irá atender às necessidades dos gananciosos que insistem em explorar e lucrar sobre a miséria. Isso não é problema exclusivo dos dias atuais. Livros antigos, como a Bíblia (Lucas 16, 19-31; Marcos 10, 17-31 e Lucas 19, 1-10), já relatam e denunciam essas práticas comuns. E como tenho dito em outro texto, o problema da fome e a miséria no mundo, não é a falta de comida no mundo, mas a forma de como ela foi distribuída. Muitos milionários não seriam nada, se não fossem lucrar sobre a miséria, seja direta ou indiretamente.

Eu diria que o capitalismo que existe na prática, o chamado acúmulo de capital, o lucro sobre a miséria, é o chamado Capitalismo Zumbi. Mas por que zumbi? Quem costuma assistir filmes de zumbis, sabe muito bem que são criaturas que outrora, foram seres humanos e se tornam criaturas irracionais sedentas de vísceras de outros seres humanos (normalmente são cérebros). OCapitalismo Zumbi, como eu chamo (muitos chamam também deCapitalismo Selvagem, mas a lógica é a mesma) e como realmente impera nos nossas vidas. As pessoas, para poderem ter mais e mais, exploram de forma irracional as outras pessoas, fazem de tudo para prejudicá-las, fazem de tudo para pisar uns aos outros.

Isso sem falar do estímulo ao consumo, estímulo a comprar coisas que na maioria das vezes são supérfluas, que realmente nem precisamos. O Capitalismo Zumbi faz com que as pessoas, mesmo que não tenham condições de comprar, a comprem assim mesmo, justamente para satisfazer o ego temporário. É o que chamamos de modismos, onde as pessoas compram certas mercadorias, para se sentirem importante, para mais tarde, essas mesmas coisas não terem o valor nenhum. Como pode ver, é muito comum as pessoas comprarem um celular de tal marca, para pode estarem de acordo com a moda, para mais tarde, esses objetos não terem nenhum valor. E assim vai sucessivamente, uma onda após outra, onde as pessoas compram desnecessariamente, coisas que em nada acrescentam.

Isso pode fazer com que as pessoas se endividem cada vez mais e mais e se as pessoas não se controlarem e se deixarem levar cada vez mais pelo consumo, ao invés de ter disciplina e pouparem isso se tornarão fontes de muitos problemas, levando a uma situação bastante caótica na vida dessas pessoas. Problemas que levam a usar meios nada legais, como agiotas, e ainda praticam crimes, para satisfazerem seus anseios e vontades. O incentivo ao consumo é bom, por movimentar a economia, mas a que custo? Qual seria o limite para combater a obsolescência programada, vendas casadas, sem falar que os consumidores, ou seja a massa está sendo manipulada o tempo todo, para consumir ainda mais.

A zumbificação humana atinge até mesmo setores que nem deveriam fazer parte de sistema capitalista mas fazem. É o que chamamos de igrejas, ONGs, entre outros. Todos querem lucrar com a miséria e o pior, mostram para os miseráveis de que a mesma miséria é boa é saudável. Pessoas comercializam a fé, a confiança algo maior. É o que chamamos de Teologia da Prosperidade, ou seja o capitalismo religioso, onde as pessoas dão todos os seus recursos para poder ter uma bênção divina, tratando Deus como se fosse comerciário, um agiota, que cobra daqueles que não fazem nenhuma contribuição do crescimento (financeiro) da entidade. Falam que é em nome de força maior, mas na verdade, é em nome do lucro e do capital.

Como pode ver, meus amigos. O Capitalismo Zumbi torna todos zumbis, desde as classes mais altas e elevadas, até mesmo os mais miseráveis, que já vivem como zumbis. Mas vale lembrar que a ganância gera miséria, e a miséria poderia ser combatida, se não fosse por essa tamanha ganância, onde as pessoas olham como se fossem a última coisa do mundo. A sociedade capitalista colocou o ter acima do ser e isso, com certeza, acima da dignidade humana, da honra, do respeito e do amor. Para quem esperava pelo apocalipse zumbi, eis a seguinte prova: a selvageria capitalista está cada vez mais forte, mais devastadora e a humanidade pode se extinguir, não precisando de fatores externos como meteoros, cometas, ou toques de trombetas angelicais, mas pela selvageria do homem, que regride e se torna um grande zumbi. 

Postado no blog Baú do Valentim em 25/07/2012

Comentário racista no Twitter tira atleta das Olimpíadas


Triplista grega é expulsa da delegação em Londres por comentário racista

racismo twitter grécia
A atleta do salto triplo Voula Papachristou, da Grécia, foi expulsa da delegação de seu país, que estava em Londres, por um comentário racista feito através de sua conta pessoal no Twitter (Foto: AP)
A Carta Olímpica, um documento que serve como base para a organização dos Jogos Olímpicos desde seu início, traz sete princípios fundamentais em sua abertura. Cinco deles falam de “bom exemplos”, “princípios éticos”, “desenvolvimento harmonioso da humanidade”, “união de atletas de todo o mundo”, incompatibilidade entre qualquer tipo de discriminação e o movimento olímpico, e da criação de um espírito olímpico que requer “entendimento mútuo com espírito de amizade, solidariedade e jogo limpo”. Com um único tweet, Voula Papachristou, atleta do salto triplo da Grécia, conseguiu violar todos eles ao mesmo tempo. E foi expulsa dos Jogos Olímpicos de Londres.
A expulsão de Papachristou, de 23 anos, foi confirmada nesta quarta-feira 25 pelo Comitê Olímpico Grego. A decisão foi tomada depois da repercussão negativa gerada por uma “piada” feita por ela na internet. Na segunda-feira 23, Papachristou comentou em sua conta no Twitter o Vírus do Oeste do Nilo, uma doença originária da África transmitida por mosquitos, que matou uma pessoa na Grécia neste ano e infectou outras quase 200. Papachristou saiu com essa: “Com tantos africanos na Grécia… pelo menos os mosquitos do Vírus do Oeste vão poder comer comida feita em casa”.
A reação ao comentário racista foi imediata e intensa, a ponto de fazer com que a Esquerda Democrática, partido integrante do atual governo de coalizão grego, se manifestasse. Em comunicado, a sigla pediu a expulsão de Papachristou e afirmou que “piadas” deste tipo “não são toleradas pela sociedade grega”. Nesta quarta, o Comitê Olímpico Grego desprezou os inúmeros pedidos de desculpas de Papachristou e confirmou sua expulsão.
O tema do racismo no esporte parece não ter fim. Durante a Eurocopa, disputada em junho, o assunto foi debatido longamente por conta das constantes manifestações racistas na Polônia e na Ucrânia, sedes da competição. Um analista polonês tentou explicar o comportamento de parte de seus compatriotas dizendo que a falta de educação para o convívio com os “diferentes” era tão comum na na Polônia que muitas pessoas poderiam chamar um negro de “macaco” sem querer ofender. A análise não era uma tentativa de justificar o racismo, mas sim de explicar as origens daquele comportamento. A tese não serve para explicar atos explícitos de racismo como os verificados na Polônia e na Ucrânia e em muitos outros países durantes jogos de futebol. Ela ajuda a entender, porém, como um jornal italiano compara um atleta italiano negro com o King Kong e acha tal coisa normal. Basicamente, esta explicação diz que parte dos atos racistas são, na verdade, ocasionados por uma quase inimputabilidade de quem o pratica. Este tipo de racismo seria originado pela obtusidade de indivíduos e pela incapacidade de certas sociedades de contornar esta situação.
O caso de Papachristou é diferente. Um atleta não tem o direito de ser obtuso. Não tem justamente porque o atleta, queira ele ou não, serve como representante de um país e exemplo para a sociedade. Como atleta profissional, Papachristou tem a oportunidade de conviver com gente de todo o mundo, de todas as cores e credo, o que, ao menos na teoria, ajudaria a tornar seu pensamento menos obtuso e, portanto, menos racista. Com seu tweet, mostrou que mesmo convivendo num ambiente mais plural, não conseguiu escapar do racismo. Ao fazer uma “piada” com os africanos vivendo na Grécia, Papachristou desperdiça a possibilidade de que os Jogos Olímpicos sejam usados para criar um mundo mais harmonioso e ajuda a estimular a intolerância com a qual esses imigrantes são recebidos.
Mais que isso, Papachristou exemplifica a incapacidade dos seres humanos de conviver com os “diferentes”. Em 1936, o corredor negro Jesse Owens humilhou Adolf Hitler nos Jogos Olímpicos de Berlim ao conquistar quatro medalhas de ouro numa competição organizada para mostrar “a supremacia ariana”. Isso ocorreu há quase 76 anos, mas o tempo não fez efeito, e o racismo continua em voga.
Postado no blog Pragmatismo Político em 25/07/2012

A saga dos lacerdinhas e o fim do monopólio do rótulo




Por Juremir Machado da Silva
Durante muito anos, ouvindo rádio, vendo televisão e lendo jornais, eu me espantava com uma unanimidade: todos os dias os mesmos rotulavam as mesmas pessoas.
Todos os dias os mesmos rotulavam pomposamente seus oponentes de:
- Radicais
– Xiitas
– Fundamentalistas
– Ecochatos
– Malas
– Ignorantes
– Retrógrados
– Intransigentes
– Fanáticos
– Raivosos
– Obcecados ideológicos
Faziam isso em vários registros: ataques diretos, tom de ironia, pretenso humor, etc.
Tinham o monopólio do insulto, da rotulação, da etiquetagem. Só eles falavam. Era tanta convicção que não parecia haver espaço para a dúvida ou para o questionamento. Quem ia ver de muito perto o que estava acontecendo, claro, descobria o óbvio:
– Radicais, xiitas, fundamentalistas, malas, ecochatos, ignorantes, retrógrados, intransigentes, raivosos, fanáticos e obcecados ideológicos era todos os que atrapalhavam os interesses daqueles que tinham o monopólio do rótulo na mídia amiga.
Curiosamente quase todos os rótulos aplicados por eles cabiam-lhes perfeitamente. Os lacerdinhas podem ser definidos, caracterizados e explicados aos marcianos como:
– Radicais
– Xiitas
– Fundamentalistas
– Agrochatos
– Malas
– Ignorantes
– Retrógrados
– Intransigentes
– Raivosos
– Fanáticos
– Obcecados ideológicos
Há uma diferença: um lacerdinha é fanático, um obcecado ideológico que se acha neutro, acima das ideologias, objetivo, imparcial, detentor da verdadeira verdade.
Cansei de ver pessoas de diferentes partidos, marxistas ou não, sendo rotulados com a maioria das etiquetas aqui apresentadas como sendo meras constatações.
– Leonel Brizola era radical
– Maria do Rosário era fanática, raivosa, intransigente, etc.
– Luciana Genro idem
– Henrique Fontana também
– Heloísa Helena nem se fala.
Toda a esquerda era fundamentalista, fanática, ideológica, intransigente, etc.
Que estranho, que curioso: Paulo Maluf nunca recebia esses rótulos. Podia ser chamado de ladrão, mas de fanático e obcecado ideológico, pelos rotuladores da mídia, não.
Aprendi que todos os fanáticos e radicais eram bem menos fanáticos e radicais que seus rotuladores, que chegavam, e chegam, a babar de raiva e fanatismo quando os rotulam.
Nos últimos anos, depois da morte do fanático principal da mídia fashion, Paulo Francis, que herdara a verve inescrupulosa de Carlos Lacerda, surgiu uma penca de lacerdas com menos brilho, mas com muita baba ideológica: Olavo de Carvalho, o autodenominado filósofo Pondé, Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Ali Kamel, Demétrio Magnoli e outros lacerdões, campões de mediocridade obscena, que são os ídolos de lacerdinhas regionais e de lacerdinhas sem mídia, numa cadeia ideológica disseminada.
Falo tudo isso pelo seguinte: muitos lacerdinhas estão ofendidos. Não aceitam ser rotulados. Acham que rotulá-los é desqualificação inaceitável, agressiva e injusta.
Não admitem expressões como “cérebro de ervilha”.
Sentem-se saudades do tempo em que só eles podiam rotular.
Dez maneiras de identificar um lacerdinha:
1 – Um sujeito que, em nome da direita, diz que não há mais direita e esquerda, fazendo, em seguida, um discurso furioso, radical e fanático contra a esquerda que não existe.
2 – Um cara que, em defesa da sua ideologia, afirma que não existem mais ideologias e, na sequência, faz um discurso ideológico fanático contra o ideologismo de esquerda.
3 – Um sujeito que treme de fúria ideológica, chamando seus oponentes de burros, atrasados, imbecis, perigosos e radicais, em nome da neutralidade analítica.
4 – Um cara que, ao ouvir uma crítica a um ditador de direita, acha que haverá necessariamente a defesa de um ditador de esquerda.
5 – Uma figura que jamais criticou a Lei do Boi – cotas para filhos de fazendeiros em universidades públicas –, mas é contra cotas raciais e até sociais.
6 – Um tipo que defende a democracia, mas está disposto a apoiar ditaduras de direita se elas lhe trouxeram benefícios econômicos e silenciarem seus oponentes.
7 – Um “ponderado” analista, defensor do Estado mínimo, que exigirá um Estado máximo quando sua empresa estiver falindo ou precisando de um empréstimo a juros baixos.
8 – Um crítico ferrenho de políticas de compensação por falta de oportunidades equivalentes salvo quando, como produtor, exige compensações por se sentir sem condições equivalentes para competir, por exemplo, no mercado internacional.
9 – Um indivíduo que passa a vida classificando as pessoas em nós e eles, fanáticos e razoáveis, estúpidos e racionais, xiitas e ponderados, e, quando classificado de lacerdinha, faz longos discursos contra esse tipo de simplificação classificatória.
10 – O representante de grupos que sempre encontraram maneiras de obter benefícios a partir de casuísmos, leis de exceção, contingências mais ou menos justificadas, contextos sociais e históricos, mas que, quando seus oponentes se organizam para tirar-lhes privilégios ou reparar prejuízos históricos, transformam-se em defensores de princípios pretensamente racionais, abstratos e universais de concorrência.
Há outras maneiras de identificar um lacerdinha, mais práticas:
– Contra o golpismo de Chávez, mas a favor do golpe no Paraguai
– Contra cotas, aquecimento global, áreas de proteção permanente, pagamento de multas por destruição do meio ambiente, código florestal ambientalista, impostos sobre grandes fortunas, bolsa-família, Prouni e outras políticas ditas assistencialista.
– A favor de incentivos fiscais para empresas multinacionais.
– Contra comissão da verdade e qualquer investigação que possa deixar mal os torturadores do regime militar brasileiro implantado em 1964.
– Contra a corrupção, especialmente se envolver políticos de esquerda, sem a mesma verve quando se trata de alguma corrupto de direita.
– Sempre pronto a chamar de petista quem lhe pisar nos calcanhares.
– Estrategicamente convencido de que a corrupção no Brasil foi inventada pela esquerda.
– A favor da universidade pública para os melhores, desde que o sistema não se alterne e os melhores continuem sendo majoritariamente os filhos dos mais ricos e com melhores condições de preparação e de ganhar uma corrida pretensamente objetiva e neutra.
– A favor, quando se fala em cotas, de melhorar o nível do ensino básico e de ampliar as vagas para evitar políticas discriminatórias, esquecendo das tais melhorias assim que o assunto sai da pauta da mídia ou é superado por alguma final de campeonato.
– Defensor da ideia de que, na vida, é cada um por si, salvo se houver quebra de safra, redução nos lucros, crise econômica internacional ou qualquer prejuízo maior. Nesses casos, o Estado deixa de ser tentacular, abstrato e opressor para ser uma associação de pessoas em favor dos interesses da sociedade na sua totalidade.
Faça o teste: quem preencher 60% dessas características é um lacerdinha.
Teste definitivo: lacerdinha é todo cara que se ofende ao ser chamado de lacerdinha.
Juremir Machado da Silva é escritor gaúcho, historiador e sociólogo
Postado no blog Juremir Machado da Silva em 22/07/2012
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Obs.: O termo Lacerdinha vem de Carlos Lacerda (1914-1977) que foi um jornalista e político apoiado pelas elites da época. Inimigo político de Getúlio Vargas, Carlos Lacerda foi o grande coordenador da oposição à campanha de Getúlio à presidência em 1950, e durante todo o mandato constitucional do presidente, até agosto de 1954. Uniu-se a militares golpistas e aos partidos oposicionistas (principalmente a UDN) num esforço conjunto para derrubar o presidente Vargas, através de acusações que publicava em seu jornal, Tribuna da Imprensa.


A boa música brasileira













Mau jornalismo da Globo boicota Olimpíadas


Quanto de Olimpíada deve ter no noticiário da Globo?

Diferentemente do que ocorreu em edições anteriores, a Rede Globo não transmitirá os Jogos Olímpicos de Londres, evento exclusivo da Record na TV aberta e que só compartilhou com as emissoras fechadas SporTV, canal daGlobosatESPN BandSports a exibição da Olimpíada no país. 

Sem os direitos da competição, a pergunta que se faz é: quanto a Globo, maior TV do país e com audiência muito acima de qualquer outra, deve falar sobre Olimpíada em seus noticiários, os esportivos e também aqueles mais gerais? A meu ver, essa é uma decisão da TV Globo, que pode, sim, dar tratamento não tão especial, porém ignorar por completo os Jogos de Londres ou mesmo condená-los a um cantinho qualquer em seus programas é fazer mau jornalismo. Um erro.

Os telespectadores da Globo, bem como os do SBTBandeirantesTV Cultura,Rede TV!, entre outros canais da televisão aberta devem ser informados sobre o maior evento esportivo do mundo. Quem se propõe a levar a sério jornalismo em sua grande de programação tem a obrigação de falar de Olimpíada. É notícia. Das mais importantes. Não é opcional dar ou não informação sobre o que rola na Inglaterra. É compromisso com o telespectador. Só um canal que assumidamente não dê importância a jornalismo deixa de cobrir os Jogos de Londres.

Não serve nem a desculpa de que a Record cedeu poucos minutos em imagens oficiais da Olimpíada. Se não tem fartura de imagem, que use a criatividade, pegue outras de arquivo relacionadas à notícia ou mesmo à reportagem sobre o fato a ser relatado. Não há o que justifique a falta de compromisso com a notícia.

O que não pode é o apresentador do Globo Esporte, Tiago Leifert [foto], em participação no SPTV, justificar que terça-feira é um dia com poucas notícias e optar por extensa reportagem sobre torneio de sumô em lugar de matérias sobre as seleções olímpicas feminina e masculina de futebol, que estreiam, respectivamente, amanhã e depois de amanhã. Lamentável.

Postado no blog Terra Brasilis em 24/07/2012
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A crença míope nos superpoderes de blogueiros



Por Luiz Carlos Azenha

Confesso que, de uns tempos para cá, minha tolerância com a hipocrisia é próxima de zero.

Acho perda de tempo participar de polêmicas cuja função essencial é mascarar a realidade, além de alimentar o desejo de alguns por circo.

Circo move tráfego na rede.

A ação do PSDB relativa aos blogueiros Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif não busca debater o essencial, ou seja, o uso do dinheiro público em publicidade ou propaganda. Se buscasse, haveria de tratar do conjunto: quais são os gastos de governos federal, estaduais e municipais com propaganda? Quanto recebem a Globo, a Veja, a Folha e o Estadão proporcionalmente ao bolo?

Os governos não poderiam reduzir estes custos investindo mais na internet, por exemplo, dada a crescente capacidade de disseminação de informações através das redes sociais? É viável fazer como o agora senador Roberto Requião, que quando governador do Paraná cortou todas as verbas publicitárias, a não ser as de campanhas de utilidade pública? Cabem políticas públicas para promover a pluralidade e a diversidade de opiniões?

Há outras questões, tão interessantes quanto. Deve um partido tentar definir a pauta de um blog eminentemente pessoal? Por que o anúncio de empresas públicas supostamente compra um blogueiro mas não compra um dono de jornal? Crítica é ataque às instituições? Ao criticar o Congresso, o governo federal ou o Judiciário os colunistas dos grandes jornais estariam ‘atacando as instituições’? 

Mas, se o financiamento dos jornais para os quais escrevem — ou das emissoras de rádio e TV nas quais trabalham — é feito parcialmente com dinheiro público, eles podem ‘atacar as instituições’ livremente e os blogueiros não? E a liberdade de expressão e o direito ao contraditório?

Trato destes temas com tranquilidade. O Viomundo, pelo menos por enquanto, é mantido com anúncios Google. 

O Leandro Guedes, que nos representa comercialmente, desenvolve ferramentas para que nosso financiamento seja proporcionado pelos próprios leitores. Desde que começou a fazer isso, há dois meses, não está autorizado nem a enviar os media kits (com dados de audiência, etc) a empresas públicas ou governos federal, estaduais ou municipais. Esperamos que a grande mídia siga nosso exemplo.

[Pausa para gargalhar]

Não sei o que moveu o PSDB. Provavelmente, pela escolha dos alvos, José Serra. Tenho comigo que algum mago, daqueles que cobram fortunas para fazer campanha, tenha concluído que existe uma relação entre a altíssima taxa de rejeição de Serra e a blogosfera/mídias sociais.

Não sei se o diagnóstico está certo ou errado, mas a cura é duvidosa. Parte do pressuposto de que blogueiros sejam capazes de mover legiões de internautas. A crença nisso é uma farsa, muitas vezes alimentada por quem está chegando agora ou está “investido” na blogosfera.

Quem lida com os internautas no dia a dia e respeita a diversidade de opiniões descobre que este é um meio horizontal. Não é estruturado hierarquicamente. Não obedece a comandos. O valor das opiniões não está na autoridade, nem no currículo, nem no status do autor: deriva da qualidade, da lógica, da originalidade da argumentação. Deriva da capacidade de apontar algo que outros não notaram. De desvendar conexões encobertas. De colocar fatos em perspectiva histórica. De ajudar a concatenar e, portanto, fixar ideias que circulavam desconexas no “inconsciente coletivo digital”. Simplificando, quando a piada é boa ganha o mundo.

Aquela foto de Serra sobre o skate, na capa da Folha, pode ter sido feita num momento autêntico de descontração, mas cristalizou a imagem de um candidato tentando parecer o que não é: jovem. Se dezenas de milhares de pessoas perceberam isso ao mesmo tempo e puderam conversar sobre isso nas redes sociais — o que não poderiam ter feito no passado, quando dependiam de passar pelo crivo de um repórter, de um editor e do dono de um grande jornal e de escrever carta para a coluna do leitor – é culpa dos blogueiros?

Acreditar que dois blogueiros — ou duas dúzias — sejam capazes de mover a rede é subestimar a inteligência dos internautas. Ou alguém acredita que tem um comunista escondido embaixo de cada Curtir?

Com ferramentas razoavelmente simples como o twitter e o Facebook, hoje cada leitor pode exercer como nunca seu direito de escolha, de interagir e de se fazer ouvir. É natural que quem vive no mundo das hierarquias rígidas estranhe, se sinta intimidado ou frustrado. O que está em curso nas redes sociais é o equivalente a uma segunda revolução do controle remoto.

Portanto, não estamos diante de uma tentativa do PSDB de defender as instituições ou de zelar pelo dinheiro público. Pode ser uma resposta exagerada ou míope diante de um fenômeno que o partido não consegue entender ou pretendia replicar e não consegue. 

Quem sabe exista um desejo subjacente de controle, de um ‘choque de ordem’ que preceda a privatização da crítica e do conhecimento intelectual, colocando ambos dentro de parâmetros aceitáveis pelo mercado (sobre isso, escreveu Slavoj Zizek). Ou é tentativa de intimidação, pura e simples.


Postado no blog Viomundo em 24/07/2012