Campanha de Fernando Haddad
Leonardo Boff: Nós ocidentais, os principais responsáveis pela atual tragédia humana
O tempo ocidental se esgotou e já passou. Por isso perdeu qualquer legitimidade e força de convencimento
O complexo de crises que avassala a humanidade nos obriga a parar e a fazer um balanço. É o momento filosofante de todo observador crítico, caso queira ir além dos discursos convencionais e intrassistêmicos.
Por que chegamos à atual situação, que objetivamente ameaça o futuro da vida humana e de nossa obra civilizatória? Respondemos sem maiores justificativas: principais causadores deste percurso são aqueles que nos últimos séculos detiveram o poder, o saber e o ter. Eles se propuseram dominar a natureza, conquistar o mundo inteiro, subjugar os povos e colocar tudo a serviço de seus interesses.
Para isso foi utilizada uma arma poderosa: a tecnociência. Pela ciência, identificaram como funciona a natureza e, pela técnica, operaram intervenções para benefício humano sem reparar nas consequências.
Esses senhores que realizaram esta saga foram os ocidentais europeus. Nós, latino-americanos, fomos à força agregados a eles como um apêndice: o Extremo Ocidente.
Esses ocidentais, entretanto, estão hoje extremamente perplexos. Perguntam-se aturdidos: como podemos estar no olho da crise, se possuímos o melhor saber, a melhor democracia, a melhor consciência dos direitos, a melhor economia, a melhor técnica, o melhor cinema, a maior força militar e a melhor religião, o Cristianismo?
Ora, essas “conquistas” estão postas em xeque, pois elas, não obstante seu valor, inegavelmente não nos fornecem mais nenhum horizonte de esperança. Sentimos: o tempo ocidental se esgotou e já passou. Por isso perdeu qualquer legitimidade e força de convencimento.
Arnold Toynbee, analisando as grandes civilizações, notou esta constante histórica: sempre que o arsenal de respostas para os desafios não é mais suficiente, as civilizações entram em crise, começam a esfacelar-se até o seu colapso ou assimilação por outra. Esta traz renovado vigor, novos sonhos e novos sentidos de vida pessoais e coletivos. Qual virá? Quem o sabe? Eis a questão cruciante.
O que agrava a crise é a persistente arrogância ocidental. Mesmo em decadência, os ocidentais se imaginam ainda a referência obrigatória para todos.
Para a Bíblia e para os gregos, esse comportamento constituía o supremo desvio, pois as pessoas se colocavam no mesmo pedestal da divindade, tida como a referência suprema e a Última Relidade. Chamavam a essa atitude de hybris, quer dizer: arrogância e excesso do próprio eu.
Foi esta arrogância que levou os EUA a intervir, com razões mentirosas, no Iraque, depois no Afeganistão e, antes, na América Latina, sustentando por muitos anos regimes ditatoriais militares e a vergonhosa Operação Condor, pela qual centenas de lideranças de vários países da América Latina foram sequestradas e assassinadas.
Com o novo Presidente Barak Obama se esperava um novo rumo, mais multipolar, respeitador das diferenças culturais e compassivo para com os vulneráveis. Ledo engano. Está levando avante o projeto imperial na mesma linha do fundamentalista Bush. Não mudou substancialmente nada nesta estratégia de arrogância. Ao contrário, inaugurou algo inaudito e perverso: uma guerra não declarada usando “drones”, aviões não tripulados. Dirigidos eletronicamente a partir de frias salas de bases militares no Texas, atacam, matando lideranças individuais e até grupos inteiros nos quais supõe estarem terroristas.
O próprio cristianismo, em suas várias vertentes, se distanciou do ecumenismo e está assumindo traços fundamentalistas. Há uma disputa no mercado religioso para ver qual das denominações mais aglomera fiéis.
Assistimos na Rio+20 a mesma arrogância dos poderosos, recusando-se a participar e a buscar convergências mínimas que aliviassem a crise da Terra.
E pensar que, no fundo, procuramos a singela utopia bem expressa por Pablo Milanes e Chico Buarque: “A história poderia ser um carro alegre, cheio de um povo contente”.
Postado no blog Pragmatismo Político em 17/07/2012
Porque você ainda vai ter um Ultrabook
A dinâmica da tecnologia às vezes consegue causar confusão. Um Ultrabook é um Notebook mais magro ou um Netbook musculoso? Ou seria ainda um Tablet com teclado? Nem uma coisa nem outra: um Ultrabook é um conceito novo que reúne características conjuntas dos Notebooks, Netbooks e, de certa forma, uma alternativa aos Tablets.
Se você for procurar os sites dos principais fabricantes de Notebooks, a categoria Ultrabook não existe separadamente: ela faz parte da categoria “Notebooks”. De fato, um Ultrabook é a evolução natural dos Notebooks. Os fabricantes desejavam um produto que pudesse fazer frente, ao MacBook Air da Apple. Por outro lado, os consumidores desejavam um Notebook mais leve e mais fino – como os Tablets – além de uma bateria mais durável, mas também um produto com maior poder de processamento que os Netbooks. Assim, o advento dos Ultrabooks é a evolução natural dos Notebooks.
Mas como se chegou a um equipamento tão fino e leve e com uma duração de bateria que pode chegar a quase nove ou dez horas? Simples: eliminando-se um vilão chamado HD. O Hard Disk, além de ser o maior responsável pelo consumo de energia de um computador – devido ao fato de possuir um motor elétrico em constante funcionamento – também era o maior vilão quando se falava no item peso, além de contribuir também na altura mínima do Notebook. O HD então foi substituído por memória em estado sólido, o que permite também um tempo de inicialização da máquina muito mais curto em relação aos Notebooks equipados com HD´s convencionais.
E neste cenário de evolução de convergência tecnológica, evidentemente que os Ultrabooks incorporarão em breve a principal funcionalidade dos Tablets que é a tela sensível ao toque, assim como hoje os Tablets já podem incorporar um teclado.
Postado no blog Sul21 em 17/07/2012
A transparência perdida do vidro em "A Day Made Of Glass"
O vidro talvez tenha sido um dos objetos que mais representou a Modernidade na arquitetura, design e decoração. Da transparência, passando pelo fumê e espelhado dos shoppings e mansões dos novos ricos, chegamos hoje à opacidade definitiva – a conversão em tela touchscreen. O curta publicitário “A Day Made Of Glass” apresenta de forma sintética a ideologia por trás dessa transformação do vidro em interface: da transparência como uma janela aberta para o mundo e para si mesmo (telescópios e espelhos), o vidro transforma-se em tela onde ícones e diagramas fazem a mediação com o real criando a ilusão de controle e funcionalidade. Cada vez menos nosso interesse em objetos, pessoas e eventos é orientado pela curiosidade da descoberta, e muito mais pelo interesse operacional e logístico.
Como será o futuro? A Corning, uma empresa norte-americana que fabrica vidros protetores de alta resistência, produziu um curta chamado “A Day Made Of Glass” (Um Dia Feito de Vidro) com cenários futuros do que seria o dia-a-dia das pessoas: como será a interação da humanidade com os eletrônicos através de interfaces de vidros, logicamente produtos da empresa. Para a Corning os dispositivos touchscreen serão parte integrante do cotidiano, não apenas em computadores, mas em celulares, espelhos no banheiro, fogões, outdoors.
Curtas como esse, ainda mais publicitários, são sempre muito interessantes porque estamos diante de um produto cultural altamente concentrado e sintético: retórica, ideologia e visão de mundo sintetizados em um curto espaço de tempo. Por isso, torna a visão de mundo ideológica explícita, sem as camadas de linguagem como nos filmes longa-metragem.
Além dos aspectos retóricos evidentes da linguagem publicitária (os planos e fotografia lembram um grande comercial da família feliz com cereais matinais e os personagens elaborados a partir dos tipos ideais que lembram os modelos sorridentes da cidade de “Seaheaven” do filme “Show de Truman”), o que chama atenção é que o vídeo não é uma “visão de um futuro próximo”. É na verdade um wishfull thinking, isto é, uma projetação em um futuro hipotético dos próprios desejos da empresa Corning no presente. O que torna esse vídeo não uma utopia (o vislumbre de novos mundos diferentes dos atuais), mas uma “atopia”: o futuro como uma espécie de metástase da visão de mundo pré-existente.
E qual visão de mundo é essa? Poder ser resumida dentro dos seguintes princípios: (a) As interações dominantes são baseadas em interfaces, preferencialmente as telas; (b) Não há mais contato direto com pessoas, objetos ou eventos, mas mediado por signos (imagens, diagramas etc.); (c) A relação com esses objetos, pessoas ou eventos é unicamente de interesse funcional, operacional ou logístico.
E toda essa visão de mundo representada pelo vidro, agora transformado em tela touchscreen no vídeo da Corning.
De todos os objetos e materiais, talvez o vidro seja aquele que mais simbolizou a modernidade através da arquitetura, design e decoração. Um material duro, frio, liso e transparente como representante da funcionalidade, racionalidade e assepsia.
Antes da modernidade, o vidro sempre teve simbolismos mágicos: o fascínio em ver como areia, cinzas e cal podem se transformar em esferas de vidro brilhantes, cheias de luz através de um sopro. Por isso passou a ser visto com propriedades mágicas como as bolas de cristal das videntes ou talismãs contra o mal.
Isso continuou através da literatura: Alice entrou no País das Maravilhas através do espelho, a fada madrinha deu a Cinderela sapatos de vidro e Harry Potter viu seu maior desejo em um espelho enfeitiçado.
Mas a Modernidade retira esse simbolismo do vidro primeiro pela descoberta do vidro ótico no Renascimento permitindo a construção de lunetas, microscópios e telescópios que revolucionarão a Ciência. No século XX com a integração do vidro à arquitetura, design e decoração ele passa a adquirir uma nova constelação de significados: inovação, arrojo, velocidade e leveza.
O filósofo Walter Benjamin talvez tenha sido o primeiro a problematizar essa nova cultura do vidro no seu texto “Experiência e Pobreza” ao associar ao material o desenvolvimento da técnica que se sobrepõem ao homem, anulando a memória e a experiência. “Um material tão duro e tão liso, no qual nada se fixa”, dizia Benjamin, como metáfora de uma “nova forma de miséria”: o esquecimento.
A visão de Benjamin se inscreve no campo da crítica à Alienação, isto é, a situação onde o rápido desenvolvimento tecnológico é imposto à sociedade que se torna, em consequência, mais desumana. Mas, e se a tecnologia tornar-se cada vez mais “amigável”, “interativa”, sempre antecipando as reações e intenções de seus usuários?
A partir da Modernidade, é curioso como o vidro evoluiu da sua forma transparente e original para formas cada vez mais opacas: da transparência nas arquiteturas de Le Corbusier ou Niemayer, passando para o fumê e espelhado nas arquiteturas pós-modernas dos shoppings, prédios comerciais e residências de novos ricos até chegar à opacidade máxima: o vidro como uma tela touchscreen.
De janela aberta para o mundo onde, por meio da sua transparência (visual ou ótica), vislumbramos o que está distante e o que está perto, o vidro torna-se cada vez menos “orgânico” ou integrador ao meio ambiente que nos cerca para cada vez mais vedar, fechar, clivar a nossa relação com o exterior para se transformar em uma mediação, uma tela que filtra a realidade. Dos vidros fumê e espelhados que filtravam a luz solar à tela que transcodifica o real em bites para recriar o mundo em diagramas, ícones e imagens digitais.
Postado no blog Luis Nassif Online em 14/07/2012
Prefixo "ex"
Você já parou para pensar sobre o uso da expressão “ex”? Ela pode incomodar algumas pessoas, mas também pode ser encarada sem a conotação pejorativa que lhe é atribuída em muitos momentos e circunstâncias.
Visto gramaticalmente, ex é prefixo latino que significa movimento para fora, usado para demonstrar que aquela pessoa deixou de pertencer a um determinado grupo, de ter uma função ou um cargo. No grego, existe prefixo equivalente. Quando o ex é incorporado à palavra, o usuário percebe o sentido de exclusão.
Há mais de 1.500 palavras no dicionário que carregam o ex.
Os ex podem ser divididos em duas categorias, aqueles que se tornam ex e deixam resquícios pelo caminho e resíduos sentimentais, como ex-marido e ex-mulher, e os que mudam de status e melhoram funcionalmente dentro de uma organização ou no mercado de trabalho e ainda ao longo da profissão, como o ex-frentista que vira empreendedor de sucesso.
Na categoria dos ex que, pelo uso repetitivo da expressão, lhes é atribuído sentido de demérito, há formas mais elegantes de tratá-los.
Em vez de dizer “o ex-marido de fulana” ou “a ex-mulher do sicrano”, uma recomendação é referir-se ao ex como o pai do meu filho, de minha filha ou de meus filhos, se o casal tem crianças. Afinal, se o casal passou um tempo junto, é porque algo de bom existiu no período de convivência, mesmo que os filhos não tenham sido contemplados na relação.
Ao usar ex-presidente, ex-prefeito, ex-deputado, por exemplo, há uma clara simplificação adotada pela mídia, que facilita o entendimento, além de caracterizar o personagem mencionado.
A expressão poderia ser substituída por algo como o presidente do período tal, ou o prefeito que ocupou o cargo à época da transformação da cidade.
Pelo lado dos ex (cluídos) há até site na internet, como “odeio meu ex”, o portal dos ex-alunos, os blogs da ex-gordinha e de ex-fumantes. Por que será que as pessoas insistem em colocar o ex antes de sua situação?
O uso de ex para ex-fumante, ex-gordinha ou ex-sedentário é mais fácil de assimilar do que ex-marido, ex-namorado, ex-torcedor, ex-aluno, ex-amigo. Na maioria das vezes, vem associado a algum resultado positivo, como deixar de fumar, emagrecer, tornar-se ativo no dia a dia.
A outra categoria carrega um passado que foi agradável e deixou de ser, como o do ex-amigo, que no ex carrega um quê de tristeza, pois, se um dia foi amigo, ter-se tornado ex-amigo é pensar em traições, falta de apoio, brigas.
São muitas as situações de ex. Tornar-se um fardo ou deixar de sê-lo depende da atitude de encará-lo e aí é preciso desprendimento. Mesmo que em algum momento você se depare com um ex, seja elegante ao se referir a ele e vire uma referência no assunto!
Rosa Dalcin é jornalista em São Paulo
Postado no blog Uma Mulher em 04/07/2012
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