Democracia não é apenas assunto interno




Marcelo Semer

Suspenso preventivamente do Mercosul, pela infringência à cláusula democrática, o governo do Paraguai agora brada pelo mesmo direito de defesa que negou ao presidente Fernando Lugo.
A ruptura da ordem política, reconhecida pelos demais parceiros do órgão, ficou evidente com a destituição precedida por um processo que mal passou das formalidades.

Em pouco mais de vinte e quatro horas, o presidente foi cientificado de acusações genéricas, sem possibilidade de produção de provas, e julgado ao cabo de sessenta minutos de defesa.

“Menos do que o recurso de quem ultrapassou o sinal vermelho”, ironizou o chanceler argentino que estava no grupo de ministros que foi a Assunção e tentou negociar com o vice-presidente.

A resposta que receberam foi negativa –o impeachment relâmpago sepultou propositadamente qualquer possibilidade de defesa (e na verdade também de julgamento) para que a decisão, que já estava tomada antecipadamente, se transformasse sem demora em fato consumado.

A Justiça paraguaia afirma que agora é tarde para recorrer e que o presidente “aceitou” o juízo político –mas que alternativa lhe foi concedida nesse golpe congressual?

Espalha-se pela grande imprensa a tese de que críticas ao processo paraguaio nada mais são do que ofensas à soberania.

Mas a decisão de suspender a participação do Paraguai na cúpula do Mercosul mostra que, atualmente, nenhum país é uma ilha.

A preservação ou não da democracia deixou de ser apenas um assunto interno, que só interessa a seus próprios habitantes.

A positivação do direito internacional, os pactos regionais, a organização dos países em grupos, por tratados multilaterais, criam exigências recíprocas para os Estados. A manutenção do status democrático certamente é uma delas –acontece no Mercosul como aconteceria na União Europeia.

A democracia é hoje um bem internacional. Nem a soberania interna autoriza o seu desprezo.

Mas, como já havia acontecido recentemente em Honduras, as novas rupturas constitucionais nos alertam que o passado de golpes, que tanto assombrou a América Latina durante os anos da guerra fria, ainda não está sepultado.

Hoje, eles podem estar mais sofisticados ou sutis, com mecanismos pretensamente legais, e com menor emprego de tanques e baionetas. Mas a violência é a mesma toda vez que a vontade popular é substituída pelo consórcio de interesses que em determinado momento se plasmam no Parlamento.

O episódio pode nos ensinar diversas lições.

Para o direito, a principal delas é entender que o processo não é rito vazio, composto de aparências. Mas, em si mesmo, uma garantia democrática.

Serve para assegurar que uma decisão somente seja tomada depois de todas as cautelas e oportunidades reais às partes. Isso vale para um simples réu acusado de crime e também para um presidente da República.

Quando abrimos mão da garantia do processo é um sinal evidente que a democracia se rompeu.


Marcelo Semer é juiz de direito em SP e escritor. Ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia. Autor do romance Certas Canções (7 Letras).

Postado no blog Brasil de Fato em 27/06/2012
Obs.: Imagem inserida por mim.

Meus oito anos !




Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
.
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
 Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é lago sereno,
O céu um manto azulado,
O mundo um sonho dourado,
A vida um hino d'amor!
.
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
.
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
.
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
 Pés descalços, braços nus
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
.
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
.
................................

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
 Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu



Os patos do Dr. Rui






Diz uma antiga e divertida lenda baiana que, ao chegar em casa, o Conselheiro Rui Barbosa, também conhecido como "Águia de Haia", ouviu um barulho estranho vindo do quintal.

Foi averiguar e encontrou um ladrão tentando levar os patos de sua criação.

Aproximou-se vagarosamente do elemento, e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com os anseriformes anatídeos, gritou-lhe com autoridade:

- Bucéfalo!, não o interpelo pelo valor intrínseco dos palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa.

Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.

E o ladrão, entre perplexo e quase a choramingar:

- Dotô, rezumindo... eu levo ou eu dêixo os pato?...


As incríveis miniaturas de personagens famosos e animais feitas de crochê



Olha só que legal estas miniaturas feitas de crochê! Elas são mini mesmo, pois cabem nas pontas dos dedos. Criadas por um grupo de 5 artesãos chamado SU AMI, as miniaturas são inspiradas em animais, alguns deles personagens de desenhos e séries. Alguns exemplos são Shaun, Elmo, Rilakkuma e amigos, entre outros. Veja alguns deles na galeria de imagens a seguir:




Imagine só o trabalho que dá para fazer cada peça desta, só com muita paciência de dedicação!

Estas e outras miniaturas estão à venda na Etsy.










Maldita inclusão digital?


O “maldita inclusão digital” já virou uma expressão com vida própria. Ela é uma maneira rápida de mostrar desagrado diante de um texto mal escrito, uma montagem brega no youtube ou qualquer outra coisa que denuncie um gosto ou origem mais popular. Quem usa acha que disse tudo numa tacada só: reconhece algo mais popular quando o vê, sabe do recente aumento da capacidade de consumo, se declara como parte de uma classe que estava aqui muito antes e que lamenta a entrada de novos membros. O que ele consegue, na verdade, é ser preconceituoso.
Essa inclusão é maldita, é algo a se lamentar? Lamentar a inclusão digital é desejar que as distâncias sociais continuem tão profundas como eram antigamente; que os de origem diferente (inferior?) nem de longe possa frequentar os mesmos lugares dos de origem igual (superior?), nem ao menos os espaços virtuais. Qualquer coisa diferente do que seria a maneira correta de escrever e gostar é punida, é motivo de chacota. Pelo jeito, a igualdade social é admirada apenas quando praticada nos outros países.
Eu também me incomodo quando leio um “quizer” por aí. Mas se eu tivesse que eleger o maior problema da vida virtual, nem pensaria em citar esses erros. Aqui há tanta oferta de qualidade que só lê coisa ruim quem quer. O que realmente me incomoda aqui é a agressividade – cada dia maior e mais gratuita. E não adianta dizer que a culpa é “deles”. Qualquer um que escreva errado por aqui é massacrado, nem que seja apenas por um erro de digitação. A agressividade que eu vejo é justamente daqueles que se acham mais cultos, mais escolarizados e, por isso, superiores aos outros.
Eu vejo no lamento pela inclusão digital um ranço escravocrata, um desprezo íntimo que todos nós aprendemos a ter por aqueles que ganham a vida com o trabalho braçal. Ele vem de uma classe média que sempre se sentiu muito mais rica do que realmente era, e agora se sente empobrecida ao encarar a realidade. Se existe uma diferença cultural tão marcante é porque nunca houve interesse em diminuir as distâncias sociais, apenas em aumentá-las. Isso não passa apenas pela esfera política, ela diz respeito à maneira de falar, de se vestir, de tratar o outro.
Existe sim uma maneira correta de escrever “quizer” e todas as outras regras gramaticais. Fora isso, quase tudo o que torna a inclusão social “maldita” é a dificuldade de lidar com as diferenças.

Sobre o autor

Caminhante Diurno

Caminhante tem casa, marido, cachorro, blogs (Caminhante Diurno e Caminhando por Fora), carteirinha da biblioteca. E não pode viver sem qualquer um deles.




Postado no blog Livros e Afins em 26/06/2012


Mídia se une para salvar golpistas



Por Altamiro Borges

Num primeiro momento, a mídia brasileira ficou confusa e dividida diante do golpe relâmpago no Paraguai. Colunistas amestrados da direita, como Reinado Azevedo e Augusto Nunes, da Veja, e Merval Pereira, da Globo, aplaudiram os golpistas e até justificaram a deposição “democrática” de Fernando Lugo. Já nos editoriais, mesmo sem usar o termo “golpe”, jornais e emissoras de televisão estranharam a rapidez do impeachment e foram mais cautelosos. Agora, porém, a mídia se uniu para socorrer os golpistas.

O discurso único parece combinado. Todos os veículos criticam o Mercosul e a Unasul pela suspensão dos golpistas do Paraguai. A pressão maior é contra a presidenta Dilma Rousseff. A mesma mídia que sempre exigiu posições rápidas e duras contra o Irã, a Síria e outras nações contrárias à política expansionista dos EUA, agora pedem que o governo brasileiro “respeite a autonomia” do país vizinho. Na prática, a mídia colonizada recomenda a “neutralidade” para salvar os golpistas do isolamento na América Latina.


Postado no blog A Justiceira de Esquerda em 26/06/2012