Paz profunda

Paz profundaRubia A. Dantés


A vida muitas vezes nos surpreende com uma onda de acontecimentos absolutamente inesperados e... nesses momentos, o melhor a fazer talvez seja fluir com os acontecimentos, sem resistir a eles... Temos a ilusão que estamos no controle das coisas, mas é mesmo pura ilusão, porque a vida costuma mudar o rumo e nos deixar perplexos diante de coisas onde não podemos fazer nada... a não ser observar os fatos se desenrolarem diante dos nossos olhos perplexos... e parece que as mudanças às vezes chegam todas juntas e, para nosso ego, que é apegado a pessoas e situações, a nossa avaliação pode não ser positiva em princípio... mas, se ampliarmos nosso campo de visão, vamos ver que, em um plano maior, o que nos parece ruim pode não ser...

Tem horas que só nos resta mesmo acompanhar como observadores, sem julgamentos, o movimento da vida, especialmente quando ela nos traz grandes e inesperadas mudanças...

Quando a Avó me falou que não era para fazer planos, nunca pensei que aquilo seria tão verdadeiro... e os acontecimentos que se desencadearam a partir dali, fizeram-me entender que, diante do inesperado, nenhum plano se sustenta... e que, quanto mais livres estivermos deles, mais fácil será passar por esse tempo de tantas mudanças...

Minha viagem para Bornholm, uma ilha dinamarquesa no mar Báltico, marcou o início de muitos acontecimentos inesperados... que continuam ainda... fomos recebidos por um lindo arco-íris e, a partir daí, o movimento da vida tem nos surpreendido e jogado por água abaixo todos os planos... Mas, no meio desse turbilhão de coisas, quero falar de uma paz profunda... uma paz que acessei em umas ruínas antigas... em um local debaixo de uma ponte, que acho... antes passava um rio. 

Desci pisando na grama que aí era tão macia que dava a sensação de estar pisando nas nuvens... ao redor, era tudo tão grandioso e impressionante, pelas ruínas e pela força da natureza daquele lugar que, nunca imaginei que ali também guardava o silêncio e a paz... e era uma paz tão profunda que exalava daquele ponto... um silêncio tão acolhedor, que tenho certeza me tocaram para sempre. Era uma pausa e uma preparação para passar por esse tempo sem ser levada pelos acontecimentos...

O silêncio era palpável e pairava no ar... fiquei ali um tempo deixando que aquele silêncio despertasse a minha Paz... e ele despertou... e ficou como uma chave para que eu pudesse voltar a esse estado.

Quando algo fora reflete o que está dentro de nós, acessamos coisas que estavam guardadas, às vezes, em recantos muito profundos do nosso ser... e aquele lugar me tocou em um desses recantos, onde mora uma paz profunda... e hoje, mesmo passados muitos dias e muitos acontecimentos... quando me lembro daquele lugar, consigo acessar de novo a paz e o silêncio... e sei que, mesmo nos momentos de maiores mudanças que a vida nos traz, sempre podemos nos retirar para esse local tranquilo e profundo dentro de nós... e dali observar... sem nos deixar levar daqui para ali... sem perder nosso centro, saímos mais plenos e mais simples...

Nesses tempos, as coisas que realmente importam ficam mais claras e visíveis... e as que são pura ilusão se descartam sozinhas...

Cada um na sua experiência está sendo chamado a filtrar o que realmente importa, e a descartar o supérfluo que as vezes, nos faz perder tanto tempo e energia... 

Assim como quando ajustamos o foco de uma máquina fotográfica para tirar um foto bem nítida, sinto que estamos sendo ajustados para que nosso foco não se perca em coisas que deixam nossa vida nublada...

E assim veremos brilhar as lindas cores de um imenso arco-íris de Luz...

Postado no blog Vou-de-Blog 

A pauta negativa da mídia




      Por Wladimir Pomar


Já faz tempo que a grande mídia se esmerou em transformar ações positivas em manchetes e em matérias negativas. Quando o governo anuncia que mais de 50% das obras do PAC estão concluídas ou em fase de conclusão, as manchetes trazem, em geral, que quase 50% das obras do PAC estão em atraso ou não saíram do papel. Quando o governo anuncia a queda dos juros, uma parte continua proclamando que, apesar da queda, os juros se mantêm altos, enquanto outra parte alerta que isso pode causar corrida ao consumo, à inadimplência e à inflação.

Nas últimas semanas, isso que se poderia chamar de pauta negativa ganhou contornos ainda mais sofisticados. A grande mídia, que durante o domínio neoliberal foi incapaz de enxergar a quebradeira da indústria nacional e a destruição ambiental causada pelo agronegócio, ou de sentir o mau cheiro da pobreza e da miséria em expansão, agora decidiu fazer coberturas e reportagens extensas sobre a situação caótica do atendimento médico público, o caos ambiental, o descalabro do saneamento, as obras paradas, a lentidão do PAC, os salários inferiores das mulheres, o crescimento da violência, e vai por aí afora.

Em parte, todos esses problemas ainda existem, são verdadeiros. Mas são decorrência do descalabro histórico herdado dos sucessivos governos das classes dominantes, com destaque especial para os períodos da ditadura militar e do predomínio neoliberal, descalabro que não se supera em dez anos. E a grande mídia não se importa em fazer tal retrospecto. A mensagem sibilina é clara: os governos petistas foram incapazes de resolver tais problemas. Por coincidência – só pode ser por coincidência –, a propaganda partidária tucana se empenha em denunciar os mesmos problemas, ao mesmo tempo em que anuncia seu retorno reciclado para resolver tudo por meio de uma nova abordagem.

Se na propaganda ideológica e política a grande mídia e o tucanato parecem – parecem! – articulados nessa ofensiva que esconde as responsabilidades históricas, na propaganda econômica firma-se cada vez mais o bordão de que cresce a dicotomia entre os reclamos do país por mais investimentos e mais liberdade para as empresas, em contraposição à tendência governamental de elevação do consumo e de intervencionismo estatal.

Isso mostra que a oposição conservadora se deu conta de que as reformas tópicas, empreendidas pelos governos Lula e Dilma, já não conseguem manter um ritmo firme de progresso em virtude de amarras estruturais da sociedade brasileira. Embora aquelas reformas tenham melhorado, e muito, a situação do país - superando alguns dos piores descalabros herdados do demotucanato, entre os quais se pode incluir a hipocrisia com que PFL e PSDB arrotavam sua luta contra a corrupção, tendo o senador Demóstenes Torres como uma das principais vestais, elas estão dando sinais de cansaço.

A extrema-esquerda deve estar se regozijando, já que sempre defendeu que as condições estruturais representavam uma muralha às reformas empreendidas pelo governo Lula e continuadas pelo governo Dilma, e que somente uma revolução poderia transformar essas estruturas. Nós, por nossa parte, podemos até achar que sem uma revolução não será possível resolver os principais problemas da sociedade brasileira e elevar o conjunto do povo brasileiro a uma situação de alto padrão material e cultural. O problema, no caso, reside em que somente o povo pode realizar tal revolução e que, no momento, ele ainda acha possível continuar no caminho das reformas progressivas daquelas amarras.

Em grande parte, em sua sabedoria, o povão tem razão. Ainda é possível sair da armadilha do perigoso binômio elevação do consumo + intervenção estatal, acrescentando a ele o crescimento vigoroso dos investimentos estatais e privados, exigindo da burguesia que coloque a mão no bolso onde aplica seu capital rentista e invista na produção industrial, e que aceite a concorrência capitalista como parte de sua natureza, e não só como chavão propagandista. É lógico que isso vai exigir mais rapidez do governo em definir prioridades no adensamento das cadeias produtivas e nas áreas que realmente devem ser estimuladas.

Por exemplo, as obras em infra-estrutura são uma prioridade consensual. No entanto, isso é genérico. Será necessário determinar que os transportes ferroviário e marítimo mereçam mais atenção do que o transporte rodoviário, embora isso mexa com os interesses dos setores econômicos envolvidos com este tipo de transporte. Além disso, continuaremos nas generalidades se, no caso da construção ferroviária e metroviária, não tivermos políticas claras para ter um parque siderúrgico capaz de produzir os novos tipos de trilhos para ferrovias de alta densidade de tráfego e alta velocidade, e para a instalação de novas plantas produtoras de equipamentos e componentes para tração elétrica e diesel-elétrica, como rodeiros, truques, vagões, carros de passageiros, tandem de locomotivas, grupos geradores, motores elétricos, compressores etc. etc.

O mesmo ocorre nas demais áreas da infra-estrutura. No caso da geração e transmissão de energia elétrica, em que continua sendo indispensável a construção de hidrelétricas, associada à construção de parques eólicos e à ampliação de parques solares e fotovoltaicos, é fundamental cuidar da instalação de plantas de fabricação de turbinas, grupos geradores, transformadores, cabos e outros equipamentos indispensáveis à geração e à transmissão. Para muitos, continua parecendo um mistério insondável que, com empresas estatais fortes e de longa experiência no setor, elas não sejam utilizadas para associar-se a empresas fabricantes de equipamentos e máquinas para o setor, nacionais e estrangeiras, acelerando o adensamento das cadeias produtivas dessa área estratégica.

Em outras palavras, os setores de comunicação política do governo e dos partidos de sua base terão que intensificar a denúncia da hipocrisia tucana, inclusive fazendo algo que já deveria ter sido feito, como o levantamento minucioso não só das negociatas promovidas pela privatização das estatais e outras empresas públicas, mas principalmente da quebradeira industrial e do sucateamento da infra-estrutura, realizados durante o período neoliberal. Mas nunca perdendo de vista que o campo onde a batalha decisiva será travada será o da economia política, em que o crescimento dos investimentos e da industrialização, a constante elevação do consumo e a presença reguladora do Estado serão os principais instrumentos, ou armas, capazes de mobilizar multidões se os conservadores e os reacionários pretenderem mudar os rumos que o país adotou a partir de 2003.

Postado no Blog do Miro em 20/06/2012


Sete alimentos que combatem a ansiedade


por Roberta Vilela



Ricos em vitaminas e aminoácidos, eles melhoram a tranquilidade e a disposição




Está cada vez mais difícil manter a calma? Todo mundo vive dizendo que você é uma pessoa ansiosa? A ansiedade provoca uma bagunça nas emoções e de quebra ainda reflete na saúde. Quando em excesso, ela desencadeia a sensação de mal-estar e te impede de viver a vida com mais leveza, sem tanta angústia em relação ao que ainda está por vir. Os ataques de gula também são creditados a ela. Existem tratamentos e terapias para controlar a ansiedade, mas sabia que a alimentação também pode ajudar a domar este furacão interno? Alguns alimentos contêm aminoácidos e vitaminas essenciais, que atuam diretamente diminuindo o estresse, combatendo a ansiedade e aumentando os níveis de serotonina, responsável pelo bem-estar e pelo relaxamento. A seguir, conheça os sete alimentos campeões para aquietar a mente.  

frutas cítricas - foto Getty Images 

Frutas cítricas: Estudos comprovaram que a vitamina C, presente nas frutas cítricas, diminui a secreção de cortisol, hormônio liberado pela glândula adrenal em resposta ao estresse e à ansiedade e responsável por transmitir a notícia de estresse para todas as partes do corpo. Seu consumo promove o bom funcionamento do sistema nervoso e aumenta a sensação de bem-estar. "Vitaminas e minerais, como a vitamina C, por exemplo, são perdidas nos quadros de estresse e ansiedade, além de queda de açúcar no sangue (hipoglicemia). Por isso, existe a necessidade de suprir essas carências", ressalta a nutricionista Rosana Farah, membro da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade.




leite, ovos e queijos - foto Getty Images 



Leite, ovos e derivados magros: Eles são uma ótima fonte de um tipo de aminoácido, o triptofano, que alivia os sintomas de ansiedade. De acordo com a nutricionista Rosana Farah, uma vez no cérebro, o triptofano aumenta a produção de serotonina, o hormônio da felicidade, que é um neurotransmissor capaz de relaxar e dar sensação de bem-estar. A especialista recomenda o consumo de 2 a 3 porções por dia deste grupo de alimentos.


carboidratos - foto Getty Images 


Carboidratos: Os carboidratos, provenientes dos cereais na sua forma simples e integrais, e das frutas mais adocicadas, também podem combater a indesejada ansiedade. "Eles elevam o nível de açúcar no sangue, dando energia, bem-estar e disposição", explica Rosana Farah. Pães, arroz, aveia, feijão, massas, batata, mel, jabuticaba, uvas, maçãs fazem parte deste grupo alimentar. A quantidade recomendada é de 6 a 9 porções diárias.




banana - foto Getty Images 


Banana: Um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Pesquisas de Alimentos e Nutrição das Filipinas comprovou que esta fruta ajuda no combate da depressão e alivia os sintomas da ansiedade. Graças ao alto teor de triptofano que a fruta carrega, ajudando na produção de serotonina.




carnes e peixes - foto Getty Images 

Carnes e peixes: Eles são a melhor fonte natural de triptofano, aminoácido que em conjunto com a vitamina B3 e o magnésio produzem serotonina, um neurotransmissor importante no processo do sono, do humor e que regula os níveis de ansiedade. Além disso, as carnes e peixes contêm outro aminoácido chamado taurina. Esta substância aumenta a disponibilidade de um neurotransmissor chamado GABA, que o organismo usa para controlar fisiologicamente a ansiedade. "A recomendação diária em relação às carnes é de 1 a 2 porções, dê sempre preferência às carnes brancas e magras", recomenda a nutricionista Rosana Farah.

chocolate - foto Getty Images 


Chocolate: O chocolate é rico em flavonoides, um tipo de antioxidante que favorece a produção de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar e que melhora o humor, reduzindo a sensação de ansiedade. explica a especialista em nutrição clínica e gastronomia, Rosana Farah. O recomendado são 30 gramas de chocolate por dia. E de preferência ao chocolate amargo, bem menos calórico e mais rico em flavonoides.




espinafre - foto Getty Images 

Espinafre: O espinafre contém folato (ácido fólico), que é uma potente vitamina antidepressiva natural. Segundo a nutricionista Rosana Farah, ele combate a ansiedade, pois quando está em baixas concentrações no organismo também diminui os níveis cerebrais de serotonina. Além disso, segundo um estudo da Universidade da Califórnia, o cérebro consome muita energia para funcionar e isso resulta na sobra de resíduos químicos oxidantes. É neste momento que alimentos, como o espinafre, começam a trabalhar para eliminar as substâncias em excesso, "desenferrujando" o cérebro.

Postado no Portal R7 em 19/06/2012

Pobres lotam cadeias, ricos entopem tribunais





Na mesma semana em que a polícia divulgou suspeitas que o médico Roger Abdelmassih esteja foragido no Líbano, o ministro Luiz Fux, do STF, negou liberdade a um condenado pelo furto de seis barras de chocolate.

Mesmo reconhecendo o valor ínfimo, Fux rejeitou o trancamento da ação, porque o réu seria "useiro e vezeiro" na prática do crime. 

Roger Abdelmassih teve mais sorte. Foi condenado pela Justiça paulista a 278 anos de reclusão, por violências sexuais que teria praticado durante anos contra dezenas de mulheres que buscavam seu consultório para reprodução assistida. Nas férias forenses, ganhou a liberdade em liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes. 

Nem tudo está perdido, porém. 

O furtador de chocolates não fugiu, e em relação a ele, o direito penal poderá ser aplicado em toda a sua plenitude: um ano e três meses de reclusão. Afinal, por sua reincidência, a insignificância deixou de ser insignificante. 

Nos últimos anos, o STF tem sido reputado como o tribunal mais garantista do país no âmbito criminal - o que fez a decisão relatada por Fux chocar ainda mais a comunidade jurídica. 

Recentemente, o tribunal tomou uma posição reclamada por doutrinadores, proibindo a decretação da prisão, quando ainda existam recursos pendentes. É com base neste entendimento, por exemplo, que o jornalista Pimenta Neves aguarda solto o desenrolar de seus vários apelos. 

A decisão tem justificativa na concepção do processo penal no estado democrático de direito. Todavia, o próprio STF tem sido flexível com este padrão, quando o réu se encontra preso durante o processo. É mais rigoroso, enfim, com quem foi preso desde o início. 

Como a "primeira classe do direito penal" raramente é presa em flagrante, na prática acaba sendo a principal beneficiária da jurisprudência liberal. 

Um acórdão do STJ fulminou inquérito policial contra empresários e políticos, com o bem fundamentado argumento de que 'denúncia anônima' é ilegítima para justificar a devassa telefônica. 

Prisões de centenas de pequenos traficantes país afora, todavia, também costumam ser justificadas por informações obtidas em denúncias anônimas. Por meio delas, policiais revistam suspeitos na rua e pedem buscas e apreensões. Custa crer que a jurisprudência se estenderá a todos eles. 

Se as cadeias estão superlotadas de réus pobres, os recursos que entopem nossos tribunais têm uma origem bem diversa. 

O Conselho Nacional de Justiça divulgou a lista dos maiores litigantes do Judiciário, onde se encontram basicamente duas grandes espécies: o poder público e os bancos. 

Como assinalou o juiz Gerivaldo Neiva, em análise que fez em seu blog (100 maiores litigantes do Brasil: alguma coisa está fora da ordem), os esforços da justiça estariam em grande parte concentrados entre "caloteiros e gananciosos". 

Verdade seja dita, o acesso aos tribunais superiores não é apenas protelatório. 

Só o Superior Tribunal de Justiça, o "Tribunal da Cidadania", editou nada menos do que quatro súmulas que favorecem diretamente aos bancos, como apontou Neiva. Entre elas a que proíbe o juiz, nos contratos bancários, de considerar uma cláusula abusiva contra o consumidor, se não houver expressamente a alegação no processo. 

A decisão, que serve de referência para a jurisprudência nacional, inverte o privilégio criado pelo código do consumidor. Mas a Justiça parece considerar, muitas vezes, que bancos não têm as mesmas obrigações. 

O STF, a seu turno, não se mostra tão garantista em outros campos. 

Avança na precarização dos direitos trabalhistas, principalmente ao ampliar a aceitação da terceirização. Em relação aos funcionários públicos, destroçou com a força de uma súmula vinculante, a exigência de mero advogado nos processos disciplinares, e com outra a possibilidade de usar o salário mínimo como indexador de adicionais, proibindo ainda o juiz de substitui-lo por qualquer outra referência. 

Não há sentido mais igualitário do que o princípio básico da justiça: dar a cada um o que é seu. Regras tradicionais de interpretação das leis privilegiam sempre a equidade. Se tudo isso ainda fosse pouco, a redução das desigualdades é nada menos do que um dos objetivos principais da República. 

Por mais que a Justiça julgue cada vez mais e se esforce para julgar cada vez mais rápido, não se pode deixar de lado a questão fundamental da igualdade e com ela a proteção aos direitos fundamentais. 

É certo que a sociedade brasileira é profundamente desigual e que a maioria das leis aprofunda esse fosso ao invés de reduzi-lo. 

Mas a obrigação de ser o anteparo da injustiça significa também impedir o arbítrio do poderoso, a danosa omissão do mais forte e a procrastinação premeditada do grande devedor. 

Temos de entender que o direito existe em função dos homens e não o contrário. 

Não há formalismo que possa nos impedir de tutelar a dignidade humana, diante da repressão desproporcional ou da desproteção dos valores mais singelos. 

Para que os fortes se sobreponham pela força, a lei da selva sempre foi suficiente. 

Deve haver uma razão para que a humaidade a tenha abandonado.


Marcelo Semer 46 anos, juiz de direito em São Paulo e escritor. Membro e ex-presidente da Associação Juízes para a Democracia, autor do romance "Certas Canções". Colunista no Terra Magazine.

Postado no blog Ideia Certa em 16/06/2012
Obs.: Imagem inserida por mim.

Natureza e animais. Vídeo espetacular provando que o homem é totalmente dispensável à vida na Terra !



Vídeo feito pelo fotógrafo japonês Matsuri que é absolutamente genial nas imagens, algumas delas, como a caminhada dos ursos nas montanhas geladas, obtidas a cerca de 2 km de distância.



Marilena Chauí emociona público em ato pela Comissão da Verdade da USP


O Ato teve um encerramento emocionante, com uma integrante da Comissão que leu em voz alta do nome de desaparecidos na ditadura que possuíam vínculos com a USP. À leitura de cada nome, todos gritavam “presente”

marilena chauí usp
Heleny Guariba, uma das desaparecidas pela ditadura militar (Foto: Spresso SP/Arte Jornal Brasil Atual)
Carolina Rovai, Spresso SP
O ato pela criação da Comissão da Verdade na USP, realizado na semana passada no auditório da Faculdade de Economia e Administração (FEA), contou com a presença de mais de 500 pessoas e teve como um dos destaques o depoimento da filósofa e professora Marilena Chaui.
Chauí iniciou sua fala relatando o caso de dois grandes amigos, Heleny Guariba, uma das desaparecidas na ditadura militar, e de Luiz Roberto Salinas Fortes, morto por conta dos reflexos deixados pela tortura que sofreu também na época da ditadura.
Ela também relembrou como era entrar na USP em 1969, após a proclamação do Ato Institucional número 5, o AI 5, que foi assinado em dezembro de 1968. “A sensação que a gente tinha era de não saber se voltaria para casa, você não tinha nenhuma garantia de que não seria preso e torturado, portanto você não sabia se seus alunos estariam na classe, e quando você se dava conta de que alguns não estavam você não ousava a perguntar onde eles estavam, se eles tinham faltando na aula, se eles tinham partido para um exílio, se eles já estavam presos ou se já estavam mortos. E a mesma coisa com relação aos colegas.”
Ela disse que acha de “essencial importância que a Comissão da verdade resgate todos os decretos da USP, com as datas de implantação e por quem eles foram implementados”. E adiantou que se coloca desde já à disposição para depoimentos e para ajudar na Comissão. A filósofa também criticou o atual reitor João Grandino Rodas: “Este reitor foi formado e teve seu aprendizado como dirigente nesse caldo de cultura da ditadura. Essa forma de gestão explica essa coisa inacreditável. Isso nem a ditadura fez: pôr a polícia dentro do campus para espancar os alunos”.
Também participaram do ato o professor Paul Singer (FEA/USP), Edson Teles, doutor em filosofia pela USP, professor da UNIFESP, ex-preso político e membro da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Vera Paiva, professora do Instituto de Psicologia da USP e filha do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar, e Eduardo Gonzales Cueva, diretor do programa Verdade e Memória do Centro Internacional para a Justiça de Transição. Roberto Schwarz, professor da USP/Unicamp, também convidado não pôde estar presente, mas enviou sua solidariedade ao movimento. O encontro também contou com a participação de representantes do DCE, do Sintusp, da Adusp e de alguns Centros Acadêmicos da universidade.
A professora Vera Paiva ressaltou que o movimento de democratização da USP tem perdido tempo em discussões por divergências partidárias ao invés de ficar mais atento ao verdadeiro inimigo. Em resposta à pergunta sobre qual verdade queremos, a professora respondeu: “Verdade que permita dizer que isso nunca mais pode acontecer no Brasil.”.
Sua fala também foi marcada por uma preocupação em relação aos órgãos de imprensa que, segundo ela, continuam não apurando os fatos de maneira limpa e clara. Na sua opinião, precisa-se resgatar o que significa “o terrorismo de Estado com a cumplicidade dos órgãos de imprensa”. E acrescentou ao final que é inaceitável o fato de ter de viajar passando por um viaduto com o nome Costa e Silva e por uma estrada chamada Castelo Branco.
Edson Telles disse que não se deve aceitar mais do Estado respostas que tratam a violação dos direitos humanos como uma “reconciliação nacional”, pois não estamos nesse conflito. Eduardo Gonzales acrescentou que a Comissão da Verdade é importante para que se acabe com a história de que as violações aos direitos humanos no Brasil na ditadura foram inferiores a outras ditaduras onde houve mais mortos e desaparecidos: “Direitos humanos não são uma questão de aritmética, mas sim de princípios”. Além disso, destacou que a Comissão da Verdade vai ser importante também para apurar esses números.
Paul Singer destacou que se deve investigar o passado, “pois só assim podemos entender o presente”.
Assista trechos:
O Ato teve um encerramento emocionante, com uma integrante da Comissão que leu em voz alta do nome de desapararecidos na ditadura que possuíam vínculos com a USP. À leitura de cada nome, todos gritavam “presente”. E uma pessoa se levantava com a foto do citado e levava-a até a frente, deixando-a num painel com rosas ao redor.
Postado no blog Pragmatismo Político em 18/06/2012