A tropa de cheque
Finalmente o Brasil está sendo passado a limpo. Começou, ainda que tardiamente, a grande revolução de costumes na pátria da moral e cívica. Tudo está mudando em muito pouco tempo. Entramos na era da transparência total. É de ficar arrepiado.
Vejamos.
Graças a um lapso, tropa de choque virou tropa de cheque, o que é muito mais transparente, verdadeiro e honesto.
Talvez não haja senadores em Brasília para votar o relatório que examina a situação do colega Demóstenes Torres, o paladino da ética que virou jagunço do bicheiro Carlinhos Cachoeira no Senado e fez jorrar benefícios para muitos amigos.
Acontece que os senadores, repentinamente, viraram ambientalistas e estão todos na Rio+20.
Faz sentido. A ecologia deve estar em primeiro lugar. Precisamos salvar o planeta. Ou não haverá mais Cachoeiras. A água, como todos sabem, é o combustível da vida. Sem ela, por exemplo, sob a forma de Cachoeira, nada se irriga.
Por outro lado – sempre há outros lados –, um juiz mandou soltar Cachoeira. Segundo ele, o homem não representa perigo, o esquema montado por ele já caiu e não haveria mais razão para mantê-lo preso antes do julgamento.
A Justiça, finalmente sabemos, não é neutra nem imparcial. Pode dizer que é constitucional o que parece inconstitucional aos olhos de todo mundo. Pode ter prioridades que parecem políticas, mas serão declaradas técnicas. Por que o mensalão do PT deve ser tratado antes do mensalão de Minas Gerais? Por que um mensalão deve ser mais apreciado do que outro?
Mistério.
Mas não se pense que os mistérios só andam pela mão direita. Nada disso. O Brasil é um país cada vez mais democrático, tolerante, sem ressentimentos, incapaz de rancor, pronto para dar a mão ao antigo inimigo desde que isso renda votos.
Em Porto Alegre, PCdoB e PP, inimigos na ditadura, adversários no campo de batalha do Araguaia, tentaram se unir. Só não foi possível por causa do ideologismo (sem contar um pouco de machismo) da maioria pepista, que se recusou a apoiar uma jovem comunista. Se, ao menos, fosse um pouco mais velha, talvez tivesse conseguido vencer as resistências ideológicas.
Em São Paulo, o grande momento. Depois de décadas de carnificina, de horror, de repulsa, de tudo o que se possa imaginar, finalmente Paulo Maluf e PT vão se casar. É a prova de que o Brasil é um país diferente, o país da anistia ampla, geral, irrestrita, até para o torturador, o país do perdão total. Maluf foi chamado de ladrão pelos petistas ao longo dos anos. Nunca ninguém, salvo, talvez, Sarney, foi tão identificado como ladrão quanto Maluf, o rouba, mas faz, a imagem do reacionário total.
Pois Maluf e sua inimiga de sempre, Erundina, vão subir em palanque para apoiar o petista Fernando Haddad, mais uma invenção de Lula, um político de laboratório inventado pelo cacique do PT para semear o pânico entre os tucanos.
Nunca na história deste país se imaginou tal coisa: Maluf e PT de mãos dadas.
É a tropa do cheque: é dando que se recebe e que se perdoa.
Não me surpreendo com mais nada.
Não me surpreenderei se um dia Demóstenes Torres subir num palanque para apoiar o PT.
O passado do Brasil está em “cheque”.
Postado no Blog Juremir Machado da Silva em 16/06/2012
Obs.: Imagem inserida por mim.
Obs.: Imagem inserida por mim.
Precisamos multar os que respiram fumaça de automóveis!
Especialistas da Organização Mundial de Saúde chegaram à conclusão que fumaça de escapamentos de automóveis movidos a diesel causa câncer! Estou chocado. Tamanha revelação foi, provavelmente, fruto de anos e anos de pesquisa.
Mais algumas décadas e esses mesmos cientistas talvez concluam que as outras fumaças (expelidas por carros, ônibus e caminhões, além das chaminés de indústrias) também são cancerígenas. É só um humilde palpite meu.
Fico perplexo porque minha vida toda fui constrangido, à base de uma violenta propaganda oficial, a acreditar que o cigarro é o grande vilão das estatísticas sobre câncer de pulmão e doenças respiratórias. Nunca, jamais li um artigo ou uma reportagem que apontasse o quanto a poluição do ar é nociva a ponto de merecer fazer parte das ações públicas de saúde.
Sempre me pareceu que nossas autoridades, as médicas inclusive, estavam satisfeitas em centrar todos os esforços contra o tabagismo. Afinal, daria muito trabalho e seria loucura eleger como inimigo público, a ser implacavelmente combatido, o império da indústria automobilística. Covardes.
Claro que cigarro faz mal à saúde. Mas sempre me causou indignação a forma como a sociedade resolveu demonizar o fumante de uns anos para cá. É um movimento internacional que se baseia em um discurso autoritário, invasivo, higienista e claramente contra alguns fundamentos dos direitos individuais. Mas ninguém dá valor a essa argumentação. Coisa de viciados, sussurram os iluminados.
Mas as mortes por doenças por câncer, em escala epidêmica, eram todas confortavelmente computadas na conta das bitucas e afins. Sem nenhum protesto da comunidade científica.
Só encontrava uma explicação para essa campanha histérica: outra tendência mundial, a de os governantes transferirem responsabilidades para os cidadãos, numa escaramuça bastante hipócrita, já que nossos líderes têm se mostrado incapazes de atender às demandas mínimas da sociedade.
Como não conseguem oferecer segurança, saúde, trabalho e vida digna aos cidadãos, ficam por aí inventando leis inócuas e criando bodes expiatórios para camuflar a falência do Estado moderno. E agora? Quais serão as urgentes medidas a serem tomadas pelos ministérios da Saúde espalhados pelo mundo?
Como a ciência enfim reconheceu o óbvio, não me surpreenderia se o Geraldo Alckmin decidir criar uma lei proibindo motores à base de diesel. Obviamente, as montadoras terão uns 20 anos para se preparar, com direito a anistias e polpudas indenizações. E nada será dito sobre os malefícios da fumaça de gasolina, mesmo que neste instante milhares de pessoas estejam sendo envenenadas por ela.
Uma certeza eu tenho: se der tempo, o prefeito Kassab vai enviar um projeto à Câmara Municipal criando multas implacáveis para os irresponsáveis que insistirem em cheirar fumaça de automóvel em lugares públicos. Com apoio da população. Não duvidem.
Postado no blog O Provocador em 14/06/2012
232,7˚ Celsius
Rodolfo Borges
"FAHRENHEIT 451, A TEMPERATURA EM QUE O PAPEL DO LIVRO PEGA FOGO E QUEIMA", ESCREVEU RAY BRADBURY. POR AQUI, SERIAM 232,7 GRAUS CELSIUS, FOSSE PRECISO QUEIMÁ-LOS PARA EVITAR A LEITURA.
A morte de Ray Bradbury (1920-2012) recuperou em mim um cafona, incômodo e ao mesmo tempo agradável sentimento fraternal em relação aos livros. Fui ler o "Fahrenheit 451" pra ver se a coisa passava, e ela piorou. É esse o roteiro que me trouxe, mais uma vez, à patética e ingrata missão autoimposta de tentar convencer os outros a ler.
Você não vai parar de respirar se deixar de abrir um livro. Provavelmente não vai ganhar mais dinheiro se ler com regularidade. Mas – e isso eu posso garantir – você vai se sentir tão bem. Tão livre. Tão forte. Vai expandir seu mundo, perceber que existem outras pessoas, outras formas de viver, outras formas de pensar e, assim, se dar conta de que a agressividade com que trata os outros não faz sentido.
"Como você se tornou tão vazio?", questiona-se Guy Montag, o bombeiro do "Fahrenheit 451" que, por profissão, queima livros. Apesar de viver nesse futurístico apocalipse literário, por obra do acaso ele percebe que "é preciso ser incomodado de verdade de vez em quando". Para fora das séries de tevê, para fora da interminável e superficial internet, para dentro de si mesmo.
Apenas metade da população brasileira tentou algo parecido no ano passado, de acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. A média de quatro livros por ano vai se mantendo há décadas e você ainda se pergunta por que o país segue na mesma, ou pior: acredita que as coisas estão melhorando só porque é possível consumir mais.
O psicanalista francês Pierre Bayard escreveu um livro chamado "Como falar dos livros que não lemos" na tentativa de dessacralizar a literatura e, assim, incentivar a leitura. A obra desempenha bem seu papel (o argumento faz sentido), mas prefiro o reverso da psicologia reversa. Tem um pessoal por aí sentindo, pensando, entendendo, existindo. Quando você começa?
Postado no blog Brasil 247 em 16/06/2012
Com estas imagens deliciosas não te dá vontade de ler?
Atropelamentos, punições e política de transportes
Editorial
Leitor e comentador assíduo deste site, o internauta que se identifica como Felipe X em geral não concorda com as abordagens das matérias e as posições assumidas pelo Sul21. As críticas que posta mais de uma vez ao dia como comentários em nossas páginas são, por vezes, ferozes e, quase sempre, vão em direção oposta ao ponto de vista do jornal.
Hoje (15), entretanto, Felipe X postou um comentário em perfeita sintonia com a posição do Sul21 e que, por sua clareza e capacidade de síntese, merece ser transcrito aqui. A respeito da decisão da juíza da 1ª Vara do Júri de Porto Alegre, que determinou que o atropelador dos ciclistas da pedalada promovida pela Massa Crítica na noite de 25 de fevereiro de 2011 seja julgado por júri popular, respondendo pela acusação de 17 tentativas de homicídio qualificado, Felipe X postou, ao final da matéria do Sul21, o seguinte comentário:
“A decisão faz sentido, mas o que me chateia é que a vontade por sangue é maior do que a discussão sobre soluções. Este motorista deveria ter perdido sua carteira de habilitação há muito tempo! Já tinha sido multado até por andar em cima da calçada. Está na hora da CNH ser vista realmente como uma licença e não como um direito básico. O governo tem parte de culpa neste crime.”.
Sem que se minimize a gravidade dos atropelamentos em pauta, merecem reflexão as afirmações implícitas na postagem de Felipe X de que 1) a indignação pública se apega ao fato em si e exige punição de quem o praticou, mas 2) parece não se indignar com a leniência das punições sobre as faltas aparentemente menos graves cometidas diuturnamente por centenas de motoristas.
Se os condutores de veículos motorizados que cometem abusos e exibem comportamento agressivo ao dirigir fossem punidos com mais rigor e suas Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) recolhidas tão logo eles atingissem o limite de pontuação tolerado por infrações e, ainda, se os motoristas que atropelam e matam quando dirigem embriagados, na contramão e/ou em excesso de velocidade, fossem punidos com rigor, certamente as infrações diminuiriam e as morte e atropelamentos no trânsito teriam redução significativa.
No Japão, para se citar um exemplo extremo, quem comete faltas no trânsito e é multado por isto é considerado um indivíduo antissocial e seu comportamento repreendido pela maioria, pois se entende que sua atitude coloca em risco a vida e o bem-estar de toda a comunidade.
Indo mais além das punições, no entanto, é chegado o momento de o poder público, de todos os níveis, rever a prioridade que vem dando desde os anos 50 do século passado ao transporte rodoviário e à locomoção por meio de veículo motorizado individual e particular. Hoje, as vias públicas estão abarrotadas e, em decorrência da melhoria dos rendimentos das famílias e das facilidades de financiamento de veículos, tendem a se tornar cada vez mais intrafegáveis. Os deslocamentos tornam-se cada vez mais lentos e os motoristas cada vez mais estressados.
Sem que se analise aqui a irracionalidade da política de transporte de cargas adotada ainda hoje no Brasil e tratando apenas do transporte de passageiros, bastam alguns cálculos aritméticos simples para se perceber quão absurda é a política de incentivo ao consumo de veículos motorizados para o transporte de pessoas no país. Em média, os carros de passeio pesam entre 700 kg e 900 kg e transportam 1 e ½ passageiro por veículo, que pesam, em conjunto, cerca de 105 kg e se deslocam, nas grandes cidades, a uma velocidade média de 10 a 12 km horários. Considerando-se que um ônibus urbano e um vagão de metrô transportam 60 passageiros, o primeiro, e 75 passageiros, o segundo, são necessários 90 ou 112 carros para transportar o que apenas um ônibus urbano ou um vagão de metrô transportam consumindo muito menos combustível e, no caso do metrô, a uma velocidade média três ou quatro vezes maior e, o que é ainda melhor, agredindo muito menos o meio ambiente.
Para que ocorra a mudança da política de transporte de passageiros atualmente existente no Brasil, é preciso que cresça não apenas a Massa Crítica e os demais movimentos de incentivo ao uso de bicicletas e de veículos de transporte coletivo, mas é fundamental que cresça também, e muito, a capacidade de gestão dos governantes e a consciência crítica do conjunto da população. A realidade do trânsito das grandes cidades do Brasil, hoje, exige uma legislação mais rigorosa e sua efetiva aplicação, mas exige também uma mudança radical na política de transportes vigente no país.
Postado no blog Sul21 em 15/06/2012
Obs.: Imagem inserida por mim.
A linguiça de John Malkovich
Um comercial da Apple deixou os norte-americanos curiosos com a palavra "linguiça", assim mesmo, em português.
No vídeo, o ator americano John Malkovich aparece conversando com o Siri, aplicativo que (supostamente) responde a qualquer questão feita pelo dono no iPhone.
Quando o ator diz a palavra "linguiça", Siri responde que encontrou cinco restaurantes, alguns deles brasileiros, onde é possível comer a iguaria perto de onde ele está.
Postado no blog O Esquerdopata em 15/06/2012
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