Para se roubar um coração






Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. 

Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. 
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente. 
Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. 
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade. 
Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos. 
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago. 
...E então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. 
Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração. 
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. 
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que? 
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós. 
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava. 
... E é assim que se rouba um coração, fácil não? 
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então! 
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples... 
É porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.

Luís Fernando Veríssimo


Os 50 anos das sandálias Havaianas



por Florestan Fernandes Jr.
Não deformam, não soltam as tiras e não tem cheiro. Este era o texto de uma das primeiras propagandas das sandálias Havaianas. Lançada em 14 de junho de 1962, a sandália de borracha não demorou muito para ser uma unanimidade nacional. Por c...onta do preço popular e da durabilidade a Havaiana pode ser considerada hoje o pisante do brasileiro. 
Democraticamente ela calça os pés de ricos e pobres, no campo e na cidade. Ao completar 50 anos a sandalia pode comemorar um outro feito, a comquista do mundo. Virou moda na Europa e nos Estados Unidos, onde um par chega a custar, acredite, US$1.500,00. 
No ano passado, vi uma multidão querendo entrar numa loja das Havaianas em Barcelona. Andando pelo bairro asiático da cidade catalã topei com imitações perfeitas não fosse pelo nome: Las Baianas, las legitimas brasileñas. 


Postado no blog Luis Nassif Online em 14/06/2012
Obs.: Imagens inseridas por mim

Rio+20: duas visões



A Rio+20 é o inimigo (ou: contra a sustentabilidade)



por André Forastieri





A Rio+20 é uma idiotice, desperdício de tempo e dinheiro, e contraproducente. Não vai dar em rigorosamente nada. Nem teria por quê. Não há o que debater. Os parâmetros pré-determinados para o debate garantem o fracasso da conferência.


A imprensa mundial trata o evento com a desimportância que merece. Um giro minutos atrás por BBC, CNN, Guardian, New York Times e El País não mostrou uma linha sobre a Rio+20. Le Monde tem um artigo escondidinho — mas só usa o gancho da conferência para cutucar Dilma, explicando sua moleza com os ruralistas na história do novo Código Florestal.

A razão do fracasso da Rio+20 não é a ausência de Barack Obama, presidente do país mais poluidor e poderoso, ou Angela Merkel, líder do país que dá as cartas na eurolândia. Nem os vagalhões que solapam a economia do mundo em suas premissas fundamentais.

A Rio+20 não vai dar em nada porque é planejada cuidadosamente para não dar em nada. No que deu a Eco 92? O protocolo de Kyoto? As metas do milênio? Nada. São só relações públicas, propaganda para enganar os trouxas.

Os chefes de Estado vêm, posam para as fotos e tchau. Os diplomatas debatem colchetes, como se discutissem quantos anjos cabem na ponta de uma agulha, para justificar os salários. Estudantes e ongueiros fazem manifestações e eventos paralelos. Deve ser bom para arrumar namorada/o, ou pelo menos alguém para passar a noite, como aqueles antigos encontros da UNE.

A Rio+20 começa estúpida pelo nome: Conferência pelo Desenvolvimento Sustentável. Como disse o amigo André Barcinski, a próxima vez que alguém proferir a palavra "sustentabilidade" perto de mim, enforco o infeliz com uma sacola plástica. É um conceito impreciso, inútil e ofensivo.

Pergunte para a pessoa ao seu lado o que significa. Ninguém sabe. "Sustentabilidade" é um saladão de boas intenções, premeditadamente vago o suficiente para que todos possam assinar embaixo sem se comprometer de fato com nada, políticos, empresas, instituições, indivíduos.

A melhor alocação de nossos recursos naturais já é fato. Tudo que há na Terra, inclusive nós, somos alocados da maneira mais eficiente que conseguimos, para a geração dos maiores lucros possíveis. O nome disso é capitalismo. Deu certo para muitas coisas, errado para tantas outras. Permitiu o crescimento e enriquecimento explosivos da população do planeta, o que não foi nada mal. Há consequências e, palavra importante, externalidades.

O capitalismo financeiro do século 21 se alimenta dos recursos naturais - incluindo nós — a la Matrix, viu o filme? Como no clássico de ficção-científica que fechou com chave de ouro o século passado, o sistema (olha ele aí!) sua a energia dos nossos corpos, e nossos cérebros se distraem com um mundo virtual, aparentemente lógico, em que as decisões parecem tomadas livremente por seres humanos, baseados em premissas racionais.

É tudo mentira. A máquina devora o planeta e defeca lucro. Ponto.

Desliga essa TV, fecha esse jornal, e esquece essa babaquice de Rio+20. O que você precisa saber é urgente e é o seguinte: nos próximos quarenta anos a população do planeta Terra vai aumentar cinquenta por cento. A maioria esmagadora de escurinhos, em países pobres, dos quais muitos vão querer migrar para países mais abastados, naturalmente.

Se você acha que tua cidade está engarrafada, fedorenta, poluída e perigosa, vai se preparando. Se em 2012 o capitalismo não dá conta nem de garantir a subsistência dos aposentados na pacata Eurolândia, que dirá arrumar emprego, comida, água, casa e remédios para mais três bilhões de pessoas...



Que venha a Rio+40!

por Marco Antonio Araujo

Começou a Rio+20. Mas também podia estar acabando, tanto faz. Esse evento é a maior prova de que a humanidade não tem salvação. O ser humano, quando não é malévolo, é ingênuo. No fim, o resultado é sempre o mesmo.

Todos os supostos avanços ecológicos foram frutos da necessidade e do interesse das grandes corporações. O gás CFC, aquele dos aerossóis e refrigedores, não foi eliminado das linhas de produção por ser nefasto à natureza, mas simplesmente para que a indústria pudesse faturar bilhões substituindo aparelhos inofensivos.

O chamado discurso verde já foi incorporado pelo sistema, pelo establishment, tornou-se a grande coqueluche do status quo. Quem se acha um rebelde revolucionário por defender soluções sustentáveis para o planeta não passa de um palerma bem intencionado.

Observem como vão se desdobrar as “negociações” da Rio+20. Será um teatro do começo ao fim. Cada um dos agentes envolvidos sabe seu papel de cor. O planeta não sairá um milímetro de sua órbita inexorável.

O que parece um grande conflito entre nações ricas e pobres, com seus heróis e vilões, é somente uma opereta monótona repleta de bufões. Se Obama estará ausente ou não, convenhamos, não tem a menor influência nos protocolos que continuam inalterados desde a Rio 92. A humanidade não muda, ora pois.

Pois que venha a Rio+40. O planeta não está nem um pouco preocupado. Ele não corre nenhum risco. A Terra sabe se defender de piolhos e parasitas. Quem tem os dias contados, bem sabemos, somos nós, pobres mortais. Não somos recicláveis.

Postado no portal R7 em 13/06/2012

Barbie humana vai transformar pessoas em zumbis!


                               

Psiquiatra diz que a bonequinha só prova que o ser humano quer ser "descartável"

Em abril, quando as primeiras fotos de Valeria Lukyanova começaram a chamar atenção na internet, ninguém imaginou que ia dar no que deu. 
Do nada, a mulher foi alçada ao status de web-celebridade por causa da sua aparência, que lembra a de uma boneca humana.

Lukyanova, que diz ter 21 anos de idade. dividiu opiniões. Houve quem a achasse uma maluca por querer se parecer com uma boneca Barbie e houve, também, quem a achasse linda.

Ninguém, porém, passou batido.

Existem os céticos que acham que a mulher não passa de um triunfo da arte da manipulação digital de imagens. Para outra espécie de céticos, ela também um triunfo, com devidos créditos às cirurgias cosméticas.

O fato é que Lukyanova marcou sua presença de forma irrevogável. Seu canal no Youtube já tem mais de 5 milhões de visualizações e milhares de assinantes. Sua fan-page oficial no Facebook tem centenas de milhares de curtidas e - o que é um fato ainda maior para determinar a popularidade de uma pessoa na internet - existem vários perfis que afirmam ser da ucraniana e, na real, não são.

Nesta semana, o psiquiatra Keith Ablow escreveu um artigo no site da Fox News dizendo que acredita que Valeria Lukyanova é um perigo.

- Agora, ao que parece, assim como Valeria/Barbie, nossa autoimagem pode se tornar inteiramente dispensável, em favor de nos tornarmos uma duplicata viva de um famoso produto, um sósia de uma celebridade, ou (acreditem em mim, isso vai acontecer também) um pretenso tigre, tatuado em laranja, com listras, usando uma cauda de vez em quando.

Para Ablow, Lukyanova é apenas um prenúncio do que virá por aí.

- A barbie humana é um sinal do que virá e prediz uma época em que as pessoas evitarão as emoções reais e dar real capacidade de mudar suas próprias vidas e ter empatia com as outras pessoas. Isso é a previsão de um tempo em que o que é entendido por "felicidade" está sendo anestesiado, quando viver a "vida" requer sua morte psicológica, quando a liberdade de expressão individual exige que uma imitação dos outros, até de objetos inanimados e personagens de ficção.

De acordo com o psiquiatra, esta é a pior tragédia que pode acontecer ao ser humano.

- Estes zumbis não são capazes de sentir empatia com o sofrimento dos outros. Eles são, portanto, capazes de causar grande sofrimento ao mundo, possivelmente, mesmo que inconscientemente, gostando disso. Este é, a propósito, como os tiranos são criados - quando as pessoas deixam de ser autônomos, cedem aos seus seus impulsos diante de uma autoridade central e projetam seu ódio enrustido contra o fato de serem desumanizadas na direção de um grupo de vítimas inocentes. Eu sei. Eu sei. Muita gente vai dizer que eu sou alarmista e estou expandindo irracionalmente meu argumento sobre um boneca de plástico à toda humanidade. Bom... Deixem o alarme tocar. Nós estamos perdendo a nós mesmos. Nós devemos nos reclamar de volta.

Postado no portal R7 em 14/06/2012

Está cansada?


Conheça alguns truques para driblar o desânimo e renovar suas energias
Consuma vitaminas e minerais

A carência nutricional mina a energia, pois prejudica o bom funcionamento do organismo. 

Para se certificar de que é esse mesmo o seu problema, e também para descobrir exatamente do que o seu corpo precisa, só fazendo um exame chamado mineralograma, que verifica as taxas de vitaminas e minerais nos três últimos meses a partir de fios de cabelo retirados o mais rente possível do couro cabeludo e próximos da nuca, conforme explica Tamara Mazaracki, nutróloga, do Rio de Janeiro. 

Depois, para confirmar se a suplementação está dando certo, é necessário partir para testes de sangue e urina. Em tempo: “É comum as mulheres terem deficiência de vitaminas C, E e zinco, que são essenciais para fortalecer o sistema imunológico e garantir disposição”, conta Heloísa Rocha, cardiologista e médica ortomolecular, do Rio de Janeiro.

Corra na frente!
Um estudo coordenado pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) descobriu que a produtividade de mulheres que seguem um programa de corrida é muito superior à de sedentárias da mesma faixa etária. 

Na pesquisa, as corredoras ainda se mostraram bem mais dispostas, autoconfiantes e preocupadas com a alimentação. Correr não é a sua praia? Sem problemas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que praticar uma atividade física que te dê prazer por pelo menos meia hora, três vezes por semana, aumenta a energia, as massas muscular e óssea, melhora a postura e previne doenças.

Esfolie-se com sal grosso

ingrediente elimina a carga elétrica excessiva que rouba a sua energia. Mas para não machucar a pele, faça assim: num pote, misture um punhado de sal grosso com ¼ de xícara de chá de óleo de amêndoas e duas gotas de essência de eucalipto. 
“Passe com as mãos, fazendo movimentos circulares e delicados no corpo todo, menos no rosto, durante 10 minutos. Depois, enxague com água morna para fria”, ensina a fisioterapeuta dermatofuncional Fernanda Scovino, do Espaço Solaris, no Rio de Janeiro.


Durma bem


Não adianta comer direitinho e se exercitar regularmente se você não dorme bem. É que durante o sono acontecem processos metabólicos que, se alterados, desequilibram todo o funcionamento do organismo.

“Inúmeras pesquisas mostram que quem dorme mal e levanta mais cansada do que quando foi deitar tem menos vigor, envelhece mais rápido e está sujeito a doenças”, diz Fausto Ito, especialista em sono e membro da Associação Brasileira do Sono (ABS) no Rio de Janeiro. Para ter uma noite reparadora, recomenda-se :
1. Ir para a cama e acordar sempre no mesmo horário.

2. Diminuir a luminosidade da casa à medida que cai a noite, para estimular o organismo a produzir melanina, que é um indutor natural do sono.

3. Comer, no máximo, três horas antes de dormir, de preferência alimentos leves, com pouca gordura.

4. Não tomar bebida alcoólica nem com cafeína, como chás escuros e refrigerantes à base de cola.

5. Usar pijama, travesseiro, lençol e colchão que a deixem confortável.

6. Levantar a cabeceira da cama em 15 centímetros se você tem apneia ou ronca. Dormir de lado também é uma boa pedida.


Pingue óleo essencial no seu hidratante preferido
“Imediatamente após ser inalada, a fragrância atua no sistema límbico, que é a região do cérebro responsável pelas emoções. Assim, se você usa um cheiro energizante, como laranja, alecrim ou limão, sente-se bem disposta e com a energia renovada”, fala Lôua Unger, massoterapeuta. 


Segundo ela, um jeito prático de utilizar o óleo essencial é pingar uma gota no seu hidratante, na água da banheira, na toalha de banho ou no travesseiro.


Aperte o ponto certo

Quando a sonolência estiver roubando a sua vontade de fazer alguma coisa, não pense duas vezes em apertar com força, por 30 segundos, o ponto na palma da mão que fica bem no meio do caminho entre o dedo indicador e o polegar. “O incômodo vai acordá-la no ato”, afirma a reflexologista Alice Keiko, da Clínica Keiko’s, em São Paulo. 

Tome um suco power

Quem dá a receita é a nutricionista Gabriela Marcelino, da Congelados da Sônia, no Rio de Janeiro: bata no liquidificador meio litro de água filtrada com 2 colheres de sopa de mel e 40 uvas niágara. Achou ‘fraquinho’?
“Não é, mesmo! O valor energético da bebida se dá pela grande quantidade de carboidrato simples encontrado na fruta e no mel. E como esse nutriente é digerido rapidamente, é tomar para sentir um up em cerca de meia hora”, garante a expert. Por tudo isso é que a bebida, segundo ela, também é excelente pedida naqueles dias em que você está sem coragem até para levantar da cama. 


Ouça músicas animadas que você goste
Se fizer isso durante a atividade física, seu desempenho aumenta em até 20%. O dado é do pesquisador Costas Karageorghis, consultor de psicologia do esporte da Universidade Brunel, na Inglaterra. Segundo ele, ouvir um som animado e que você goste não só é muito estimulante, como ajuda a regular o humor, reduzir medos, melhorar a concentração e diminuir o cansaço.



Alongue-se
A atividade relaxa a musculatura, libera os movimentos, que ficam bloqueados pelo stress, melhora a circulação sanguínea e aumenta a temperatura corporal. “O horário ideal para se esticar é pela manhã, ainda na cama, para despertar o corpo e prepará-lo para encarar o dia com disposição”, avisa Marcella Alves, professora de educação física da Academia da Praia, no Rio de Janeiro. Quer tirar a prova? Faça assim: 

1. Dê uma boa espreguiçada, esticando bem as pernas, os braços e a coluna.

2. Movimente suavemente a cabeça para os lados.

3. Levante-se e se espreguice mais uma vez, entrelaçando os dedos das mãos acima da cabeça e
ficando na ponta dos pés para se esticar um pouco mais.

4. Apoie as mãos na nuca e aproxime o queixo do colo.

5. Flexione o tronco à frente, tentando encostar as mãos no chão.

6. Para terminar, equilibre-se em um pé e puxe o outro para trás e em direção ao bumbum. Depois, repita para o outro lado.

Coma couve, espinafre, arroz integral ou aveia todo dia
O quarteto fantástico é riquíssimo em magnésio, cuja falta causa irritação, cansaço, ansiedade e intensifica os sintomas da TPM. “Para evitar tudo isso, a recomendação é ingerir diariamente 400 miligramas do mineral, que é encontrado em duas porções de folhas verde-escuras ou de grãos integrais”, calcula a nutricionista Camila Duran, de São Paulo.


Postado no blog Uma Mulher


A maturidade do corpo e do amor, por Urariano Mota

Crônica para a namorada madura

Por Urariano Mota
“Fernanda Lima é a capa da edição deste mês da revista ‘Boa Forma’. ‘O corpo piora com o passar dos anos e não tem outro jeito a não ser redobrar os cuidados’” (Dos jornais)
Pois assim como a noite vinda depois do dia, que não mais pode ser da natureza do dia, mas no seu escuro, nas suas estrelas, tem um encanto, que por ser diverso daquele do dia não deixa de ser um encanto. 
Assim como nas sucessões físicas, temporais, de toda a natureza, da flor que fenece e cai e se ergue em outra a partir dos grãos derramados, até a onda do mar que se espraia e se desfaz e se refaz dos seus restos em nova onda, assim também o amor dos primeiros anos, que resistiu à inconstância da paixão, se faz sentimento curtido, de marcas e rugas que entranham o sol, organizando-se em nova pele. 
Ainda que sem a elasticidade e frescor dos primeiros anos, vem o sabor íntimo do vinho de que se aprendeu a gostar, uma cumplicidade de lições apreendidas no toque sem palavras, que o rebento dos primeiros fogos não alcançava.
Pois não é próprio do fogo o consumo e o autoconsumo, voraz no incêndio e lento depois até as brasas que por fim esfriam? Pois sendo natural do fogo a destruição inexorável, linear e de sentido único, do começo para o fim, do começo para o fim, e sempre, é no entanto mais próprio da coisa humana o guardar semelhança com os fenômenos naturais, mas sem se deixar reduzir ao que não tem o salto e a qualidade da natureza da gente. 
Se os primeiros anos de amor são um fogo sem medida, e ao dizer isso guardamos apenas uma cômoda aproximação, pois não são exatamente um fogo a loucura e a impulsividade e o não ter limites os atos e ações daqueles anos, menos própria será a comparação do amor que amadurece ao fogo que lentamente se apaga. 
Pois se esse amor guarda correspondência com o próprio amadurecimento da gente, e portanto faz sua casa nas rugas do nosso rosto, e por rugas lembramos sempre os efeitos do sol ao longo do tempo na matéria couro de nosso semblante, isto não quer dizer, a continuar nesse processo, que o amor que amadurece, por lembrar sol e destruição do frescor, venha a ser um inventário de perdas.
Pois ainda que assim fosse, a esta altura já aprendemos que as perdas na vida não são um número frio, acabado e fechado, afetado de um sinal negativo.
Diríamos, num primeiro impulso, que elas se reservam em experiência. Dizendo menos mal, diríamos que as perdas na vida organizam um novo ser, aquele ser que sabe porque aprendeu que a vitória não é bem um metódico e unidirecional fazer a coisa certa. Que a vitória é um fazer inúmeras coisas erradas, que ao receberem uma reflexão e um julgamento iluminam o fazer a coisa menos errada. Que a vitória sobre as trevas é como um labirinto que oculta um caminho secreto e inteligível até a maravilhosa saída. 
Mas ainda aí, nessa tradução de perdas, o amor amadurecido ainda não é alcançado. Pois para ele, para esse amor que sofreu mudanças ao longo dos anos, o que há e o que houve não são nem foram exatamente perdas. Por exemplo, é exatamente uma perda o não levar a amada para a cama com a mesma frequência dos primeiros tempos? 
Um cínico, míope, como todos os cínicos, diria que sim. Que uma coisa é fazer sexo, e aqui mais se mostra a miopia ao fazer equivalentes o amor e o sexo, pois uma coisa seria fazer sexo três vezes por dia nos 30 dias de um mês, todos os meses, e outra bem diferente é fazer sexo quando Deus, a conveniência, a oportunidade e as forças forem servidas. Já nessa resposta o cínico não vê a etapa superior que é o prazer que conhece sobre a fome onívora. Enquanto o primeiro evita caminhos precários, já trilhados, a segunda vai às cegas até atingir uma provisória satisfação sempre insatisfeita.
É claro que o amor que amadurece não nos deixa menos carnais, mais virtuosos ou santos. Ele, de um ponto de vista mais pragmático, nos deixa mais perceptivos da bagagem que ao longo da jornada acumulamos. 
De um ponto de vista menos prático, menos visivelmente prático, queremos dizer, esse amor é a transformação daquele sentimento juvenil que só desejava a própria satisfação. Que em vez de abrigar buscava urgente abrigo.
Em lugar da busca de formas perfeitas, e sabe-se lá o que a carência idealizava como perfeitas, coxas, busto, ventre, rosto, perfume e fetiches ativos e exuberantes, esse amor maduro põe a compreensão de que a estação das formas fôrmas não se guarda nua em mármore. Que aquela pedra é forma oca de experiência. Mas que nem por isso esse amor transformado é um sentimento outonal, do ocaso. 
Ele não é como o sentimento de alguém que vê a chuva batendo na janela, e aconchegado no calor da sala se diz, “para a rua não poderei mais sair”. Ele é apenas, talvez, uma doce intimidade conquistada. Sujeito a trovoadas, tempestades, pois a vida não é de paz, dentro e fora do sentimento. Mas sem aquelas soluções terminativas, definitivas, dos arroubos sectários dos primeiros anos, “ou isto ou aquilo”.
Esse amor maduro diz melhor, fala melhor às sístoles e diástoles do coração amadurecido. Dele fala melhor o que não é conceito, ao que é essencial encarnado no destino mesmo da gente. E o essencial é que as rugas, as gorduras, os ossos frágeis do objeto que se ama se revelam uma fortaleza.
O amor que amadurece ama a pessoa exatamente nesse tempo de decadência física, e por essas, e por causa mesmo dessas formas. As fragilidades físicas se tornam uma qualidade, pois remetem a uma história comum. Esse amor apenas deseja dizer, “saiba que aprendi  muito a amar as suas rugas”.  O que quer dizer, ele, esse novo amor, não quer vê-la sozinha, ele a quer a seu lado nos próximos, nos poucos e infelizmente poucos anos que lhes restam. Como flores na praia açoitadas pelo vento, até que venham as ondas e tudo cubram.
***
Urariano Mota é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista, publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. Atualmente, é colunista do Direto da Redação e colaborador do Observatório da Imprensa. As revistas Carta Capital, Fórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor de Soledad no Recife (Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, e Os corações futuristas (Recife, Bagaço, 1997). Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.

Postado no blog Luis Nassif Online em 13/06/2012
Obs.: Imagem inserida por mim.