Para defender lucro de seu principal anunciante, Jornal Nacional ameaça o país com mexida na poupança
Do Blog do Mello - 21/04/2012
Enquanto o país inteiro se alegra com a redução nas taxas de juros, o Jornal Nacional toma as dores dos únicos que lamentam essa queda, bancos e seus acionistas, especialmente o Bradesco, principal anunciante do telejornal da Globo.
Na reportagem que abriu a edição de ontem, o JN buscou aterrorizar a população com uma ameaça sinistra. Segundo a reportagem, a queda dos juros vai levar o governo a mexer na caderneta de poupança, o que seria, na opinião editorializada da reportagem, a única forma de manter atrativos os rendimentos da renda fixa.
Para isso procurou opinião de dois especialistas favoráveis à tese, um economista da FGV e o indefectível ex-ministro Maílson da Nóbrega.
Para dar um ar de isenção, a reportagem coloca um depoimento da presidenta Dilma espremido entre os dois especialistas. Mas, repare as palavras de Dilma, que deveriam derrubar a tese da matéria de uma vez por todas:
Dilma: “O Brasil tem de buscar um patamar de juros similar ao praticado internacionalmente. Tecnicamente, fica muito difícil o Brasil diante do que ocorre no mundo justificar spreads tão elevados. Eu acredito que isso será um processo de amadurecimento do país, que vai nos encaminhar progressivamente para nós termos juros mais condizentes com a nossa realidade”, declarou a presidente.
Em seguida a Dilma, entra Maílson, um eterno devedor das Organizações Globo, pois só foi efetivado ministro no governo do presidente Sarney, porque Roberto Marinho aprovou, como Maílson mesmo reconhece:
Maílson: - A Globo tinha um escritório, em Brasília, no Setor Comercial Sul. Fui lá e fiquei mais de 2 horas com o doutor Roberto Marinho. Ele me perguntou sobre tudo, parecia que eu estava sendo sabatinado. Terminada a conversa, falou: "Gostei muito, estou impressionado". De volta ao Ministério, entro no gabinete e aparece a secretária: "Parabéns, o senhor é o ministro da Fazenda". Perguntei: "Como assim?" E ela: "Deu no plantão da Globo" [o Plantão do Jornal Nacional].
Voltando ao JN de ontem. Depois da sonora de Dilma, a matéria segue defendendo sua tese da inevitável mexida na poupança, para fechar com o ex-ministro de Roberto Marinho:
O ex-ministro da fazenda Maílson da Nóbrega diz que é necessário, mas muito difícil mexer na regra da poupança.
“É uma questão delicadíssima do ponto de vista político. A caderneta de poupança é a forma mais popular de economizar dinheiro no Brasil. Tem mais de 50 anos, sem problema, sem calote. É fácil de entender. Então, mudar a caderneta de poupança tem que ser de forma muito bem feita, muito bem preparado, bem esclarecido”, avalia.
Repararam? A matéria fala pelo ministro, como destaquei em negrito.
No entanto, hoje, reportagem da Folha mostra a real intenção do governo, já expressa nas palavras da presidenta, mas boicotada na matéria do JN.
Diz a Folha:
O governo Dilma vai pressionar mais uma vez os bancos privados. A expectativa é que eles reduzam as taxas de administração de seus fundos de investimentos para torná-los mais lucrativos, permanecendo mais rentáveis que a poupança.
Ou seja: o governo não cogita mexer na caderneta de poupança. Quer que os bancos diminuam suas taxas e tenham "juros mais condizentes com a nossa realidade", como disse a presidenta.
Esquece a Globo que hoje quem define a política econômica é o governo da presidenta Dilma e não Roberto Marinho.
Postado no Blog ContrapontoPig em 21/04/2012
Postado no Blog ContrapontoPig em 21/04/2012
Flexão de gênero no diploma
Pode parecer uma coisa simples e boba, mas tem peso simbólico. Em 3 de abril deste ano a presidenta Dilma Rousseff sancionou uma lei de autoria da então senadora Serys Slhessarenko, que torna obrigatória a flexão de gênero nos diplomas. Isso significa que as milhares de mulheres desse país que cada vez mais acessam o ensino superior, vão ter no seu diploma a flexão feita de acordo com seu gênero.
Algumas pessoas argumentaram que trata-se de uma lei boba, que mais uma vez a presidenta se preocupava com assuntos “menos importantes” ao invés de lidar com questões sérias. Não sei que tipo de lógica é essa, como se a aprovação de uma lei impedisse outras de serem aprovadas. Para mim é significativo que algumas universidades ainda insistissem em usar o masculino como termo “neutro” para designar as profissões, mesmo quando a maior parte dxs estudantes se formando eram mulheres.
Não acredito em termos neutros. Acredito numa linguagem que também está estruturada pelas relações de gênero na nossa sociedade e, que em vários exemplos, reflete uma série de machismos. Aos que acreditam que essa é uma posição radical, é só lembrar quantas vezes os homens se incomodam quando são tratados no feminino, mesmo que num determinado contexto eles sejam minoria em relação às mulheres. Não se trata de uma simples regra gramatical.
Na discussão do nosso grupo sobre o assunto, alguém resgatou a seginte citação:
“Não sabemos se atrás da palavra homem se está pretendendo englobar as mulheres. Se for assim, elas ficam invisíveis e se não for assim, ficam excluídas” (FRANCO, Paki Venegas; CERVERA, Julia Pérez. Manual para o uso não sexista da linguagem (pdf). PROTECA, 2006).
Para não dizerem que isso é blábláblá de feminista, vale a pena resgatar a citação de Paulo Freire, no texto “A pedagogia dos sonhos possíveis”:
“É preciso, então, que nós, educadoras – quero dizer aos homens presentes que não duvidem muito da minha virilidade, mas concordem com a minha postura ideológica de rejeição a uma sintaxe machista que pretende convencer as mulheres que dizendo ‘nós, os educadores’ eu esteja incluindo as mulheres. Não estou. E para provar que quando digo ‘nós, os educadores’ estou falando só de homens, porque não entro nessa mentira macha, eu agora disse, de propósito, ‘nós, as educadoras’, para provocar os homens. E espero que eles se sintam incorporados ao ‘educadoras’ no feminino, para ver como é ruim. Quer dizer, não como é ruim ser mulher. Como é ruim a mulher ser envolvida numa mentira, numa ideologia que pretende explicar sintaticamente, como se a sintaxe não tivesse nada a ver com ideologia – uma falsificação.” (FREIRE, Paulo. Pedagogia dos sonhos possíveis, p. 100)
Saramago traduziu esse sentimento de exclusão em duas passagens (que me lembre), em “A Jangada de Pedra”:
“Quando se encontram vestígios humanos antigos, são sempre de homens, o Homem de Cro-Magnon, o Homem de Neanderthal, o Homem de Steinheim, o Homem de Swans combe, o Homem de Pequim, o Homem de Heidelberg, o Homem de Java, naquele tempo não havia mulheres, a Eva ainda não tinha sido criada, depois criada ficou, Você é irónica, Não, sou antropóloga de formação e feminista por irritação”.
No “Conto da Ilha Desconhecida”, também de Saramago, tem um diálogo em que a “mulher da limpeza” diz assim, ao “homem que queria um barco”:
“… o filósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância” .
A Lei garante que se uma pessoa quiser corrigir a flexão de gênero do seu diploma, ela pode pedir a reemissão. Parece bobo, né? Mas é o tipo de coisa que faz a gente pensar como o machismo está mega incorporado na nossa sociedade, de várias maneiras e, de como a nossa luta ainda tem muito o que avançar para alcançar uma igualdade substantiva.
Priscilla Caroline
Tem problemas de concentração, mas entre as milhões de coisas que pensa ao mesmo tempo sempre tem alguma coisa feminista.
Postado no Blog Blogueiras Feministas em 20/04/2012
Conhecendo o Brasil: Espírito Santo
Vitória
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Guarapari
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Vila Velha
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Domingos Martins
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Espírito Santo
A alegria na tristeza
por Martha Medeiros
O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.
O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.
Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada.
Marta Medeiros é escritora gaúcha e colunista em jornais.
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