Novas e velhas reflexões sobre a Terceira Idade



Eu nunca tive nada contra a palavra velhice, da qual já me sinto bem próximo, mas acho que Terceira Idade é uma boa expressão, livre de preconceitos e razoavelmente neutra, se neutralidade é algo de fato possível.
Agora, ainda não me convenci de que Melhor Idade seja uma sacada legal.
Parece ironia ou eufemismo.
Ou jogada de marketing para botar a mão no grana dos idosos e torná-los consumidores desenfreados, levando-os, em excursão, numa semana, à Patagônia e, na outra, a gastar os tubos num Spa ou a saltar de uma ponte pendurados em elásticos. Se bem que tudo isso pode ser muito legal. Quem tem mania de considerar o novo como uma qualidade intrínseca é publicitário e adolescente. Sem contar a televisão. O Big Brother Brasil, por exemplo, mostrou ser uma divertida e velha reunião de novos descerebrados com corpos sarados, ou nem tanto, e objetivos claros em relação ao obscuro mundo da fama.
Também nada tenho contra os descerebrados, mas o que me chama a atenção é essa autossatisfação da idade.
Se a velhice é a melhor idade, qual é a pior?
Deve ser a idade da razão, quando se tem de trabalhar muito, ser sensato, acreditar nas boas intenções dos políticos, produzir para aumentar o nosso PIB, declarar imposto de renda, apostar no futuro da nação, não cometer bobagens demais, não mudar de time de futebol, fazer esteira, comer salada e preparar-se para a fila do INSS quando chegar a aposentadoria.
Ou será que todas as idades são boas? Há quem não esqueça a infância. Em geral, critica-se a adolescência. A idade é como o clima: quando se tem um, fica-se com saudades do outro. Não tem jeito mesmo.
Tudo isso, enfim, para dizer que as atividades da Terceira Idade continuam bombando no país inteiro.
Muito jovem baba de inveja.
Não há atividade que escape à voracidade dos novos idosos. Antes, eles se limitavam aos bailes no meio da tarde. Agora, resolveram rasgar a bandeira e soltar a franga noite à dentro. Tanto que, num fevereiro desses, eu mesmo fui, no Rio de Janeiro, ao grande show dos velhinhos, o mega-espetáculo da Terceira Idade rebelde, em Copacabana, que serviu de marco internacional de uma categoria em franca ascensão: o rock da Terceira Idade. Estou falando, claro, do show dos Rolling Stones.
Velhinhos no palco, velhinhos na platéia, pais e filhos, avôs e netos, enfim a paz entre as gerações e uma festa de arromba, em família, ao som de antigamente. Afinal, o rock é uma questão de atitude e de tendência.
Há pouco aconteceu o mesmo em Porto Alegre com aquele velhinho do Pink Floyd.
Estou requentando este texto.
Por quê?
Porque, na aurora da Terceira Idade, aprendi que não se deve fazer cinco coisas:
1) desprezar as dores da idade
2) jogar futebol com a gana de quando se tinha 18 anos
3) acreditar em políticos
4) desacreditar da política
5) falar mal de pitbulls
Todo o resto é possível.


Postado no Blog Juremir Machado da Silva no Portal R7

Rui Barbosa garoto propaganda




Até Rui Barbosa já foi garoto propaganda. Antigamente, era mais eficiente ter uma cabeça grande – e não outras partes anatômicas – para promover um produto. Propaganda publicada em 1917, no Estadão (fonte).




Postado no Blog Livros e Afins em 09/04/2012



A imensidão da vida


Richard Jakubaszko

A publicação deste vídeo é um presente de Páscoa aos visitantes do blog. Que haja um renascimento sem soberba, e que esse renascer seja do tamanho exato do quanto significamos diante do universo, mas sempre melhorando os saberes, para que se tenha a exata dimensão de que somos simples poeira das estrelas.


                                     

Postado no Blog Richard Jakubaszko em 08/04/2012






Postado no Blog 

Reportagens com denúncias somem das capas da Revista Veja após prisão de quadrilha na Operação Monte Carlo da PF



Veja abaixo as últimas capas da Revista Veja, publicado pelo site Amigos do Presidente Lula. Desde a prisão do bicheiro conhecido como Carlinhos Cachoeira, na operação Monte Carlo, deflagrada pela PF (Polícia Federal), as matérias de denúncia sumiram.


A revista está sendo acusada de se aproveitar de um esquema criminoso para publicar falsas reportagens investigativas. As informações não seriam fruto de reportagens investigativas, mas dossiês preparados pela quadrilha presa.




Sem Cachoeira, sem denúncia

Postado no Blog Educação Política em 08/04/2012





Sorrir faz bem ! Especial de Páscoa


Obs.: Um pouco "sem noção", mas não deixa de estar engraçado...














A crucificação de Cristo e o suicídio em Atenas





O homem que prenderam, interrogaram, torturaram, humilharam, escarneceram e crucificaram, na Palestina de há quase dois mil anos, foi, conforme os Evangelhos, um ativista revolucionário. Ele contestava a ordem dominante, ao anunciar a sua substituição pelo reino de Deus. O reino de Deus, em sua pregação, era o reino do amor, da solidariedade, da igualdade. Mas não hesitou em chicotear os mercadores do templo, que antecipavam, com seus lucros à sombra de Deus, o que iriam fazer, bem mais tarde, papas como Rodrigo Bórgia, Giullio della Rovere, Giovanni Médici, e cardeais como os dirigentes do Banco Ambrosiano, em tempos bem recentes. O papa reinante hoje, tão indulgente com os gravíssimos pecados de muitos de sua grei, decidiu, ex-catedra, que as mulheres não podem exercer o sacerdócio.

Ao longo da História, duas têm sido as imagens daquele rapaz de Nazaré. Uma é a do filho único de Deus, havido na concepção de uma jovem virgem, escolhida pelo Criador. Outra, a do homem comum, nascido como todos os outros seres humanos, em circunstâncias de tempo e lugar que o fizeram um pregador, continuador da missão de seu primo, João Batista, decapitado porque ameaçava o poder de Herodes Antipas. Tanto João, quanto Jesus, foram, como seriam, em qualquer tempo e lugar, inimigos da ordem que privilegiava os poderosos. Por isso – e não por outra razão – foram assassinados, decapitado um, crucificado o outro.

Um e outro tiveram dúvidas, segundo os evangelistas. João Batista enviou emissário a Jesus, perguntando-lhe se era mesmo o messias que esperava, e Cristo, na agonia, indagou a Deus por que o abandonava. Os dois momentos revelam a fragilidade dos homens que foram, e é exatamente nessa debilidade que encontramos a presença de Deus: os homens sentem a presença do Absoluto quando as circunstâncias o negam. João Batista sentia-se movido pela fé, ao anunciar a vinda do Salvador.

Era um ativista, pregando a revolução que viria, chefiada por outro, pelo novo e mais poderoso dos profetas. Ao saber que Cristo pregava e realizava milagres, supôs que ele poderia ser aquele que esperava, mas duvidou. Nesse momento, moveu-se pela esperança de que o jovem nazareno fosse o Enviado – o que confirmaria a sua fé. Cristo, na hora da morte, talvez levasse a sua dúvida mais adiante, e se perguntasse se a sua morte, que previra e esperara, serviria realmente à libertação dos homens – desde que salvar é libertar. O Reino de Deus, sendo o reino da justiça, é a libertação. Daí a associação entre essa felicidade e a vida eterna, presente em quase todas as religiões. Na pregação de Cristo, a libertação começa na Terra, na confraternização entre todos os homens. Daí o conselho aos que o quisessem seguir, e ainda válido - repartissem com os pobres os seus bens, como fizeram, em seguida, os seus apóstolos, ao criar a Igreja do Caminho. Se acreditamos na vida eterna, temos que admitir que a vida na Terra é uma parcela da Eternidade, que deve ser habitada com a consciência do Todo. Assim, a vida eterna começa na precariedade da carne.


Quarta-feira passada - quando em São João del Rei, em Minas, a Igreja celebrou o Ofício das Trevas no rito antigo - um grego, Dimitris Christoulas, chegou pela manhã à Praça Syntagma, diante do Parlamento Grego, buscou a sombra de um cipreste secular, levou o revólver à têmpora, e disparou. Em seu bilhete de suicida estava a razão: aos 77 anos, farmacêutico aposentado, teve a sua pensão reduzida em mais de 30%, ao mesmo tempo em que se elevou brutalmente o custo de vida. As medidas econômicas, ditadas pelo empregado do Goldman Sachs e servidor do Banco Central Europeu, nomeado pelos banqueiros primeiro ministro da Grécia, Lucas Papademos, não só reduziram o seu cheque de aposentado, como o privaram dos subsídios aos medicamentos. “ Quero morrer mantendo a minha dignidade, antes que me veja obrigado a buscar comida nos restos das latas de lixo” – escreveu em seu bilhete de despedida, lido e relido pelos que tentaram socorrê-lo, e que se reuniam na praça. “ Tenho já uma idade que não me permite recorrer à força – mas se um jovem agora empunhasse um kalashnikov, eu seria o segundo a fazê-lo e o seguiria”.

No mesmo texto, Christoulas incita claramente os jovens gregos sem futuro à luta armada, a pendurar os traidores, na mesma praça Syntagma, “como os italianos fizeram com Mussolini em Milão, em 1945”. O tronco do cipreste se tornou painel dos protestos escritos. Em um deles, o suicídio de Christoulas é definido como um “crime financeiro”.

A morte de Christoulas, em nome da justiça, pode trazer nova esperança ao mundo, como a de Cristo trouxe. Não importa muito se ainda não foi possível construir o reino de Deus na Terra, e tampouco importa que o nome de Cristo tenha sido invocado para justificar tantos e tão repugnantes crimes. No coração dos homens de boa vontade, qualquer que seja o seu calvário – porque todos os homens justos o escalam, onde quer que nasçam e morram – a felicidade os visita quando comungam do sentimento de amor de Cristo pela Humanidade. Nesses momentos, ainda que sejam apenas segundos fugazes, habitamos o Reino de Deus.

Nunca, em toda a História, tivemos tanto desdém pela vida dos homens, como nestes tempos de ditadura financeira universal. Estamos vivendo vésperas densas de medo, mas dentro do medo, há centelhas de esperança. A morte do aposentado, quarta-feira de trevas, em Atenas, é, com toda a carga trágica de seu gesto, partícula de uma dessas centelhas.

Estamos cansados de sangue, mas o que está ocorrendo hoje – teorizem como quiserem economistas e sociólogos – é a etapa seguinte do grande projeto dos neoliberais, que vem sendo executado sistematicamente pelos que realmente mandam no mundo e que assumiram sua governança (para usar o termo de seu agrado), mediante a Trilateral e o Clube de Bielderbeg, controlados, como se sabe, por meia dúzia de poderosas famílias do mundo. Esse projeto é o de dizimar, por todos os meios possíveis, a população, e transformar a Terra no paraíso dos 500.000 mais poderosos, ricos e eleitos, em oposição à utopia cristã. Mas é improvável que os pobres, que são a maioria, não identifiquem seu real inimigo, e se sacrifiquem, sem resistência, ao Baal contemporâneo - esse sistema financeiro que acabou com a antiga sacralidade da moeda, ao emitir papéis sem nenhuma relação com os bens reais do mundo, nem com a dignidade do trabalho. A força da mensagem do nazareno deve ser retomada: os oprimidos – negros, brancos, mestiços, muçulmanos, cristãos, budistas e ateus – devem compreender que os habita o homem, e não animais distintos, destinados à violência em proveito dos promotores da barbárie.

Ao expirar, depois de torturado, ultrajado seu corpo, humilhado, escarnecido, Cristo se tornou a maior referência de justiça. Aos 77 anos, o aposentado grego, ao matar-se, transformou-se em bandeira que ameaça iniciar, na Grécia, novo movimento em favor da igualdade – a mesma idéia que levou Péricles a fundar o primeiro estado de bem-estar social, ao reconstruir Atenas, empregar todos os pobres, e dotar os marinheiros do Pireu do pioneiro conjunto de casas populares da História.Vinte séculos podem ter sido apenas rápido intervalo – um pequeno descanso da razão.