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Eu super indico : ‘ O Dilema das Redes ’, na Netflix, escancara o aspecto manipulador das redes sociais



Publicado originalmente no Canaltech


Com a internet e as mídias sociais, tem se tornado cada vez mais comuns histórias sobre violações de privacidade e vazamentos de dados. O novo documentário da Netflix, O Dilema das Redes, veio para nos deixar ainda mais atentos a esse assunto.

Um novo trailer divulgado pela plataforma de streaming veio acompanhado da sinopse oficial, em que podemos ler o seguinte: “Nós tuitamos, curtimos e compartilhamos — mas quais são as consequências da nossa crescente dependência das mídias sociais? À medida que as plataformas digitais se tornam cada vez mais uma tábua de salvação para permanecer conectado, insiders do Vale do Silício revelam como a mídia social está reprogramando a civilização, expondo o que está escondido do outro lado da tela”.

Assustador, não? No vídeo, o ex-executivo do Twitter Jeff Seibert explica: “O que quero que as pessoas saibam é que tudo o que estão fazendo online está sendo observado, está sendo monitorado, está sendo medido. Cada ação que você realiza é cuidadosamente monitorada e registrada. Exatamente quais imagens você para e olha, por quanto tempo você olha para elas – ah, sim, sério, por quanto tempo você olha para elas”.

O Dilema das Redes é impactante não só pelo conteúdo, que chega a exalar uma aura de teoria da conspiração, mas também por trazer especialistas para tratar sobre o assunto, o que afasta a ideia de farsa e nos faz querer repensar nossa relação com as mídias sociais. Isso fica bem evidenciado na sinopse em português, disponível na plataforma, que traz a descrição do filme em formato de alerta: “Especialistas em tecnologia e profissionais da área fazem um alerta: as redes sociais podem ter um impacto devastador sobre a democracia e a humanidade”.

O Dilema das Redes entrou para o catálogo da Netflix no dia 9 de setembro.








Eu super indico : ‘ O Dilema das Redes ’, na Netflix, escancara o aspecto manipulador das redes sociais



Publicado originalmente no Canaltech


Com a internet e as mídias sociais, tem se tornado cada vez mais comuns histórias sobre violações de privacidade e vazamentos de dados. O novo documentário da Netflix, O Dilema das Redes, veio para nos deixar ainda mais atentos a esse assunto.

Um novo trailer divulgado pela plataforma de streaming veio acompanhado da sinopse oficial, em que podemos ler o seguinte: “Nós tuitamos, curtimos e compartilhamos — mas quais são as consequências da nossa crescente dependência das mídias sociais? À medida que as plataformas digitais se tornam cada vez mais uma tábua de salvação para permanecer conectado, insiders do Vale do Silício revelam como a mídia social está reprogramando a civilização, expondo o que está escondido do outro lado da tela”.

Assustador, não? No vídeo, o ex-executivo do Twitter Jeff Seibert explica: “O que quero que as pessoas saibam é que tudo o que estão fazendo online está sendo observado, está sendo monitorado, está sendo medido. Cada ação que você realiza é cuidadosamente monitorada e registrada. Exatamente quais imagens você para e olha, por quanto tempo você olha para elas – ah, sim, sério, por quanto tempo você olha para elas”.

O Dilema das Redes é impactante não só pelo conteúdo, que chega a exalar uma aura de teoria da conspiração, mas também por trazer especialistas para tratar sobre o assunto, o que afasta a ideia de farsa e nos faz querer repensar nossa relação com as mídias sociais. Isso fica bem evidenciado na sinopse em português, disponível na plataforma, que traz a descrição do filme em formato de alerta: “Especialistas em tecnologia e profissionais da área fazem um alerta: as redes sociais podem ter um impacto devastador sobre a democracia e a humanidade”.

O Dilema das Redes entrou para o catálogo da Netflix no dia 9 de setembro.








Estamos perdendo nossa humanidade ? Pelos fatos relatados no texto abaixo parece que sim !


deboche morte marisa letícia


" Fod*, vagabunda morreu tarde ", diz mulher ao comentar matéria sobre morte de Marisa


"Fod**, morreu tarde. Vagabunda. Bandida", diz mulher ao comentar deboche de procuradores da Lava Jato sobre o falecimento de dona Marisa Letícia



A revelação pelo portal UOL de que membros da força-tarefa da Lava Jato tripudiaram da morte de Marisa Letícia foi uma das notícias mais comentadas na manhã desta terça-feira (27). As informações estão embasadas nos vazamentos do arquivo do The Intercept Brasil.

Dona Marisa Letícia deu entrada no hospital no dia 27 de janeiro de 2017, após sofrer um AVC hemorrágico. A morte cerebral foi diagnosticada no dia 3 de fevereiro. Um dia depois, a colunista do jornal Folha de S.Paulo, Mônica Bergamo, descreveu a agonia vivida por Marisa em seus últimos dias de vida.

Em abril deste ano, em entrevista à mesma colunista, o ex-presidente Lula disse que “Marisa morreu por conta do que fizeram com ela e com os filhos dela”.

“Dona marisa perdeu motivação de vida, não saía mais de casa, não queria mais conversar nada”, continuou o presidente ao responder uma pergunta sobre a possibilidade de a saúde da esposa ter sido afetada pelas investigações da Lava Jato.
“Querem que eu fique pro enterro?”

Nas conversas divulgadas na matéria mais recente dos portais Intercept e UOL, a visão apresentada pelos procuradores da Lava Jato era bem distante da humanizada.

No dia 24 de janeiro de 2017, quando foi noticiada a internação de dona Marisa Letícia, o procurador Januário Paludo escreveu no chat “Filhos do Januário 1”: “Estão eliminando as testemunhas…”

No dia 2 de fevereiro, quando saiu nos jornais que o cérebro da ex-primeira dama parou de receber sangue, a procuradora Laura Tessler disse no mesmo grupo: “quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização”.

No dia seguinte, quando confirmado o falecimento de Marisa Letícia, a procuradora Jerusa Viecili comentou: “Querem que eu fique pro enterro?”. A frase foi acompanhada com o símbolo de um emoticon sorrindo com os dentes à mostra.

No dia 4 de fevereiro, Telles disse sobre a nota de Mônica Bergamo descrevendo a agonia dos últimos dias de dona Marisa Letícia: “Ridículo… uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula…”

“Morreu tarde, vagabunda”

Ao comentar no Facebook a matéria da reação dos procuradores da Lava Jato diante da morte de Marisa Letícia, a internauta Fernanda Dress escreveu: “Foda-se, morreu tarde. #Vagabunda. #Ladra. #Bandida”.


(Reprodução/Facebook)



A publicação da internauta foi criticada por outros usuários. “Que gente escrota que apoia esse tipo de frieza e falta de compaixão. E ainda se dizem cristãos”, publicou um usuário.

“Até hoje não entendi todo furor que houve em torno de um evento do qual ninguém escapará. Quem está bem jamais vai se regozijar com a morte. Tanto é que elegeram alguém que tem a morte como um estandarte”, escreveu outra.

Para o advogado Arnobio Rocha, as conversas dos procuradores sobre a morte de Marisa, Vavá e Arthur são as mais cruéis e abjetas já reveladas até agora no escândalo da Vaza Jato.

“Os procuradores tratam de maneira sórdida as mortes de familiares de Lula. De forma jocosa e perversa, tramam como obstar a ida de Lula aos velórios de seus entes mortos. Ironizam, por exemplo, a internação de D. Marisa Letícia como ‘queima de arquivo’, por vezes como se a doença dela venha das ‘puladas de cerca do marido’, ou que o estado dela era “vegetal”, não servindo mais nem para testemunhar ou ser Ré”, observa Arnobio.

“A morte do irmão do ex-presidente traz uma discussão sobre a possível ida ao velório e enterro, e é vista não como um direito, mas como a oportunidade de Lula fugir, tabulam soluções para impedir e a todo momento a morte é tratada com desdém, a dor e o Direito são secundados”, continua o advogado.

“Na morte do neto de Lula, o pequeno Arthur, os procuradores aprofundam seus ódios e suas falas perversas, propõem a ‘solução Toffoli’, que era levar o cadáver até um local onde Lula o visse e não aparecesse para ninguém que estava velando o neto, assim, ele, Lula, não se vitimaria, não aparecendo publicamente”, acrescenta o advogado.

“Em todos os momentos, os procuradores da República, servidores públicos concursados, muito bem remunerados, formados em excelentes faculdades, a maioria públicas, uma espécie de elite do serviço público, tratam Lula como um inimigo público, sem direitos”, finaliza.












Peço a Deus que ilumine essa gente, diz Lula sobre diálogos da Vaza Jato


"Peço a Deus que ilumine essa gente, que poupe suas almas de tanto ódio, rancor e soberba. Quanto aos crimes que cometeram contra minha família e contra o povo brasileiro, tenho fé que, deles, um dia a Justiça cuidará", afirmou o ex-presidente Lula ao comentar sobre os diálogos da Lava Jato sobre a morte de seus familiares.

247 - "Foi com extrema indignação, com repulsa mesmo, que tomei conhecimento dos diálogos em que procuradores da Lava Jato referem-se de forma debochada e até desumana às perdas de entes queridos que sofri nos anos recentes: minha esposa Marisa, meu irmão Vavá e meu netinho Arthur", escreveu o ex-presidente Lula, sobre os novos trechos de conversas de procuradores da Lava Jato, revelados pelo The Intercept e UOL, nesta terça (27), que tratam sobre a morte de familiares.

" Confesso que foi um dos mais tristes momentos que passei nessa prisão em que me colocaram injustamente. Foi como se tivesse vivido outra vez aqueles momentos de dor, só que misturados a um sentimento de vergonha pelo comportamento baixo a que algumas pessoas podem chegar. 
Há muito tempo venho dizendo que fui condenado por causa do governo que fiz e não por ter cometido um crime sequer. Tenho claro que Moro, Deltan e os procuradores agiram com objetivo político, pois me condenaram sem culpa e sem prova, sabendo que eu era inocente. 
Mas não imaginava que o ódio que nutriam contra mim, contra o meu partido e meus companheiros, chegasse a esse ponto: tratar seres humanos com tanto desprezo, como se não tivessem direito, no mínimo, ao respeito na hora da morte. Será que eles se consideram tão superiores que podem se colocar acima da humanidade, como se colocam acima da lei? 
Peço a Deus que ilumine essa gente, que poupe suas almas de tanto ódio, rancor e soberba. Quanto aos crimes que cometeram contra minha família e contra o povo brasileiro, tenho fé que, deles, um dia a Justiça cuidará. 
Luiz Inácio Lula da Silva ”



Veja o documentário " Privacidade Hackeada " na Netflix



Resultado de imagem para privacidade hackeada (2019)




Você acredita que é livre para tomar suas decisões? Ou será que está sendo manipulado? Será que a tecnologia, através da internet e redes sociais, está sendo usada como arma contra nós mesmos?

Então, se liga porque a dica de hoje traz um mundo de informações surpreendentes sobre como nossos dados alimentam um arsenal de guerra e operações trilionárias, sem a gente nem ao menos saber.

“ Privacidade Hackeada ”, documentário da Netflix, é o filme que você tem que assistir agora !














A era da insensatez e o caso do neto de Lula : Deus não perdoará !


Nenhuma descrição de foto disponível.


Lenio Luiz Streck

Resumo: A crueldade humana não tem efeito constitutivo; é declaratório. Assim como a imbecilidade. Ela sempre esteve aí. A internet a revelou! Se o mundo tem pessoas horríveis, meu dever é incomodá-las!

Duas frases marcaram a semana: a blogueira Alessandra Strutzel (sim, temos de dar nome aos bois e bois aos nomes!) disse, ao saber da trágica morte do neto de Lula, de 7 anos: "Pelo menos, uma notícia boa". E a do deputado Eduardo Bolsonaro (Deus acima de todos – eis o slogan da moda): A ida de Lula ao enterro "só deixa o larápio em voga posando de coitado"! Houve ainda muitos outros "pronunciamentos" de ódio e regozijo pela morte do menino de 7 anos.

Até onde chegamos? É o fundo do poço? O que Deus diria disso, ele que, conforme o slogan, "está acima de todos?"

Confesso a vocês – e Rosane, minha esposa e Gilberto, um de meus assistentes, são testemunhas – que esse episódio me abalou profundamente. Embarguei a voz. Triste pela morte da criança e estupefacto e magoado com a raça humana e com a reação das pessoas nas neocarvernas que são as redes sociais. Ah, blogueiros e influenciadores, coachings e quejandos, ah, quantos justos haverá em Sodoma? Abraão será um advogado que lhes conseguirá um HC?

Peço paciência para me seguirem no que vou dizer. No auge do macartismo, em audiência no Senado, o advogado Joseph Welch teve a coragem de perguntar ao senador McCarthy, o homem que deu nome à prática de ver comunismo em tudo:

"Senhor, você perdeu, afinal, todo senso de decência?" Pergunto aos odiadores que comemoraram ou trataram com raiva de Lula o episódio fatídico:"Senhores e senhoras, parlamentares, blogueiros, twuiteiros, whatsapianos e faceboqueanos: vocês perderam, afinal, todo senso de decência?"

Em tempos de hinos nas escolas, na era das acusações de marxismo cultural (sic), eu poderia muito bem falar aqui sobre o macartismo à brasileira. Não vou. Falo, hoje, sobre nosso senso de decência. Ou melhor, tento falar sobre o senso de decência que perdemos.

Também não vou falar — não diretamente — sobre aquilo que, agora, todos já sabem ter acontecido. Lamentavelmente, morreu o neto, de sete anos, do ex-Presidente Lula. Sobre isso, não há o que falar. É o zero total. É Timon de Atenas, de Shakespeare, propondo o fim da linguagem. Shakespeare, logo ele, que bem sabia que a linguagem é a casa do Ser (Heidegger).

Sou um hermeneuta. Bem sei que a linguagem é, como dizia Ortega y Gasset, um sacramento que exige administração muito delicada. Da palavra não se abusa; não se pode colocá-la em risco de desprestígio. É precisamente por isso que sei que sobre a morte de uma criança não se fala; lamenta-se. Chora-se.

Vou (tentar) falar, portanto, repito, sobre o senso de decência que perdemos. Confesso, é difícil: às vezes, a degradação e a desumanidade são tão grandes que também parecem impor o silêncio. Mas como Auberon Waugh dizia sabiamente,

se é verdade que o mundo é um lugar horrível com pessoas horríveis, temos o dever sagrado de incomodá-los sempre que possível.

Eis a minha tarefa: incomodar as pessoas horríveis. O que dizer em tempos nos quais uma legião de imbecis, para usar as palavras de Eco, aproveita-se da morte de uma criança e utiliza as redes sociais para destilar ódio e externar a própria baixeza? É hora do grito de Schönberg: Palavra, oh Palavra, que falta me faz!!!!

O que dizer quando se torna normal que um deputado — o mais votado da história do país — vai às redes sociais, sempre as redes sociais, para dizer que "cogitar" a saída de Lula para o enterro do neto (saída que está prevista na lei, diga-se) "só deixa o larápio [sic] em voga posando de coitado"?

Perdemos, afinal, todo senso de decência? Não, não tenho raiva. Sinto é...pena.

O que Deus, que está "acima de todos", diria? Ou dirá? Deus, que disse que nunca mais inundaria a terra:

"nunca mais será ceifada nenhuma forma de vida pelas águas de um dilúvio; nunca mais haverá dilúvio para destruir a terra".

Deus disse também que sempre que houvesse nuvens sobre a terra, e o arco aparecesse nas nuvens, lembrar-se-ia "da eterna aliança entre Deus e todos os seres vivos de todas as espécies sobre a terra".

E se o Altíssimo mudasse de ideia? E se Deus dissesse que, afinal, a humanidade deu tão errado que é hora de um novo dilúvio?

E se o critério de seleção para o dilúvio fosse aquilo que se diz, espalha, compartilha, no WhatsApp? Já pensaram? Como falei na coluna passada (ler aqui), que tal se Deus fizer uma PEC e alterar o estatuto do purgatório? Então, a partir de agora, o juízo final será feito por Ele a partir do exame do WhatsApp de cada um (e também do twitter e face). Uma olhadinha e Deus manda para o inferno. Platão foi o primeiro a denunciar as fake news. Platão mostrou que dizer aos néscios que as sombras são sombras é uma coisa perigosa. Pode ser apedrejado. Como o sujeito que saiu da caverna o foi.

Dizer hoje, a quem está mergulhado nas redes e pensa que o mundo são as redes, que esse mundo é imundo, em que o joio fez fagocitose ruim no trigo, pode também ser perigoso. Denunciar isso pode dar apedrejamento. Por isso, Deus acertou em fazer essa PEC alterando o regulamento do purgatório. O critério é simples: uma olhadinha no whatts e face. E, bingo. Vai para o fogo do inferno!

George Steiner bem dizia: tornamo-nos a civilização pós-verbo. A banalização da linguagem, por meio das redes sociais, corrompe a ideia da verdade. O limite do que é socialmente aceito é colocado cada vez mais longe. O que é verdadeiro? Não há mais critérios. O que se pode dizer? Tudo, porque limites já não há.

A era da técnica e das redes sociais, que prometiam a democratização da informação, desenvolveram um vocabulário próprio; estabeleceu-se um novo jogo de linguagem. No lugar do paraíso da horizontalidade, o inferno da barbárie interior que se exterioriza. ("Hipocrisia, que falta você faz", diz Hélio Schwartsman.) Será que a blogueira que comemorou a morte do neto de Lula externaria o pensamento na fila do banco?

No princípio era o Verbo. E no fim, o que será? No final era o whattsapp? O facebook?

Nenhum homem é uma ilha. A morte de todo ser humano diminui a nós, que somos parte da humanidade. Talvez as palavras, sempre as palavras, de John Donne nunca tenham sido tão urgentes.

Mas um alerta: não pergunte, afinal, por quem os sinos dobram. A resposta pode vir pelo WhatsApp.

(Pergunto mais uma vez aos macartistas que recusam as regras do jogo de linguagem da decência e aderem ao jogo das redes, e já têm – sempre - comentários prontos: senhoras e senhores, perdemos todo senso de decência?)

Post scriptum: gesto humano foi, dentre outros, o demonstrado por Gilmar Mendes, conforme noticiou Mônica Bergamo (aqui). Também me emocionei quando li a matéria de Mônica. E entendi melhor ainda a minha emoção anterior.


Lenio Luiz Streck   Lenio Luiz Streck - Jurista, professor de Direito Constitucional e pós-doutor em Direito.

Postado em Brasil 247 em 02/03/2019


Mudanças do Facebook consolidam a imbecilização dos ativistas “sem bandeira e sem partido”





Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

Somente agora, depois de ter cumprido o seu papel de demolidor de democracias, o Facebook anuncia que vai mudar outra vez. O “dono” das redes sociais quer voltar às origens, tirando dos destaques os vídeos e notícias e ampliando a invasão das mensagens entre amigos e familiares. Em síntese, irá estimular a “orkutização” da sua timeline, com ênfase para os “ursinhos carinhosos”.

Nas “Primaveras Árabes”, que foram artificialmente forjadas e disseminadas pelas redes sociais, o Facebook jogou um papel de destaque naquele fenômeno que parecia nobre, mas que o tempo revelou ser apenas mais uma manobra do conluio entre o capital vadio, piratas do petróleo e a indústria das armas.

A internet tem vocação socialista, pois o “dividir” é algo inerente aos humanos empáticos e preocupados com o bem comum, ainda que este verbo seja substituído na linguagem tecnológica por outro, “compartilhar”. O certo é que as redes sociais nasceram para a troca de informação e impressões entre os usuários. Isso não vai ser substituído por tribos de pensamentos convergentes. A bolha sempre estoura.

O Facebook sabia que o seu poder de influenciar as democracias tinha o prazo de validade vencido. Por isso, corre desesperadamente para evitar que as novas plataformas em teste ganhem espaço e promovam a verdadeira democracia na internet, sem a censura apresentada sob a máscara do “combate ao Fake News” que alguns sabujos ainda tentam defender como “uma bela iniciativa” para conferir alguma credibilidade a este pirata digital.

Sabemos que o ódio, que foi hipervalorizado nos algoritmos do Facebook, é um sentimento que não se sustenta por muito tempo. As pessoas, todas elas, por mais idiotas que possam parecer, querem paz e harmonia. O Facebook não será capaz de resgatar na sua plataforma um ambiente “recatado e do lar”, pois alguns usuários incorporaram personagens atribuídas aos próprios perfis e não suportariam a vergonha de parecerem bonzinhos e amáveis.

A imprensa, inclusive a chamada alternativa, que mordeu a isca e abandonou as próprias páginas para fazer do Facebook o seu “porto seguro”, agora percebe que construiu castelo de areia. Sem a possibilidade de ter destaque nas páginas dos usuários, mesmo quando autorizadas por eles, essas empresas de comunicação viraram reféns do sistema de cobrança, bem ao estilo “ou dá, ou desce”, introduzido pelo “Face”, como é carinhosamente chamada esta plataforma pelos portadores da “Síndrome de Estocolmo”.

A nova política do Facebook é um choque elétrico na acomodação do falso jornalismo. Agora, para ter audiência, tem que ter conteúdo de boa qualidade, tem que se preocupar menos com o “Fake News” ou infográficos banais e muito mais em investigar e revelar o “Ghost News” que sempre foi escondido dos noticiários, pois assim como as bruxas, a notícia fantasma “nós não vemos, mas que elas existem, existem”.

Políticos, empresas, celebridades, profissionais liberais, etc. a lista de sequestrados é enorme. E isso é o lado bom da história, pois a busca por novas plataformas, sem servidores e estáveis, reforça a necessidade de politizarmos tudo o que fazemos nos mundos real e virtual. É a verdadeira essência socialista da internet que é resgatada graças ao declínio do império digital do Facebook.

A cadeia de blocos, ou blockchain, que, entre outras coisas, garante a segurança das operações realizadas por criptomoedas – as Bitcoins, tem sido usada como teste para uma nova rede social, independente e sem filtros. O Facebook tenta em vão lançar algo semelhante, mas sabe que a iniciativa do “FaceCoins” (nome hipotético) é o mesmo que nadar contra a maré. Sem confiança não há moeda forte.

Mesmo que estranhamente uma avalanche de notícias publicadas tente tirar a confiança das pessoas na criptomoeda Bitcoin, a consciência política dos seus primeiros usuários será capaz de fazê-la resistir. Ninguém vai querer abandonar uma moeda digital descentralizada para virar refém do controle de imperialistas e piratas.

Se é verdade que o Facebook foi construído para aproximar as pessoas e construir relacionamentos, também é verdade que promoveu muito mais a discórdia e a distorção da verdade. O tempo foi o grande professor dos usuários que, após um período de casamento feliz, perderam a ingenuidade e perceberam que foram usados como massa de manobra. E pior, controlados por robôs que fizeram o humano repetir slogans, usar acriticamente na sua foto de perfil a bandeira de alguns países, se comover com o que era conveniente para os caçadores sem perceber que seriam as próximas caças.

As recentes postagens de Mark Zuckerberg, o “dono da zorra toda”, revelam que o conteúdo de empresas, organizações e mídia “será menos visível”. Para ele, (com a nova política) se o Facebook vai obter mais lixo ou boa qualidade, dependerá do conteúdo produzido pelos usuários em combinação com os algoritmos. “Nós (Facebook) simplesmente temos que assumir a responsabilidade e parar de ser tão amaldiçoados”, coitadinhos. E quem acredita nisso que siga ajudando o “Zuckinho” a comer caviar.



Postado em Duplo Expresso em 13/01/2018



Esposa testa popularidade de Sérgio Moro e passa vexame ! Beleza. O povo já está sabendo a que veio este juiz !



Resultado de imagem para rejeição de  Sérgio Moro










Gregório Duvivier explica por que seu sonho para 2018 é as pessoas usarem menos o Facebook









Sobre perfis falsos



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Uma “história de amor” q não termina como vc imaginava – sobre perfis falsos


Criação da Y&R do México para a Movistar, ‘Love Story’ parece uma história de amor adolescente como tantas outras já contadas. 

Garoto e garota se conhecem na internet, começam a conversar, se apaixonam e combinam de se encontrar pessoalmente. O final da história, no entanto, não segue o rumo que você gostaria. 

O filme serve como aviso sobre os milhões de perfis falsos que existem nas redes sociais – e, mesmo sabendo disso, o final ainda pode te surpreender. 

A agência teve a ideia e produziu o filme com a Movistar em mente, mas só contou ao cliente sobre sua existência depois que o spot estava finalizado. Desde seu lançamento, o vídeo já foi visto mais de 10 milhões de vezes. Leia mais na Adweek.



Postado em Blue Bus em 12/05/2017



O médico cubano e a mãe do professor. A “praga” que virou aula.


cubano


Fernando Brito

Wilson Gomes, professor da Universidade Federal da Bahia, postou hoje um texto no seu facebook que está se espalhando pela internet. 

Wilson não desenvolve teorias, apenas narra impressões sobre o que ocorre em sua cidade natal, Camacã, na zona cacaueira do sul da Bahia, onde ainda vive sua mãe. 

Nas discussões sobre o Programa Mais Médicos, rogaram-lhe a “praga” de que alguém da sua família fosse atendido por um médico cubano.

“Gosta de médicos cubanos, tomara que um deles atenda a sua mãe".

Pois não é que a mãe de Wilson, lá em Camacã, foi atendida por um médico cubano que serve no Posto de Saúde da Família da pequena cidade?

Dr. Ariel Calderon Rodriguez, fui pesquisar e achar a foto de sua chegada a Camacã.

A história? Deixemos que Wilson a conte, sem mais conversa.

Os fatos bastam.

Quando, no ano passado, eu defendia a chegada de médicos cubanos, uma das ameaças mais comuns das pessoas que “debatiam em mim” (pq no Facebook é assim) consistiu em desejar que alguém da minha família fosse atendido por um deles. Faz parte do padrão de ataque conservador quando você não adere ao “pega! esfola!” ou não se junta à milícia unidimensional: “está com pena de bandido, leva pra casa”, “é contra antecipação da maioridade penal, quero ver quando estuprarem alguém seu”, “gosta de médico cubanos, tomara que um deles atenda a sua mãe”.

Pois não é que aconteceu o que gentilmente me agouraram acerca dos cubanos?

Camacã, 20 mil almas, tem orgulhosamente o seu “médico cubano”, um rapaz bonito e atencioso, segundo a minha mãe. Tem também e sempre teve outros médicos, brasileiros, alguns bonitos, alguns que eram atenciosos quando lá chegaram. Desde que me entendo por gente, todo médico que por lá desembarca tem por meta, além daquelas associadas ao seu mister, enriquecer. “Enricar”, no dialeto local. E isso acontece em 10 anos, em média. 

Quase todos viraram fazendeiros de cacau e, basta ver como foram as últimas cinco eleições por lá, são políticos e empresários. 

Nada contra enricar, embora eu seja incompetente nesta área, tudo contra o que acompanha esse processo do lado da medicina: desatenção, arrogância, desprezo pela vida e o sofrimento alheios.

As “histórias de médico”, em que se narram os tidos e havidos quando alguém precisou de serviços hospitalares ou atendimento de urgência, são histórias de horror, desrespeito e humilhação dos mais vulneráveis.

Pois a minha mãe adorou justamente por isso o cubano do Posto de Saúde. A cadeira para ela estava do lado da dele, houve escuta, falou-se de mãe distante e de saudades da família, tudo isso enquanto se examinava a paciente. 

É uma questão de eixo: acostumamo-nos todos a um eixo vertical, em que o paciente está embaixo, bem embaixo, e o doutor lá em cima (“paciente tem que ter paciência” divertem-se os profissionais de saúde); mas há mais humanidade no eixo horizontal, em que dois seres humanos, um que padece e o outro que cuida, colocam-se no mesmo nível (paciente é quem sofre, diz a etimologia). 

Nem sempre a interação médico-paciente foi desse jeito no Brasil, mas a experiência com os cubanos ao menos deu a velhinhas como minha mãe a percepção de como as coisas poderiam ser diferentes.

No mínimo, os cubanos do ‪#‎MaisMédicos trouxeram mais civilidade, humanismo, compaixão ao atendimento clínico. No mínimo. Trouxeram mais competência? Não sei, mas com certeza a minha cidade não era um paraíso de competência médica que poderia declinar com a chegada de quem quer que fosse.

Mas, como me disse Dona Maria, pelo menos o médico está lá e te vê. E isso certamente não é pouco.


Postado no site Tijolaço em 26/02/2014



Se o Facebook já envelheceu, o que dizer de mim?



Marco Antonio Araujo


O tempo não para. O Facebook que o diga. A rede social criada por Mark Zuckerberg em 2004, quem diria, já está velha — e, em breve, vai receber aposentadoria compulsória, por invalidez. 

Aos nove anos de existência, de forma precoce, o Face está sendo abandonado por igualmente precoces pré-adolescentes que estão preferindo migrar para outras plataformas de comunicação on line.

O mundo virtual é cruel: sem a juventude que será o adulto de amanhã, já era. Que o diga o falecido Orkut, outrora (menos de dez anos) o favorito entre os brasileiros. Foi fulminado. Por quem? Exatamente pelos implacáveis jovens novidadeiros que vivem no mundo das nuvens da internet.

A decrepitude do Facebook já é nítida nos EUA e vem com força por aqui. 

Os jovens brasileiros também estão preferindo se comunicar através de aplicativos de mensagens como WhatsApp e Snapchat e outras redes, como o Instagram — não por acaso comprado pela bagatela de US$ 1 bilhão em 2012 pelo Zucke, o visionário tardio. Até o Twitter, apesar da limitação de caracteres, está mais bem cotado entre a galere.

No Brasil, o caso tende a se tornar mais grave rapidamente, já que a nossa gurizada representa a segunda maior população de adolescentes no Facebook, com 12,2 milhões de usuários com idade de 13 a 17 anos, pouco mais de 14% dos 86 milhões de membros da rede social. É morte anunciada.

Os adolescentes, em geral, buscam ferramentas de comunicação rápida. Ou melhor, cada vez mais vertiginosa.

Para quem carregava fichas telefônicas no bolso e usava os paleozoicos orelhões para marcar um cinema com os amigos, a velocidade do Facebook é mais do que suficiente — para não dizer inimaginável, quinze anos atrás.

Por mim, podia congelar o mundo agora, que a tecnologia existente já estaria de bom tamanho. OK, poderia abrir uma exceção para a medicina, que pode avançar desvairadamente o quanto quiser, de preferência enquanto ainda estou vivo.

Honestamente, não tenho inveja dos jovens que conviverão com uma revolução digital a cada cinco anos. 

É muito estressante ter de se reciclar constantemente, sem pausa para desfrutar as novidades. É, eu estou ficando velho. Como o Facebook.


Postado no blog O Provocador em 27/11/2013

Usuários estão ficando mais atentos aos desvios da rede social


Perto de seus dez anos, o Facebook já não é mero espaço de encontro, mas um fenomenal depósito de informações, uma potente ferramenta de negócios e uma triste vitrine de felicidade ilusória.


Valentina e Laura


Valentina: “Parece que agora precisamos mostrar nossos sentimentos, como se isso criasse uma identidade”. Laura: “Percebi que teria de abrir uma conta nova. Voltei com mais cuidado”



Miriam Sanger


Assim como política, religião e futebol, Facebook não se discute. Cada um do cerca de 1 bilhão de usuários enxerga essa rede social com forma e propósitos diferentes. 

Ninguém pode discordar que ela flutua a favor da maré e cresce exponencialmente, para a felicidade de seu jovem proprietário e dos acionistas da empresa. Essa expansão, no entanto, não necessariamente representa benefícios para aquele que deveria ser seu bem mais precioso: o público, cada vez mais ressabiado, como apontam pesquisas, com a falta de privacidade. 

Nem isso, porém, parece ter diminuído o ímpeto de compartilhar informações, atitudes cotidianas ou se envolver em algumas das tribos que deixaram o sofá e foram às ruas protestar contra os problemas nacionais.

Muito se tem investigado a respeito do usuário dessa mídia, que vem mudando junto com ela. Esse assunto é ainda mais relevante no Brasil, onde está o povo que mais gasta tempo em redes sociais e cada vez mais é instigado a um novo comportamento: a superexposição voluntária.

“Comparo as novas mídias sociais a uma grande festa, um lugar acolhedor e descontraído onde euforicamente nos sentimos livres para nos exibir.

Ali, agimos como se estivéssemos sonhando com os olhos abertos, em um estado alterado de consciência que reduz nossas defesas e nosso senso crítico”, acredita a psicóloga Katty Zúñiga, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Clínica Psicológica da PUC de São Paulo.

“A pessoa entra na rede social e ‘cresce’ de acordo com o estímulo que recebe de amigos e conhecidos. Esse fato então se mescla à sua bagagem cultural: se o brasileiro é por natureza mais expansivo, com certeza vai se expor mais que um boliviano, por exemplo”, explica a professora Beth Saad, coordenadora do curso de pós-graduação em Comunicação Digital na Escola de Comunicações e Artes da USP.

Quem é usuário sabe do que Beth fala, e boa parte do que hoje se vê ali postado deixa evidente a sensação de liberdade do autor, que muitas vezes escreve o que não diria cara a cara e mostra imagens que “ao vivo” não exibiria – ou, pior, exibe uma agressividade que não costuma pessoalmente expressar. 

“Esse me parece o lado complicado do Facebook. Acho que, ali, as pessoas se tornam mais agressivas. A questão do anonimato, também permitido no mundo virtual, é outro aspecto que pode levar a situações desagradáveis. 

Mas não tem jeito: tudo isso faz parte desse movimento”, considera Joel Bueno, bancário aposentado que viu no Facebook uma forma de divulgar mais amplamente seu blog.

Espiral da felicidade

Talvez a euforia descrita por Katty também explique o fenômeno chamado “espiral da felicidade”.

A tendência aparece em pesquisas: o usuário vê seus amigos felizes e, por isso, evita postar mensagens “pra baixo”. 

“De forma geral, a rede é como uma onda, na qual quando um está feliz o outro precisa dizer que também está e, mais ainda, precisa ‘curtir’ a felicidade alheia”, afirma Beth Saad. 

Essa permanente festa de um mundo irreal, no entanto, traz sofrimento. Segundo um estudo recente realizado pelas universidades alemãs Humboldt, de Berlim, e de Ciências Aplicadas de Darmstadt, mais de um terço dos usuários do Facebook enfrenta sentimentos negativos como frustração e tristeza depois de visitar o perfil dos “amigos”.

E aí entra uma questão sobre conceito de amigo do ponto de vista da rede social. “Já está claro que não segue o mesmo conceito da vida real. Na rede, você se torna amigo de quem é celebridade, de quem posta ideias interessantes, de quem é amigo de um amigo”, diz Beth. 

Ou seja, a construção de uma rede de relacionamento não segue, a rigor, nenhum critério, e amigos podem ser clientes, colegas de trabalho e até o chefe, lado a lado com a tia-avó e os filhos da melhor amiga. Haja confusão.

“Como posto muito, sei que me exponho e deveria ser mais comedida”

“Já levei bronca dos meus amigos porque na minha página estão meu network profissional, minha família e meus amigos. Eu não deveria ficar expondo o mundo de um aos outros, mas não consigo ainda dividir minha página. Assim, como posto muito, sei que me exponho e deveria ser mais comedida”, descreve a assessora de eventos Carolina Birenbaum.

Com mais de 2.700 amigos em sua página, ela utiliza o Facebook também com fins profissionais e armazena o portfólio de sua empresa. 

Já a secretária Eliane Ferraz de Souza Morales, usuária há cerca de um ano, vai ao extremo oposto. “Uso o Facebook para acompanhar as novidades de meus amigos. Mas a minha intimidade eu não publico – não vejo por que tornar públicos assuntos que são somente meus.”

Mas nunca foi tão difícil separar alhos de bugalhos: a divisão do que é pessoal daquilo que é profissional, em vez de se tornar clara, é cada vez mais tênue, assim como a distinção entre o que é de interesse comum e o que é puramente merchandising. 

“O Facebook nasceu com o intuito de ser um lugar onde as pessoas poderiam compartilhar suas experiências. No entanto, o que vemos agora? Mil adds, apps e praticamente um canal de propaganda de todos os centros comerciais do mundo”, afirma a fotógrafa Solange Benasulin, que utiliza a ferramenta para divulgar seu trabalho.

Essa face mercantilista está cansando usuários – e já há quem esteja se afastando. A alteração do perfil do Facebook soa, para Sérgio Basbaum, como o fim de uma época mais “inocente” da ferramenta. “Quando entrei, em 2007, achei o Facebook interessante. A sensação que tinha ao navegar ali era a mesma de quando eu, no passado, ia à praia no Rio de Janeiro. Encontrava uma amiga aqui, um grupo ali, um amigo antigo que não via há tempos. Ainda existe essa dinâmica interessante. O lado esquisito é que virou um espaço utilitário e perdeu, com isso, sua ingenuidade inicial”, avalia ele, que é pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Tecnologias da Inteligência e Design Digital (TIDD) na PUC-SP.

A ilustradora Valentina Fraiz decidiu “voltar à vida analógica”. Usuária por anos, ela sempre foi questionadora do nível de exposição ao qual as pessoas pensadamente se propõem: “Não entendo de onde vem esse prazer. Parece que agora, o tempo todo, precisamos mostrar como estamos nos vestindo, nossos sentimentos, nossos gostos, como se isso criasse uma identidade. Sempre provoquei as pessoas: ‘Ei, galera, prestem atenção no que vocês estão postando!’ E, quanto mais eu questionava, mais as pessoas me bloqueavam”.

A motivação final para sair dessa rede surgiu quando as páginas de algumas amigas foram bloqueadas em função de fotos postadas. “Elas participaram de um evento público, a Marcha das Vadias, que acontece no mundo inteiro, e apareciam nas fotos com os seios pintados, uma situação absolutamente não sexual. Foi censura. Como assim? Você tem de se ajustar, dar todas as suas informações e, em troca, levar para casa um patrulhamento moral?”, questiona Valentina.

O que não estava no script era deparar com uma espécie de crise de abstinência. Semanas depois de ter ‘morrido’ no Face, ela abria o computador e mecanicamente começava a digitar o endereço dele. “Minha filha Laura, que curtiu minha iniciativa, também saiu durante seis meses. Sofreu muito, pois ficou em um tal grau de isolamento em relação aos amigos que era impossível suportar. E fui eu mesma que a aconselhei a voltar.”

Laura explica que tinha mudado para uma cidade nova, não tinha amigos, e estar fora da rede atrapalhou. “Eu ficava sabendo de uma festa só depois, e percebi que não estava sendo chamada porque os convites eram publicados só no Face. Uma hora percebi que teria de abrir uma conta nova. Voltei com uma atitude nova, com mais cuidado para não expor minha vida como antes. Sou discreta sem ser ausente.”

"Uso o Face para acompanhar novidades de amigos. Mas a minha intimidade eu não publico." 

Quem usa quem?

Difícil traçar um padrão para todos os usuários, pois há de tudo um pouco: o reclamão, que percebe a propagação que o Face tem; o solitário, que posta madrugada adentro e lança bom-dia e boa-noite para o mundo inteiro; o voyeur, que não posta nada, mas acompanha tudo; o ideólogo de plantão; o comentarista esportivo; o espalhador de confete.

Há de se considerar também a tribo dos que não estão no Facebook, como a diretora de teatro Inês Saldanha, que há anos alimenta, segundo ela, uma preguiça imensa de participar. “Acho que é invasivo e chato. Por vezes é profundamente poderoso, por outras, leviano. Ainda prefiro me relacionar com algo que seja tridimensional”, brinca.

Quanto ao padrão de uso, há referências claras, que dividem os brasileiros em três grandes grupos. 

O maior deles o utiliza com postura de entretenimento e relacionamento pessoal, e em geral dá muito ‘curtir’ em propagandas e marcas. Frequenta aplicativos, jogos e dissemina muitas mensagens genéricas, de estilo de vida, saúde, religião. 

O segundo privilegia a construção de um grupo de contatos bem estudado, normalmente motivado por um interesse específico, seja intelectual, seja profissional. 

Já o último grupo costuma visitar “fan pages” de empresas, fazendo um uso mais mercadológico e publicitário da ferramenta, que por trás o incentiva a disseminar esse conteúdo para uma rede de pessoas. Uma vez ali, as empresas passam a ter acesso aos perfis e, assim, a trabalhar conteúdos direcionados.

Um estudo realizado em 2012 pela Hi-Mídia, empresa de mídia on-line, e a M.Sense, especialista em pesquisa sobre o mercado digital, mostrou o que o Facebook representa a partir do ponto de vista mercadológico: foi considerado como mídia de “elevada penetração junto ao público” devido à sua alta frequência de acesso (75% dos entrevistados o visitavam ao menos uma vez por dia); 72% discutiam em suas páginas sobre produtos e estavam familiarizados com compras on-line; e 12% já compraram diretamente no Facebook, percentual considerado elevado. 

“Eu já fiz compra pelo Face, é uma ferramenta importante e diária. Mas precisa saber usá-lo, filtrando os conteúdos que chegam até você – percebo, pela página de alguns amigos, que nele é possível desperdiçar tempo sem nenhum benefício. Depende de cada um definir como quer usá-lo”, diz o assistente financeiro Thiago Eráclito.

Seja como for, é evidente que o Facebook está a “dois palitos” de se transformar na mais potente ferramenta de vendas do globo, por meio da qual as empresas conseguem fazer ofertas de uma forma tão orientada quanto nunca foi possível antes – e isso graças ao próprio usuário, que oferece tantas informações pessoais em troca de... nada. 

Quanto tempo cada usuário gasta na internet, quais empresas visita, quantas vezes viaja a lazer e qual seu programa de TV favorito são apenas migalhas do imenso arsenal de conhecimento concentrado ali.

"As pessoas se tornam mais agressivas, mas não tem jeito: tudo faz parte desse movimento”

Impossível prever quão mais longe o Facebook vai chegar. Sérgio Basbaum o vê como um “boteco da moda”: na hora que aparecer um mais descolado, todo mundo vai migrar. Mas esse outro ainda não apareceu. 

“Toda plataforma de relacionamento tem um ciclo de vida, basta lembrar do Orkut ou do My Space. Nesse momento, o Face está entrando em um patamar em que ou ele se reformula, ou outras poderão tomar seu lugar. É um ciclo de amadurecimento natural”, acredita Beth, enquanto Valentina imagina que o pior ainda está por vir: “Dentro de alguns anos, o Facebook será tão dono de nossas informações que teremos de pagar para poder mantê-las em privacidade”. 

Tudo dito, nada concluído, talvez não dê mesmo para saber que rumo a coisa vai tomar – mas há de se perder, e já, a inocência.

Postado no site Rede Brasil Atual em 10/08/2013

Cuidado com o que você coloca no Facebook







Internet e as interações sociais



Livro Aberto 27/05/13 - com Alex Primo



A foto que está chacoalhando as mulheres árabes




Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo

Uma imagem de mulher jovem está provocando uma formidável controvérsia mundial no Facebook.

É uma foto banal e ao mesmo tempo extremamente provocativa.

Banal porque não há nudez nem completa e nem parcial, a não ser que você considere braços de fora alguma coisa no gênero.

Provocativa porque a foto é de uma síria de 21 anos, Dana Bakdounis. Dana postou há poucas semanas uma foto sem véu num grupo criado no Facebook por mulheres árabes em busca de igualdade de direitos.

Nela, segura sua identidade e um bilhete manuscrito que é um pequeno manifesto, intitulado “A primeira coisa que senti quando tirei meu véu”. Nele afirma: “Estou com o Movimento de Liberação da Mulher Árabe porque, ao longo de 20 anos, não me permitiram sentir o vento em meu cabelo e em meu corpo”.


A foto, ninguém sabe explicar por que, foi uma sensação instantânea. Em pouco tempo, atraiu 1 600 likes, foi compartilhada 600 vezes e foi objeto de 250 comentários.

Com isso, o grupo ganhou uma visibilidade que ainda não tinha. Os debates se acirrariam ainda mais pouco depois, quando o Facebook simplesmente tirou a foto do ar, sem explicações, e também bloqueou a conta pessoal de Dana.

Censura? Um ataque à liberdade de expressão? Os protestos tomaram a página do grupo no Facebook, hoje com 70 000 integrantes e transformado num fórum vivo de debates de jovens mulheres ávidas insatisfeitas com sua situação. Uma delas disse: “Se vocês fazem este tipo de censura então não podem reivindicar os méritos pela Primavera Árabe.”

O Facebook acabaria, depois de idas e vindas, liberando a foto, e também a conta de Dana. “Minha vida mudou depois que tirei o véu”, diz ela. “Recebi muitas manifestações de solidariedade de outras mulheres com véu. Elas diziam ter vontade de fazer a mesma coisa, mas acrescentavam que faltava a audácia que tive.”

Meses atrás, quando o então presidente da França Nicolas Sarkozy iniciou na França uma cínica e eleitoreira caça às burcas sob o argumento de que estava ajudando as mulheres árabes, escrevi que era uma falácia.

Todos os movimentos históricos de conquista de direitos nasceram das próprias vítimas de injustiça, e não de tutores.

Sempre foi assim, das sufragettes, as mulheres inglesas que lutaram pelo direito ao voto no começo do século passado, aos negros americanos que combateram por sua inclusão social, para ficar em apenas dois casos.

A foto de Dana pode ser um sinal de que as mulheres árabes estão efetivamente decididas a batalhar, elas também, por sua própria Primavera. Se for isso, a imagem entrará para a história da humanidade.


Postado no blog O Escrevinhador em 27/11/2012



Caio Fernando Abreu: o cara do Face


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Caio Fernando Abreu


Maykon Souza

No Shopping, puxei o livro da mochila e percebi que estava sendo observado. Mal virei a primeira página e ela se aproximou. Devia ter uns 20 anos. Ficou se contorcendo, tentando ler o nome que estava na capa. Conseguiu:

– Ai, que legal...

– O quê?

– Ele tem livro?

– Como assim?

– O Caio tem livro...

– Que Caio?

– Esse que você tá lendo...

– Tem... vários... um dos maiores escritores do Brasil...

Ela não acreditou muito.

– Caramba... achei que ele era só o cara do Face.

– Cara do...?

– Face... Facebook... internet... cê tem, né?!

– Tenho, tenho...

– Ele também.

– Quem?

– O Caio... tem um perfil todo fofo... Ele escreve cada coisa bonita.

– O Caio?

– Claro, pô. Não é dele que a gente está falando?!

– É que é impossível ele ter perfil.

– Por quê?

– Ele morreu...

– Impossível ele ter morrido!

Chegamos num impasse. Ela virou para o outro lado, como que digerindo a informação. Depois de um tempo, indignada:

– E quem atualiza o perfil dele, então?

– Ele é que não é.

– Cê ta brincando... não deve ser o mesmo... morreu de quê?

– Aids.

– Aids??? Então, ele era velhão?

– Velhão?

– É, ué! Aids não é aquele negócio que dava nos anos 80?

Novamente, um impasse. Dessa vez, eu é que virei para o outro lado para digerir a informação.

– Lê um pedaço aí pra mim.

– Qualquer um?

– É.

– Lá vai: “Aquele negrão, sabe aquele negrão de cabelo rastafári que fica sempre ali no Quênia’s Bar? Aquele que vende fumo, diz que tem vinte e cinco centímetros, já pensou? Isso não é uma jeba, é uma jiboia. Até vinte aguento numa boa, até o cabo. Vinte e cinco não sei, tenho até medo. Pode rasgar a gente por dentro, sei lá”*.

– Ele escreveu isso?

– Sim.

– O Caio?

– Claro, pô. Não é dele que a gente está falando?!

Ela se levantou, indignada:

– Ele escreve coisas fofas, não isso aí. Ele fala de amor, esperança, sorriso. Coisas pra valorizar a gente. Ele tem frases que se encaixam em todos os momentos da vida da gente.

– Isso é Minutos de Sabedoria, não Caio Fernando Abreu.

– Minutos de quê?

Reparei que outra garota tinha se aproximado. Resolveu entrar na conversa:

– Que foi?

– O cara aí tá dizendo que conhece o Caio.

– Que Caio?

– O do Face!

– Ah, tá... prefiro a Clarissa...

– Que Clarissa?

– Ah, sei lá. Acho que é Espectro.

– Não é Clarissa, é Clarice, sua burra!

Começaram a tirar sarro uma da outra e se foram sem dar tchau.

Da próxima vez que estiver em público, puxo um Dostoiévski. Duvido que ele também tenha perfil fofo no Face.


Maykon Souza é autor do blog Amenidades Crônicas. 


Postado no Blog Brasil de Fato em 01/03/2012










Nota

Este blog está fazendo 1 ano desde a sua criação. Para comemorar estou republicando algumas postagens antigas entre as 942 postagens já publicadas.