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A ignorância não morreu





Anderson Pires*

A morte de Olavo de Carvalho é um fato carregado de simbolismos. O pseudopensador cumpriu o papel de sistematizar a negação ao saber. Como um oráculo do mundo bizarro, espalhava obscurantismo e um moralismo desumano de ultradireita. O defensor de teses absurdas como o terraplanismo, crítico do globalismo, escritor admirado por uma legião de figuras exóticas, foi alçado a grande influenciador nas decisões do país, com o título de guru do bolsonarismo.

A impressionante ascensão de Olavo de Carvalho diz muito sobre o culto a ignorância. Abre espaço para questionar: a quem serve esse tipo de idolatria, por alguém que propaga ideias sem qualquer fundamento científico? Mais estranho ainda, quando muitos dos seus discípulos são pessoas que tiveram acesso a boa educação, em algumas escolas e universidades renomadas, mas nem assim adotam tom crítico em relação aquilo que Olavo propagava.

Menino se aproxima de carro para pedir dinheiro e vai às lágrimas ao ouvir a pessoa do outro lado



Mesmo vivendo nas ruas e sobrevivendo da caridade alheia, ele concluiu que a pessoa dentro do carro passava por mais provações do que ele. Às lágrimas, ele tirou do bolso o pouco dinheiro que tinha e deu à mulher. Além disso, orou a Deus para que a ajudasse.

Por Conti Outra

O pequeno John Thuo é uma entre as muitas crianças que vivem nas ruas de Nairóbi, no Quênia. Essas crianças são muitas vezes desprezadas, vistas como mendigos e batedores de carteira. Mas John acabou de provar que, mesmo uma criança que vive nas ruas, sofrendo na pele a injustiça social, pode ter preservados em seu coração o amor e a doçura dos inocentes.




Um dia, enquanto John pedia dinheiro aos motoristas de carros parados no trânsito, ele conheceu uma mulher chamada Gladys Kamande. Gladys sofria de colapso dos pulmões, causando falta de ar. Ela constantemente depende de um concentrador de oxigênio, cilindros de oxigênio e um gerador para respirar, carregando os suprimentos com ela o tempo todo.

Além disso, a mulher de 32 anos já passou por 12 cirurgias; uma delas rompeu seu nervo óptico, deixando-a cega.




Sendo um menino curioso, John perguntou para que serviam todos os aparatos que ela trazia com si. Enquanto ela explicava sua situação para ele, seus olhos se encheram de lágrimas. Ele começou a chorar, percebendo que – por mais difícil que seja a vida na rua – Gladys estava muito pior do que ele. Ele chorou ainda mais quando percebeu que não havia nada que pudesse fazer por ela.



John pegou a mão de Gladys e orou para que Deus fornecesse tudo o que ela precisava para o tratamento. Depois disso, ele enfiou a mão no bolso e deu a ela o pouco dinheiro que tinha.

Uma pessoa que passava por ali e se comoveu com a cena, tirou uma foto do momento e compartilhou a história nas redes sociais. Uma postagem que rapidamente viralizou.



Desde que a história se espalhou, muitas pessoas se juntaram para arrecadar dinheiro suficiente para que Gladys cuidasse do tratamento de que ela precisava.




Mas essa não é a única boa notícia.

John foi tirado das ruas e voltou para a escola. Ele disse que estava feliz em poder estudar… contanto que não tivesse que se afastar de Gladys.

E então a história ficou ainda melhor. John foi adotado!



Agora ele tem uma família para ajudá-lo a terminar a escola e ele nunca mais terá que pedir dinheiro nas ruas !




Menino se aproxima de carro para pedir dinheiro e vai às lágrimas ao ouvir a pessoa do outro lado



Mesmo vivendo nas ruas e sobrevivendo da caridade alheia, ele concluiu que a pessoa dentro do carro passava por mais provações do que ele. Às lágrimas, ele tirou do bolso o pouco dinheiro que tinha e deu à mulher. Além disso, orou a Deus para que a ajudasse.

Por Conti Outra

O pequeno John Thuo é uma entre as muitas crianças que vivem nas ruas de Nairóbi, no Quênia. Essas crianças são muitas vezes desprezadas, vistas como mendigos e batedores de carteira. Mas John acabou de provar que, mesmo uma criança que vive nas ruas, sofrendo na pele a injustiça social, pode ter preservados em seu coração o amor e a doçura dos inocentes.




Um dia, enquanto John pedia dinheiro aos motoristas de carros parados no trânsito, ele conheceu uma mulher chamada Gladys Kamande. Gladys sofria de colapso dos pulmões, causando falta de ar. Ela constantemente depende de um concentrador de oxigênio, cilindros de oxigênio e um gerador para respirar, carregando os suprimentos com ela o tempo todo.

Carteirada : “ Você sabe com quem está falando? ”



Você sabe com quem está falando? | A Gazeta


Jackson César Buonocore

O Brasil com os nervos à flor da pele em decorrência desta grave pandemia e no meio dela surgem os que continuam dando carteiradas, como noticiam as mídias. São indivíduos que o poder subiu à cabeça, que expõem seu pedantismo diante de pessoas com supostas desvantagens socioeconômicas.

É uma parcela da elite, como desembargadores, políticos, empresários, policiais, celebridades etc, que possuem privilégios, contudo, são seres desprezíveis em termos de valores, que se apegam a um ritual de opressão, deslocado de uma sociedade que avança em direção oposta.

Essa falsa superioridade, se revela na indecorosa frase: “Você sabe com quem está falando?” É a mesma elite que fecha os olhos para a pobreza e a violência policial que executa negros na periferia, colocando o nosso país no ranking da crueldade.


Segundo o antropólogo Roberto DaMatta, isso resume a existência de dois “Brasis”, o dos poucos privilegiados e o da maioria de desafortunados, que se originou de uma nação escravocrata que nos legou uma sociedade autoritária, a qual tratamos de reproduzir em pleno século 21, que nega-se a lidar com a ideia da igualdade na divisão dos direitos e dos deveres.

No entanto, muitas das histórias de carteiradas não saem nas mídias, onde todos os dias pessoas inocentes são humilhadas por sujeitos que acham que estão acima da lei, porque tem poder, dinheiro e fama. Assim, eles se impõem de forma arbitrária para inferiorizar seus interlocutores, que são tratados como inimigos.

O que estamos assistindo é o desrespeito ao decoro e uma reação contra a igualdade de todos perante a lei, ou seja, é um vale tudo para manter as regalias. É como o gondoleiro veneziano mencionado na “Ética Protestante”, de Max Weber, que nada cobra de seus parentes, amigos e compadres, mas exige o dobro dos estranhos.

No ensaio sociológico” As Formas do Capital”, Pierre Bourdieu caracteriza três categorias de capital: 1) Capital econômico (renda, salários, imóveis), 2) Capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), 3) Capital social (relações sociais que podem ser revertidas em capital e que podem ser capitalizadas), que no contexto brasileiro são recursos ou poderes usados para dar carteiradas, como forma de instituição de hierarquias.

É importante sempre lembrar que fizemos parte de uma população global de 7,7 bilhões de humanos, que vivem no planeta Terra que está entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias em um dos universos possíveis e que vai desaparecer. Porém, como diz o ditado popular: “Tem gente que se acha a última bolacha do pacote.”

Enfim, a má conduta dessas criaturas só agravam o desrespeito à lei e aumentam a desigualdade social, já que elas não titubeiam em humilhar quem atrapalha o seu caminho. Aliás, é uma vaidade ególatra que precisa se destacar em tudo aquilo que os diferenciam dos demais: seus bens, seu clã e sua religião, demonstrando para a opinião pública que suas vidas são miseráveis do ponto de vista humano, moral e espiritual.


* Jackson César Buonocore é sociólogo e psicanalista.









Carteirada : “ Você sabe com quem está falando? ”



Você sabe com quem está falando? | A Gazeta


Jackson César Buonocore

O Brasil com os nervos à flor da pele em decorrência desta grave pandemia e no meio dela surgem os que continuam dando carteiradas, como noticiam as mídias. São indivíduos que o poder subiu à cabeça, que expõem seu pedantismo diante de pessoas com supostas desvantagens socioeconômicas.

É uma parcela da elite, como desembargadores, políticos, empresários, policiais, celebridades etc, que possuem privilégios, contudo, são seres desprezíveis em termos de valores, que se apegam a um ritual de opressão, deslocado de uma sociedade que avança em direção oposta.

Essa falsa superioridade, se revela na indecorosa frase: “Você sabe com quem está falando?” É a mesma elite que fecha os olhos para a pobreza e a violência policial que executa negros na periferia, colocando o nosso país no ranking da crueldade.

Distribuição de renda e riqueza no Brasil em 2019









O Tempo Não Pára


Cazuza


Disparo contra o Sol

Sou forte, sou por acaso

Minha metralhadora cheia de mágoas

Eu sou um cara


Cansado de correr

Na direção contrária

Sem pódio de chegada ou beijo de namorada

Eu sou mais um cara


Mas, se você achar

Que eu tô derrotado

Saiba que ainda estão rolando os dados

Porque o tempo, o tempo não para


Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão

Da caridade de quem me detesta


A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas ideias não correspondem aos fatos

O tempo não para


Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não para

Não para, não, não para


Eu não tenho data pra comemorar

Às vezes os meus dias são de par em par

Procurando agulha num palheiro


Nas noites de frio é melhor nem nascer

Nas de calor, se escolhe: É matar ou morrer

E assim nos tornamos brasileiros


Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro

Transformam o país inteiro num puteiro

Pois assim se ganha mais dinheiro


A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas ideias não correspondem aos fatos

O tempo não para


Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não para

Não para, não, não para


Dias sim, dias não

Eu vou sobrevivendo sem um arranhão

Da caridade de quem me detesta


A tua piscina tá cheia de ratos

Tuas ideias não correspondem aos fatos

Não, o tempo não para


Eu vejo o futuro repetir o passado

Eu vejo um museu de grandes novidades

O tempo não para

Não para, não, não, não não para



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Nota de Rosa Maria ( editora do blog )





Acima, dados do IBGE de 2019, abaixo, dados do IBGE de 2003 até 2014. 

De 2003 a 2014 foram os Governos Lula e final do primeiro governo de Dilma, pois sabemos que apesar de reeleita para 2015 / 2018, ela foi boicotada desde o primeiro dia de 2015, pelo Congresso, visando o impeachment / golpe e não conseguiu mais governar o país. 

A pirâmide abaixo mostra, claramente, o aumento de pessoas nas Classes A, B, e C, assim como a diminuição de pessoas nas Classes D e E.   

Então podemos concluir, comparando os dados de 2019 com os de 2003-2014, que os governos de esquerda governaram com políticas de Distribuição de Renda conseguindo diminuir a desigualdade e a pobreza; já os governos de direita e extrema direita sem políticas sociais, aumentaram a desigualdade e a pobreza. E a tendência é piorar mais, infelizmente. 


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Leia abaixo : 








E se nos livrássemos de todos os bilionários ?



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É ético que existam, quando tantos passam fome? Sua presença implica deformações econômicas, políticas e sociais. Sua adulação pela mídia é aberração moral. Ao nos livrarmos deles, daremos um enorme 
passo civilizatório.



Por Farhad Manjoo         

Tradução : Marianna Braghini



No último outono, Tom Scocca, editor do blog essencial Hmm Daily, escreveu um pequeno post que está mexendo com minha cabeça desde então.

“Algumas ideias de como tornar o mundo melhor, requerem um pensamento cuidadoso e com nuances, sobre como melhor equilibrar interesses conflitantes,” ele começou. “Outras, não: Bilionários são ruins. Nós devemos nos livrar deles preventivamente. De todos eles.”

Scocca — escritor por muito tempo no Gawker, até que o site foi abafado por um bilionário — ofereceu um argumento direto para dar um tranco nos mais ricos. Um bilhão de dólares é muito mais do que alguém precisa, mesmo fazendo os maiores excessos da vida. É muito mais do que aquilo a que qualquer um poderia alegar ter direito, não importa o quanto acredite ter contribuído com a sociedade.

Em algum nível de riqueza extrema, o dinheiro inevitavelmente corrompe. Na esquerda e na direita, ele compra poder político, silencia dissidências, serve principalmente para perpetuar uma riqueza cada vez maior, frequentemente sem relação com qualquer bem social recíproco. Para Scocca, esse nível é evidentemente algo em torno de um bilhão de dólares; com mais do que isso, você é irredimível.

Escrevo sobre tecnologia. Muito de minha carreira exigiu uma pesquisa profundamente antropológica entre o reino dos bilionários. Mas estou envergonhado em dizer que nunca tinha considerado a ideia de Scocca — que se almejarmos, por meio de políticas públicas e sociais, simplesmente desencorajar as pessoas de possuir mais de um bilhão, estaremos construindo um mundo melhor.

Devo dizer que, em outubro, abolir bilionários me pareceu fora de lugar. Soava radical, impossível, e mesmo Scocca pareceu sugerir esta noção como um mero devaneio.

Mas o fato de esta ideia ter se tornado um tema central da esquerda democrática revela, paradoxalmente, a fragilidade política dos bilionários. Nos Estados Unidos, Bernie Sanders e Elizabeth Warren estão propondo novos impostos voltados aos super ricos — incluindo taxas especiais para bilionários. A deputada Alexandria Ocasio-Cortez, que também é a favor de impostos mais altos sobre os ricos, tem feito um caso moral contra a existência de bilionários. Dan Riffle, seu assessor político, recentemente mudou seu nome no Twitter para “Todo Bilionário É Uma Falha Política.” Semana passada, o Huffpost perguntou, “Bilionários deveriam existir?

Suspeito que se a questão está recebendo tanta atenção, é porque tem uma resposta óbvia: Não: bilionários não deveriam existir — com seu poder de engolir o mundo, conquistando esse nível de adulação, enquanto o resto da economia se debate para sobreviver.

Abolir bilionários pode não parecer como uma ideia prática, mas se você pensar na proposta como um objetivo a longo prazo, à luz dos desarranjos econômicos mais profundos de hoje em dia, pode ser tudo — menos radical. Banir bilionários — buscando cortar seu poder econômico, trabalhar para reduzir seu poder político e tentar questionar seu status social — é uma visão perfeitamente clara para sobreviver ao futuro digital.

A abolição de bilionários poderia tomar diversas formas. Poderia significar evitar que as pessoas tenham mais de um bilhão em cash, mas provavelmente significaria maiores impostos sobre rendimentos, riqueza e propriedades para bilionários e pessoas a caminho de se converterem nisso. Essas ideias de políticas revelaram-se muito populares ainda que provavelmente não sejam suficientemente redistributivas para converter a maior parte dos bilionários em sub-bilionários.

Mais importante, o objetivo de abolir bilionários iria envolver remodelar estrutura da economia contemporânea, para que produza uma proporção mais igualitária entre os super ricos e restante de nós.

A desigualdade está definindo a condição econômica da era tecnológica. O software, por sua própria natureza, leva a concentrações de riqueza. Por meio dos efeitos em rede, em que a própria popularidade de um serviço assegura que ele se torne cada vez mais popular; e de economias de escala sem precedentes — em que a Amazon pode fazer a assistente digital Alexa uma única vez e vê-la trabalhar em todos os lugares, para todo mundo — a tecnologia instila uma dinâmica de o-vencedor-leva-tudo em grande parte da economia.

Alguns destes efeitos já começaram a aparecer. Corporações muito famosas, muitas de tecnologia, são responsáveis pelo grosso dos lucros corporativos, enquanto a maior parte do crescimento econômico, desde os anos 1970, foi para um pequeno número de super-ricos.

Mas o problema está prestes a piorar. A Inteligência Artificial está criando novas indústrias muito prósperas, que não empregam muitos trabalhadores. Se forem deixadas sem controle, tecnologia criará um mundo em que alguns bilionários controlarão uma parcela sem precedentes da riqueza global.

Mas a abolição não envolve apenas política econômica. Pode também tomar a forma de vexame social e político. Há pelo menos vinte anos vivemos uma relação amorosa devastadora com os bilionários – um flerte em que o setor tecnológico avançou mais do que em qualquer outro.

Assisti a uma geração de esforçados empreendedores juntarem-se ao clube das três pontas [termo utilizado para definir bilionários] e instantaneamente transformarem-se em super heróis da ordem global, pelo que se considera ser sua sabedoria óbvia e irrefutável sobre qualquer coisa e todas as coisas. Colocamos bilionários em capas de revistas, especulamos sobre suas ambições políticas, saudamos suas grandes visões para salvar o mundo e piscamos afetuosamente aos seus planos malucos para nos ajudar a escapar — graças aos seus foguetes gigantes e de-forma-alguma-sugestivos-freudianamente — para um novo mundo

Mas a adulação que concentramos nos bilionários obscurece o dilema moral no centro de sua riqueza. Por que qualquer pessoa deveria ter um bilhão de dólares e sentir-se orgulhosa em exibir seus bilhões, enquanto há tanto sofrimento no mundo? É como Alejandria Ocasio-Cortez disse, num diálogo com Ta-Nehisi Coates: “Não afirmo que Bill Gates ou Warren Buffet sejam imorais, mas um sistema quye permite a existência de bilionários, quando há muitas partes do mundo em que as pessoas estão se enchendo de verminoses porque não há acesso à Saúde pública está doente”.

Na semana passada, para ir mais fundo na questão de se é possível ser um bom bilionário, eu falei com dois especialistas.

O primeiro foi Peter Singer, o filósofo da moral, de Princeton, que escreveu extensivamente sobre os deveres éticos dos ricos. O Singer me disse que em geral, ele não achava possível viver moralmente como bilionário, apesar de apontar algumas exceções: Bill Gates e Warren Buffet, que decidiram doar a maior parte de suas riquezas para a filantropia, não teriam o desprezo de Singer.

“Eu tenho uma preocupação moral com os indivíduos – nós temos tantos bilionários que não estão vivendo eticamente, e não estão fazendo o melhor que podem, por uma larga margem,” disse o Sr. Singer.

Além disso, há a complicação adicional se, de fato, mesmo aqueles que estão “fazendo o bem” estão mesmo fazendo o bem. Como argumentou Anand Giridharadas, muitos bilionários aproximam-se da filantropia como uma espécie de exercício de marca, para manter um sistema no qual conseguem manter seus bilhões.

Quando um bilionário se compromete a colocar dinheiro na política — seja para o seu lado ou o outro — você deveria enxergar melhor de que se trata: um esforço para ganhar vantagens sobre o sistema político, um esquema para causar um curto-circuito na revolução e mitigar a revolta.

O que me leva ao meu segundo especialista no assunto, Tom Steyer, o antigo investidor de fundos multimercados, que está dedicando sua fortuna de bilhões de dólares para uma onda de causas progressistas, como registro de eleitores, mudanças climáticas e o impeachment de Donald Trump.

Steyer preenche todos os requisitos de um liberal. Ele é a favor de um imposto sobre fortunas e ele e sua esposa assinaram a Giving Pledge. Ele não vive em luxo excessivo — ele dirige um Chevrolet Volt. Ainda assim, eu me perguntei quando conversei ao telefone com ele, semana passada: Não estaríamos melhor se não tivéssemos que nos preocupar com pessoas ricas como ele tentando alterar o processo político? Steyer foi afável e eloquente; ele falou comigo durante quase uma hora sobre seu interesse em justiça econômica e suas crenças em organizações de base. Em determinado ponto, comparei suas doações com as dos Irmãos Koch, e ele pareceu genuinamente aflito com comparação. 

“Eu compreendo os problemas reais do dinheiro na política,” disse. “Nós temos um sistema que sei que não é certo, mas é o sistema que temos, e nós estamos tentando o máximo possível para mudá-lo.”

Eu admiro seu zelo. Mas se nós tolerarmos os supostamente “bons” bilionários na política, inevitavelmente deixamos as portas abertas para os ruins. E eles nos ultrapassarão. Quando o capitalismo norte americano nos envia seus bilionários, não está enviando os melhores. Está nos enviando pessoas que tem muitos problemas, e elas trazem esses problemas com elas.

Elas estão trazendo desigualdade e injustiça. Elas estão comprando políticos.

E alguns, creio eu, são boas pessoas.


Farhad Manjoo - Jornalista e escritor norte americano. Foi redator da revista Slate de 2008 a 2013 e logo depois se juntou ao The Wall Street Journal como colunista de tecnologia.


Postado em Outras Palavras em 01/03/2019



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Lula mudou a vida de milhões de pessoas e isto não se esquece . . .


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Brasil cada vez mais longe da civilização e mais perto da barbárie ...



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Adalberto Pessoa : Astrologia e Política



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O imperialismo é o inimigo



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Postado em Conversa Afiada em 04/09/2017



Como Charles Koch e outros bilionários financiaram, nas sombras, um projeto político que implica devastar o serviço público e o bem comum, para estabelecer a “ liberdade total ” do 1% mais rico. [ É o que está sendo feito no Brasil com o Golpe de 2016 em nossa Democracia ]




170725-Koch

O programa secreto do capitalismo totalitário


Como Charles Koch e outros bilionários financiaram, nas sombras, um projeto político que implica devastar o serviço público e o bem comum, para estabelecer a “liberdade total” do 1% mais rico.


Por George Monbiot | Tradução: Antonio Martins

É o capítulo que faltava, uma chave para entender a política dos últimos cinquenta anos. Ler o novo livro de Nancy MacLeanDemocracy in Chains: the deep history of the radical right’s stealth plan for America [“Democracia Aprisionada: a história profunda do plano oculto da direita para a América] é enxergar o que antes permanecia invisível.




O trabalho da professora de História começou por acidente. Em 2013, ela deparou-se com uma casa de madeira abandonada no campus da Universidade George Mason, em Virgínia (EUA). O lugar estava repleto com os arquivos desorganizados de um homem que havia morrido naquele ano, e cujo nome é provavelmente pouco familiar a você: James McGill Buchanan. Ela conta que a primeira coisa que despertou sua atenção foi uma pilha de cartas confidenciais relativas a milhões de dólares transferidos para a universidade pelo bilionário Charles Koch¹.

Suas descobertas naquela casa de horrores revelam como Buchanan desenvolveu, em colaboração com magnatas e os institutos fundados por eles, um programa oculto para suprimir a democracia em favor dos muito ricos. Tal programa está agora redefinindo a política, e não apenas nos Estados Unidos.

Buchanan foi fortemente influenciado pelo neoliberalismo de Friedrich Hayek e Ludwig von Mises e pelo supremacismo de proprietários de John C Carlhoun. Este último argumentava, na primeira metade do século XIX, que a liberdade consiste no direito absoluto de usar a propriedade – inclusive os escravos – segundo o desejo de cada um. Qualquer instituição que limitasse este direito era, para ele, um agente de opressão, que oprime homens proprietários em nome das massas desqualificadas.

James Buchanan reuniu estas influências para criar o que chamou de “ teoria da escolha pública ". Argumentou que uma sociedade não poderia ser considerada livre exceto se cada cidadão tivesse o direito de vetar suas decisões. Queria dizer que ninguém deveria ser tributado contra sua vontade. Mas os ricos, dizia ele, estavam sendo explorados por gente que usa o voto para reivindicar o dinheiro que outros ganharam, por meio de impostos involuntários usados para assegurar o gasto e o bem-estar social. Permitir que os trabalhadores formassem sindicatos e estabelecer tributos progressivos eram, sempre segundo sua teoria, formas de “legislação diferencial e discriminatória” sobre os proprietários do capital.

Qualquer conflito entre o que ele chamava de “liberdade” (permitir aos ricos fazer o que quiserem) e a democracia deveria ser resolvido em favor da “liberdade”. Em seu livro The Limits of Liberty [“Os limites da liberdade”], ele frisou que “o despotismo pode ser ser a única alternativa para a estrutura política que temos”. O despotismo em defesa da liberdade…



James Buchanan, colaborador de Pinochet e partidário da ditadura —
 em nome da “liberdade”…


Ele prescrevia o que chamou de uma “revolução constitucional”: criar barreiras irrevogáveis para reduzir a escolha democrática. Patrocinado durante toda sua vida por fundações riquíssimas, bilionários e corporações, ele desenvolveu uma noção teórica sobre o que esta revolução constitucional seria e uma estratégia para implementá-la.

Ele descreveu como as tentativas de superar a segregação racial no sistema escolar do sul dos Estados Unidos poderiam ser frustradas com o estabelecimento de uma rede de escolas privadas, patrocinadas pelo Estado. Foi ele quem primeiro propôs a privatização das universidades e cobrança de mensalidades sem nenhum subsídio estatal: seu propósito original era esmagar o ativismo estudantil. Ele recomendou a privatização da Seguridade Social e de muitas outras ações do Estado. Queria romper os laços entre os cidadãos e o governo e demolir a confiança nas instituições públicas. Ele queria, em síntese, salvar o capitalismo da democracia.

Em 1980, pôde colocar este programa em prática. Foi chamado ao Chile, onde ajudou a ditadura Pinochet a escrever uma nova Constituição – a qual, em parte devido aos dispositivos que Buchanan propôs, tornou-se quase impossível de revogar. Em meio às torturas e assassinados, ele aconselhou o governo a ampliar seus programas de privatização, austeridade, restrição monetária, desregulamentação e destruição dos sindicatos: um pacote que ajudou a produzir o colapso econômico de 1982.

Nada disso perturbou a Academia Sueca que, por meio de Assar Lindbeck, um devoto na Universidade de Estocolmo, conferiu a James Buchanan o Nobel de Economia de 1986. Foi uma das diversas decisões que tornaram duvidosa a honraria.



A historiadora Nancy Maclean: para ela, capitalismo é, cada vez mais, incompatível com democracia


Mas seu poder realmente intensificou-se quando Charles Koch, hoje o sétimo homem mais rico nos EUA, decidiu que Buchanan tinha a chave para a transformação que desejava. Para Koch, mesmo ideólogos neoliberais como Milton Friedman e Alan Greenspan eram vendidos, já que tentavam aperfeiçoar a eficiência dos governos, ao invés de destruí-los de uma vez. Buchanan era o realmente radical.

Nancy MacLean afirma que Charles Koch despejou milhões de dólares no trabalho de Buchanan na Universidade George Mason, cujos departamentos de Direito e Economia parecem muito mais thinktanks corporativos que instituições acadêmicas. Ele encarregou o economista de selecionar o “quadro” revolucionário que implementaria seu programa (Murray Rothbard, do Cato Institute, fundado por Koch, havia sugerido ao bilionário estudar as técnicas de Lenin e aplicá-las em favor da causa ultraliberal). Juntos, começaram a desenvolver um programa para mudar as regras.

Os documentos que Nancy Maclean descobriu mostram que Buchanan via o sigilo como crucial. Ele afirmava a seus colaboradores que “o sigilo conspirativo é essencial em todos os momentos”. Ao invés de revelar seu objetivo último, eles deveriam agir por meio de etapas sucessivas. Por exemplo, ao tentar destruir o sistema de Seguridade Social, sustentariam que estavam salvando-o e argumentariam que ele quebraria sem uma série de “reformas” radicais. Aos poucos, construiriam uma “contra-inteligência”, articulada como uma “vasta rede de poder político” para, ao final, constituir um novo establishment.

Por meio da rede de thinktanks financiada por Koch e outros bilionários; da transformação do Partido Republicano; de centenas de milhões de dólares que destinaram a disputas legislativas e judiciais; da colonização maciça do governo Trump por membros de sua rede e de campanhas muito efetivas contra tudo – da Saúde pública às ações para enfrentar a mudança climática, seria justo dizer que a visão de mundo de Buchanan está aflorando nos EUA.

Mas não apenas lá. Ler seu livro desvendou, para mim, muito da política britânica atual. O ataque às regulamentações evidenciado pelo incêndio da Torre Grenfell, a destruição dos serviços públicos por meio da “austeridade”, a regras de restrição do orçamento, as taxas universitárias e o controle das escolas: todas estas medidas seguem à risca o programa de Buchanan.

Em um aspecto, ele estava certo: há um conflito inerente entre o que ele chamava de “liberdade econômica” e a liberdade política. Deixar os bilionários de mãos livres significa, para todos os demais, pobreza, insegurança, contaminação das águas e do ar, colapso dos serviços públicos. Como ninguém votará em favor deste programa, ele só pode ser imposto por meio de ilusão ou controle autoritário. A escolha é entre o capitalismo irrestrito e a democracia. Não se pode ter os dois.

O programa de Buchanan equivale à prescrição de capitalismo totalitário. E seus discípulos apenas começaram a implementá-lo. Mas ao menos, graças às descobertas de Nancy Maclean, agora podemos compreender a agenda. Uma das primeiras regras da política é conhecer seu inimigo. Estamos a caminho.


¹ Nos últimos anos, reportagens e vídeos têm começado a jogar luz sobre a atividade política dos irmãos Charles e David Koch, e seus vínculos com a ultra-direita nos EUA e em outras parte do mundo. Vale assistir, por exemplo, a Koch Brothers exposed, documentário de Robert Greenwald (https://www.youtube.com/watch?v=2N8y2SVerW8); ou ler “Por dentro do império tóxico dos irmãos Koch”, publicado pela revista Rolling Stones (em inglês) http://www.rollingstone.com/politics/news/inside-the-koch-brothers-toxic-empire-20140924


   George Monbiot
Jornalista, escritor, acadêmico e ambientalista do Reino Unido. Escreve uma coluna semanal no jornal The Guardian.



Postado em Outras Palavras em 25/07/2017









Cuidado, amigos plutocratas, os forcados estão chegando / Beware, fellow plutocrats, the pitchforks are coming (2014)
















( Para ler a legenda em Português clicar no canto inferior direito e procurar entre as 20 línguas oferecidas )  


O salários dos CEO's (altos executivos de uma empresa) passaram nos EUA de 30 vezes, nos anos 80, para 500 vezes o salário médio atualmente, ao mesmo tempo que grande parcela da população americana se tornou pobre e, além disso, os mais pobres tem se tornado mais pobres.

O bilionário Nick Hanauer, avisa aos seus colegas plutocratas que se continuarem com a “política de migalhas” para o resto da população, o capitalismo irá ruir, pois nesse ecossistema, os ricos não vivem sem a classe média, "virão com forcados e tochas atrás de nós".


Ele defende o salário mínimo alto (e prova que as cidades com maior salário, são as que mais crescem), tributação maior para os mais ricos e programas de proteção social, que vão em direção diametralmente oposta ao que se é pregado diariamente na imprensa corporativa, inclusive a brasileira. (docverdade)

“O capitalismo tende, inevitavelmente, à desigualdade, à concentração e ao colapso”.


Postado no DocVerdade em 30/04/2015



Thomas Piketty no Roda Viva conheceu a arrogância de André Lara Resende



No Roda Viva com Thomas Piketty, entrevistadores perderam oportunidade única de aprofundar questões relevantes e preferiram insistir em polêmicas rasteiras. 

As grosserias de André Lara Resende foram rebatidas com elegância pelo economista francês.











Revista Fórum

O economista francês Thomas Piketty, autor de “O Capital do Século XXI”, foi o entrevistado do programa Roda Viva, desta semana [íntegra acima]. Na ocasião, Piketty falou de suas teses, entre elas a defesa da taxação de grandes fortunas. Para ele, as classes mais baixas devem pagar menos impostos e quantias recebidas por meio de heranças, por exemplo, devem ser muito mais taxadas.

Nas redes, porém, a atuação do também economista André Lara Resende, que estava na bancada do programa, foi bastante comentada.

“Eu nunca tinha visto o André Lara Resende – só conhecia o respeito que se tinha por ele em certos círculos de economistas neoclássicos.
Na entrevista com o Piketty, no entanto, ele se mostrou um liberal arrogante, dogmático e muito pouco razoável. Não é por ser liberal – ele foi grosseiro e muito pouco sofisticado para alguém com a sua reputação”, disse Pablo Ortellado, professor doutor de Gestão de Políticas Públicas e orientador no programa de pós-graduação em Estudos Culturais da Universidade de São Paulo.
O também professor da USP Wagner Iglecias concordou: “Portou-se como se fosse ele o entrevistado, de tanto que falou. Perguntas longuíssimas, o que configura um desrespeito ao entrevistado”.
Já o internauta Sidney Martucci observou que “talvez a nota dissonante da entrevista tenha sido os apartes do economista André Lara Resende, principalmente em cima da fala do Piketty e sempre em contraponto à tese de que a ínfima parte dos milionários que concentra essa riqueza, não tem nenhuma obrigação social em ser obrigado a pagar uma taxação maior para que a divisão de renda seja mais equitativa. Porém esqueceu-se o André de que são exatamente esses ricos que mais se aproveitam das benesses do Estado, em subsídios, empréstimos via BNDES”.
“Os argumentos do André Lara são muito frágeis e pra falar a verdade ele estava lá muito mais para cutucar o Piketty com sua arrogância liberal”, disse outro internauta, Alexandre Marques.

Resende participou da elaboração do Plano Real, foi ex-presidente do BNDES no governo FHC, e foi demitido na ocasião do escândalo dos grampos da telefonia. 

Foi também sócio de Mendonça de Barros no banco Matrix, onde teria se tornado multimilionário.

Entre seus hobbies está correr de Porsche. No ano passado, participou da campanha de Marina Silva à Presidência da República.


Postado no site Pragmatismo Político em 12/02/2015


Desigualdade e pobreza nos Estados Unidos : neoliberalismo e ausência de políticas sociais



Park Avenue : Dinheiro, Poder e o Sonho Americano

(EUA, 2012, Direção Alex Gibney) 

O documentário mostra o resultado de anos consecutivos de políticas da direita conservadora que se entregou às leis do mercado, do Estado Mínimo e suas consequências na vida do cidadão americano, que hoje está cada dia mais pobre. (docverdade)

Sinopse tirada do Youtube: O número 640 da Park Avenue é o endereço dos apartamentos mais luxuosos de Manhattan, residência de gerações da nata de Wall Street, dos barões das falcatruas e dos controladores de fundos de investimentos. 


O interior dos apartamentos desse prédio é simplesmente palaciano. Dois quilômetros ao norte, no entanto, está a outra Park Avenue, ao sul do Bronx, onde as perspectivas de vida não são tão boas para aqueles que estão presos na base da pirâmide americana. 

Alex Gibney examina a desigualdade nos Estados Unidos sob o prisma desses dois locais próximos e antagônicos. Em duas décadas, a desigualdade aumentou consideravelmente nos Estados Unidos e muitos sentem que o antigo ideal de que esse é o país das oportunidades, está morrendo.

Mas, como isso aconteceu? Quem são os novos ricos e os novos pobres?


Postado no blog Docverdade em 03/10/2014

Um muro até os céus

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141007-Elysium

Falta de democracia real, perda de direitos sociais 

e desenvolvimento tecnológico alienado criam condições distópicas para a cisão da humanidade

Nuno Ramos de Almeida


No filme Elysium, do realizador sul-africano Neill Blomkamp, a elite da população terrestre vive numa gigantesca e paradisíaca estação espacial em que tudo está garantido, até a imortalidade, e a população da Terra vive em condições sub-humanas, num planeta destruído do ponto de vista ecológico e em condições de quase escravatura. A sua vida é permanentemente policiada por violentos robôs da polícia.

As funções do Estado limitam-se à manutenção da ordem, para melhor explorar esta raça de sub-humanos escravizada em que foi transformada a humanidade.

A ficção científica serviu sempre para poder falar do presente com roupas do futuro, para nos permitir ver melhor aquilo que hoje nos parece “normal”, mas que pelo seu desenvolvimento lógico nos levará a situações de irreversível injustiça. 

As distopias, como Prisioneiros do Poder, dos irmãos Arcady Strugatsky e Boris Strugatsky, 1984, de George Orwell, ou Nós, de Yevgeny Zamyatin, projetam no futuro aquilo que pode estar sendo forjado com o nosso silêncio.

A destruição do trabalho com direitos e como forma de participação e afirmação do humano acontece sob os nossos olhos. Os empregos na indústria, regulados pela negociação da contratação coletiva, foram substituídos pela precarização total do trabalho e pela destruição de qualquer laço estável e comunitário de vida.

Em muitos países, os contratos sem prazo certo são transformados, nos call-centers, em contratos por semana, associados a metas cada vez mais altas.

Num livro notável, Chavs – A demonização da classe operária, o colunista Owen Jones demonstra que o trabalho com direitos na indústria da Grã-Bretanha foi substituído por trabalhos mal pagos nos serviços, em caixas de supermercados e call-centers, setores sem direitos e com baixas taxas de sindicalização. 

Com a perda progressiva de rendimentos e prestígio social de quem trabalha, assistiu-se à multiplicação por muitos dígitos dos salários dos administradores. 

Num estudo elaborado pela Confederação da Indústria Britânica, que agrupa os principais donos de empresas, intitulado “A conformação dos negócios nos próximos dez anos” defende-se: “A crise é catalisadora de uma nova era de negócios.” 

O documento pede a criação de uma mão-de-obra “flexível”, o que significa que as empresas devem empregar menos trabalhadores de seu próprio quadro e mais eventuais, que podem ser despedidos a qualquer momento sem encargos. 

A crise foi uma verdadeira máquina de guerra do patronato: na passagem do milênio, os executivos das empresas britânicas ganhavam 47 vezes mais que os seus trabalhadores; sete anos depois, ganhavam 94 vezes mais. 

Como dizia o multimilionário norte-americano Warren Buffett, com graça e em tom de crítica: “Há uma luta de classes. Fomos nós que a começamos e a minha classe está vencendo.”

Por todo o mundo “desenvolvido” assiste-se à criação de uma espécie de apartheid: por um lado, uma raça de super-ricos vivendo num mundo à parte, e por outro lado uma população sem direitos.

Um cenário de ficção científica que é abordado no último número da revista francesa  Philosophie Magazine, num dossiê em que se revela que está planejada para 2020 a construção das primeiras ilhas artificiais. Nelas, os ricos viverão livres de Estado, constrangimentos sociais e da presença de pobres que não sejam seus criados. Bem-vindos ao deserto do real.


    Nuno Ramos de Almeida é jornalista português,                                editor-executivo do Jornal I (www.ionline.pt).


Postado no site Outras Palavras em 07/10/2014






Não quero padrão Fifa!




Clemente Ganz Lúcio na Rede Brasil Atual

Muitos lutam e trabalham para promover bem-estar, qualidade de vida, melhor viver e sustentabilidade ambiental para todos.

A igualdade é o sentido da direção para as transformações requeridas, cujo significado se materializa na justa distribuição da renda e da riqueza gerada pelo trabalho de todos.

Há muito para ser feito e é muito bom que a sociedade manifeste o desejo de mudança. Aliás, não há avanço no sentido da igualdade sem luta social, sem uma sociedade civil determinada a cobrar de suas instituições a promoção concreta do significado da justa distribuição da renda e da riqueza.

As transformações históricas são construídas no presente contínuo do aqui e agora que se sucede, especialmente porque na luta já se deve anunciar e promover o conteúdo e a forma do novo que se quer promover. 

Esse novo conteúdo se expressa, por exemplo, nas práticas que investem para reunir forças sociais para mudar; no modo democrático como ocorrem os debates e os convencimentos expressos em acordos, deliberações ou escolhas pelo voto; na qualidade das ideias e do imaginário que antecipa o futuro querido e que faz da utopia uma força que nos mobiliza para construir a transformação.

A sociedade, no Brasil, mais uma vez acordou para as mazelas do país e passou a manifestar o desejo de mudança. Ótimo! Faz um ano que, para manifestar o significado do que se quer como qualidade do serviço e dos bens públicos, cunhou-se o bordão “Eu quero padrão Fifa!”.

Considero que referenciar no padrão Fifa o imaginário da utopia da qualidade dos bens e serviços públicos que se busca no presente é subverter o sentido da transformação e dar-lhe um significado oposto. Trata-se de um atraso e de um equívoco!

Padrão Fifa significa uma institucionalidade marcada pelos meandros do poder dos grandes interesses financeiros e corporações, de conexões e ganhos ilícitos, de corrupção do privado e do público, algumas das mazelas já largamente denunciadas.

Padrão Fifa significa a ingerência sobre a soberania de Estados e Nações, com regras que violam a cultura, preceitos, regras, valores de diferentes sociedades. O interesse econômico subverte um encontro encantador entre nações por meio da prática de um esporte mágico que é o futebol, subvertendo a soberana oportunidade de um povo mostrar aos outros o seu jeito de ser feliz e de lutar, mesmo com suas contradições e mazelas.

Padrão Fifa significa transformar esse espaço de encontro, os estádios, em um espaço segregador e elitizado. Uma estética contrária ao encontro, cadeirinhas “bem comportadas”, destroem a nossa cultura de curtir a mágica do futebol em pé, na galera! Arena, esse infeliz nome, recupera a ideia da guerra, do sangue que corre pelas garras dos leões, da diversão oriunda do sofrimento e humilhação do outro.

Padrão Fifa significa excluir, pelos preços exorbitantes dos ingressos das “arenas”, a galera que sempre lotou os estádios. A alegria de ir ao estádio foi transformada em um negócio que exclui a maioria, mais uma vez colocada para fora de um espaço que era seu! Padrão Fifa significa exclusão.

Padrão Fifa significa colocar para fora dos estádios, e no seu entorno, todos aqueles que faziam do picolé, da pipoca, da água, do amendoim, da bandeira, o seu trabalho a serviço do lazer e da confraternização, do sofrimento e da alegria.

Padrão Fifa significa concordar com a mercantilização do futebol como máquina de fazer dinheiro – ou de lavá-lo – na qual elenco comissão técnica e os times viram máquinas do marketing de consumo a serviço da desigualdade. É recorrente o salário de todos os jogadores de um time ser menor que o salário de um dos jogadores do time adversário. O ganho mensal de um craque é maior que o salário de toda uma vida de um trabalhador. 

Padrão Fifa é desigualdade sem fim!

Padrão Fifa significa construir uma estética nos estádios desconectadas da cultura e das condições econômicas da nossa sociedade, um padrão que não permite o acesso a todos, que não é passível de universalização, que não nos leva ao encontro do outro. Padrão Fifa elimina o valor das nossas diferenças para promover a iniquidade da desigualdade.

Seríamos mais felizes com o futebol sem o padrão Fifa!

Não quero esse padrão nem para escola, nem para a saúde, nem para o transporte coletivo, nem para nada! Quero um padrão que seja a nossa cara, que nos permita ter qualidade para todos, sem ser suntuoso e, muito menos, segregador. Quero um padrão que traga o sentido da igualdade e da qualidade como um valor manifesto substantivamente nos bens e serviços públicos.

Quero um padrão de bem público que nos leve ao encontro, que favoreça nosso relacionamento e que nos permita sermos diferentes – não desiguais – e, com os outros, felizes.

Quero um padrão que nos faça criativos para superar nossas iniquidades. Quero um padrão que faça de cada criatura um criador, pelo que é, pelo que pode oferecer ao outro e ao país.

Quero a descoberta, renovada a cada dia, de que a alegria é o contentamento compartilhado com o outro e que cada espaço deve ser construído com essa intencionalidade.

No padrão Fifa, o outro não existe e sem ele não há alegria! Não quero o padrão Fifa! Usar esse bordão é destruir a minha (ou a nossa!) utopia!

Vou me divertir com a Copa. Vou torcer pelo Brasil, vou torcer pelo bom futebol, vou curtir o espetáculo e o encanto desse campeonato. Vou esquecer e ignorar a Fifa.

Depois, vou continuar lutando para avançar no legado da Copa!



Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, membro da Plataforma Política Social, diretor técnico do Dieese e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.