Goiana conta como ajudou ‘por acaso’ a salvar criança que era torturada pela mãe e padrasto nos EUA: ‘Instinto de mãe'
Gerente estaria de folga, mas precisou trabalhar no lugar de colega. No restaurante, ela viu hematomas no corpo do menino, que estava com a família no local.
Por Guilherme Rodrigues, G1 GO
20/01/2021
A goiana Flaviane Pimenta Carvallho, de 45 anos, é gerente de um restaurante em Orlando, nos Estados Unidos, e ajudou a salvar a vida de um menino de 11 anos que era torturado pela mãe e padrasto. Ela contou ao G1 que estava de folga, mas precisou trabalhar no lugar de um colega que ficou doente. Durante o expediente, ela desconfiou do comportamento de uma família e notou hematomas no rosto da criança. Com isso, escreveu em um papel perguntando se o menino precisava de ajuda, que respondeu balançando a cabeça que sim, após negar inicialmente.
“Me posicionei para que a família não percebesse. Peguei um papel e escrevi perguntando se estava tudo bem. Ele respondeu que sim. Escrevi perguntando se tinha certeza, ele balançou novamente a cabeça dizendo que sim", relata.
A gerente disse que insistiu em questionar o menino porque ele ficava olhando o tempo todo com uma fisionomia abalada.
"Eu não desisti e escrevi 'Do you need help?' , em português: 'Você precisa de ajuda?'. Ele balançou a cabeça que sim e fechou os olhos. Foi instinto materno”, contou a goiana.
O caso aconteceu na noite de 1º de janeiro. Segundo a goiana, a família chegou ao restaurante por volta das 23h, com o menino e uma menina, que era filha do casal.
A gerente disse que, de início, já estranhou o fato de eles terem ido jantar muito tarde, pois, segundo ela, as crianças dos EUA costumam fazer suas refeições mais cedo. Ela contou ainda que era uma noite de calor e, mesmo assim, o menino vestia moletom com capuz.
Gerente escreveu em papel perguntando se menino que era torturado pela mãe e padrasto precisava de ajuda — Foto: Flaviane Pimenta / Arquivo Pessoal
“Todos chegaram e tiraram a máscara, menos o menino. Eles conversavam, riam e brincavam, e o menino ficava calado o tempo todo. Achei muito estranho o comportamento e comecei a observar”, contou.
Segundo a goiana, a família pediu três pratos de comida e o menino ficou sem. Como ela é gerente do restaurante, foi até a mesa para conferir se estava tudo certo ou se faltava algum pedido feito pelo casal. Conforme a gerente, o padrasto foi “ríspido” ao responder que o menino comeria em casa.
Naquele momento, ela disse que o garoto olhou para ela, foi quando percebeu que tinha um corte na sobrancelha dele.
“Eu fiquei apreensiva e passei a observar muito. Teve uma hora que ele se movimentou e, de longe, consegui ver mais roxos no braço dele”, contou.
Padrasto preso no restaurante
A gerente disse que, quando o menino respondeu que precisava de ajuda, não pensou duas vezes em acionar a polícia. Ela contou que três policiais chegaram ao restaurante e começaram a conversar com a família. Em certo momento, um dos agentes pediu para conversar com o menino distante do casal, foi quando ele revelou as marcas pelo corpo.
“O policial levou a criança para fora do restaurante para conversarem sozinhos. Depois de um tempo, o detetive pediu para que ele tirasse a máscara e o moletom. O menino estava todo roxo, no rosto e nos braços também”, contou a goiana.
Ainda conforme a gerente do restaurante, o padrasto saiu do estabelecimento preso. Já criança foi levada por uma ambulância até uma unidade de saúde para receber atendimento médico.
Na última terça-feira (12), a polícia fez uma coletiva de imprensa e divulgou que a mãe também havia sido presa. Na ocasião também relataram que a criança já tinha sido amarrada de cabeça para baixo, torturada com cabo cabo de vassoura e deixada sem alimentação pelo casal. Segundo a goiana, as crianças estão com familiares delas.
Flaviane Pimenta Carvallho, de 45 anos, ajudou a salvar a vida de uma criança que era torturada pela mãe e padrasto, nos EUA — Foto: Reprodução / Instagram
Sentimento de alívio
Flaviane afirma que se sente aliviada em ter conseguido, “por acaso”, salvar a vida do menino. Ela acredita que foi um “propósito de Deus” na vida dela, pois nem deveria ter trabalhado na ocasião.
“Me sinto aliviada porque essa criança está bem agora, fora de risco. Fico feliz por isto, mas eu também tenho um sentimento de revolta muito grande porque acho que nenhum ser humano deve passar por isso. Aqueles que deviam proteger e cuidar queriam matá-lo", desabafa.
Natural de Goiânia, a gerente mora nos Estados Unidos há 13 anos e tem duas filhas, de 18 e 22 anos. Segundo ela, o instinto materno a fez ser forte e denunciar o casal. A goiana, que está sendo considerada uma heroína, espera que sua atitude sirva de exemplo para que as pessoas denunciem casos de agressões contra crianças.
“Único motivo de eu estar falando com a imprensa é para incentivar que as pessoas fiquem mais atentas, ajudem, chamem uma autoridade quando virem casos de agressão. Isso pode mudar a vida de uma pessoa. Salvar uma vida”, contou.