Leila Cordeiro
Não quero parecer piegas ou óbvia nesse texto. Também não gostaria que o leitor buscasse nele razões políticas ou ideológicas, mas que o encarasse como um desabafo...um desabafo de alguém que, como tantos milhões de seres humanos mundo afora, devem estar preocupados com o destino da humanidade.
Esse ataque com gás mortal na Síria, obrigou-me a parar tudo o que eu estava fazendo para dedicar alguns momentos à reflexão, coisa cada vez mais rara em nossas vidas à medida que a velocidade do tempo e dos acontecimentos é tão assustadora que vivemos voltados para o nosso próprio umbigo.
Confesso que tenho dificuldade em começar meu raciocínio... e aqui, como num reality show escrito, estou me colocando completamente vulnerável às emoções ao ver na internet fotos tão chocantes que me levaram às lágrimas.
Num primeiro momento hesitei em vê-las, mas depois tomei coragem e pensei que precisava ter essa visão da tragédia para poder escrever e, principalmente, refletir sobre ela.
Mas tenho certeza que nem as imagens mais chocantes foram necessárias para eu poder dimensionar em palavras o que deve ter acontecido com aquelas pessoas todas, mortas, inocentes alvos da estupidez humana que parece não ter fim.
Pelas informações da mídia e da oposição síria, foram jogadas bombas letais em regiões onde as famílias estavam dormindo e, assim, foram pegas de surpresa, sem terem para onde ir e muito menos se esconder. Não dá nem para imaginar o momento em que se viram sufocadas. Famílias inteiras com suas crianças que não tiveram chance de viver mais do que os poucos anos reservados para elas.
Nas fotos, mais do que chocantes, vemos as vítimas inocentes com olhos entreabertos, alguns esbugalhados, lábios roxos e rostos deesesperados em busca de ar, já que o gás atirado não as deixava respirar mais. Tudo muito triste e muito, muito preocupante.
Parece inocente e simples falar assim, mas é assim que eu consigo me expressar tentanto gritar meu medo, minha preocupação pelo que pode estar vindo por aí. Não é porque eu ou minha família estejamos, a princípio, em segurança que vou deixar de pensar, sofrer, chorar e lamentar profundamente por essas pessoas que não tiveram escolha na hora de nascer no lugar errado.
Eu, como mãe, e acho até que nem precisa ser mãe para sentir na pele tamanho sofrimento, vi fotos de crianças mortas por nada, pela ânsia violenta de poder e disputa que a cada dia faz mais vítimas em todos os lugares do mundo. Estou sim, revoltada, arrasada com o que vi daqui de longe. Confesso que olhei em volta e pensei... porque uns são tão felizes e outros tão miseráveis.
Quero ir mais além, quero me revoltar e não me acomodar, me conformar e pensar "que as coisas são assim mesmo", quero de alguma maneira pedir ajuda a alguém mesmo sem saber a quem.
Confesso que ao ver as imagens de centenas de corpos de inocentes crianças me passaram tantos medos pela cabeça que nem ouso pensar no que o futuro reserva à humanidade, sobretudo porque não consigo vislumbrar sinais de paz e harmonia entre os homens que se alimentam de guerras insensatas e cruéis.
Leila Cordeiro
Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e CBS Telenotícias Brasil como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros de poesias publicados: "Pedaços de mim" e "De mala e vida na mão", ambos pela Editora Record. É repórter free-lancer e sócia de uma produtora de vídeos institucionais, junto com Eliakim Araujo.
Postado no site Direto da Redação em 22/08/2013