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Paris, cidade dos Jogos Olímpicos de 2024






Adriana Helena

100 anos depois, Paris será sede de nova Olimpíada e aqui você saberá curiosidades incríveis sobre a Cidade Luz.

Bonjour! amigos queridos do Vivendo Bem Feliz! Já estamos com saudades dos Jogos Olímpicos de Tokio não é verdade? Mas você vai se reanimar ao saber que a sede dos próximos jogos será na famosa cidade do amor, do croissant e de um dos pontos turísticos mais visitados do Mundo: a Tour Eiffel. Estamos falando da linda, charmosa e que esbanja cultura, Paris. Venha saber tudo sobre ela.

Primeiro você ouvirá a magnífica Edith Piaf que fará a apresentação de Paris para você através da música. Ela é simplesmente um encanto...



Há quem diga que Paris é decadente ou sem graça. Mas mesmo que eu ainda não tenha viajado para conhecê-la, preciso discordar. Segundo a minha intuição e os conhecimentos "virtuais" que tenho da cidade, Paris seria sim, incrível.

A festa em Paris






Lula e Anne Hidalgo em Paris


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A imagem pode conter: 2 pessoas, texto que diz "Instituto Lula "Nós temos que expor a desigualdade como um problema Não haverá diminuição da desigualdade se a gente não mexer no coração da riqueza." Lula após encontro com economista Thomas Piketty Paris 2020"




Leia a íntegra do discurso de Lula em Paris



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247 - O ex-presidente Lula recebeu nesta segunda-feira (2) o título de cidadão honorário de Paris pela prefeita Anne Hidalgo. Ele discursou sobre a emoção de receber a homenagem e falou da conjuntura política no Brasil.

Leia a íntegra do discurso:

“Senhora Anne Hidalgo,

Senhoras e senhores representantes do Conselho de Paris,

Minhas amigas e meus amigos,

Agradeço de coração o título que a cidade de Paris me concede, por meio de seus representantes. Agradeço especialmente à prefeita Anne Hidalgo, pela generosa indicação, e ao Conselho de Paris que a aprovou.

Este título teria de se estender, na realidade, às mulheres e homens que defendem a democracia e os direitos da pessoa humana, às brasileiras e brasileiros que lutam por um mundo melhor.

Receber este privilégio me emociona, primeiramente, porque a cidade de Paris é universalmente reconhecida como símbolo perpétuo dos Direitos do Homem e da mais elevada tradição de solidariedade aos perseguidos.

E me emociona de maneira especial porque foi concedido num dos momentos mais difíceis da nossa luta, quando me encontrava preso de forma ilegal, uma prisão política num processo que ainda não se encerrou.

Era o momento em que mais precisávamos da solidariedade internacional, para denunciar as injustiças que vinham sendo cometidas contra o povo brasileiro e as agressões ao estado de direito em meu país.

E o povo de Paris, como em tantas outras ocasiões, estendeu a nós sua proteção fraternal. Recordo-me de ter escrito, numa carta de agradecimento em outubro passado, que Paris estava rompendo o muro de silêncio que ocultava os crimes contra a democracia no Brasil.

Gostaria de estar nesta cidade libertária para simplesmente celebrar a fraternidade entre os povos e recordar os laços de solidariedade que nos unem ao longo da História. Afinal, sempre houve lugar para brasileiros e latino-americanos entre os lutadores da liberdade que Paris acolheu.

Mas é meu dever falar aqui em nome dos que sofrem, em meu país, com o desemprego e a pobreza, com a revogação de direitos históricos dos trabalhadores e a destruição das bases de um projeto de desenvolvimento sustentável, capaz de oferecer inclusão e oportunidades para todos.

É meu dever falar em nome de milhões de famílias de agricultores, das populações que vivem à margem dos rios e nas florestas, dos indígenas e dos povos da Amazônia, para denunciar a deliberada destruição das fontes de vida em nosso país, por causa das políticas irresponsáveis e criminosas de um governo que ameaça o planeta.

O que está ocorrendo no Brasil é o resultado de um processo de enfraquecimento do processo democrático, estimulado pela ganância de uns poucos e por um desprezo mesquinho pelos direitos do povo; desprezo que tem raízes profundas, fincadas em 350 anos de escravagismo.

No período historicamente breve em que o Partido dos Trabalhadores governou o Brasil, muitos desses direitos foram colocados em prática pela primeira vez. Dentre eles, o direito fundamental de alimentar a família todos os dias, o que se tornou possível graças à combinação do Bolsa Família com outras políticas públicas, com a valorização do salário e a geração de empregos.

Temos especial orgulho de ter aberto as portas da Universidade para 4 milhões de jovens, na maioria negros, moradores da periferia e dos rincões mais isolados de nosso imenso país; quase sempre os primeiros a conquistar um diploma universitário em gerações de suas famílias.

Milhares desses jovens tiveram a oportunidade de estudar nas melhores universidades do mundo, graças a um programa da presidenta Dilma Rousseff. Certamente alguns deles se encontram em Paris.

Bastaram 13 anos de governos que olharam o povo em primeiro lugar, para começarmos a reverter a doença secular da desigualdade em nosso país.

Foram passos ainda pequenos para a dimensão do desafio, mas estávamos no caminho certo, porque 36 milhões saíram da pobreza extrema e o Brasil saiu do tristemente conhecido Mapa da Fome da ONU.

Este processo, ao longo do qual cometemos erros, certamente, porém muito mais acertos, foi interrompido em 2016 por um golpe parlamentar, sustentado por poderosos interesses econômicos e geopolíticos, com apoio de seus porta-vozes na mídia e em postos-chave das instituições.

Como sabem, a presidenta Dilma, uma mulher honrada, foi afastada pelo Congresso sem ter cometido crime nenhum, num processo em que as formalidades encobriram acusações vazias.

A este primeiro golpe contra a Constituição e a democracia, seguiu-se a farsa judicial em que fui condenado, também sem ter cometido crime algum, por um juiz que hoje é ministro do presidente que ele ajudou a eleger com minha prisão.

Quando a Justiça Eleitoral cassou minha candidatura, contrariando uma determinação da ONU baseada em tratados internacionais assinados pelo Brasil, lançamos a candidatura do companheiro Fernando Haddad.

Ele foi vítima de uma das mais perversas campanhas de mentiras por meio das redes sociais, disparadas e financiadas ilegalmente pelo adversário, num crime eleitoral que denunciamos e que até hoje, passados quase 18 meses, não foi julgado pelo tribunal competente.

O candidato que venceu aquelas eleições, dono de um histórico de ataques à democracia e aos direitos humanos, foi poupado pelas grandes redes de televisão de enfrentar em debates o companheiro Haddad. Essa mídia, portanto, é corresponsável pela ascensão de um presidente fascista ao governo do Brasil.

A triste situação em que se encontra meu país e o sofrimento do nosso povo são consequência de repetidos ataques, maiores e menores, ao estado de direito, à Constituição e à democracia.Se hoje estou aqui, num estado provisório de liberdade e ainda sem direitos políticos, é porque em novembro passado, num julgamento por maioria, o Supremo Tribunal Federal do Brasil reconheceu, para todos os cidadãos, o direito constitucional à presunção de inocência que havia sido negado ao cidadão Lula, às vésperas de minha prisão.

Aqui na Europa, quero me encontrar e agradecer a todos que nos apoiaram nesses momentos tão duros. Mas quero especialmente dialogar com os que trabalham para enfrentar a desigualdade, essa doença criada pelo homem e que está corroendo o próprio conceito de humanidade.

Quero compartilhar as políticas exitosas que tivemos no Brasil, conhecer a experiência, os projetos de outros países e dos que estudam e lutam contra a desigualdade no mundo.

No recente encontro que tive com Sua Santidade papa Francisco, fiquei contagiado pelo entusiasmo com que ele convoca os jovens economistas a debater e buscar saídas para essa questão, que é crucial para o presente e o futuro.

Quero propor aos dirigentes políticos, aos governantes e à sociedade civil dos mais diversos países que promovam, não apenas o debate, mas ações concretas em conjunto, para reverter a desigualdade.

Sei que é possível. Temos de ter fé na juventude, como tem o papa Francisco. Temos de ter fé na humanidade e na nossa capacidade de construir, pelo diálogo e pela política, as bases de um mundo mais justo.

Sei o quanto tem sido importante a solidariedade internacional, na Europa, nos Estados Unidos e ao redor do mundo, para que se restaure plenamente o processo democrático, o estado de direito e a justiça para todos em meu país. E mais uma vez agradeço, em nome dos que sofrem com a atual situação.

O povo de Paris me acolhe hoje entre seus cidadãos, como um reconhecimento pelo que fizemos, junto com tantos companheiros e com intensa participação social, para reduzir a desigualdade e combater a fome no Brasil.

Quero me despedir afirmando que nossa luta prosseguirá, com a participação de todos vocês, porque é a luta pela democracia, pela igualdade, pelos direitos dos desprotegidos, pela humanidade e pela paz.

Muito obrigado.”

Lula





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Lula em Paris


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A França e o sequestro das boas intenções


Hollande Syria Islamic State Daesh France terrorism Paris



Diógenes Júnior, no site dos Jornalistas Livres:

Há uma tentativa da mídia, por sinal bem exitosa, de sequestrar o emocional das pessoas, comparando os atentados ocorridos no último dia 13 em Paris com os atentados de 11 de setembro nos EUA, vitimizando a França e relativizando os ataques que essa mesma França praticou contra a Síria e o Iraque, por exemplo.

Diante de duas tragédias, a proporção da cobertura midiática revela a desproporção de sua comoção.

As lágrimas meticulosamente estudadas e oportunamente derramadas pelo presidente francês François Hollande durante seu pronunciamento oficial fazem parte de uma estratégia.

A campanha que a rede social Facebook disponibilizou para que seus usuários pudessem mesclar as cores da bandeira da França com suas fotos de perfil são de um altruísmo questionável e extremamente seletivo.

A enorme quantidade de pessoas que utilizaram esse recurso, ou mesmo as que trocaram suas fotos de perfil por bandeiras da França são reflexo do sucesso de uma mesma estratégia, também de tentar sequestrar o emocional de sua audiência.

Jogando com o inconsciente coletivo das pessoas, manipulando reportagens e bombardeando-as com informações pinçadas conforme seus interesses, a mídia tradicional tem pautado a agenda de discussões sobre o tema “terrorismo”, definindo conforme suas convicções comerciais a diferença entre “ataque terrorista” e “legítima defesa diante de injustas agressões”.

Pelas regras contidas nessa agenda midiática, fica pré-estabelecida uma dinâmica em que qualquer ofensiva promovida por um país ocidental contra um país de orientação islâmica é legítima, sempre realizada com os heróicos objetivos de “defender a democracia”, “encontrar armas de destruição em massa” e “acabar com regimes totalitários e ditatoriais”.

No documentário Fahrenheit 9/11, o direitor Michael Moore apresentou ao mundo alguns métodos com os quais os governo dos EUA, tendo como principal aliado a mídia, fizeram a população do país não apenas acreditar que havia evidências de existência de armas de destruição em massa no Iraque, mas também apoiar uma invasão àquele país.

O governo americano declarou ter gasto US$ 845 bilhões no conflito no Iraque. O que não é nada, comparado à perda de mais de *500.000 vidas.

(*A estimativa do total de pessoas mortas na guerra do Iraque entre 2003 e 2011 diverge de fonte para fonte, com números que chegam a até mais de 600. 000 mortes.)

Sequestrar o emocional das pessoas com o objetivo de engajá-las em uma luta contra um “inimigo comum” é uma tática bem conhecida, utilizada em larga escala e por diversas vezes durante a história.

“A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma idéia, e o prepara para quando da vitória daquela opinião.”

Essas palavras, encontradas no livro Mein Kampf, de Adolf Hitler, descrevem o conceito de usar a propaganda para disseminar a idéia de que uma guerra — no caso contra os judeus — se fazia necessária à época e que todos que se engajassem naquela guerra contra o “inimigo comum” sairiam dela como “vitoriosos”.

Voltando para a questão dos ataques ocorridos em Paris, identifico a clara intenção do governo Hollande em criminalizar o Islã, transferindo o cerne da questão, que é política, para abstratas acusações de motivações religiosas.

Para essa empreitada François Hollande conta com um poderosíssimo aliado: a imprensa.

Para antevermos os resultados dessa estratégia podemos usar como parâmetro o que aconteceu nos EUA logo após os atentados de 11 de setembro.

O governo estadunidense recrudesceu em muito a política repressiva que mantinha e o congresso pôs em curso o famigerado “Ato Patriota”, lei que tinha como objetivos reforçar a segurança interna do país e aumentar os poderes das agências de cumprimento das demais leis, além de identificar e deter supostos terroristas. Cerceando e ignorando os direitos civis do povo americano, claro.

Certamente que o parlamento francês reforçará, a exemplo do que fez os EUA, seus dispositivos “antiterrorismo”, o que recrudescerá a repressão contra a população em geral e contra os imigrantes em particular.

A maioria dos muçulmanos não só não aprova como condena a violência e não tem a menor culpa do que aconteceu na França. A despeito disso, suponho que serão ainda mais perseguidos, ainda mais criminalizados e que certamente pagarão pelo que outros fizeram.

Assim como seu aliado EUA, o governo da França comunga, entre outras idéias, da idéia central de que apenas o uso da força bruta pode resolver seus problemas, muitas vezes problemas de ordem social.

(Bem parecido com a política promovida pelo governador de São Paulo, diga-se de passagem)

Marine Le Pen, representante da extrema-direita francesa que já foi candidata à Presidência da República declarou, quando aconteceu o ataque ao jornal Charlie Hebdo, que “o islamismo havia declarado guerra ao seu país” e que o povo “deveria responder sem fraquejar”.

Diante dos fatos apresentados, ouso dizer que a direita francesa está comemorando muito tudo isso, de braços dados com o governo Hollande e grande parcela da mídia mundial.

O restante do mundo, atônito, aguarda desdobramentos tão ou mais trágicos do que a tragédia que se abateu sobre Paris e que ceifou a vida de pelo menos 129 vidas.

A leitura da primeira estrofe de “A Marselhesa” reforça os temores de não apenas muçulmanos, mas de todos os imigrantes em solo francês nesse momento:

“Esses ferozes soldados?
Vêm eles até nós
Degolar nossos filhos, nossas mulheres. Às armas cidadãos!
Formai vossos batalhões!
Marchemos, marchemos!
Nossa terra do sangue impuro se saciará!”
(Hino Nacional da França — A Marselhesa).



Postado no Blog do Miro em 16/11/2015


Colheita macabra


O primeiro ataque ocorreu
por volta das 21h20. Dois atiradores abriram fogo contra os restaurantes Petit
Cambodge e Le Carrillion, no 10º arrondissement, região nordeste da capital


Fernando Brito

Não conheço a Paris de hoje, nunca pus os pés por lá. Mas, pela dor, acabamos todos, neste instante ali bem perto, diante de tamanho morticínio.

Mais ainda porque, se não pus os pés, levou-se à velha Paris a minha cabeça, conduzida pela mão apaixonada de Victor Hugo, por tudo o que a cidade significou na história humana, e a quem ele declarava seu amor incondicional:

“Pode-se dizer que Paris tem as virtudes do cavalheiro: é sem medo e sem censura. Sem medo, ele o prova diante do inimigo.Sem mancha, prova-o diante da história. Teve, por vezes, a cólera: será que o céu não tem vento? Como os grandes ventos, as cóleras de Paris são saneadoras. Depois do 14 de julho, não há mais Bastilha; depois do 10 de agosto (de 1972, a tomada popular do palácio real), não há mais realeza. Tempestades justificadas pela amplificação do azul.”

Não há um que não chore aqueles jovens, que não fizeram nada para ofender ninguém. Mas já são tantos mortos, os das torres gêmeas, os do avião russo, agora os franceses, e os milhares e milhares em Cabul, Damasco, Bagdá e por tantos lugares que já não nos é permitido só chorar: é preciso falar e agir.

O presidente François Hollande acaba de responsabilizar o “Estado Islâmico” – repito, não é Estado, nem Islâmico – pelo ato de barbárie. Não basta prometer resposta implacável, porque, para ser implacável mesmo, há de ser lúcida e não uma primária “vingança”.

Pois é preciso entender o que cria esta monstruosidade.

E me socorro de novo do grande herói francês, sobre o que ele dizia do fundamentalismo religioso, para pensar:

Aqui, uma pergunta. Será que estes homens são maus? Não. Que é que eles são, pois? Imbecis. Ser feroz não é difícil, para isto basta a imbecilidade. Então, será que nasceram imbecis? De forma alguma. Algo os tornou assim. Acabamos de dizê-lo. Embrutecer é uma arte.

A segunda metade do século 20 foi a do fim completo do colonialismo, na Ásia, na Arábia, na África, até nos pequenos protetorados da América Central e do Caribe. Em alguns poucos, a guerra os libertou, como no Vietnã, mas na maioria das vezes a luta pela independência não virou confronto total: ficara evidente que o tempo da dominação colonial passara.

Daquilo sobrou pouco: uma chaga remanescente, dolorosa, a dos palestinos, a quem nunca se permitiu deixar rebrotar na terra as raízes.

Aqueles povos foram aprendendo, com seus erros, acertos e distrofias, a viver sendo de novo seus próprios senhores. Fizeram ditadores? Sim, os fizeram, como aqui os tivemos e nunca nos enviaram tropas para libertar-nos e dar-nos a democracia. Ao contrário, deram alfanges aos que quiseram desabrochar as primaveras que começamos a descobrir.

A primeira década e meia do século 21, ao contrário, tem sido a da intervenção, a da ocupação, o das bombas e mísseis “inteligentes” que iam exterminar as imaginárias “armas de destruição em massa”, mas que atingiram em cheio as estruturas de poder e de convívio – torto, defeituoso, autoritário – que tinham minimamente organizado.

Nunca hesitaram, para isso, em valer-se da fé obscura e fanática. Criaram os Bin Laden e os grupos que virariam o Isis. Não raro, até, lhes enviaram dinheiro, armas e até mesmo alguns de seus cidadãos mais tresloucados, ávidos por viver uma espécie de sacerdócio bélico.

A colheita macabra disso é a noite de ontem em Paris, como outras safras já se colheram em Nova York e nos céus do Sinai.

Pagaram-na com a vida os jovens de Paris. Paga-la-ão em vida os milhões de refugiados com que a guerra que o Ocidente moveu em seus países fez abarrotar a Europa, contra os quais vão se elevar os níveis de xenofobia, discriminação e maus tratos.

Para ficarem em paz talvez nem lhes adiante fazer como seus antepassados tiveram de fazer na Idade Média, tornando-se cristão novos: abjurar da fé, da cultura, da língua, como fizeram os meus Nogueira, os seus Pereira, Carneiro, Lobo, Moreira.

Porque no Ocidente “civilizado” também espalharam-se os esporos do fundamentalismo, que é o fascismo, o ódio ao diferente, o direito auto-concedido de achar-se o puro e aos demais impuros, infiéis.

Semeou-se o ódio, revolveu-se o chão com guerras, brotou o ressentimento, floresceu a insânia e e nos nauseia o cheiro fétido da flor do terror.

Não há caminho para a paz que não seja o do respeito à autodeterminação dos povos.

Todos os outros levam à violência e a violência é uma arma que acaba por ferir a mão de quem a brande.


Postado no Tijolaço em 14/11/2015


As raízes do terror islâmico


Dois brasileiros ficaram feridos na série de atentados, segundo informou a embaixada do Brasil na França. Um deles foi operado e teria perdido muito sangue. O outro sofreu ferimentos, mas não corre risco de morte


Paulo Nogueira

Diante de uma tragédia como a de ontem em Paris, duas atitudes se impõem.


A primeira é chorar cada morte. Na última contagem, 120 pessoas foram mortas pelos atos conjuntos de terrorismo, e dezenas estão feridas, muitas em estado crítico.


A palavra mais comum nos jornais franceses deste sábado é, previsivelmente, horreur, horror.

Derramadas todas as lágrimas, vem a segunda atitude. Tentar compreender como uma violência de tal magnitude pôde acontecer.

É um passo essencial para evitar que outros episódios dantescos como o desta sexta em Paris possam se repetir.

Mas há, aí, uma extraordinária dificuldade em sair de lugares comuns como a “violência radical” do islamismo e dos islâmicos.

Trechos do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, são citados em apoio dessa tese falaciosa e largamente utilizada.

A questão realmente vital é esta: o que leva ao extremismo tantos muçulmanos, sobretudo jovens? Por que eles abandonam vidas confortáveis em seus países de origem, abraçam o terror e morrem sem hesitar pela causa que julgam justa?

Os líderes ocidentais não fazem este exercício porque a resposta àquelas perguntas é brutalmente indigesta para eles.

O terror islâmico nasce do terror ocidental, numa palavra.

Há muitas décadas os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, promovem destruição em massa nos países islâmicos.

Querem garantir o petróleo, a que preço for, e fingem que estão naquela região com propósitos civilizatórios.

O último grande ato de predação foi a Guerra do Iraque. Sabe-se hoje que as razões alegadas pelos americanos e seus aliados britânicos para realizá-la foram mentirosas.

O Iraque de Saddam Hussein simplesmente não tinha as armas de destruição em massa que serviram de pretexto para a guerra.

Um levantamento reconhecidamente criterioso calcula em cerca de 120.000 as mortes de civis iraquianos. Outras fontes falam em meio milhão.

Quem paga por este crime de guerra chancelado por Bush nos EUA e Tony Blair na Grã Bretanha?

Ninguém.

Você pode imaginar o tipo de reação que ações como a Guerra do Iraque provocam entre os sobreviventes da violência ocidental.

Mais recentemente, os drones americanos – os aviões de guerra teleguiados – vem semeando mortes em quantidade pavorosa nos países árabes.

Apenas nos anos de Obama, calcula-se que 500 civis tenham sido mortos pelos drones, muitos deles crianças e mulheres.

No mesmo dia do drama parisiense, os americanos comemoraram a morte, por um drone, do terrorista do Estado Islâmico que se tornou conhecido como Jihadi John. Aparentemente JJ foi quem degolou várias pessoas em medonhas execuções filmadas e postadas na internet.

Brutalidade gera brutalidade.

Bin Laden foi o cérebro por trás de uma mudança radical nas retaliações islâmicas. Ele levou a guerra paradentro dos países ocidentais. O maior exemplo disso foram os atentados de 11 de Setembro.

O que a mídia ocidental quase não noticiou é que Bin Laden virou um ídolo entre os muçulmanos e como tal foi chorado ao ser executado pelos americanos.

Os atentados de Paris obedecem à mesma lógica: transportar os combates para a casa dos inimigos.

O que torna esta guerra ainda mais complicada para os ocidentais é que os soldados islâmicos não se importam de morrer pela causa. Alguns deles se explodiram ontem em Paris.

Sem refletir profundamente sobre as origens do terror islâmico é impossível que a situação mude.

Obama, quando anunciou a morte de Bin Laden, disse famosamente que o mundo ficara mais seguro.

Os episódios de ontem em Paris mostram quanto Obama se equivocou – lamentavelmente.


Paulo Nogueira é Jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Postado no Diário do Centro do Mundo em 14/11/2015


Paris 13 de Novembro de 2015

Abrem se as cortinas do espetáculo,
a alegria reina na matriz!
Os homens e as mulheres jubilosos
Em festa, em jogos, estão em Paris!

Mas alguém que sofreu tanto,
seja ódio ou desencanto,
decidiu a tudo isso por um fim.

Viu a festa que faziam
sem lembrar dos que morriam
e a própria dor explodiu assim...

A mídia corre a mostrar o inimigo,
um ser monstruoso, um terrível terrorista,
alguém que entrou no lar de uma família
para impor seu pensamento egoísta.

As massas aterrorizadas cantam
seus hinos e demonstram sua coragem
e não percebem que além do fanatismo
continuam movendo a engrenagem.

A máquina que envia avião e drones
extingue famílias de forma impessoal
e vida de homens, mulheres, filhos, filhas
são apenas números de mortos no jornal.

Mas alguém que sofreu tanto,
seja ódio ou desencanto,
decidiu a tudo isso por um fim.

Viu a festa que faziam
sem lembrar dos que morriam
e a própria dor explodiu assim...

Agora choramos nossas vítimas,
não são apenas estatísticas, são gente,
não são de outro mundo, mas do continente
que tudo dominou e arrogante intima.

E a junção da vingança e do ódio
é usada pela mais vil política
que p'ra manter o poder da arma e da guerra
investe na causa que lhe justifica.

Mortos serão números e o medo calará a massa
que aceitará qualquer infame repressão.
Barreiras aos refugiados, controle e opressão
a segurança é o bem contra o mal que ameaça.

( Ronald Pinto )



Só quem ama os livros entende o charme do lugar


Paris: Shakespeare and Company ou Morre George Whitman



Foto: Milton Ribeiro
Publicado com profundos cortes pessoais e de ordem comportamental — feitos por mim mesmo — no Sul21 na última segunda-feira. Copio aqui só para acrescentar algumas fotos mesmo.
Num fim de semana onde os obituários estiveram cheios de celebridades — Christopher Hitchens, Cesária Évora, Sérgio Britto, o Santos, Joãosinho Trinta, Václav Havel, Kim Jong-il — a morte de George Whitman passou quase em branco. Whitman, dono da mítica livraria Shakespeare & Company, localizada na margem esquerda do Sena, em Paris, morreu aos 98 anos em seu apartamento. Ele sofrera um derrame em outubro, mas recusou-se a ficar no hospital, exigindo ser levado para casa, que fica no andar de cima da livraria.
Fazer uma referência a uma livraria de Paris que só vende romances e ensaios literários em inglês pode parecer produto do mais puro elitismo, mas não pensamos ser o caso.
A livraria foi aberta em 1951 e — além de ser um extraordinário sebo e livraria — serve de abrigo a escritores em início de carreira para que tenham teto e/ou trabalho até que terminem seus livros. Lá também ocorrem chás literários e encontros com autores, quaisquer autores.
Whitman nasceu nos Estados Unidos em 1913, Viveu parte da infância na China. Mudou-se para Paris em 1948. Segundo ele, na época, uma bicicleta e um gato eram suas únicas posses. Em 1951, abriu a livraria Le Mistral, rebatizando-a como Shakespeare & Company em 1964, em homenagem a Sylvia Beach, proprietária da Shakespeare & Company original, responsável, por exemplo, pela primeira edição de Ulisses, de James Joyce. Quando falecera, em 1962, Sylvia Beach deixara para Whitman os direitos de uso do nome e livros.

James_Joyce com Sylvia Beach na Shakespeare & Co original (Paris, 1920)

Uma das estantes da livraria que fazem referência a Sylvia Beach | Foto: Milton Ribeiro
Imediatamente famosa no meio literário, a loja virou ponto de encontro de escritores como Arthur Miller, James Baldwin, Samuel Beckett, Anaïs Nin, Lawrence Durrel, William Burroughs, Gregory Corso, Jack Kerouac, Allen Ginsberg e rota turística para os apaixonados pela literatura. No andar de cima da livraria vivia não apenas Whitman e família, mas diversos candidatos a escritores. Reza a lenda que, desde 1964, lá dormiram mais de 40 mil pessoas diferentes entre os livros. O pagamento pela hospedagem era escrever, ler e varrer a livraria. Alguns também atendiam no balcão e na cozinha. Outra lenda diz que Whitman aconselhava a saída de autores que estavam lá há mais de ano…
Whitman viva de acordo com o lema retirado de um poema de W. B. Yeats e que está pintado numa das paredes internas — “Seja hospitaleiro com todos, alguns podem ser anjos disfarçados” (tradução livre). Durante o final de semana, velas, flores e romances foram depositados na porta da Shakespeare, fechada pelo luto. Bilhetes de homenagens foram colados com agradecimentos e elogios.

Hoje, há prateleiras em torno da citação | Foto: Blog Hipsters & Company
.oOo.
A Shakespeare and Company é o sonho do bibliófilo. Os livros — normalmente revelantes ou raros — podem ser vistos em toda parte: nas paredes, no meio da loja, nas escadas, em todo canto, sobrando pouco espaço para a circulação. Para completar, no espaço atulhado ainda há alguns locais com cadeiras e bancos para leitura. Também há um piano, sobre o qual pode ser lido um cartaz sugerindo que se toque apenas música erudita ou jazz. Os outros cartazes pedem para que os leitores nunca, jamais sejam perturbados, fato que faz com que o som da livraria seja um complicado contraponto de passos e sussurros. Na escada para o andar de cima, só uma pessoa passa de cada vez. Na verdade, a mais famosa livraria do mundo é apenas um pequeno caos onde se vende livros bem escolhidos, onde há cadeiras confortáveis e onde há a promessa de solidariedade. Nada de mega-ultra-hiper. O teto não é pintado há anos e é difícil imaginar como poderia sê-lo sem a retirada dos volumes. A atmosfera é tão acolhedora que o visitante tem a fantasia de que o conhecimento que está nos livros, sob alguma forma misteriosa, entra-lhe pelos poros quando está na livraria.
A livraria, que já era administrada pela filha de George, Sylvia Beach Whitman, seguirá ativa.
O que há bem na frente da Shakespeare? Ora, a Catedral de Notre Dame, mas, para alguns, há dúvidas sobre quem é mais catedral. Abaixo, mais fotos da livraria de Whitman:

A entrada principal | Foto: Claudia Antonini

A porta auxiliar da livraria | Foto: Claudia Antonini

O grande homenageado | Foto: Milton Ribeiro

Uma das vitrines que dá para a Catedral de Notre Dame | Foto: Claudia Antonini

O caos interno | Foto: Blog Hipsters & Company

Sylvia Beach Whitman e seu pai, George

Do lado direito, vê-se uma nesguinha de porta. É onde morava George Whitman no segundo andar da Shakespeare and Co. | Foto: Claudia Antonini

Eu estou fotografando a epígrafe de Daniel Martin, do grande John Fowles | Foto: Claudia Antonini

A epígrafe de Gramsci | Foto: Milton Ribeiro

A Claudia e o Dario dizem que os livros têm o poder de me deixar quieto. Sei lá, eu SOU quieto! | Foto: Claudia Antonini

A localização da Shakespeare em relação à capelinha medieval de Notre Dame | Foto experimental de Claudia Antonini

Comparar Notre Dame com a Shakespeare... Piada, né? | Foto: Claudia Antonini

Sylvia, a filha. 30 anos. Bonita, não?

Postado por Milton Ribeiro no Blog do Milton Ribeiro em 21/12/2011