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Muito obrigado, Nelson Mandela !


Nelson Mandela 18 julho



Num mundo onde a cor da pele ainda é imperativa para classificar seres humanos e mutilar cidadanias, as reflexões de Nelson Mandela 
são cada vez mais atuais e indispensáveis



Luis Gustavo Reis*


“Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, sabia que, se não deixasse a minha amargura e meu ódio para trás, ainda estaria na prisão.” — Nelson Mandela

A África do Sul foi responsável pela instauração de um dos regimes políticos mais odiosos da história. De 1948 a 1991, vigorou no país um rígido sistema de segregação racial chamado apartheid. Embora a segregação racial já estivesse em curso desde o início do Período Colonial (meados do século XIX) – quando os britânicos dominaram a região e consolidaram sua ação imperialista no território impondo seus interesses e explorando a população negra –, o apartheid foi introduzido como política oficial somente em 1948.

O apartheid dividia os habitantes em grupos raciais. Por esse regime, os negros eram obrigados a morar e a conviver em lugares separados dos brancos. A relação entre os grupos era restrita ao trabalho, no qual os brancos eram os patrões e os negros, os empregados. Até o casamento entre pessoas desses dois grupos era proibido.

A segregação acontecia em todos os setores da sociedade: escolas, hospitais, áreas residenciais e de lazer, transportes etc. Além disso, os serviços de pior qualidade eram destinados à maioria negra, enquanto todos os benefícios eram garantidos à minoria branca.

A Lei da Terra, por exemplo, destinava 87% do solo sul-africano para a população branca, não permitindo aos negros sua aquisição, mesmo que possuíssem recursos financeiros para tal. Pesquisas revelam que meses antes da derrocada do regime havia no país 750 mil piscinas, uma para cada duas famílias brancas, enquanto 10 milhões de famílias negras não dispunham de água potável em suas residências.

Mas a mesma a África do Sul que maculou sua história de forma irreversível também é berço de uma das maiores e mais respeitáveis figuras públicas do século XX: Nelson Mandela, carinhosamente apelidado “Madiba” por seus patrícios. De família modesta, Mandela nasceu no dia 18 de julho de 1918 no vilarejo de Mvezo (hoje parte da província de Cabo Oriental). Foi o primeiro da família a frequentar a escola, onde estudou cultura ocidental e garantiu uma vaga no curso de Direito da Universidade Forte Hare. Foi na universidade que ele se engajou na luta contra o apartheid, ingressando no Congresso Nacional Africano (CNA), principal grupo de contestação ao regime segregacionista.

Comprometido de início apenas com atos não violentos, Mandela e seus colegas passaram a recorrer às armas após o terrível Massacre de Sharpeville, em 1960, quando a polícia sul-africana atirou em pacíficos manifestantes negros que marchavam contra racismo, matando dezenas deles.

Em 1962, após meses na clandestinidade, Mandela foi detido e condenado a cinco anos de prisão por atividades subversivas. Em 1964, um novo julgamento estipulou sua prisão perpétua, a ser cumprida na penitenciária de Robben Island, localizada em uma ilha a 3 km da Cidade do Cabo, acompanhada de trabalhos forçados nas pedreiras da ilha. Mandela foi libertado do cárcere em 1990, de onde saiu em marcha lenta, com o braço direito erguido e o punho cerrado – o arquétipo de um poderoso gesto político.

Sua atuação pelo fim do apartheid prosseguiu com a eleição do presidente Frederik De Klerk, também comprometido com o fim do regime segregacionista. Seus esforços foram reconhecidos e, em 1993, ambos foram contemplados com o Prêmio Nobel da Paz. Em 1994 ocorreram as primeiras eleições multirraciais da África do Sul e Nelson Mandela foi oficialmente eleito presidente da República.

Em novembro de 2009, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 18 de julho como o Dia Internacional Nelson Mandela – Pela liberdade, justiça e democracia, data celebrada internacionalmente.

Durante 27 anos, Mandela viveu encarcerado por lutar contra a segregação racial. Ativista político incansável, figura carismática, ganhador de um Prêmio Nobel e primeiro presidente negro de seu país, ele jamais esmoreceu e sempre combateu por uma África do Sul mais justa e fraterna, conservando de forma irreversível, quaisquer que fossem os desafios enfrentados, uma dignidade que o tornou lendário. Faleceu no dia 5 de novembro de 2013. Seu maior legado é difícil de ser apontado. Sem vilipendiar a minoria de brancos, estabeleceu a igualdade entre estes e os negros. Enfrentou anos de cárcere e sofrimento pessoal em função de um bem coletivo.

No julgamento que o condenou, quando já estava na prisão, definiu sua luta da seguinte forma: “Eu celebrei a ideia de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e o qual espero alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou pronto para morrer”.

Os horrores do apartheid mancharam definitivamente a história da humanidade, mas os ensinamentos de Madiba vão ecoar por séculos a fio. Num mundo onde a cor da pele ainda é imperativa para classificar seres humanos e mutilar cidadanias, suas reflexões são cada vez mais atuais e indispensáveis.

*Luis Gustavo Reis é professor, editor de livros didáticos e colabora para Pragmatismo PolíticoA África do Sul foi responsável pela instauração de um dos regimes políticos mais odiosos da história. De 1948 a 1991, vigorou no país um rígido sistema de segregação racial chamado apartheid. Embora a segregação racial já estivesse em curso desde o início do Período Colonial (meados do século XIX) – quando os britânicos dominaram a região e consolidaram sua ação imperialista no território impondo seus interesses e explorando a população negra –, o apartheid foi introduzido como política oficial somente em 1948.

O apartheid dividia os habitantes em grupos raciais. Por esse regime, os negros eram obrigados a morar e a conviver em lugares separados dos brancos. A relação entre os grupos era restrita ao trabalho, no qual os brancos eram os patrões e os negros, os empregados. Até o casamento entre pessoas desses dois grupos era proibido.

A segregação acontecia em todos os setores da sociedade: escolas, hospitais, áreas residenciais e de lazer, transportes etc. Além disso, os serviços de pior qualidade eram destinados à maioria negra, enquanto todos os benefícios eram garantidos à minoria branca.

A Lei da Terra, por exemplo, destinava 87% do solo sul-africano para a população branca, não permitindo aos negros sua aquisição, mesmo que possuíssem recursos financeiros para tal. Pesquisas revelam que meses antes da derrocada do regime havia no país 750 mil piscinas, uma para cada duas famílias brancas, enquanto 10 milhões de famílias negras não dispunham de água potável em suas residências.

Mas a mesma a África do Sul que maculou sua história de forma irreversível também é berço de uma das maiores e mais respeitáveis figuras públicas do século XX: Nelson Mandela, carinhosamente apelidado “Madiba” por seus patrícios. De família modesta, Mandela nasceu no dia 18 de julho de 1918 no vilarejo de Mvezo (hoje parte da província de Cabo Oriental). Foi o primeiro da família a frequentar a escola, onde estudou cultura ocidental e garantiu uma vaga no curso de Direito da Universidade Forte Hare. Foi na universidade que ele se engajou na luta contra o apartheid, ingressando no Congresso Nacional Africano (CNA), principal grupo de contestação ao regime segregacionista.

Comprometido de início apenas com atos não violentos, Mandela e seus colegas passaram a recorrer às armas após o terrível Massacre de Sharpeville, em 1960, quando a polícia sul-africana atirou em pacíficos manifestantes negros que marchavam contra racismo, matando dezenas deles.

Em 1962, após meses na clandestinidade, Mandela foi detido e condenado a cinco anos de prisão por atividades subversivas. Em 1964, um novo julgamento estipulou sua prisão perpétua, a ser cumprida na penitenciária de Robben Island, localizada em uma ilha a 3 km da Cidade do Cabo, acompanhada de trabalhos forçados nas pedreiras da ilha. Mandela foi libertado do cárcere em 1990, de onde saiu em marcha lenta, com o braço direito erguido e o punho cerrado – o arquétipo de um poderoso gesto político.

Sua atuação pelo fim do apartheid prosseguiu com a eleição do presidente Frederik De Klerk, também comprometido com o fim do regime segregacionista. Seus esforços foram reconhecidos e, em 1993, ambos foram contemplados com o Prêmio Nobel da Paz. Em 1994 ocorreram as primeiras eleições multirraciais da África do Sul e Nelson Mandela foi oficialmente eleito presidente da República.

Em novembro de 2009, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 18 de julho como o Dia Internacional Nelson Mandela – Pela liberdade, justiça e democracia, data celebrada internacionalmente.

Durante 27 anos, Mandela viveu encarcerado por lutar contra a segregação racial. Ativista político incansável, figura carismática, ganhador de um Prêmio Nobel e primeiro presidente negro de seu país, ele jamais esmoreceu e sempre combateu por uma África do Sul mais justa e fraterna, conservando de forma irreversível, quaisquer que fossem os desafios enfrentados, uma dignidade que o tornou lendário. Faleceu no dia 5 de novembro de 2013. Seu maior legado é difícil de ser apontado. Sem vilipendiar a minoria de brancos, estabeleceu a igualdade entre estes e os negros. Enfrentou anos de cárcere e sofrimento pessoal em função de um bem coletivo.

No julgamento que o condenou, quando já estava na prisão, definiu sua luta da seguinte forma: “Eu celebrei a ideia de uma sociedade livre e democrática, na qual todas as pessoas vivam juntas em harmonia e com oportunidades iguais. É um ideal pelo qual espero viver e o qual espero alcançar. Mas, se for necessário, é um ideal pelo qual estou pronto para morrer”.

Os horrores do apartheid mancharam definitivamente a história da humanidade, mas os ensinamentos de Madiba vão ecoar por séculos a fio. Num mundo onde a cor da pele ainda é imperativa para classificar seres humanos e mutilar cidadanias, suas reflexões são cada vez mais atuais e indispensáveis.


*Luis Gustavo Reis é professor, editor de livros didáticos e colabora para Pragmatismo Político


Postado em Pragmatismo Político em 22/07/2016


















Nelson Mandela convida a humanidade à grandeza


"A luta é a minha vida. Continuarei a lutar pela liberdade até o fim de meus dias".

“A luta é a minha vida. Continuarei a lutar pela liberdade até o fim de meus dias” (18/07/1918 - 05/12/2013)


Marco Weissheimer


Nelson Mandela foi um dos que foram mais longe naquilo que podemos ser.

Sua vida e sua obra, que são indistinguíveis, representam um convite à grandeza. 

Um convite dirigido a cada um de nós individualmente e à humanidade em seu conjunto. 

Um convite alicerçado numa experiência humana que viveu os extremos do que a nossa espécie é capaz: os extremos de vilania, da maldade e da sordidez e os extremos da generosidade, da beleza e da coragem.

Paul Valéry escreve em “Introdução ao Método de Leonardo da Vinci”: 

“O que fica de um homem é o que nos leva a pensar seu nome e as obras que fazem desse nome um signo de admiração, de ódio ou de indiferença. Pensamos o que ele pensou e podemos reencontrar entre suas obras esse pensamento que lhe é dado por nós: podemos refazer esse pensamento à imagem do nosso”. 

A melhor homenagem que podemos prestar a Nelson Mandela é, tomando a formulação de Valéry, pensar o que ele pensou e no que ele pensou. 

Aqui vão alguns pensamentos desse homem que nos apontou a possibilidade de um destino de grandeza para toda a humanidade: 

O que mais nos amedronta 

Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. 

É nossa sabedoria, não nossa ignorância, o que mais nos amedronta. Nos perguntamos: “Quem sou eu para ser brilhante, belo, talentoso e incrível?” Na verdade, quem é você para não ser tudo isso?… 

Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você. 

E à medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. 

Não poderás encontrar nenhuma paixão se te conformas com uma vida que é inferior àquela que és capaz de viver. 

Sobre amar e odiar 

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar. 

Uma boa cabeça e um bom coração 

Se você falar com um homem numa linguagem que ele compreende, isso entra na cabeça dele. Se você falar com ele em sua própria linguagem, você atinge seu coração. Uma boa cabeça, um bom coração, formam uma formidável combinação ! 

Coragem e medo 

Aprendi que a coragem não é a ausência do medo, mas o triunfo sobre ele. O homem corajoso não é aquele que não sente medo, mas o que conquista esse medo. Conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros. 

A minha missão na Terra 

Quando penso no passado, no tipo de coisas que me fizeram, sinto-me furioso, mas, mais uma vez, isso é apenas um sentimento. 

O cérebro sempre domina e me diz: tens um tempo limitado de estada na Terra e deves tentar usar esse período para transformar o teu país naquilo que desejas. 

Honra tua profissão 

Considero isso como um dever que tinha, não apenas com meu povo, mas também com minha profissão, praticar a lei e a justiça para toda a humanidade, gritar contra esta discriminação que é essencialmente injusta e oposta a toda a base de atitude através da justiça que integra a tradição do treinamento legal neste país. 

Eu acreditei que ao me opor contra esta injustiça eu deteria a dignidade do que seria uma profissão honrada. (Mandela era advogado) 

Acordo e conflitos 

Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito e inspirar esperança onde há desespero. 

Se tu queres fazer as pazes com o teu inimigo, tens que trabalhar com o teu inimigo. E então ele torna-se o teu parceiro. 

A educação e a alma de uma sociedade 

Não existe revelação mais nítida da alma de uma sociedade do que a forma como esta trata as suas crianças. 

A educação é o grande motor do desenvolvimento pessoal. É através dela que a filha de um camponês se torna médica, que o filho de um mineiro pode chegar a chefe de mina, que um filho de trabalhadores rurais pode chegar a presidente de uma grande nação. 

O apartheid e a luta pela liberdade 

O apartheid permanecerá para sempre como uma mancha que não será apagada da história da humanidade o mero fato de que o crime do apartheid ocorreu. 

Sem dúvida as gerações futuras perguntarão: ‘Que erro se cometeu para que esse sistema pudesse vigorar depois de ter sido aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos? 

Permanecerá para sempre como uma acusação e um desafio a todos os homens e mulheres o fato de que demoramos tanto tempo para bater o pé e dizer já basta. 

Não existe nenhum passeio fácil para a liberdade em lado nenhum, e muitos de nós teremos que atravessar o vale da sombra da morte vezes sem conta até que consigamos atingir o cume da montanha dos nossos desejos. 

A luta é a minha vida. Continuarei a lutar pela liberdade até o fim de meus dias. 

Ser honesto consigo mesmo 

A prioridade é sermos honestos conosco. Nunca poderemos ter um impacto na sociedade se não nos mudarmos primeiro. 

Os grandes pacificadores são todos gente de grande integridade e honestidade mas, também, de humildade.

Postado no site Sul21 em 06/12/2013