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Neto de Jango é médico da família na Rocinha




João Marcelo Goulart nasceu no mesmo dia que o avô e ex-presidente, de quem herdou o nome e a vontade de mudar o país pela base, promovendo justiça social


Caio Barbosa 


O morador da Rocinha que chega ao Posto de Saúde da Família Albert Sabin, no alto do morro, e fica sob os cuidados do Doutor João, nem imagina que aquele médico, que detesta ser chamado de doutor, é neto de um ex-presidente da República. João Marcelo Vieira Goulart, como o nome sugere, é neto de João Goulart, e nasceu exatos 25 anos depois de seu avô ter sido deposto por um golpe militar que jogou o país nas trevas. 


A data de nascimento é 1º de março, a mesma do ex-presidente, de quem herdou não apenas o nome, mas a vontade de mudar o país pela base. E é do alto da favela mais conhecida do Brasil que ele faz sua parte, exercendo a Medicina humanitária que aprendeu em Cuba, buscando forças para seguir os sonhos de Jango.


Maranhense criado no Rio Grande do Sul até os 10 anos de idade, adquiriu o sotaque gaúcho da família e o apreço pelo Grêmio. Chegou ao Rio de Janeiro na pré-adolescência, mas não é do samba, nem da praia. Prefere a vida caseira, ouvindo Pink Floyd, Mano Chao e Caetano Veloso, curtindo a família e o filho recém-nascido.


Nesta entrevista exclusiva ao DIA, o médico João Goulart se mostra sereno, ponderado, mas firme. Não hesita em afirmar que seu avô foi assassinado. Faz críticas e elogios ao governo Dilma, à Revolução Cubana e detona o sistema político brasileiro. E avisa: "Me chama de João. Não gosto desse negócio de doutor, nem de senhor. Não sou senhor de ninguém. Somos todos iguais", diz. 


Você não conheceu o seu avô. Somente através de livros, filmes e pelos seus familiares. Vocês gostam de tudo o que já foi produzido sobre ele?


Sim. Sobretudo a última biografia, escrita pelo (historiador) Jorge Ferreira, que é mais completa e fiel aos erros e acertos do meu avô. E o documentário Dossiê Jango, o mais recente, que traz novos documentos e depoimentos das pessoas que participaram da vigilância do meu avô no exílio, e que falam sobre o envenenamento dele. É um documentário rico em provas que apontam para o assassinato.


Vocês estão seguros que ele foi assassinado? A exumação recente não provou isso.


A exumação dá início a um processo. Mas 30 anos depois da morte, com o corpo enterrado em São Borja, onde chove muito e houve até inundação, é muito difícil provar que alguém foi envenenado. É preciso encontrar uma concentração da substância necessária para matar. E com o passar dos anos isso é impossível. Mas foram encontradas substâncias que não eram para estar ali, que na época da morte do meu avô, só o exército americano tinha acesso. Uma substância muito similar ao TNT (explosivo).


Será um processo longo.


Sim. Não é fácil chegar à verdade sobre a morte de um ex-presidente ainda no exílio, numa época em que os EUA faziam uma série de operações na América Latina, com ditadura na Argentina, no Chile. Já foi dado um primeiro passo, falta ter acesso aos documentos norte-americanos (hoje ainda secretos e confidenciais). Além de ouvir os agentes que participaram das operações, que já foram ouvidos por outros governos da América Latina, mas não pelo nosso, que nunca tomou a iniciativa de ir atrás disso.


Mesmo com uma presidenta que sofreu com esta ditadura?


Com a Dilma a gente teve bastante avanço. Mas com os outros governos, não. É muito mais uma questão de estado do que de governo. Precisamos fazer mudanças na Lei de Anistia, que ainda protege os militares. Ainda temos um longo caminho a percorrer para conhecer a verdade, conhecer a nossa história e evitar que aquilo volte a se repetir. Os livros de História não retratam a verdade. Quando eu estava na escola, falavam em Revolução de 1964, e não em Golpe Militar, e Jango comunista. Não dá.


Quem foi Jango para você e para a família? Comunista, trabalhista, conciliador?


Um trabalhista, mas acima de tudo um cara humanitário, que queria fazer justiça social no país. Que queria garantir trabalho, pois sem emprego não se movimenta a economia. Queria a reforma tributária, pois olha o que está acontecendo no país sem ela! Queria a reforma agrária para as pessoas produzirem e gerar desenvolvimento. Mas naquele momento político, é óbvio que seria classificado pelos americanos como comunista. Era apenas uma desculpa para a intervenção norte-americana, tanto que a frota dos EUA já estava na nossa costa. Eles já queriam dar o golpe em 1961, mas o Brizola segurou com a Campanha da Legalidade. Fizeram de tudo para tirar meu avô do poder, com a Operação Brother Sam, financiando campanhas de deputados da direita. Mas como não conseguiram, deram o golpe.


E você se identifica com que ideologia?


Sou socialista. Veja a Rocinha. Isso aqui é lugar de trabalhador. São domésticas que trabalham em casa de famílias da Zona Sul, porteiros, garçons, gente que ainda hoje tem seus direitos usurpados pela elite que adora reclamar mas ela própria não garante os direitos de seus empregados. Eu gostaria de ver o meu país garantindo o direito dos trabalhadores. Acho que o capitalismo e a direita tem coisas úteis ao socialismo, bem como o socialismo ao capitalismo. Mas socializar saúde, educação, cultura, esporte e lazer é mínimo que o estado deve garantir ao seu cidadão. Aprendi isso em casa, em Cuba, no meu trabalho, no meu dia a dia.


Como você, médico, avalia a saúde pública no Brasil?


Apesar de o SUS ser reconhecido no mundo todo, é preciso melhorar muito. E acho que grandes passos foram dados no governo Dilma com o Mais Médicos, que vem para garantir atenção básica de qualidade, para resolver o problema pela raiz. Você economiza muito investindo em atenção básica porque o hipertenso não vai infartar, ter AVC, parar numa UTI. O diabético não vai precisar de hemodiálise. Isso é muito custoso para o Estado e para o paciente. Temos que socializar o básico para o país poder crescer, mas nosso sistema político não permite.


Como assim?


Nosso sistema é financiado por empresas privadas. Então, como vai bater de frente com isso? Os planos de saúde devem bilhões à União e o nosso presidente da Câmara (Eduardo Cunha) quer perdoar as dívidas porque é financiado por plano de saúde (somente a Bradesco Saúde financia 214 deputados ligados a Cunha). Mesma coisa agora com a Samarco, que financia campanha. Quem vai cobrar providências para a questão de Mariana? Precisamos de uma reforma política que saia do papel.


E como você se decidiu pela Medicina e por Cuba?


Decidi fazer faculdade lá por saber que era o lugar que formava médicos com caráter humanitário e que tinha os melhores indicadores do mundo. Queria aprender e trazer meu aprendizado para o Brasil, contribuir de alguma forma com o meu país. E lá aprendi o que é atenção básica, primária, e que 85% dos problemas de saúde são resolvidos dessa forma.


Você já tinha ido a Cuba? Estudou onde?


Fui em 2007 para fazer a faculdade, e fiquei seis anos e meio lá. Estudei na Escola Latino Americana de Medicina, criada pelo Fidel nos anos 90 após o Furacão Mitch (o pior da história, com mais de 18 mil mortes), que devastou Honduras, Nicarágua e Guatemala. Não havia profissionais para atender a população nestes países e Cuba precisou enviar milhares de médicos. Fidel, então, decidiu criar a escola para formar 10 mil médicos destes países, para que eles voltassem a atendendo pobres, carentes e multiplicando conhecimento. Só que a escola deu tão certo que foram formados dez, vinte, trinta mil médicos e hoje tem americano, canadense, chinês, vietnamita, gente do mundo todo lá. Gente pobre, que mora em povoado distante e volta ao povoado depois de formado para cuidar do povo.


Uma realidade que não acontecia no Brasil antes do Mais Médicos.


O problema aqui não é a falta de médicos. Está na distribuição e na formação, que precisa ser voltada para a atenção básica, que é a necessidade do país. Se você traz um estudante para a atenção básica, é natural ele querer ajudar. Mas se não tiver isso em sua formação, vai se lixar e querer ser apenas um especialista em sua clínica particular. Pois foi isso o que aprendeu na formação.


Afinal, medicina também é servir, não apenas se servir.


Sim, e a medicina que se aprende no Brasil é a de um modelo ultrapassado, criado nos EUA para o sistema mercantil americano de 100 anos atrás. Temos que formar médicos com vínculo com a população. Pelo menos por um período. Que fique dois anos na atenção básica. Se gostar, ótimo. Se não gostar, tudo bem. Que vá fazer sua especialização e ganhar dinheiro. Mas esse médico, lá na frente, nunca vai virar as costas na sua clínica para quem estiver necessitado.


E que Cuba você conheceu? Aqui no Brasil, quem é de esquerda ama, quem é de direita odeia (risos).


Os turistas adoram. Quem odeia, nunca foi. Na população, no entanto, há uma divisão. Quem viveu a Revolução é 100% Fidel. São pessoas que viram a transformação de uma país miserável, antro de drogas e prostituição, num país muito melhor. Mas com o embargo norte-americano (nos anos 60) e o fim da União Soviética (em 1990), faltou tudo, e há uma geração que nasceu nessa época e não gosta de Cuba. Mas, ainda assim, é um país que oferece educação, saúde, cultura, esporte e lazer em níveis excelentes.


Que problemas você notou por lá?


Há erros cometidos pela Revolução, como não permitir que o cubano abra seu próprio negócio, e isso deixa eles furiosos, e erros que vão além da Revolução. Na saúde, por exemplo, os níveis de meningite são muito bons, mas aquém do desejado porque a patente da vacina é norte-americana e nem isso o é permitido importar. Nem vacina, para evitar o sofrimento e morte! A internet, por exemplo, demorou a chegar. E só foi possível graças a um cabo de fibra ótica que atravessou o oceano pela Venezuela. Porque se não fosse a Venezuela, não teria internet até hoje.


E por que muitos cubanos querem deixar o país?


Ora, porque os americanos oferecem ao cubano que chega lá, casa, comida, roupa lavada, emprego no momento em que você coloca os pés nos EUA. Mas só ao cubano. Se você chegar lá hoje, ficará ilegal. Você e qualquer outra pessoa de qualquer país. Mas cubano recebe tudo. É uma estratégia norte-americana de boicotar o regime cubano. Só que alguém divulga isso? Não.


E o que você pensa sobre Cuba, sobre a abertura que está acontecendo?


Tenho muita vontade de voltar um dia e continuar estudando naquele sistema que é único. Vejo um país que ainda tem muito a oferecer ao mundo. Bastam algumas políticas mudarem, tanto por parte de Cuba como por parte dos EUA. Vamos ver o que acontece com essa abertura, se vai dar certo. Não adianta abrir e entrar a cultura do consumismo excessivo.


E qual sua avaliação do governo Dilma?


Não sou petista, mas acho que o Brasil mudou muito com o PT. De forma positiva. As oportunidades para quem não tem renda são muito maiores do que na década de 90. A miséria e a pobreza diminuíram muito. Mas ainda é preciso ampliar isso. Garantir direitos, saúde e educação. Acho que o governo desviou um pouco o foco destas questões nos últimos anos, com esta relação com empreiteiras...


Nas redes sociais, muito se fala em relações milionárias dos filhos do Lula, da filha de José Serra, do neto do general Figueiredo. Você tem um perfil diferente. Dorme melhor assim?


Durmo melhor sabendo que posso contribuir com meu país pelo meu trabalho. E espero contribuir ainda mais. Mas acho que cada um traça seus objetivos. Eu não fico pensando nisso. Penso apenas no meu objetivo.


E o que você costuma responder a quem diz que a saúde no Brasil é uma tragédia?


Digo que estamos dando passos importantes. O Mais Médicos, como falei, é um deles. A Escola Nacional de Saúde Pública, na Fiocruz, já está discutindo mudanças na formação médica no país. Isto é importante. A gente ouve muita reclamação no atendimento terciário, especializado. E com razão. Mas a atenção básica, quando está presente, funciona. O problema é que ela nem sempre está presente. E isso depende, também, da parceria e da vontade política de estados e municípios. Aqui no Rio temos melhorado muito. Ainda há problemas? Muitos. Mas o programa Saúde da Família no Brasil é coisa nova, é um bebê, diferentemente de Cuba, Reino Unido e Canadá, por exemplo. Precisamos chegar lá.


Postado no Luis Nassif Online em 26/01/2016










As semelhanças nestas capas do jornal O Globo não são meras coincidências !






Em Março de 1964, Jango, como Dilma, tinha ainda o frescor da legitimidade eleitoral, embora já se aproximando do último ano de seu mandato, porque havia sido, um ano antes, restituído de seus poderes pelo plebiscito de janeiro de 1963, que venceu com incríveis 82% dos votos.

Soubemos bem, porém, o que veio depois que São Paulo pôs-se “de pé pela democracia”.

A ditadura. As cassações, as perseguições, as torturas, as mortes, os livros queimados, as pessoas caladas.



Jango, o subversivo, e a traição militar


João Goulart Presidente do Brasil 1961-1964 deposto pelo golpe militar de 1º de Abril de 1964 (golpe apoiado pelos Estados Unidos, pelas Organizações Globo e pela elite brasileira)


Juremir Machado da Silva

Nesta segunda-feira, a partir das 13h30, tem seminário na Câmara de Vereadores sobre o golpe de 1964. Almino Afonso e Waldir Pires, colaboradores de primeiro escalão de Jango, participarão. 

Depois de passar três anos estudando a vida de João Goulart e de ter lido mais de dez mil páginas de documentos sobre a sua ascensão, queda e morte no exílio, cheguei a uma conclusão devastadora: Jango era um subversivo.

Sim, os militares que o derrubaram, a serviço de civis conservadores e dos interesses dos Estados Unidos, traindo a a pátria, tinham razão: Jango era um perigoso subversivo.

A primeira subversão aconteceu quando ainda ele era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas e convenceu o presidente a dar um aumento de 100% no salário mínimo. Pressionado por um manifesto de coronéis dotados de idealismo cívico e materialismo patronal, Getúlio demitiu Jango. Mas deu o aumento.

Nada mais subversivo do que um aumento desses em favor da ralé. Instalado no poder, Jango desandou a praticar ou a propor atos subversivos.

Um deles, dos mais perigosos e lesivos aos cofres dos patrões gananciosos, continua a melhorar os nossos fins de ano: em julho de 1962, o fazendeiro subversivo – guindado ao Planalto graças à loucura bem rasteira de Jânio Quadros – fez aprovar o décimo-terceiro salário.

Num país em que parlamentares ganhavam até poucos dias 15 salários por ano e continuam a inventar subterfúgios para mamar, Jango criou um décimo-terceiro salário para todo mundo. 

Não é coisa de comunista? Não se deve ter ódio de um homem que defende cem por cento de aumento no salário mínimo e concebe um décimo-terceiro salário para os trabalhadores? Ô horror!

A veia subversiva de Jango acentuou-se com o passar do tempo.

Numa nação de altíssima concentração de terras e de uma massa de miseráveis parasitada por uma elite estúpida, voraz e impiedosa, decidiu fazer uma reforma agrária. Aí foi demais!

As forças “sensatas”, “produtivas” e “ordeiras” da nação trataram de armar-se contra tamanho despautério. De quebra, Jango resolveu que era também necessária uma reforma urbana, fazendo com que imóveis fechados pudessem ser habitados.

Não satisfeito, queria também defender a população da alta dos preços. Num dos seus arroubos subversivos, achou interessante estender a legislação trabalhista ao mundo rural que continuava a viver na Idade Média.

A tendência subversiva de Jango era tamanha que ele, feito um louco vermelho, influenciado por doidos subversivos como Darci Ribeiro, pretendeu que os pobres também deveriam chegar às universidades. Uma loucura.

Por fim, atolado na subversão, começou a achar natural que subalternos de certos setores das forças armadas pudessem casar-se.

O subversivo Jango chegou ao ponto de semear a indisciplina nos meios militares considerando normal que detentores de postos inferiores pudessem “contrair” matrimônio.

Melhor nem falar na questão de votar e ser votado.

Agora entendo melhor os golpistas de 1964 que atuaram patrioticamente em favor dos Estados Unidos da América. 

Era preciso agir, derrubar o homem, afastá-lo do Brasil, impedi-lo de voltar, fazer tudo o que os EUA pedissem. Com ele no poder, o Brasil corria um risco terrível de ficar melhor.

Olhando para trás, penso que se pode perdoar Jango por quase tudo, menos pelo décimo-terceiro salário. Que ideia altamente subversiva!

Obrigar os pobres patrões a darem mais uma lasquinha dos seus modestos ganhos aos trabalhadores. Essa, com certeza, foi uma das ações mais subversivas de Jango. Só ela já justificaria o golpe. 

Depois, viriam a reforma a agrária, a lei da remessa de lucros para o estrangeiro e outras reformas de base.

Nunca a traição à pátria foi tão justificada.


* Juremir Machado da Silva é historiador, escritor, professor universitário.


Postado no blog Juremir Machado da Silva em 31/03/2013
Imagem inserida por mim assim como sua legenda


Justiça argentina vai pedir exumação dos restos mortais do presidente João Goulart


A justiça argentina está investigando a morte do presidente brasileiro João Goulart.


O procedimento começou com uma representação do procurador do Ministério Público Federal brasileiro, Ivan Marx, que atua em Uruguiana, junto às autoridades argentinas.

Na última sexta-feira, 27 de abril, a juíza Gladis Mabel Borda, em Paso dos Libres, tomou o depoimento de Christopher Goulart, neto de Jango, incansável na busca de esclarecimentos, especialmente depois que o uruguaio Mario Neira Barreiro, ainda hoje preso no Brasil por crimes comuns e com extradição determinada pelo Supremo Tribunal Federal, disse ter participado, como membro do serviço secreto do seu país, de uma operação para eliminar Goulart, motivo de inquietação para as ditaduras do Uruguai e do Brasil.

Foi ouvido também o jornalista uruguaio Roger Rodriguez, que, nos últimos dez anos, tem publicado reportagens sobre as condições duvidosas do falecimento do presidente brasileiro deposto pelo golpe militar de 1964 e que passou a viver no exílio, entre Uruguai e, mais tarde, Argentina.

À tarde, na fazenda La Villa, município de Mercedes, onde Jango morreu, pouco mais de 100 km de Libres, a juíza Gladis Borda confirmou que irá pedir a exumação dos seus restos mortais, sepultados em São Borja.
– Faremos isso – disse ela.

A Justiça argentina quer que seus peritos possam participar ativamente da exumação e das análises destinadas a verificar algum rastro de substância capaz de ter provocado criminosamente a morte de Jango, acontecida, oficialmente, em função de um problema cardíaco.

Jango morreu na cama ao lado da mulher, Maria Thereza.

Não foi feita autópsia.

O corpo foi transportado às pressas para o Brasil.


Especialistas argentinos trabalharão para estabelecer parâmetros de análise com vistas à exumação.

Querem saber o que devem exatamente procurar.

A exumação dependerá da justiça brasileira e da autorização da família de Jango.

Em outro momento, a viúva recusou.

A demanda, segunda a juíza Gladis Mabel, deve acontecer em breve.

Estivemos em Mercedes, na estância La Villa, Cláudia e eu, com Christopher Goulart, Roger 
Rodriguez e as autoridades argentinas encarregadas do novo inquérito sobre a morte de Jango.

Esteve presente também Pablo Vassel, diretor-geral da Unidade de Direitos Humanos e do Conselho da Magistratura da Nação.

Argentina está levando profundamente a sério o procedimento instaurado.

Sexta-feira, uma bela tarde de sol, campos a perder de vista.

A fazenda onde Jango morreu é um lugar lindo, com dois mil hectares de pastos.

O alemão Sergio Fava, casado com a argentina Victoria, é o atual proprietário.

Vivem na bela e ampla casa com os filhos.

O quarto onde Jango morreu é hoje um lindo e bem mobiliado recinto para hóspedes.


A paisagem do pampa ombreia com o bom gosto dos fazendeiros e com a beleza da dona da casa.

Jango morreu num lugar, ao mesmo tempo, estupendo, ermo e com seu jeito.

Christopher Goulart mal disfarçou a emoção ao conhecer a casa onde o avô passou a última noite.

Se depender dos argentinos, a verdade começará a aparecer.

Eles não costumam tapar o sol com a peneira.

Ainda mais o belo sol de Mercedes numa tarde morna de outono.



O tempo passa, a história não se apaga. O cotidiano, porém, sempre vence.

A história cobra uma nova luz.


Postado no blog Juremir Machado da Silva no site Correio do Povo em 29/04/2012