Mostrando postagens com marcador Jean Wyllys. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Jean Wyllys. Mostrar todas as postagens

“ Eu cuspi na cara dele por você, Dilma. Por nós ”, diz Jean Wyllys em carta aberta



Dilma Rousseff e Jean Wyllys



POR JEAN WYLLYS   Publicado no Facebook do autor


Querida Dilma,


Meu coração simultaneamente apertou e acelerou quando li a notícia de que um delegado da Polícia Federal, aliado do ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, pediu sua prisão.

De imediato eu não pensei na explícita prática de lawfare que este pedido de prisão absurdo representa; não pensei na estratégia do canalha em criar, com este factóide, uma cortina de fumaça que impeça a maioria do povo brasileiro de ver a entrega do petróleo do pré-sal por parte do governo Bolsonaro (com apoio de plutocratas que apenas fingem se importar com o desapreço deste pela democracia); nem pensei nos ensaios de fechamento do regime que esses fascistas organizados em seitas religiosas e organizações criminosas fazem todo dia para testar os limites de uma nação agora adoecida por ter se recusado a trabalhar traumas como a escravatura e os terrorismos das ditaduras…

Ao ler a notícia, eu só pensei em você, minha amiga. Primeiro, naquela senhora que me abraçou demorado – seu cheiro bom, aquele cheiro de afeto que os filhos identificam em mães amorosas, ainda está está na minha lembrança como se eu tivesse acabado de lhe abraçar – naquele restaurante japonês em Copacabana, onde jantamos em companhia do historiador americano James Green. Aquela senhora que me aconselhou a sair do país por reconhecer que eu realmente estava correndo risco de morte. Aquela senhora que, num dado momento da conversa, chamou-me de “meu filho”…

Em seguida, lembrei-me de que aquela senhora amorosa é também a estudante da foto histórica em que, após dias sob tortura por parte de covardes idolatrados hoje pelos igualmente covardes que pediram sua prisão, você encara altiva seus torturadores, imorais que escondem suas caras na esperança de escapar do julgamento da história e da infâmia que a maldade joga sobre sua (deles) descendência…

Só depois dessa reação afetiva; dessa preocupação com a pessoa (que é avó e ama sua família); só depois disso, é que, relembrando o quanto nossas histórias individuais se entrelaçaram e na trama da história do Brasil, por eu ter sido o primeiro ativista gay a chegar no Congresso Nacional e você a primeira presidente da república, dei-me conta dos significados políticos e dos perigos terríveis contidos nesse pedido de sua prisão.

As facções políticas (incluindo aí as organizações criminosas na cidade e no campo) que perpetraram o golpe contra seu governo – com o objetivo de garantir a si mesmas privilégios, lucros obscenos e impunidade em seus (delas, das facções) crimes – estão em guerra pelo poder desde então. A prisão do Lula, a intervenção militar no Rio de Janeiro feita pelo governo do crápula que lhe traiu e ao PT, Michel Temer, e a posterior execução de Marielle Franco são as consequências dessa guerra entre as forças políticas de direita que produziram a ruptura com a democracia em 2016.

Você sabe, Dilma, que nem mesmo o alinhamento dessas facções golpistas em torno da figura de Bolsonaro nas eleições de 2018 (àquela altura já instrumentalizada e turbinada pelos plutocratas da extrema-direita americana) garantiu a paz entre elas.

Os ricos brasileiros, os banqueiros ilustrados, os marajás do funcionalismo público, os donos de veículos de comunicação e os intelectuais endinheirados que fizeram da Lava Jato um complô e, do cafona e medíocre Sergio Moro, um fantoche, não esperavam que as facções criminosas com as quais se aliaram – milícias e seitas religiosas que servem de lavanderia para dinheiro sujo – fossem querer ter as rédeas do país. Mesmo assim, com todo o horror que elas vêm praticando, a Globo e a Folha de São Paulo seguem elogiando seu ministro da Economia, como se não se tratasse do mesmo governo fascista que ameaça a liberdade de imprensa, a cultura e a laicidade – e ignora emboscadas que matam os guardiões da Amazônia.

Dilma, não sei se você sabe, mas, naquela noite em que teve início o golpe disfarçado de processo de impeachment, logo depois de dedicar seu voto ao torturador Brilhante Ustra (o covarde que quebrou com um soco o maxilar daquela menina da foto que é você), Bolsonaro me xingou de “queima-rosca” e me disse “tchau, querida”, numa referência à frase que o Lula lhe disse na conversa grampeada ilegalmente por Sergio Moro e divulgada pela Globo. A misoginia e a homofobia – males gêmeos – exigiram-me uma reação naquele momento. Além delas, a memória dos mortos sob as torturas perpetradas pela ditadura militar.

Eu cuspi na cara dele por você, Dilma. Por nós.

E, por tudo isso, mas principalmente por você, a quem poderia chamar de “minha mãe”, mas chamo de “minha amiga”, eu lhe peço nesta carta aberta:

Tenha cuidado, amada! Os fascistas ressentidos de ontem e de hoje não toleram o que você representa, presidenta.

Te amo !

Jean Wyllys





Resultado de imagem para dilma rousseff ditadura
Foto que Jean Wyllys se refere na sua Carta Aberta. 
Dilma Rousseff, aos 22 anos, presa pela Ditadura Militar, é interrogada.



Clique nos links abaixo e veja os vídeos para entender a tentativa de prisão
 da Ex-Presidente Dilma :







Jean Wyllys responde ao presidente


Imagem relacionada



1. Numa mesma coletiva, o Presidente da República mentiu e propagou uma fake news contra @ggreenwald, @davidmirandario e contra mim, tratando como “aquela menina que está lá fora”. Parece inacreditável, mas a suposta maior autoridade do país fez isso.



2. Ao me tratar de “aquela menina” como forma de me ofender e supondo que eu me ofenderia, o presidente tratou o gênero feminino (todas as mulheres) como algo desprezível, menor, subalterno, ou seja, para ele, é um insulto ser mulher.





3. Eu quero dizer ao presidente da república (dessa republiqueta de bananas em que ele e suas milícias transformaram o Brasil), que eu não me senti ofendido. Ao contrário: toda minha força reside no que as mulheres me deram, começando por minha mãe.





4. E ser tratado como “mulherzinha” por valentões machistas e homofóbicos não é uma novidade na minha vida nem na vida de qualquer gay. Estamos habituados. A diferença é nós aprendemos a encarar o que presidente considera uma ofensa como - e a transformar em - elogio.





5. O fato de o presidente ter se referido a mim como “aquela menina” é a prova cabal de que não há homofobia sem sexismo/misoginia e vice-versa. Todo homofóbico no fundo também odeia as mulheres. Bolsonaro também nunca escondeu que é homofóbico e misógino. Não finjam surpresa.





6. O que Bolsonaro fez, nessa coletiva só encontra paralelo na maneira como os nazistas demonizariam os judeus com mentiras e teorias infames sobre uma suposta conspiração judaica, interpelando assim o antissemitismo social europeu.





7. Bolsonaro basicamente mentiu sobre Gleen, David e eu, inventando que as denúncias de @TheInterceptBr sobre os crimes da Lava Jato são uma conspiração de três gays (dos gays) para derrubar seu governo, interpelando assim a homofobia social e incentivando a violência contra nós.





8. Enquanto parte da nação assiste a esse descalabro estupefata, e as elites ligam e desligam as instituições ao sabor de seus interesses, permitindo que esse sujeito seja presidente da república, eu aviso a este que eu tenho o maior orgulho de ser menina! De verdade!





8. Aprendi a lutar como uma menina. E mais: aprendi a lutar como uma menina baiana, e toda menina baiana tem um santo que Deus dá. O meu Oxóssi. Lutar como uma menina me trouxe aqui, presidente, e faz, de mim, o cuspe em sua cara que lhe incomoda e que nenhum tempo vai enxugar.







Eduardo Guimarães : Glenn é mais homem do que os homofóbicos que nos governam





Eduardo Guimarães: Glenn é mais homem do que os homofóbicos que nos governam




"Sabem o que é mais irônico e, ao mesmo tempo, poético na Vaza Jato? Esse bando de homofóbicos patéticos da "republiqueta de curitiba" e do governo fascista do Brasil estão sendo demolidos por um homossexual que é muito mais homem que todos eles juntos", escreveu o jornalista Eduardo Guimarães, editor do Blog da Cidadania