Eugênio Aragão
Até as pedras do Distrito Federal conhecem a jornada medíocre do capitão da reserva Jair Bolsonaro. Foi quase expulso de sua força, escapando por pouco graças à descomunal benevolência do STM. Era, enquanto vivia nos quartéis, um indisciplinado. Tentou o caminho da sedição. Queria explodir dependências militares para submeter o comandante do exército a vexame público. A reserva remunerada foi um pacto fechado entre si e seus chefes, para acalmar o ambiente da caserna.
Mas Bolsonaro aproveitou sua momentânea celebridade para se lançar na política e ali ficou por trinta anos, graças aos votos de incautos nervosos. Nada fez. Nunca presidiu comissão, nunca fez parte da mesa da casa parlamentar, nenhum projeto de lei de sua autoria se conhece.
O capitão da reserva não passava, no parlamento, de um ruidoso representante do chamado “baixo clero”, notabilizado por arruaças com que provocava com colegas, usando linguagem chula e argumentos toscos, recheados de ódio e preconceito. Homenageou torturadores da ditadura, lançou vitupérios contra colega, chamando-a de “feia” e por isso “não merecedora” de ser estuprada, chutou nas pernas de outro deputado durante votações em evidente “bullying” homofóbico e por aí vai. Isso foi e é Jair Bolsonaro.
Por um acaso do processo político, esse cidadão indigno da farda se tornou presidente da república, com letras minúsculas mesmo. E, como era inevitável, passou a pintar e bordar. Nomeou para seu ministério um punhado de medíocres como ele, alguns fardados a busca de boquinhas de cargos civis, outros, atores sem nenhuma expressão, “losers” em suas respectivas formações profissionais. Um ministério de incapazes.
Para piorar as coisas, adveio uma pandemia global que colocou a economia no chão e, obviamente, foi mediocremente enfrentada por uma equipe de militares sem nenhum conhecimento de saúde pública e muito menos de medicina. À frente do ministério da saúde, posicionou-se um general de intendência, algo que se parece com um almoxarife da força, que se gabava e continua a se gabar de ser um “especialista em logística”. Se tivessem nomeado um gerente de uma empresa de mudanças talvez até esse se sairia melhor.
O tal general difundiu a ideia de que a pandemia poderia ser debelada com tratamento precoce à base de hidroxicloroquina, um produto da predileção do capitão da reserva feito presidente. Sem nenhuma base científica, sem nenhuma comprovação empírica de eficácia. Mas fez o governo adquirir toneladas desse tônico capilar para carecas iludidos. Jogou fora recursos tão necessários para políticas de saúde pública.
Sobreveio a vacina. O capitão e seus subalternos sabotaram durante meses o preparo de uma campanha nacional de vacinação. Deixaram os secretários estaduais de saúde à beira de uma crise de nervos. Batiam boca com governadores. E enrolavam nos processos de licenciamento dos produtos já desenvolvidos no Brasil e no exterior. Debocharam da CoronaVac, a vacina chinesa, à qual atribuíram o nome de “Vachina” ou de “vacina xinguelingue”. Lançaram desaforos ao embaixador da República Popular da China. Comportaram-se feito moleques de rua, dispostos a “entrar na porrada” contra desafetos escolhidos.
Mas esqueceram-se de um detalhe também: não se prepararam para comprar seringas e nem para enfrentar ondas sucessivas de contágio que voltaram a sacudir o país. O pico mais recente da crise se deu em Manaus. Faltou oxigênio hospitalar. E o governo (ou desgoverno) federal soube com boa antecedência do risco então iminente. Nada fez. Um avião da FAB com cilindros de oxigênio foi, por alguma razão não explicada, impedido de decolar para a capital amazonense. O descaso provocou a morte de dezenas de pacientes com COVID-19 e, também, de outros que padeciam de morbidades diversas.
O capitão não fez mais do que “lamentar” e atribuiu a culpa às autoridades locais, dizendo-se impedido de agir pelo Supremo Tribunal Federal. Mentira deslavada. O STF apenas decidiu o evidente: as competências dos entes federados em matéria de saúde pública são concorrentes e o governo federal não está autorizado a desfazer a política de estados e municípios no setor. Mas claro que não só não está impedido de executar sua própria política, de coordenar políticas nacionais mediante construção de consensos e de apoiar as políticas dos entes locais, mas, muito mais, está obrigado a tanto, pois lhe cabe, como aos outros entes, garantir o direito universal à saúd
A atuação desastrosa de Jair Bolsonaro e de seus subalternos na crise sanitária passou a catastrófica e atores políticos, econômicos e da mídia tradicional, que até então mantinham atitude leniente para com as diatribes do capitão, passaram a cogitar de sua remoção do cargo. Dizem-se, agora, surpreendidos com tamanha incompetência e inaptidão do chefe do executivo que, com sua ação e omissão, pôde se manter no cargo, mesmo provocando diariamente conflitos com outros poderes, com outros entes federados e com governos estrangeiros.
Chega de hipocrisia. Todos sabiam quem era Jair Bolsonaro. Pode mentir muito, mas não mentiu sobre o que era e o que significava sua eleição para o cargo maior da república. Tal qual Adolf Hitler, que anunciara anos antes o que pensava e o que pretendia em seu “Mein Kampf”, Jair teve uma carreira de agressões e grosserias transparente, por quase trinta anos. Quem, na política tradicional, o aceitou, talvez, dissesse como Franz von Papen, ao sugerir o nome do corporal austríaco para o cargo de “Reichskanzler” ao Marechal Hindemburgo: “deixe conosco, em poucas semanas vamos domar essa fera e civilizá-la!” E deu no que deu.
Jair está dando no que dá. Uma vergonha internacional, incapaz de dialogar a nível doméstico e global. Se o Brasil não lograr neutralizar esse risco, tornar-se-á um pária entre as nações, com um estado falido. Ele precisa sair, mas só não diga ninguém que foi surpreendido com o tamanho do desastre!Até as pedras do Distrito Federal conhecem a jornada medíocre do capitão da reserva Jair Bolsonaro. Foi quase expulso de sua força, escapando por pouco graças à descomunal benevolência do STM. Era, enquanto vivia nos quartéis, um indisciplinado. Tentou o caminho da sedição. Queria explodir dependências militares para submeter o comandante do exército a vexame público. A reserva remunerada foi um pacto fechado entre si e seus chefes, para acalmar o ambiente da caserna.
Mas Bolsonaro aproveitou sua momentânea celebridade para se lançar na política e ali ficou por trinta anos, graças aos votos de incautos nervosos. Nada fez. Nunca presidiu comissão, nunca fez parte da mesa da casa parlamentar, nenhum projeto de lei de sua autoria se conhece.
O capitão da reserva não passava, no parlamento, de um ruidoso representante do chamado “baixo clero”, notabilizado por arruaças com que provocava com colegas, usando linguagem chula e argumentos toscos, recheados de ódio e preconceito. Homenageou torturadores da ditadura, lançou vitupérios contra colega, chamando-a de “feia” e por isso “não merecedora” de ser estuprada, chutou nas pernas de outro deputado durante votações em evidente “bullying” homofóbico e por aí vai. Isso foi e é Jair Bolsonaro.
Por um acaso do processo político, esse cidadão indigno da farda se tornou presidente da república, com letras minúsculas mesmo. E, como era inevitável, passou a pintar e bordar. Nomeou para seu ministério um punhado de medíocres como ele, alguns fardados a busca de boquinhas de cargos civis, outros, atores sem nenhuma expressão, “losers” em suas respectivas formações profissionais. Um ministério de incapazes.
Para piorar as coisas, adveio uma pandemia global que colocou a economia no chão e, obviamente, foi mediocremente enfrentada por uma equipe de militares sem nenhum conhecimento de saúde pública e muito menos de medicina. À frente do ministério da saúde, posicionou-se um general de intendência, algo que se parece com um almoxarife da força, que se gabava e continua a se gabar de ser um “especialista em logística”. Se tivessem nomeado um gerente de uma empresa de mudanças talvez até esse se sairia melhor.
O tal general difundiu a ideia de que a pandemia poderia ser debelada com tratamento precoce à base de hidroxicloroquina, um produto da predileção do capitão da reserva feito presidente. Sem nenhuma base científica, sem nenhuma comprovação empírica de eficácia. Mas fez o governo adquirir toneladas desse tônico capilar para carecas iludidos. Jogou fora recursos tão necessários para políticas de saúde pública.
Sobreveio a vacina. O capitão e seus subalternos sabotaram durante meses o preparo de uma campanha nacional de vacinação. Deixaram os secretários estaduais de saúde à beira de uma crise de nervos. Batiam boca com governadores. E enrolavam nos processos de licenciamento dos produtos já desenvolvidos no Brasil e no exterior. Debocharam da CoronaVac, a vacina chinesa, à qual atribuíram o nome de “Vachina” ou de “vacina xinguelingue”. Lançaram desaforos ao embaixador da República Popular da China. Comportaram-se feito moleques de rua, dispostos a “entrar na porrada” contra desafetos escolhidos.
Mas esqueceram-se de um detalhe também: não se prepararam para comprar seringas e nem para enfrentar ondas sucessivas de contágio que voltaram a sacudir o país. O pico mais recente da crise se deu em Manaus. Faltou oxigênio hospitalar. E o governo (ou desgoverno) federal soube com boa antecedência do risco então iminente. Nada fez. Um avião da FAB com cilindros de oxigênio foi, por alguma razão não explicada, impedido de decolar para a capital amazonense. O descaso provocou a morte de dezenas de pacientes com COVID-19 e, também, de outros que padeciam de morbidades diversas.
O capitão não fez mais do que “lamentar” e atribuiu a culpa às autoridades locais, dizendo-se impedido de agir pelo Supremo Tribunal Federal. Mentira deslavada. O STF apenas decidiu o evidente: as competências dos entes federados em matéria de saúde pública são concorrentes e o governo federal não está autorizado a desfazer a política de estados e municípios no setor. Mas claro que não só não está impedido de executar sua própria política, de coordenar políticas nacionais mediante construção de consensos e de apoiar as políticas dos entes locais, mas, muito mais, está obrigado a tanto, pois lhe cabe, como aos outros entes, garantir o direito universal à saúd
A atuação desastrosa de Jair Bolsonaro e de seus subalternos na crise sanitária passou a catastrófica e atores políticos, econômicos e da mídia tradicional, que até então mantinham atitude leniente para com as diatribes do capitão, passaram a cogitar de sua remoção do cargo. Dizem-se, agora, surpreendidos com tamanha incompetência e inaptidão do chefe do executivo que, com sua ação e omissão, pôde se manter no cargo, mesmo provocando diariamente conflitos com outros poderes, com outros entes federados e com governos estrangeiros.
Chega de hipocrisia. Todos sabiam quem era Jair Bolsonaro. Pode mentir muito, mas não mentiu sobre o que era e o que significava sua eleição para o cargo maior da república. Tal qual Adolf Hitler, que anunciara anos antes o que pensava e o que pretendia em seu “Mein Kampf”, Jair teve uma carreira de agressões e grosserias transparente, por quase trinta anos. Quem, na política tradicional, o aceitou, talvez, dissesse como Franz von Papen, ao sugerir o nome do corporal austríaco para o cargo de “Reichskanzler” ao Marechal Hindemburgo: “deixe conosco, em poucas semanas vamos domar essa fera e civilizá-la!” E deu no que deu.
Jair está dando no que dá. Uma vergonha internacional, incapaz de dialogar a nível doméstico e global. Se o Brasil não lograr neutralizar esse risco, tornar-se-á um pária entre as nações, com um estado falido. Ele precisa sair, mas só não diga ninguém que foi surpreendido com o tamanho do desastre !
Eugênio Aragão é um jurista e advogado brasileiro, membro do Ministério Público Federal de 1987 até 2017 e Ministro da Justiça em 2016, no governo Dilma Rousseff. É professor titular de direito internacional da Universidade de Brasília, pela qual é graduado em direito. Wikipédia