Quando comecei a trabalhar na Globo do Rio de Janeiro, uma das minhas primeiras pautas foi na casa de Beth Carvalho, no Joá, em 1998. Ela abriu as portas da sua residência para que entrevistássemos um menino de oito anos, muito bom no cavaquinho, que ele queria promover.
Beth Carvalho não tinha nenhum interesse empresarial no menino, que de fato tocava muito bem. Era pura generosidade. Lá estava o menino tocando para a reportagem da Globo, sob o olhar do pai e aprovação de Beth. A sugestão da pauta foi dela.
Lembrei da cena quando soube hoje da morte de Beth Carvalho. Que perda! Beth Carvalho tinha consciência política e não se omitia — na esquerda, tem político que não deu um pio ou postou um tuíte ou retuitou algo para, pelo menos, reprovar a tentativa de golpe contra Nicolás Maduro.
Beth Carvalho, ao contrário, sempre se expôs. Nunca escondeu que tem lado, o lado do povo, como destacou Lula, em uma carta que enviou a ela, em setembro do ano passado, depois de tomar conhecimento de que Beth Carvalho havia feito um show deitada, em razão de um grave problema de saúde.
“Estou torcendo por você, como cantora, pessoa, e pelos seus compromissos ideológicos; e sobretudo pela coragem de estar sempre ao lado do povo”, escreveu Lula.
Beth admirava Che Guevara, privou da amizade de Leonel Brizola e de Fidel Castro, esteve com Nicolás Maduro mais recentemente, depois da morte de Hugo Chavez. Era autêntica e, como disse, generosa.
Uma valente, talentosa artista, mulher de esquerda, mulher de luta. Brava gente brasileira.