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Está tudo invertido no mundo



Cristina Rodrigues

Já tinha até desistido de escrever um post específico sobre a privatização de espaços públicos em Porto Alegre, já que abordei um pouco do tema aqui e aqui. Mas os acontecimentos de ontem à noite, que somam a política privatista da Prefeitura com a truculência da Brigada Militar (do governo do estado), me deram comichão, e aqui vão alguns comentários…

Pra começar, essa história está errada desde o princípio. A agressão de ontem aos manifestantes que derrubaram o boneco da Coca-Cola foi só o cúmulo do negócio. Um absurdo total, mas que é consequência da escolha anterior.

Ao leitor que não é daqui, explico… Porto Alegre tem, na frente do Mercado PÚBLICO, um largo (que leva o nome de um jornalista das antigas, Glênio Peres) com características históricas da nossa colonização açoriana, como o piso de paralelepípedos. Várias coisas aconteciam ali, de característica popular. Era um espaço de manifestações do povo, de comícios de partidos e de atividades que incentivam a economia solidária e a agricultura familiar, como feira de produtos. Sempre aconteceu ali uma tradicional feira de peixe às vésperas da Páscoa, por exemplo.

Recentemente, parte desse espaço público foi entregue à iniciativa privada, com a justificativa de que embelezaria a cidade. A Coca-Cola/Vonpar construiu um chafariz que tem 19 pontos de saída de água ao longo do largo e instalou um boneco inflável gigante com o tatu-bola que é símbolo da Copa do Mundo (outro negócio em que circula uma grana violenta que a gente não vê, mas isso fica pra outro dia). Algumas das manifestações que antes aconteciam continuam acontecendo normalmente, mas outras foram prejudicadas, sem falar no cartaz da Prefeitura, na entrada do prédio (ao lado do Mercado Público e do Glênio Peres), que leva o símbolo da Coca-Cola.

Aí chegamos a ontem. Nesta quinta-feira, dia 4 de outubro de 2012, um pessoal saiu ta frente da Prefeitura, em uma manifestação pacífica. O mote era a alegria e a defesa era a dos espaços públicos, como o Largo Glênio Peres e o também privatizado auditório Araújo Vianna (espaço de shows pertencente a Porto Alegre que foi concedido à Opus e agora cobra ingressos do nível de iniciativa privada, elitizando a cultura). Protegendo o boneco tinha, segundo reportagem do Sul21, mais de 20 guardas municipais, 19 policiais militares, quatro viaturas e três motos. Ainda assim, derrubaram o tatu. Como resposta, foram reprimidos violentamente. As fotos com o pessoal sujo de sangue impressionam.


E aí vem a triste constatação de que está tudo errado no mundo. A Prefeitura compra o discurso privatista e cede parte do patrimônio PÚBLICO à inciativa privada, prejudicando atos populares. A Brigada Militar, do governo estadual, reprime os manifestantes. Mas o problema vai muito além, está na sociedade. Critiquei a repressão aos manifestantes e vieram com o discurso classe-mediano me perguntar se eu gostaria que destruíssem meu carro. Discurso vazio de defesa da propriedade privada frente à vida. Não, se eu tivesse carro, não gostaria que o destruíssem. Mas esse carro não seria um patrimônio público que me tivesse sido entregue. E nunca, em hipótese alguma, eu defenderia que batessem na pessoa que destruiu um bem material.

Não concorda que destruam o boneco? Ok, aceito o argumento. Mas nada disso justificativa a agressão.

Acontece que as coisas estão na frente das pessoas, e isso não tem o menor sentido. Daqui a pouco vamos viver em um mundo só de coisas, sem pessoas. Ou com pessoas se odiando em nome de coisas. Um mundo de ódio, de extremos. Que mundo é esse, deus do céu? Eu sou contra a privatização porque defendo que o mundo é das pessoas, não das coisas. E que entregar o patrimônio que é de todos para muito poucos ajuda muito a colocar as coisas em primeiro lugar.

Um mundo que incentiva a intolerância é um mundo triste.

Contra esse mundo aí, porém, temos armas poderosas. Podemos usar o amor e a tolerância, em vez do ódio. Ainda acredito que vai funcionar.

Fotos: Ramiro Furquim (as duas primeiras) e André Ávila. Mais fotos aqui.

Postado no blog Somos Andando em 05/10/2012
Trecho grifado por mim


A Prefeitura Coca-Cola




 Prefeitura



A privatização de Porto Alegre e a verdadeira face do vandalismo

Marco Aurélio Weissheimer 

Na reta final da campanha eleitoral, Porto Alegre vive uma situação paradoxal. Se, por um lado, as pesquisas dão amplo favoritismo ao atual prefeito José Fortunati (PDT), nas ruas eclodiu um movimento social formado basicamente de jovens protestando contra a privatização de espaços públicos e culturais da cidade e também contra o crescente cerceamento de espaços e tempos de lazer. 

Na quinta-feira à noite, quando Fortunati passeava tranquilamente pelo debate da RBS, cujo formato permitiu que ele fosse questionado uma única vez pela deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) e nenhuma vez pelo deputado estadual Adão Villaverde (PT), as duas principais candidaturas da oposição, o protesto que iniciara no final da tarde em frente à prefeitura terminou em choque com a polícia no Largo Glenio Peres, na área agora sob a responsabilidade da Coca-Cola, onde estava instalado um boneco inflável do Tatu-Bola, mascote da Copa de 2014.



Para quem não vive em Porto Alegre, as referências podem ser confusas. 

A prefeitura de Porto Alegre repassou para a Coca-Cola a tarefa de “cuidar” do Largo Glênio Peres, uma das áreas mais tradicionais do centro da capital e espaço histórico de manifestações sociais, culturais e políticos. 

Em troca de algumas “obras” no Largo, como um insólito conjunto de chafarizes, cujo maior feito até agora foi alagar o comício de encerramento do candidato Villaverde, a Coca Cola está explorando publicitariamente o Largo. 

A iniciativa não é isolada. Outros espaços públicos da cidade estão sendo repassados pela gestão Fortunati para a iniciativa privada, como é o caso do Auditório Araújo Viana, agora sob os cuidados da produtora Opus. 

O ufanismo empreendedorista embalado pelas “obras da Copa” justifica a invasão privada de espaços públicos na cidade.

Como bem observou Cristóvão Feil, no Diário Gauche, o grupo RBS perdeu todo o pudor, reivindicando diretamente os interesses da livre especulação imobiliária selvagem em Porto Alegre.

A RBS que tem um braço no setor imobiliário chamado Maiojama. Nos últimos anos, boa parte dos chamados formadores de opinião dos veículos do Grupo RBS cumpre o papel de defender com denodo os interesses comerciais e econômicos estratégicos de seus patrões, silenciando sobre os atropelos de normas urbanísticas ou ambientais ou defendendo abertamente tais interesses. 

Não foi nada surpreendente, portanto, que surgidas as primeiras notícias sobre o confronto no largo Glênio Peres, jornalistas da RBS já denunciassem os “vândalos” que estavam destruindo o boneco do Tatu Bola. Alguns deles se apressaram a associar ao episódio à destruição do relógio dos 500 Anos, durante o governo Olívio.

A crescente privatização de espaços públicos em Porto Alegre passeia também com relativa tranquilidade pela Câmara de Vereadores, com algumas honrosas exceções no PT e no PSOL, insuficientes porém para gerar um debate público na cidade.

Diante da fragilidade política dos partidos, as ruas começam a canalizar a insatisfação que vem se acumulando há alguns meses. Aí está o paradoxo.

Fortunati poderá ser eleito neste domingo com uma fraca oposição partidária, mas já com uma forte oposição social nas ruas.

Cabe um registro ainda sobre a ação da Brigada Militar no episódio. 

Os vídeos que circularam durante todo o dia pela rede são suficientes para expor a violência desmedida por parte dos brigadianos.

Mesmo diante de eventuais excessos por parte de alguns manifestantes, não há nenhuma justificação para as cenas que se vê, incluindo agressões contra quem estava filmando o episódio (o que, aliás, não é a primeira vez que acontece). 

Erra o governo do Estado ao não proferir nenhuma palavra crítica à ação da Brigada que, infelizmente, parece sempre pronta a demonstrações de força equivocadas, contra quem deveria proteger. 

Nos últimos anos, entre outras coisas, matou um sindicalista e um sem-terra aqui no Rio Grande do Sul em função dessa truculência. As fotos de quinta à noite mostram uma barreira de viaturas e policiais para defender o Tatu-Bola dos “vândalos”.

De fato, Porto Alegre vem sendo alvo de uma onda de vandalismo. Os espaços públicos da cidade estão sendo privatizados. 

A especulação imobiliária avança sobre áreas públicas e de preservação ambiental. A população mais pobre está sendo empurrada cada vez mais para a periferia. A criminalização das áreas frequentadas pela juventude é crescente. 

O maior grupo midiático da cidade defende abertamente a subordinação do interesse público aos interesses comerciais do setor imobiliário. 

E as chamadas forças de segurança estão aí para defender essa agenda e seus agentes públicos e privados. 

Mas as ruas começam a opor resistência aos vândalos e ela pode estar só começando.


Postado no blog RS Urgente em 05/10/2012
Imagens inseridas por mim

McDonald’s ameaça acarajé na Copa


Acarajé completo. Tambem é servido o acarajé aberto; depois de partido ao meio, o recheio é colocado nas duas bandas do acarajé e come-se com garfo e faca.  Muito saboroso!

Por Altamiro Borges

O McDonald’s, poderosa rede estadunidense de fast-food que explora condições degradantes de trabalho e vende produtos nocivos à saúde, quer proibir a comercialização de acarajé durante os jogos da Copa das Confederações e da Copa de Mundo em Salvador. A informação – curiosa e revoltante – foi dada ontem pelo repórter Davi Lemos, do jornal A Tarde:

“A Arena Fonte Nova pode ficar sem acarajé. A venda do tradicional bolinho, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio imaterial, é caracterizada como comércio ambulante. A Fifa recomenda o afastamento dessa modalidade de comércio num perímetro de até dois quilômetros das praças de jogos. O acarajé, em tese, não pode ser concorrente dos hambúrgueres produzidos pela rede McDonald’s, patrocinadora oficial da Fifa”.

Rita Maria Ventura dos Santos, presidenta da Associação das Baianas de Acarajé e Vendedoras de Mingau (Abam), já rodou a baiana. Ela classificou como absurda a hipótese se ser proibida a venda de acarajé na Fonte Nova. “Eram oito baianas lá dentro que tiveram que sair devido à obra. Agora que está tudo novo vão retirar as baianas? Todas tinham carteira... Alegam que há risco para os torcedores. Se for assim, era proibido venda de acarajé no Carnaval. Nunca soube de ninguém queimado com azeite nestas festas”.

A Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo da Fifa Brasil 2014 (Secopa) já garantiu que vendedoras da acarajé terão lugar garantido nos jogos das duas copas. “Elas serão contempladas”, garantiu a chefe de gabinete da Secopa, Liliam Pitanga. Ela também informou que estão sendo fornecidos cursos de capacitação para as baianas e outras categorias, como os taxistas. Até o final de setembro, cinco mil pessoas foram inscritas em cursos de inglês, espanhol e língua brasileira de sinais (Libras).

A reportagem entrou em contato, ontem, com o Comitê Organizador Local da Copa (COL), mas não houve posicionamento sobre a venda do acarajé nos estádios até o fechamento da edição, conclui a reportagem do jornal A Tarde. Caso se confirme a proibição, o assunto vai dar muito que falar. O acarajé é uma tradição da culinária baiana, adorada por todos os brasileiros e estrangeiros que visitam o estado.

Já o McDonald’s, um dos maiores símbolos do império ianque, é uma rede que merecia ser processada por explorar de forma desumana os trabalhadores e por ser responsável pela obesidade de inúmeras crianças e adolescentes.


Postado no Blog do Miro em 05/10/2012

Mascote da Copa de 2014



Tatu bola da Caatinga
“Meu sonho é daqui a 20 anos olhar para trás e ver que 2014 foi a Copa que salvou o tatu-bola da
extinção”, diz biólogo Rodrigo Castro, que coordenou a campanha de candidatura da espécie
Tatu bola da Caatinga
Tatu bola da Caatinga
http://exame.abril.com.br/meio-ambiente-e-energia/noticias/o-que-nao-sabemos-sobre-o-tatu-bola-mascote-da-copa
 Postado no blog Luis Nassif Online em 15/09/2012



Seminário dá voz aos moradores prejudicados pelas obras da Copa



Painel contou com uma diversidade de público, onde se fizeram presentes, desde moradores das vilas de Porto Alegre, como acadêmicos e professores | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
André Carvalho
O Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS teve suas dependências totalmente ocupadas, na noite desta segunda-feira (26), por um público extremamente diversificado. Eram desde moradores de diversas vilas e morros de Porto Alegre, impactados pelas obras da Copa do Mundo de 2014, até professores e acadêmicos, das mais diversas áreas, interessados em discutir o Direito à Moradia, no painel “Direito à Moradia e Copa do Mundo”, da IV Semana de Direitos Humanos, Cidadania e Acesso à Justiça (SDH).
Durante aproximadamente três horas, lideranças das comunidades atingidas de alguma maneira pela Copa do Mundo expuseram para o público presente as necessidades e dificuldades enfrentadas para que lhes sejam garantidos o direito constitucional à moradia.
Seu Darci, do Morro Santa Teresa | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“O Morro Santa Teresa é o nosso lar há 50 anos”
Darci Campos dos Santos, morador do Morro Santa Teresa há mais de 30 anos, narrou a luta de resistência dos moradores do local contra o PL 388/2009, elaborado no governo Yeda, que pretendia vender o morro, uma área pública, para a construção de condomínios de edifícios privados. “É claro que o projeto tinha a intenção de despejar os moradores que moram ali. Só que nós nos organizamos e resistimos. Ora, somos quase 20 mil famílias morando lá. Se nos tirassem de lá, onde iriamos morar?”, denunciou Darci.
Apesar dessa vitória, a luta continua para os moradores do Morro Santa Teresa, que hoje combatem pela regularização fundiária do local, visto que em áreas públicas não têm direito a usucapião. “Seguiremos resistindo pelo direito de morar onde moramos. Já faz quase 50 anos que o morro é o nosso lar. Se perdermos nossas casas, seremos mais mendigos morando debaixo das pontes, nossos filhos serão mais bandidos nas ruas”, destacou.
Ao final, Seu Darci aproveitou para falar das contradições da lógica política de nossa cidade: “Quando os políticos falam na TV que Porto Alegre precisa de mais segurança porque ela tá muito perigosa, eles esquecem que foram eles que assinaram um PL pra despejar as pessoas de suas moradias, porque lá é área de risco. Quer dizer, nas áreas de risco não pode morar pobre, mas pode morar rico”.
Seu Zé, da da Divisa Cruzeiro-Cristal | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Não somos contra a Copa, mas queremos que seja respeitado o nosso direito à moradia”
Já José Raimundo Fachel Araujo, ou o Seu Zé, morador da Divisa Cruzeiro-Cristal, demonstrou a sua decepção com o poder público, que assinou o decreto do alargamento da Avenida Moab Caldas, como justificativa de melhorias de mobilidade para a Copa do Mundo, porém, ameaçando a remoção das famílias moradoras do local.
Assim como Seu Darci, do Morro Santa Teresa, Seu Zé demonstrou que a população daquela área está disposta a resistir. “Eles vêm com aquele engodo do ‘Minha Casa, Minha Dívida’ (ironizando o projeto federal Minha Casa, Minha Vída), que a gente vai para um lugar melhor, mas a gente não quer sair de lá. Só que a gente terá que pagar aluguel, gastar com a condução, não teremos saúde, segurança, escolas. Nós não vamos sair daquela área. Pra nos tirar dali, eles têm que nos dar tudo que nos é direito”, garantiu.
Ao final de sua fala, Seu Zé denunciou o Prefeito José Fortunati, que recentemente disse à imprensa que os moradores da Vila eram baderneiros, pois estavam contra o alargamento e contra a Copa. “Nós não somos contra a Copa, nem contra o alargamento da avenida, mas queremos o direito de viver dignamente, em uma casa, num local onde tenha posto de saúde, escola, lugar pras crianças brincarem. Infelizmente a mídia nunca nos dá o direito a voz, daí fica a nossa voz calada, contra a do prefeito”.
Dona Marilsa, da Vila São Pedro | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“O diálogo do poder público com as comunidades tem que ser na mesma língua”
Representando os moradores da Vila São Pedro, Marilsa d´Ávila criticou o poder público por não saber dialogar com a população. “Queremos que as pessoas falem a nossa língua”, destacou.
Segundo ela, a comunidade tem diversas dificuldade nas reuniões de conciliação, pois os advogados e os promotores, falam expressões ou palavras que não são compreensíveis para os moradores da vila. “às vezes passava 2, 3h de reunião e os moradores não compreendiam nada”, contou.
“Certa vez, em uma reunião com o Ministério Público, me disseram: ‘a pauta da reunião é essa e essa’, aí eu disse: ‘Mas o que é pauta?’. Meu conhecimento é balde, vassoura, panela”, narrou Marilsa, com um humilde sorriso de quem não tem vergonha em perguntar. “É difícil lutar pelos direitos se não temos o conhecimento. Prefiro passar por ignorante do que fingir que entendia”, completou.
Seu Luis, da Vila Chocolatão | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“Os governantes trocam o direito à moradia do cidadão pelo direito ao carro do indivíduo”
Em um breve discurso, José Luis Ferreira, morador da Vila Chocolatão, recentemente removida do centro da capital para o final da Avenida Protásio Alves, criticou a ação que retirou mais de duzentas famílias que viviam da coleta e reciclagem do lixo da região central da cidade, mandando-os para a Vila Mario Quintana, na região periférica, a mais de 10km do centro e tendo a somar os problemas existentes do novo local.
“A realocação não foi justa. Foi sim, imoral. Nós ocupamos o terreno da Chocolatão, que pertencia ao tribunal, mas agora eles inventaram que queriam fazer um estacionamento. Legal, tem que estacionar os carros, né? Mas com essa justificativa, nos mandaram para o outro lado da cidade”, apontou Seu Luis.
Ao criticar a situação da remoção – que foi debatida judicialmente, com argumentos nos âmbitos legais da causa, de um lado, e do justo, do outro –, Seu Luis terminou sua fala deixando para os estudantes de Direito, a questão para a reflexão: “Vocês que estão estudando direito e serão os novos homens da lei, vão estudar para ser a favor da legalidade, ou a favor da justiça?”.
Ceniriani Vargas da Silva, da Ocupação 20 de Novembro | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“A Copa do Mundo atropela todos os direitos a mando da FIFA”
A última fala da noite foi da Ceniriani Vargas da Silva, da Ocupação 20 de Novembro e integrante do MNLM (Movimento Nacional de Luta pela Moradia). Ela preferiu denunciar as incoerências legislativas que estão ocorrendo por causa da Copa do Mundo. “Os governantes estão atropelando as leis municipais, estaduais, federais, os direitos humanos, os direitos ambientais, tudo para impor as regras e as vontades da FIFA”. E completou: “É um absurdo que um país sério como o nosso diz ser, tenha um congresso que discuta a Lei Geral da Copa juntamente com o Código Florestal. Uma coisa virou moeda de troca da outra”.
Ceniriani criticou a política de “higienização social” por parte dos órgãos públicos, para com a camada pobre da sociedade. “Sabe quando tu vai receber uma visita e esconde aquilo que não quer que ela veja? Pois é, a política de ‘higienização social’ é a mesma coisa. Varreram os ‘problemas’, ‘a sujeira’, nos mandando para as periferias. Mas nós temos um vinculo com a região em que moramos e de onde querem nos desalojar”, reclamou.
Ao final, ela agradeceu a oportunidade de finalmente poder discutir a questão de maneira séria e real. “Quando entro na faculdade sempre penso que aqui é o mundo de Matrix, porque a discussão sobre a Copa do Mundo parece ser de um mundo paralelo”, brincou.

Postado no Blog Sul21 em 27/03/2012

Para Mino Carta, Brasil ergue obras para a Copa de 2014, expulsa a população e mídia finge que não vê


Publicado por  em 12 março, 2012



A pedra no meio do caminho

A imprensa estrangeira ao que parece está mais atenta ao Brasil do que os próprios jornais brasileiros. Aliás, não que seja questão de atenção, a imprensa internacional apenas faz a lição de casa do jornalismo que, pelas terras de cá, já foi abandonada há tempos. Por isso, em editorial recentemente publicado pelo jornalista Mino Carta na revista Carta Capital, ele lembra que se o brasileiro quiser realmente saber o que se passa no seu próprio país, o melhor é que ele recorra à imprensa internacional.

Isso porque nas linhas da grande mídia nacional, o leitor brasileiro não encontrará muita coisa a respeito das recentes expulsões de muitas famílias nas principais cidades-sede do Mundial de 2014. O método no Brasil continua sendo o mesmo. Toda pedra que está no meio do caminho é simplesmente enxotada e essa pedra geralmente atende pelo nome de “povo”. Um povo tão pouco importante que não merece sequer a atenção da mídia nacional e que naturalmente deve dar licença para que as obras da Copa enfim possam aparecer.

É esse o raciocínio muito oportuno dos jornais brasileiros: o que não é por eles noticiado simplesmente nunca existiu e esse mesmo povo deixa de ser pedra no meio do caminho para ser simplesmente doutrinado por uma mídia que nunca o representou, tampouco pretende, e que acaba ela também doutrinada pela própria realidade que ela recria todos os dias.

Como bem diz Mino, “é o resultado inescapável do conluio automático, tácito, instintivo eu diria, que se estabelece entre barões midiáticos e fiéis sabujos quando consideram ameaçado seu desabusado apreço pelo status quo”. Conluio esse que emburrece o Brasil e que, apostando nessa mesma ignorância nacional, sustenta o “sacrifício de incontáveis cidadãos para a felicidade de empreiteiros, políticos e quejandos”, escreve Mino.

E esses cidadãos, como lembra o jornalista, e como quer a mídia nacional, não se indignam, não se revoltam, simplesmente vão deixando as coisas como estão, esvaziados de qualquer espírito de cidadania. No Brasil, as tempestades vêm fortes, mas passam rápido. Por isso, denúncias morrem como se nunca tivessem vindo à tona, escândalos de corrupção emudecem e a justiça continua servindo aos ricos. Aqui não se aprende com a pedra no meio do caminho, como queria dizer o poeta, aqui ela é apenas ignorada, ou chutada pra fora.

Veja trecho do texto:

Indignação, nunca

Por Mino Carta

O The New York Times na segunda 5 publicou com destaque uma reportagem sobre a situação dos cidadãos brasileiros enxotados de suas moradias por se encontrarem no caminho das obras da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. A história não envolve somente o Rio, mas também outras cidades-sede do Mundial de Futebol. CartaCapital denunciou as remoções forçadas na edição de 20 de abril do ano passado. Poucos dias depois, a Relatora Especial da ONU, Raquel Rolnik, denunciou as autoridades municipais envolvidas na operação, que desrespeita a legislação e os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil para a defesa dos direitos humanos.
Já então a relatora apontava diversas violações, “todas de grande gravidade”. Multiplicaram-se de lá para cá, inexoravelmente. Maus-tratos generalizados, “zero dias” de tempo para deixar a moradia, 400 reais de “aluguel social” enquanto o enxotado espera ser contemplado por algum demorado plano de habitação. Antes do diário nova-iorquino, nos últimos tempos levantaram o assunto outros jornais e sites estrangeiros, como The Guardian, El País, o Huffington Post. CartaCapital voltou a tratá-lo em janeiro passado, com uma larga reportagem assinada por Rodrigo Martins e Willian Vieira, intitulada “Os retirantes das favelas” para focalizar, entre outros aspectos, uma das consequências das remoções forçadas.
E a mídia nativa? Não foi além de raros e ralos registros. Para saber das coisas do Brasil, recomenda-se amiúde recorrer à imprensa estrangeira. Ou melhor, seria recomendável o recurso. No mais, vale reconhecer, a mídia tem sido eficaz na manipulação das informações quando não na omissão dos fatos, de sorte a se fortalecer na convicção de que eventos por ela não noticiados simplesmente não se deram. É o resultado inescapável do conluio automático, tácito, instintivo eu diria, que se estabelece entre barões midiáticos e fiéis sabujos quando consideram ameaçado seu desabusado apreço pelo status quo. (Texto completo)

O país do pé no traseiro


Postado por Juremir em 5 de março de 2012 - Cotidiano
Jérôme Valcke é um falastrão.
Mas não deixa de ter sua pitada de acerto.
O Brasil não só merece um chute no traseiro como vive dando chutes no traseiro dos seus cidadãos.
Aqui vão dez chutes no traseiro de todos nós:
1) O novo Código Florestal, a ser aprovado nesta semana em Brasília, vai perdoar 75% das maiores multas que deveriam ser pagas por desmatadores contumazes. Isso não é chuteiro no traseiro, é coice nas nossas nádegas indefesas.
2) O Tribunal de Justiça de São Paulo pagou, “por engano”,  auxílio-moradia atrasado para desembargadores com juros dobrados. Auxílio-moradia para desembargador que na mora na própria casa é um pontapé no traseiro e na bolsa, quer dizer, no bolso, isto é, no saco da turma aqui da planície. O TJ, bem entendido, garante que não foi assim. Por supuesto.
3) O governador do Rio Grande do Sul prometeu pagar o piso do magistério ao longo seu mandato, mas agora só quer pagar se o piso deixar de ser piso, isto é, se for mudado o critério de reajuste. Por enquanto, está naquela de se “estou dando bons aumentos” para que piso? O probleminha que vira um chute no traseiro é que todos os aumentos estão abaixo do piso, logo, da lei.
4) A Fifa fez um contrato com o Brasil pelo qual pode cair fora até junho de 2012 sem pagar qualquer multa. É um pataço na retaguarda nacional, que pode ficar pendurada no pincel pintando obras caras e inúteis.
5) Políticos dizem na maior cara de pau que, sem a Copa, certas obras essenciais, para as quais existe dinheiro, tanto que está sendo aplicado, não seriam feitas por falta de um bom pretexto. É um tirombaço nos países baixos dos contribuintes.
6) Falta dinheiro para hospitais, mas não para os nossos sagrados estádios de futebol. Não tem bunda que suporte isso.
7) A regra impede troca de partidos sem justificativa consistente,  determinando a perda de mandato, salvo se um novo partido for criado às pressas para permitir que a regra seja burlada e acomode todo mundo segundo as suas convenências. Como dói!
8)  A oposição gaúcha, que antes era situação e não pagava o piso do magistério, agora que é oposição exige o tal pagamento.
9) O Brasil quer melhorar a sua imagem lá fora com a Copa do Mundo. Por que não melhora antes a sua imagem aqui dentro? É verdade que desentortou um pouco nos últimos anos, mas os glúteos nacionais continuam sacrificados. Quem ganha menos, muitas vezes, paga mais impostos ou não tem ponto de fuga, leia-se potencial de sonegação.
10)  Nosso grande produto de exportação atual é Michel Teló.  É de cair o traseiro no chão.

Postado no Correio do Povo.com.br/Juremir Machado da Siva

Copa do Mundo em Porto Alegre: o que deveria ser discutido



Charge do Kayser
Detesto novelas. E essa da “parceria” do Inter para reformar o Beira-Rio (quem tem um parceiro desses, precisa de inimigos?) está chata demais. Já encheu o saco.
Para mim, tanto faz a Copa do Mundo de 2014 ser jogada no Beira-Rio ou na Arena do Grêmio – só não quero que vá dinheiro público para estádio. O importante eram as melhorias na infraestrutura urbana que depois seriam “o legado da Copa”. Porém, a cidade será apenas “maquiada”. Pois certos problemas Porto Alegre continuará a ter.
Tipo, como se deslocar pela cidade sem ficar preso em congestionamento, e sem correr risco de levar um banho de um motorista sacana. Aí embaixo está uma minúscula amostra das consequências do temporal que atingiu Porto Alegre no final da tarde desta quarta-feira. (Aliás, não esqueçamos que a Copa será disputada no inverno, época em que costuma chover mais por aqui…)
E isso sem contar problemas ainda mais graves, como o caos na saúde. Será que o povo realmente acha a Copa mais importante do que um bom atendimento nos hospitais e postos de saúde?
Postado no Blog Cão Uivador em 01/03/2012