Apaixone-se pela jornada



Andrea Pavlo

Respiro fundo aqui, hoje, sentada na frente do meu computador. Respiro sem sentir o coração apertando o peito ou sentindo que tenho uma lista enorme de coisas para realizar sem ter a menor noção de por onde começar. Preciso acertar meu trabalho. Check. Preciso de um bom relacionamento. Check. Preciso de um apartamento mais espaçoso. Check. Preciso me curar de todo mal pelo qual eu passei. Aqui sim temos um verdadeiro check, check, check.

Mas foi um longo e árduo processo esse de se curar. Estou 100% curada? Não sei, talvez não. Mas o que eu trouxe até aqui me fez estar me sentindo bem, em paz e realizada o suficiente. Não sinto que não estou sendo eu mesma ou cumprindo meus papeis com maestria. E estou falando de missão e propósito. Nunca me senti tão no meu caminho como até agora. O conto de fadas finalmente chegou no “felizes para sempre” e não, não sabemos o que vem depois disso.

Ainda tenho muitas conquistas, uma lista de um sonho grande que está cada vez mais próximo e aqui, nesse lugar, eu finalmente entendi o que carambas é “apaixonar-se pela jornada”. Porque no final, é sempre sobre a jornada.

Eu nunca entendi por que vivia cercada de medo e ansiedade. Eu queria coisas que todo mundo tinha e, quando fazia o que todo mundo fazia, não funcionava. Precisei cavar tão fundo dentro de mim para me curar e conquistar que essa escavação foi, no final, o que valeu a pena. Não sou a mesma mulher que começou a jornada. Não tem mais choro, ou depressão ou crises insanas de ansiedade. Tem só eu, achando que tudo pelo qual todo mundo faz drama, é fácil de resolver. No final, o apartamento com uma linda varanda gourmet – apensar de linda e confortável – não é o prêmio, mas um jeito de eu lembrar do prêmio.

O que eu ganhei foi a minha liberdade. Liberdade de pensar, de sentir, de sonhar. Ser tão livre dentro de mim que todas aquelas bobagens do passado não fazem mais sentido. A cada passo dessa jornada, isso ia se concretizando mais e mais. Eu percebia meus músculos emocionais ficando mais forte. Sentia meus amigos espirituais cada mais perto, isso não tem preço e eu nem sabia que ia ganhar isso no processo. Miramos no prêmio, mas o verdadeiro prêmio vem depois do “felizes para sempre”.

E sim, é a subida – como canta a plenos pulmões Milei Cyrus. A jornada, a subida e o quanto não desistimos – na minha opinião a única maneira de dar errado – é o que vale. Se eu ganhasse tudo o que eu conquistei não teria o mesmo sabor, não teria o mesmo valor. Precisamos da jornada para aproveitar o prêmio e é isso.

Talvez por isso vejamos tantas pessoas na depressão. Ou porque não sabem o que fazer ou por que não querem fazer a jornada. Querem a coisa pronta, sem perrengues, e isso é péssimo. Não exercita nenhum dos seus músculos, não te ajuda em nada. Talvez por isso ganhadores da loteria se livrem do prêmio ajudando muito mais gente do que poderiam. Não tem valor.

Então, se está difícil, apenas siga em frente. Saiba que são esses dias difíceis que vão valer a pena lá na frente. Não importa o quanto precise chorar na cama pedindo a Deus clemência, o quando doam seus pés. Apenas diga. O resultado é inevitável se você não desistir e se apaixonar pela jornada.



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