Já escrevi muito sobre a felicidade, mas nunca é demais. Artigo cada vez mais raro, hoje em dia, a felicidade passou a ser uma busca constante da maioria das pessoas, tendo em vista esse contexto triste em que empacamos há alguns anos. A pandemia mexeu com o emocional de todo mundo. Em vez de união, como se esperava, a desunião se tornou a tônica desses tempos últimos. Não foi, nem está fácil para ninguém.
Quando eu era pequeno, a felicidade era mais fácil. Eu via felicidade na minha mãe, nos alimentos, nos gibis, nos meus animais. Crianças não procuram a felicidade, elas são felizes onde e com quem estiverem. A infância dura muito pouco. Eu ficava tão feliz vendo desenhos, criando enredos no quintal dos meus pais, brincando com meu amigo Rogério, dando umas voltinhas pelo saudoso mercadão. Eu comprava cem gramas de amendoim japonês na Neuzinha e já transbordava de felicidade.
Quando eu comecei a entrar na adolescência é que eu comecei a procurar mais a felicidade, porque, então, ela parou de ser constante. Crescer aumenta nosso poder de refletir e vamos deixando de lado a imaginação. Deslize. A imaginação jamais deveria sair da gente, digo aquela viagem lúdica que a criança faz, tão importante para o entendimento de si mesmo. Porque é nessa imaginação que se encontram os nossos sonhos, nossa essência. Mas crescer acaba nos colocando frente a frente com as cobranças e com o que os outros esperam de nós.
A gente vai crescendo e vai percebendo que as pessoas podem ser cruéis, que existem padrões a serem seguidos, mesmo se não tiverem nada a ver com você. A gente se enche de hormônios e não entende aquilo tudo que borbulha em nosso organismo. Começamos a enfrentar a rejeição, os interesses alheios colidindo com os nossos, os julgamentos dos colegas. Aumentam as cobranças e as matérias escolares. A concorrência, em todos os setores, aparece na nossa frente. Crescer dói.
Essa busca pela felicidade, quanto mais a gente cresce, fica mais regrada. O que era para ser de dentro passa a ter um monte de comandos externos. Abundam manuais de felicidade, em que o sentimento fica obrigatoriamente atrelado a certas regras e condições. E, se a gente não se enquadra nesses preceitos, parece que a felicidade não nos cabe mais. E a gente fica cada vez menos feliz, porque nos esquecemos de nós mesmos nesse processo de crescimento.
Daí vem a maturidade, após chuvas e trovoadas, e a gente se desobriga de seguir a maré, a gente se liberta do que vão pensar ou dizer. A gente se desapega dessa burocracia que tentam impor sobre a felicidade. Ultimamente, até para ser feliz tem burocracia. Tem que viajar, ir a restaurantes, ganhar seguidores, planejar, consumir. Eu consigo ser feliz no meu sofá, assistindo à sessão da tarde. Normalizem.
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