Reencontrar um amor perdido pode ser a faísca que dá vida àquela fogueira aparentemente apagada e adormecida. Um choque entre duas almas que se reconhecem instantaneamente, mas que carregam consigo outras encruzilhadas vividas, maior maturidade e experiências únicas. Às vezes, deixar que essa chama se acenda pode dar forma a uma história excepcional. Outras vezes, significa repetir erros do passado.
Vivemos em uma época em que não é difícil retomar o contato com amigos de infância e, é claro, com aquelas pessoas com quem tivemos (ou não) um relacionamento afetivo, inclusive íntimo.
Amores perdidos também são aquelas figuras que despertaram as nossas ilusões, fantasias ou ideais platônicos, mas com quem, devido às circunstâncias, não estabelecemos nenhum tipo de vínculo.
Portanto, é muito comum procurarmos esses nomes nas redes sociais para recuperarmos o contato. Às vezes, o fazemos por curiosidade. Outras, pelo desejo expresso de recuperar o contato.
Muitas vezes, o próprio destino e o acaso propiciam esse reencontro e nos fazem, quase sem saber como, experimentar sensações que pensávamos que estavam esquecidas.
Além do que podemos pensar, estudos e trabalhos como os realizados pela psicóloga Nancy Kalish, da Universidade da Califórnia, mostram que muitos desses reencontros dão origem a relacionamentos que, em um grande número de casos, são bem-sucedidos.
No entanto, também existem fatores que podem nos levar ao fracasso. Vejamos mais dados abaixo.
“Nós só nos separamos para nos reencontrarmos”.
- John Gay -
Reencontrar um amor perdido: o que pode dar errado?
As pessoas se unem às outras em um momento muito específico de suas vidas e o fazem com os seus medos, inseguranças, inexperiências e necessidades do presente. Agora, se deixarmos esse relacionamento em um determinado momento e nos reencontrarmos anos depois, algo muito singular acontecerá.
As nossas emoções se reencontrarão. Haverá uma faísca familiar que vai incendiar sentimentos do passado, o perfume dos bons momentos (porque as pessoas tendem a esquecer os maus momentos), a cadência de uma música conhecida.
No entanto, mesmo sendo as mesmas almas nos mesmos corpos, somos pessoas muito diferentes. A vida nos esculpiu, o aprendizado nos moldou e o nosso olhar é, em muitos casos, mais prudente, sábio e acertado.
Tudo isso nos faz questionar se reencontrar um amor perdido pode ser positivo ou não. Seria sensato reiniciar esse relacionamento? O que poderia dar errado? O que há na pessoa que ainda reconheço da pessoa que conheci?
Às vezes, o tempo nos dá a maturidade que faltava no relacionamento anterior
Nancy Kalish, psicóloga da Universidade da Califórnia, é especialista nesta questão de amores perdidos e reencontrados. No livro Lost and Found Lovers, encontramos um estudo exaustivo realizado em mais de 35 países.
O objetivo era saber qual é a porcentagem de êxito ao reiniciar relacionamentos deixados em um determinado momento do passado.
Os resultados não poderiam ser mais impressionantes. Os casais que se reencontraram (estando solteiros) tiveram 72% de sucesso. Ou seja, eles formaram relacionamentos estáveis e duradouros. Por outro lado, no caso de reencontros entre pessoas que já tinham parceiros, o sucesso foi de 5%.
Uma das hipóteses da Dra. Kalish é de que, às vezes, o tempo nos dá a maturidade que nos faltava no passado, aparando as arestas que feriam. As experiências, o aprendizado e a própria vida nos dão a solvência psicológica e emocional que, talvez, não tivéssemos aos 20 anos.
Outras vezes, reencontrar um amor perdido significa ser capaz de recuperar alguém que perdemos devido a influências do ambiente, pressões familiares ou sociais. O presente nos dá a oportunidade de corrigir algo que não enfrentamos com coragem.
Do amor romântico ao amor consciente
O psicólogo Thomas Lewis, autor de A General Theory of Love, explica em seu livro que, durante a juventude, muitos de nós seguem o ideal do amor romântico. Procuramos estabelecer relacionamentos com base nessa estrutura impossível na qual, pouco a pouco, moldamos vínculos carregados de dependências e vulnerabilidade.
No entanto, à medida que amadurecemos, tomamos consciência desse erro. Aprendemos que o amor não é apenas paixão, mas também compromisso. Percebemos a necessidade de respeitar os espaços e as individualidades, mas cuidando desse espaço para atender afetos, comunicações, projetos.
O tempo e a experiência fazem com que algumas pessoas (não todas) vejam a necessidade de cultivar um amor maduro e consciente. Por outro lado, há também um fator muito interessante que a antropóloga Helen Fisher aponta em seus trabalhos. Às vezes, as pessoas experimentam o que ela chama de “atração por frustração”.
Ou seja, estamos conscientes de que no passado erramos com determinadas pessoas. Nos sentimos frustrados com essa imaturidade, com os erros de jovens inexperientes. Acreditamos que há histórias inacabadas dentro de nós e que merecem uma “segunda chance” e finais mais corajosos.
Por isso nos arriscamos; vem daí o nosso desejo de recuperar um relacionamento do passado. Um resgate que terá mais possibilidades de ser um sucesso, se considerarmos esses aspectos.
Não podemos voltar nas mesmas condições de ontem. Não podemos e não devemos nos permitir cair nos mesmos erros. Embora pareçamos os mesmos, na realidade, muitas coisas mudaram e devemos analisar muitos aspectos.
Há amores que merecem, sem dúvida, novos capítulos. Por outro lado, há outros que tiveram no passado um ponto final adequado e até mesmo merecido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário