Fabrício Carpinejar
Não é hora de brincar. Não é hora de ser irônico. Não é hora de fazer piada. Não é hora de ostentar. Não é hora de fingir normalidade. Não é hora de ser egoísta. Não é hora de chamar atenção. Não é hora de querer destaque. Não é hora de festa. Não é hora de receber visitas. Não é hora de comícios e passeatas. Não é hora de praças lotadas. Não é hora de preparar churrasco para os amigos. Não é hora de beber e abraçar, de gritar “foda-se” pela janelas físicas e digitais, de soltar fogos de artifício, de não deixar os vizinhos dormirem pelo barulho. Não é hora de balada. Não é hora de virar as costas. Não é hora para perder a seriedade fúnebre. Não é hora de vídeos engraçadinhos sobre a pandemia no WhatsApp.
É grave debochar dos falecidos no epicentro da crise da saúde, é grave dançar com caixões, é grave rir de velórios e covas, é grave transferir o contexto de uma cultura africana de homenagem à memória do ente querido para escarnecer a esperança, é grave colocar coroas de flores sobre a cabeça como recepção de Honolulu.
Se cada morto diário no país pelo coronavírus merecesse um minuto de silêncio, passaríamos o dia inteiro calados. Estamos próximos de preencher os 1 440 minutos de um dia – já são 1179 vítimas. Sobra para dizer alguma coisa apenas quatro das nossas 24 horas.
A morte é um lugar sagrado dentro da educação e da decência.
Nem é por temer o que os familiares enlutados possam sentir. Devemos lembrar que os mortos ainda escutam. Tudo o que vai volta. E eles não perdoarão a sua omissão.
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