Assim caminha a humanidade: com muita exposição e pouca privacidade


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Alessandra Piassarollo

Tempos atrás encontrei uma colega que não via há meses. No meio da conversa animada ela me falou que eu deveria postar mais coisas sobre mim, para que as pessoas ficassem sabendo o que acontece na minha vida.

Uau! Eu nem saberia explicar o que pensei. Fiquei olhando pra ela, sem dizer nada. Ela riu do meu embaraço e eu disse que iria pensar no caso. Fui pega desprevenida, não estava preparada para um pedido desses. Aliás, não achei que isso fosse pedido que se fizesse pra alguém. Todos os meus questionamentos giravam em torno da frase: A troco de quê eu faria isso?

Despedimo-nos e, desde então, tenho pensado sobre isso. Principalmente quando fico sabendo de todos os detalhes da vida de alguém, sem fazer nenhum esforço para isso. E quando digo todos os detalhes, quero dizer mais detalhes do que eu precisava saber. Vejo que muita gente ficou viciada em dar satisfação do que está fazendo. Se vai ao hospital, se pede um hambúrguer, se assiste a um filme… tudo precisa ser contado.

Às vezes tenho a impressão de que isso virou uma febre, uma regra de conduta, sobretudo para as vidas mais vazias.

Se a pessoa está se sentindo bem, posta logo uma foto. Se não está, foto seguida de frase de motivação. Se estiver sem assunto, foto dizendo que o sorriso é o segredo de tudo, ou foto de lado, ou em preto e branco ou de cabeça pra baixo. Importante é não passar em branco.

Às vezes, a vontade de dizer o que sente é tanta, que a pessoa não mede as palavras. O amor é um exagero, e a felicidade nem é tão rotineira como pretendem que seja. O amor acaba rápido ou muda de dono e ficamos embasbacados, porque não há compreensão que seja capaz de entender os motivos por trás desses desatinos todos.

E assim, caminha a humanidade, com muita exposição e pouca privacidade.

É claro que é legal ter alguma coisa pra contar, ou até pra desabafar. Ninguém vai dizer que isso é inconveniente ou indevido. Também não precisamos abominar as redes sociais, de forma alguma. Mas é preciso agir sem exagero, com limites e bom senso, senão não dá pra curtir.

Porque sim, todos querem acessar as redes sociais, mas não se pode querer saber tintim por tintim da vida de ninguém. É tanto mais do mesmo, que a gente tem vontade de colocar certas pessoas em soneca de 360 dias. Vale lembrar que nesses tempos atuais, as impressões que passamos através das redes sociais são, inevitavelmente, relevantes para nossa imagem pessoal.

Sem tantos assuntos, tem gente que força a barra. Cria polêmica, especula a vida de todo mundo, vive a vida dos outros. Esquece que a vida de verdade acontece sob o sol, do lado de fora da internet.

A vida é muito mais que o famoso ”o que você está pensando?”, e é muito mais intensa do que uma atualização de status poderia explicar. Tudo isso, é claro, desde que você esteja vivendo a sua vida, e fazendo isso do jeito certo.

Tá certo que as redes sociais tornaram-se uma espécie de opção de lazer para todos nós, mas ainda assim cabe um aviso: Viva bem sua vida, mas não a exponha demais.



Postado em Conti Outra



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