Mudanças do Facebook consolidam a imbecilização dos ativistas “sem bandeira e sem partido”





Por Wellington Calasans, para o Duplo Expresso

Somente agora, depois de ter cumprido o seu papel de demolidor de democracias, o Facebook anuncia que vai mudar outra vez. O “dono” das redes sociais quer voltar às origens, tirando dos destaques os vídeos e notícias e ampliando a invasão das mensagens entre amigos e familiares. Em síntese, irá estimular a “orkutização” da sua timeline, com ênfase para os “ursinhos carinhosos”.

Nas “Primaveras Árabes”, que foram artificialmente forjadas e disseminadas pelas redes sociais, o Facebook jogou um papel de destaque naquele fenômeno que parecia nobre, mas que o tempo revelou ser apenas mais uma manobra do conluio entre o capital vadio, piratas do petróleo e a indústria das armas.

A internet tem vocação socialista, pois o “dividir” é algo inerente aos humanos empáticos e preocupados com o bem comum, ainda que este verbo seja substituído na linguagem tecnológica por outro, “compartilhar”. O certo é que as redes sociais nasceram para a troca de informação e impressões entre os usuários. Isso não vai ser substituído por tribos de pensamentos convergentes. A bolha sempre estoura.

O Facebook sabia que o seu poder de influenciar as democracias tinha o prazo de validade vencido. Por isso, corre desesperadamente para evitar que as novas plataformas em teste ganhem espaço e promovam a verdadeira democracia na internet, sem a censura apresentada sob a máscara do “combate ao Fake News” que alguns sabujos ainda tentam defender como “uma bela iniciativa” para conferir alguma credibilidade a este pirata digital.

Sabemos que o ódio, que foi hipervalorizado nos algoritmos do Facebook, é um sentimento que não se sustenta por muito tempo. As pessoas, todas elas, por mais idiotas que possam parecer, querem paz e harmonia. O Facebook não será capaz de resgatar na sua plataforma um ambiente “recatado e do lar”, pois alguns usuários incorporaram personagens atribuídas aos próprios perfis e não suportariam a vergonha de parecerem bonzinhos e amáveis.

A imprensa, inclusive a chamada alternativa, que mordeu a isca e abandonou as próprias páginas para fazer do Facebook o seu “porto seguro”, agora percebe que construiu castelo de areia. Sem a possibilidade de ter destaque nas páginas dos usuários, mesmo quando autorizadas por eles, essas empresas de comunicação viraram reféns do sistema de cobrança, bem ao estilo “ou dá, ou desce”, introduzido pelo “Face”, como é carinhosamente chamada esta plataforma pelos portadores da “Síndrome de Estocolmo”.

A nova política do Facebook é um choque elétrico na acomodação do falso jornalismo. Agora, para ter audiência, tem que ter conteúdo de boa qualidade, tem que se preocupar menos com o “Fake News” ou infográficos banais e muito mais em investigar e revelar o “Ghost News” que sempre foi escondido dos noticiários, pois assim como as bruxas, a notícia fantasma “nós não vemos, mas que elas existem, existem”.

Políticos, empresas, celebridades, profissionais liberais, etc. a lista de sequestrados é enorme. E isso é o lado bom da história, pois a busca por novas plataformas, sem servidores e estáveis, reforça a necessidade de politizarmos tudo o que fazemos nos mundos real e virtual. É a verdadeira essência socialista da internet que é resgatada graças ao declínio do império digital do Facebook.

A cadeia de blocos, ou blockchain, que, entre outras coisas, garante a segurança das operações realizadas por criptomoedas – as Bitcoins, tem sido usada como teste para uma nova rede social, independente e sem filtros. O Facebook tenta em vão lançar algo semelhante, mas sabe que a iniciativa do “FaceCoins” (nome hipotético) é o mesmo que nadar contra a maré. Sem confiança não há moeda forte.

Mesmo que estranhamente uma avalanche de notícias publicadas tente tirar a confiança das pessoas na criptomoeda Bitcoin, a consciência política dos seus primeiros usuários será capaz de fazê-la resistir. Ninguém vai querer abandonar uma moeda digital descentralizada para virar refém do controle de imperialistas e piratas.

Se é verdade que o Facebook foi construído para aproximar as pessoas e construir relacionamentos, também é verdade que promoveu muito mais a discórdia e a distorção da verdade. O tempo foi o grande professor dos usuários que, após um período de casamento feliz, perderam a ingenuidade e perceberam que foram usados como massa de manobra. E pior, controlados por robôs que fizeram o humano repetir slogans, usar acriticamente na sua foto de perfil a bandeira de alguns países, se comover com o que era conveniente para os caçadores sem perceber que seriam as próximas caças.

As recentes postagens de Mark Zuckerberg, o “dono da zorra toda”, revelam que o conteúdo de empresas, organizações e mídia “será menos visível”. Para ele, (com a nova política) se o Facebook vai obter mais lixo ou boa qualidade, dependerá do conteúdo produzido pelos usuários em combinação com os algoritmos. “Nós (Facebook) simplesmente temos que assumir a responsabilidade e parar de ser tão amaldiçoados”, coitadinhos. E quem acredita nisso que siga ajudando o “Zuckinho” a comer caviar.



Postado em Duplo Expresso em 13/01/2018



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