A elite persegue Lula, mas o sentido de Lula persegue a elite. Por Gustavo Conde



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Fernando Brito

A elite brasileira – e incluo nela boa parte de seus ditos intelectuais que não aderem à ideia que compreender o mundo não se separa de transformá-lo – tem um fantasma que a assombra, a cada dia, a cada ato, acada segundo: Lula.

Não pelo que Lula, o velho homem de 71 anos, é , em si. Mas porque, neste final de século 20, início do 21, passou a ser o signo de um significante que habitou sempre, à procura de formas, de um povo em formação, de uma Nação que não tem outro caminho, pelo seu tamanho e riqueza, senão o de construir-se como tal.

Foi assim com todas elas: os EUA, a Rússia, a China, a Índia…

Recebo, pelo Facebook, o ótimo texto de um jovem, Gustavo Conde, que traduz muito bem este processo de onipresença de Lula na vida brasileira e o transcrevo, porque, façam o que fizerem, construíram uma lenda e lendas, é só olhar para trás, vivem muito mais e mais fortes que os meros fatos no imaginário coletivo que, afinal, é o faz uma nação:
Eu não queria dizer isso. Pode ferir sensibilidades, desmanchar castelos de areia, coisa e tal. Mas, que se dane. O fato, nu e cru, é que Lula vai sendo canonizado, imortalizado e santificado no altar máximo da glorificação histórica. Nem Che Guevara, nem Fidel Castro, nem Nelson Mandela chegaram perto dessa dimensão.
E essa consagração é insuspeita: não há maior prêmio nem maior insígnia do que ser perseguido e caçado com este nível de violência pelo aparelhamento judicial e financeiro em uníssono, com o auxílio de toda a imprensa e dos serviços de “inteligência” nacionais e estrangeiros. É o maior reconhecimento de uma vida que teve um sentido maior, léguas de distância do que a maioria de nós poderia sonhar.

Nem todos os títulos honoris causa do mundo juntos equivalem a essa deferência: ser perseguido por gente do sistema, por representantes máximos do capital, da normatização social e da covardia intelectual, gente que pertence ao lado fascista da história.
Não há Prêmio Nobel que possa simbolizar a atuação democrática de Lula no mundo, nem todos os prêmios que Lula de fato ganhou ou recusou (a lista é imensa, uma das maiores do mundo). Porque a honraria mesmo que se desenha é esta em curso: ser o alvo máximo do ódio de classe e o alvo máximo do pânico democrático que tem fobia a voto.
Habitar 24 horas por dia a mente desértica dos inimigos da democracia e povoar quase a totalidade do noticiário político de um país durante 40 anos, dando significado a toda e qualquer movimentação social na direção de mais direitos e mais soberania, acreditem, não é pouco.
Talvez, não haja prêmio maior no mundo porque Lula é, ele mesmo, o prêmio. É ele que todos querem, para o bem ou para o mal. É o líder-fetiche, a rocha que ninguém quebra, o troféu, a origem, a voz inaugural, rouca, que carrega as marcas da história no timbre e na gramática.
Há de se agradecer essa grande homenagem histórica que o Brasil vem fazendo com extremo esmero a este cidadão do mundo. Ele poderia ter sido esquecido, como FHC. Mas, não. Caminha para a eternidade, para o Olimpo, não dos mártires, mas dos homens que lutaram e fizeram valer uma vida em toda a sua dimensão espiritual e humana.
A esquerda brasileira, de forte inspiração católica, costuma confundir santidade com pureza. No fundo, alguns como os microcéfalos de extrema direita, confundem mito – que é falso e frágil como o indivíduo – com lenda, que traduz uma história coletiva.

Tal como acreditam que possa existir paraíso, do qual depois de cruzados os umbrais, verdes e flores nos aguardam. Não, lamento, existe uma batalha que não cessa e batalhas precisam de bandeiras.

É isso o que os pretensiosos não compreendem. Que Lula pode ser e é um ser humano, com defeitos, dores, cansaços, erros, limitações. Mas transcende tudo isso porque tem mais que um significado racional para cada brasileiro.

É um significante, algo que nos vem à mente quando pensamos que este país tem de ser o que é: grande, enorme, e dos brasileiros.

E por isso desponta gigantesco quando olhamos, desolados, o oceano de mediocridade que encobre a vida brasileira.



Postado em O Tijolaço em 17/10/2017



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