Especialista afirma que árvores podem fazer amigos
e cuidar umas das outras
João Rabay
As árvores não são “robôs orgânicos” que apenas produzem oxigênio e madeira. Elas são capazes de escolher o que fazer, têm memórias e até diferentes personalidades. Também são capazes de fazer amizade e ajudar umas às outras. Quem diz é o alemão Peter Wohlleben, especialista em árvores e guarda-florestal com anos de experiência.
No ano passado, ele lançou um livro, chamado A Vida Escondida das Árvores (ainda sem versão brasileira), que se tornou best-seller na Alemanha e foi traduzido em 19 idiomas, inclusive o português de Portugal. Nele, o autor explica de forma descontraída o que aprendeu nas décadas em que trabalhou nas florestas do país.
Foto: Gordon Welters/NY Times
Segundo Peter, as florestas são uma grande comunidade que vive em conjunto. “Quando estudava, aprendi que as árvores competem entre si por luz e por espaço. Anos depois, percebi que era o contrário: elas se ajudam”. A conclusão veio quando, passeando pela floresta da qual ele cuida, perto da fronteira com a Bélgica, encontrou um toco de árvore ainda vivo.
O toco tinha de 400 a 500 anos de idade, e nenhuma ramificação ou folha. Como ele poderia continuar vivo? A resposta que ele encontrou é que as árvores ao redor lhe transmitiam uma solução açucarada através das raízes, o que permitia que ele continuasse se nutrindo.
Foto: Peter Wohlleben
As árvores se comunicam através de sinais elétricos transmitidos pelas raízes e por sinais químicos através dos enormes fungos que ficam sob o solo. Elas avisam umas às outras sobre perigos como insetos, períodos de seca ou mesmo a ação humana, com galhos sendo cortados.
A visão de Peter sobre as árvores nem sempre foi essa: por vários anos ele trabalhou cuidando delas para que se tornassem boas fontes de madeira. Ele escolhia quais estavam prontas e as cortava. Seu olhar mudou quando, guiando grupos pela floresta, percebeu que os turistas gostavam de árvores retorcidas, que ele considerava ruins para a derrubada.
Foto: Ranger McGrane
Esses troncos tortos o fizeram perceber que nem sempre as árvores disputam o espaço: às vezes elas fazem o possível para crescer sem atrapalhar as vizinhas, demonstrando grande senso de comunidade. “Não sabemos nem de metade do que acontece sob a terra, e, no último século, a ciência olha para a natureza como se ela fosse uma máquina”.
Peter diz também que as árvores nem sempre são amigáveis, e algumas vezes se unem contra outras espécies para preservar seus recursos. “Faias costumam não aceitar a presença de carvalhos, os atrapalhando até que eles enfraqueçam”. E cada espécie tem uma personalidade: “Salgueiros são solitários, suas sementes voam longe e as árvores crescem rápidas. Mas, sozinhas, não vivem muito”. Já as árvores nas cidades estão, segundo ele, “isoladas e lutando contra as probabilidades, já que não têm raízes fortes”.
Foto: Reprodução/Intelligent Trees
Mas ele não gosta de ser visto como um “abraçador de árvores”, como ele mesmo define. Peter ressalta que o que ele escreve é apoiado por pesquisas científicas, como as da Professora Suzanne Simard, da Universidade de British Columbia, a quem ele se uniu para lançar um documentário, chamado Intelligent Trees (“Árvores Inteligentes”), com o objetivo de espalhar seus conhecimentos. Confira o trailer, em inglês:
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