Uma calamidade pública
Esta é mais uma das Cartas aos Golpistas. No futuro, elas poderão ser reunidas num livro que recapitule o golpe de 16.
Caro Temer: você conseguiu destruir até a alegria que deveria preceder um acontecimento como as Olimpíadas.
Você não é apenas um golpista. É um destruidor.
Um destruidor de esperanças, um destruidor de futuro, um destruidor de sorrisos e de alegrias.
Você também é um péssimo exemplo de caráter. Passará para a história como aquele que apunhalou pelas costas 54 milhões de votos.
Você simboliza o atraso no conteúdo e na embalagem, com suas mesóclises arcaicas e com seus maus versos.
Até seu casamento é um clichê: o velho rico e botocado e a linda menina pobre. Ao ver o casal a grande máxima de Nelson Rodrigues é inevitável: “O dinheiro compra até o amor verdadeiro.”
Você não chega a ser um plutocrata. É um servo, é um fâmulo da plutocracia. Foi usado circunstancialmente pelos plutocratas para tirar na marra do poder um governo que cometeu o crime de colocar os miseráveis na agenda.
O povo não reconhece pessoas como você.
Um terço dos brasileiros sequer sabe seu nome. Apenas um entre sete aprova seu governo. Quatro entre dez entendem que você chegou ao Planalto por um processo sujo — e isso mesmo com todo o apoio da imprensa.
Não importa o que aconteça, você já fracassou. Não há nada que você possa fazer para mudar isso. Não há nada que jornais e revistas possam fazer para elevá-lo do abismo a que a traição o conduziu.
Veja, por exemplo, o que ocorreu com a Folha de S. Paulo ao tentar inflá-lo artificialmente por meio de uma fraude numa pesquisa Datafolha.
A Folha saiu desmoralizada. O Datafolha saiu desmoralizado. Até o Globo saiu desmoralizado ao atribuir as críticas a “blogs petistas”, uma canalhice desmentida pela própria ombudsman da Folha, que reconheceu o erro.
E você saiu também desmoralizado: a mídia pode muito, mas não pode transformar um político de terceira categoria num estadista.
Você foi uma vergonha até como interino. Agiu indevidamente como se fosse titular. Usou a caneta provisória para comprar a permanência numa posição que não é a sua. Distribuiu sem nenhum pudor cargos para senadores corruptíveis, que se deixam seduzir pelo brilho frio das moedas.
Caro Temer: cada dia com você é um dia a menos para o avanço do país rumo a uma sociedade menos abjetamente injusta.
Um estadista traz luzes para um país. O senhor traz sombras.
Sinceramente.
Paulo
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Postado em DCM em 24/07/2016
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