Emilia Freire
Uma palpitaçãozinha, o peito começa a apertar, as mãos suam… e ainda há tempo para tentar entender o que se passa.
Levei um susto? No que acabei de pensar? Que preocupação ronda secretamente meus pensamentos? Por que de repente me sinto assim, prestes a cair de um despenhadeiro?
Em seguida, um descompasso generalizado. Respira, respira, respira fundo! E uma bruta sensação de desamparo, de solidão, de que as pernas pararão de obedecer, o ar vai faltar. Vou desmaiar, vou cair, vou morrer, vou sucumbir.
Mais uma crise de ansiedade, que vem como uma tromba d’água, arrastando tudo o que vê pela frente, despertando o exército de inseguranças e medos, fazendo as veias saltarem, os olhos esbugalharem e a alma assombrar-se.
Como uma sensação dessas se instala na gente, sem aviso, sem sinais, sem causas óbvias muitas vezes? Será que todo mundo já sentiu isso uma vez ao menos?
Me espanto todas as vezes, que acontece. Sim, acontece comigo e eu morro de medo. É incontrolável demais, fico com ânsia de mandar minha alma correr para fora do corpo. Penso que ninguém imagina a dimensão desses monstros a não ser quando capturados por eles.
Crise de pânico, de ansiedade, piti, chilique, surto… que importa o nome do monstro? O que me interessa saber de tudo isso se não for para aprender a me proteger, me resguardar, salvar minha sanidade das bocadas desse bicho?
Mais uma enfermidade moderna, mais uma consequência de emoções e paixões descontroladas de nossa época, dos passos descompassados, dos medos e sustos, neuroses e paranoias muito bem alimentadas.
Talvez seja o preço que estamos pagando pelo progresso, pela vida que já deixou há muito tempo de ser construída para humanos e sim para máquinas.
Talvez estejamos nos fragilizando de susto, com tantas tecnologias, com tanta gente no mundo, com a correria e atraso constantes .
Talvez seja qualquer coisa que não conseguimos entender agora, porque estamos doentes de ansiedade…
Talvez, em algum lugar dentro de nós, more uma pessoa tranquila, dócil, bem humorada e esperançosa, mas que está trancafiada sobrevivendo com o mínimo, calada e ameaçada, pois não é a pessoa que pode se apresentar à sociedade dos dias de hoje.
Talvez tenhamos apagado e rabiscado tanto a nossa personalidade para poder nos posicionar bem na vida, que por fim, um dia, os defeitos começam a sair, como os suores e tremores.
Pode ser a pessoa interna, a alma verdadeira, implorando para sair. E nessa seara, cada um sabe a porta que consegue abrir.
Postado no Conti Outra
Nenhum comentário:
Postar um comentário