A única coisa que se salvou no programa do PSDB foi a ausência de Serra
Paulo Nogueira
A única coisa que se salvou no programa do PSDB foi a ausência de Serra
Bem, mas mesmo assim ele conseguiu ser pior do que minhas mais baixas expectativas.
A única coisa decente foi a ausência de Serra.
O problema maior está na essência da mensagem.
As pessoas são instadas a achar que a maior tragédia nacional é a corrupção, e não a desigualdade.
E especificamente a corrupção depois dos anos FHC.
A partir dessa base cínica, errada e demagógica não há conteúdo que resista.
E então fomos obrigados a ver FHC dar lição de moral, ele que comprou a emenda da reeleição.
Ao agir assim, FHC trata o brasileiro como um idiota.
Onde está o sociólogo? Desapareceu para dar lugar ao demagogo?
Compare.
Poucas semanas atrás, o sociólogo italiano Domenico de Mais traçou um retrato do Brasil que faz FHC parecer um aprendiz desorientado.
Com propriedade, Domenico disse que o mal maior do Brasil é a desigualdade social. A corrupção – que deve ser combatida, e está sendo, aliás – é uma migalha comparada à iniquidade.
Acabe com a corrupção. Se você não acabar também com a desigualdade nada vai mudar.
Continuaremos a ter os extremos de opulência e miséria tão condenados por Rousseau.
Acabe com a desigualdade. O resto vem, e rápido. Sociedades igualitárias são muito menos corruptas que as demais, como bem mostra a Escandinávia.
E mesmo assim você não encontra um líder tucano que não fale em corrupção.
Até nisso o PSDB deveria se atualizar. Os tucanos usam, sem sucesso, a mesma arma desonesta que a direita empregou nos anos 1950 e 1960 para derrubar Getúlio e Jango.
Lacerda falava no “mar de lama”, e até essa expressão foi copiada por Aécio em sua fracassada campanha.
É uma estratégia velha – e despudorada.
Todos sabem que o presidente do PSDB anterior a Aécio recebeu 10 milhões de reais para não levar adiante uma CPI da Petrobras.
Todos sabem também do aeroporto privativo que Aécio mandou construir em Cláudio, em terras da família.
E mesmo assim os tucanos falam malandramente em corrupção como se fossem carmelitas.
Só quem leva a sério é aquele público que foi acertadamente caracterizado como “midiotas” – os analfabetos políticos que, sob o estímulo imbecilizador da imprensa, gostam de bater panelas e se enrolar em bandeiras para protestar na Paulista.
Fica a impressão de que FHC não tem ideia do mal que faz à imagem que o futuro guardará dele como político e intelectual ao falar tanto em corrupção.
Como presidente, ainda será julgado pela posteridade. A estabilização foi uma vitória, mas um olhar mais profundo sobre o programa de privatizações à Thatcher pode ser fatal para sua reputação póstuma.
Como sociólogo, dada sua monomania – a corrupção –, FHC já foi para a lata do lixo faz muito tempo.
Postado no Contraponto em 20/05/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário