O formidável, corajoso e impactante artigo do jornalista britânico John Pilger, “Por que a ascensão do fascismo é de novo a questão” [1] reforça as contribuições mais recentes de intelectuais e militantes marxistas que passaram a alertar sobre a ascensão de correntes e partidos neofascistas. Ademais de pouco assinalada transmutação do termo fascismo e seus signos.
Segundo Pilger, a partir mesmo de 1945, mais de um terço dos países membros das Nações Unidas (69 países) foram objeto de algumas ou de todas as seguintes formas de intervenção nas mãos do fascismo moderno dos Estados Unidos: “foram invadidos, seus governos derrubados, seus movimentos populares esmagados, suas eleições subvertidas, seu povo bombardeado e suas economias despojadas de toda proteção” sem falar em sociedades perversamente destroçadas por “sanções”.
Milhões de mortos, conforme o historiador também britânico Mark Curtis; e para isso e em cada um dos casos, uma grande mentira foi preconcebida. Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria...
Matanças sem fim
Acusando irrefutavelmente os crimes imperialistas nucleados e perpetrados desde então pelos Estados Unidos da América, Pilger lembra que “o elemento comum no fascismo” ontem como hoje, “é o assassinato em massa”.
Exemplifica a invasão norte-americana do Vietnã onde havia teve suas “zonas de fogo livre”, de “contagem de corpos”, seus “efeitos colaterais”. Descreve que no estado de Quang Ngai – Pilger foi correspondente de guerra e esteve lá – “muitos milhares de civis (‘gooks’) foram assassinados pelos Estados Unidos”.
Nos casos do Laos e do Camboja, avalia ter havido “o maior bombardeio aéreo da história produziu uma época de terror até hoje marcada pelo espetáculo de crateras feitas à bomba, as quais, vistas de cima, parecem monstruosos colares”.
“Hoje”, sentencia o jornalista: “a maior campanha isolada de terror do mundo envolve a execução de famílias inteiras, de convidados em casamentos, de enlutados em funerais”, - as vítimas de Obama.
E recorrendo a reportagens do The New York Times, diz que Obama faz a sua seleção a partir de uma “lista de morte” apresentada a ele todas as terças-feiras na Sala da Situação da Casa Branca.
Assim, sem qualquer insinuação de legalidade, Obama “decide quem vai morrer e quem vai viver”. Ordenando o uso dos drones, “mísseis [helfilre] calcinam suas vítimas e enfeitam a área com seus restos mortais”. Cada bombardeio é retratado na tela de controle remoto como um “bugsplat” (inseto esmagado).
O cerco à Rússia de Putin
Pilger denuncia vigorosamente ainda os acontecimentos recentes da Ucrânia. Recorda o 2 de Maio de 2014, em Odessa, quando 41 pessoas de etnia russa “foram queimadas vivas na sede sindical”, com a polícia apenas assistindo. Dmytro Yarosh (chefe do partido “Setor de Direita”) então saudou o massacre como “outro dia brilhante na nossa história nacional”.
A mídia norte-americana e britânica classificou o massacre de “tragédia horrível”, mas resultante de “confrontos” entre “nacionalistas” (neonazistas) e “separatistas” (pessoas que recolhiam assinaturas para um referendo por uma Ucrânia federal).
O porta-voz da oligarquia financista Wall Street Journal condenou as vítimas: “Incêndio mortal provavelmente provocado pelos rebeldes”, declarou o Governo. Obama felicitou a o governo provisório neonazista por sua “moderação”. O objetivo dos EUA e da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é o cerco e desmembramento da Rússia e seu entorno.
Avanço neofascista na Europa
A sistemática conduta neofascista e criminosa dos EUA se entrecruza agora com crise sistêmica e global do capitalismo, iniciada em 2007-2008 e que persiste a provocar por toda parte ambientes de descrédito, desesperança, desemprego, aumento de suicídios, do consumo de drogas pesadas e crescimento de doenças mentais, bem como crescentemente esquentando um caldo de cultura favorável ao crescimento de idéias e movimentos neofascistas.
O caso da Europa é pródigo em exemplos, que vão desde a razoável representação parlamentar do partido “Aurora Dourada”, (abertamente nazista, da Grécia); também o Partido Nacional Democrata Alemão (NPD), declaradamente nazista, em 2014 elegeu pela primeira vez um deputado ao Parlamento Europeu obtendo 1% dos votos; na França o crescimento da extrema-direita (neofascista), a Frente Nacional que teve 25% dos votos ao parlamento europeu etc. [2]
Denunciar, combater e derrotar os golpistas no Brasil!
Desnecessário repetir sobre a insana conduta da direção golpista que insuflou abertamente as manifestações do 15 de Março em nosso país.
Elas seguiram uma linha de ataques, desrespeito, mentiras e calúnias contra a Presidenta da República, ensaiando um teatro obscurantista, e nunca visto nas terras de Tiradentes, Bonifácio e Osvaldão. O que se somou às claras com a histeria fascista de grupelhos e degenerados das camadas médias da sociedade brasileira a clamar por “intervenção militar”.
Tudo isso tem sido dirigido e conduzido ideologicamente pela horda de bandidos em que se transformaram os apátridas Aloísio Nunes, Aécio Neves, FHC, Álvaro Dias, notadamente, todos bajulados diuturnamente por uma mídia apodrecida.
O primeiro declarou à mídia querer “sangrar até o fim” a Presidenta Dilma; o segundo escreveu em nome de vários golpistas um protocolo (apócrifo) de pedido de impeachment, logo recusado pelo Ministro Zavascki (STF); o terceiro forjou “entrevista” para dizer que uma pesquisa que encontrara queda na popularidade da Presidenta significaria “o descrédito” e perda “das condições de governar”; o quarto, conhecido oportunista desonesto e reacionário, surfou na ideia de a tal pesquisa colocar na ordem do dia o impeachment.
Como revelou o renomado cientista político Moniz Bandeira, em recentíssima entrevista, [3] à pergunta: “o governo da Venezuela tem denunciado a participação de Washington em tentativas de golpe. O mesmo poderia estar acontecendo em relação ao Brasil?”, respondeu ele:
“Evidentemente há atores, profissionais muito bem pagos, que atuam tanto na Venezuela, Argentina e Brasil, integrantes ou não de ONGs, a serviço da USAID, Now Endowment for Democracy (NED) e outras entidades americanas”. E prossegue o professor Bandeira: “As demonstrações de 2013 e as últimas, contra a eleição da presidente Dilma Rousseff, não foram evidentemente espontâneas. Os atores, com o suporte externo, fomentam e encorajam a aguda luta de classe no Brasil, intensificada desde que um líder sindical, Lula, foi eleito presidente da República”.
Que ninguém se iluda: esses golpistas declarados ao promover a campanha pelo seqüestro do mandato da Presidenta da República juntam-se aos fascistas e transpiram a sua fedentina.
[2] Concretamente, em 25 de Maio passado, nas eleições para o Parlamento Europeu a extrema-direita venceu as eleições na França, Grã-Bretanha e Dinamarca, e cresceu na Áustria Hungria e Grécia.
[3] Entrevista ao site do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados, 17/03/2015.
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