Distraído com o celular, homem não vê baleia que passa
ao lado do barco (leia aqui)
Do homem no celular que não viu a baleia passar e o retrato de nossos tempos
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Confesso que quando passei o olhar ligeiramente sobre a chamada, pensei que devesse se tratar de apenas mais uma das diversas notícias duvidosas ou falaciosas que comumente circulam pelas redes sociais. Não era possível! Como um homem não poderia perceber uma visita nada discreta e tão rara?
Ao que tudo indica sim, é possível. A Aldeia Global de McLuhan parece realmente ter se esfacelada. Ou não: ao mesmo tempo em que parecemos estar todos mais próximos, seja por whatsapp, facebook, skype, sms, etc., paradoxalmente estamos nos afastando do momento presente e de tudo aquilo que acontece ao nosso redor. São os dois lados de uma mesma moeda, consequência da dinâmica de globalização tecnológica.
De fato, já podemos observar uma geração de jovens cada vez mais desinteressada e apática. Se por um lado testemunhamos uma era de co-presença virtual dos indivíduos, a era dos humanos ligados ao instante, por outro podemos observar o surgimento de um ser humano cada vez mais distante e indiferente, em outras palavras, insípido.
Este novo ser está tão conectado (ao mundo online) que acaba por se desconectar de sua própria realidade concreta e palpável, acontecendo exatamente no seu entorno, a cada instante e minuto.
E o que pode acontecer em um minuto? Bem, em um minuto podem ser postadas 72 horas de vídeo no YouTube, enquanto 204 milhões de emails chegam aos seus destinatários e 350 GB de dados são recebidos pelos servidores do Facebook… ou pode passar uma baleia ao seu lado (se estiver em alto mar, é claro).
De qualquer forma, estes foram os dados angariados pela Qmee, empresa de consultoria norte-americana, e diz respeito a uma parte do que acontece pela internet afora enquanto em um minuto um evento precioso pode passar despercebido.
E assim a vida transcorre de minuto a minuto. As informações coletadas nos revelam que estamos deixando a vida passar enquanto ficamos hipnotizados pelo visor e por uma exacerbada interação a distância. Não sei se foi exatamente esse o caso do rapaz que perdeu a chance extraordinária de experimentar a real sensação de estar lado a lado com um dos maiores animais do planeta.
Não há como tirar conclusões, muito menos julgar a atitude do homem no veleiro como certa ou errada. Mas faz pensar sobre as consequências da extrema conectividade que parece estar suplantando o interesse pelas coisas mais simples do mundo.
E que mundo é esse que parece já não surtir tanta graciosidade sobre os nossos olhos, que buscamos tão fervorosamente escapar, distraindo-nos?
Reinventar a graça do mundo é reinventar o olhar, é abrir-se sensivelmente para a realidade que o cerca ao enxergá-la como se fosse pela primeira vez.
Você poderá se surpreender!
Postado no site Conti Outra em 16/02/2015
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