A Indonésia executou um brasileiro por tráfico de drogas. Outros homens também foram fuzilados. A pena de morte é um resquício da barbárie em pretensas civilizações.
É a lei de Talião.
Matar um homem imobilizado é o supremo ato de covardia. Bandidos fazem isso. O Estado não pode fazê-lo.
Ainda mais para punir um crime sem sangue. Não foi assassinato. Não foi latrocínio. Não foi estupro.
A mesma Indonésia não condena à morte terroristas.
Interessante é que liberais, defensores da não intervenção estatal em economia, costumam defender o máximo de intervenção estatal em comportamento. Se um adulto quer se drogar ou se matar, o que Estado tem a ver com isso? Deveria o Estado fazer campanhas educativas. Mais do que isso é intervir na esfera privada.
Os liberais em economia adoram um ditadura política e comportamental. Liberais brasileiros tiveram no ditador Pinochet um ídolo. Liberais brasileiros bancaram nossa ditadura de 1964 a 1989. São liberais em economia que buscam na intervenção estatal máxima a realização dos seus delírios de não intervenção do Estado em economia.
Em bom português, aproveitadores que adoram subsídios estatais, sonegação de impostos e tetas.
A única lei que reconhecem é: tudo é bom para ganhar mais dinheiro.
O Estado deles deve existir para forçar a mão de obra a se reproduzir e aceitar as regras do jogo.
Todo consumo de drogas que provocam dependência é lamentável. A proibição, porém, não resolve. Gera tráfico, violência e corrupção. É guerra perdida porque adultos querem consumir e não se pode prender metade da população de um país.
Os liberais em economia, defensores até da pena de morte para traficantes de drogas, não pedem a proibição do álcool, a droga que mais mata, nem do cigarro, a droga que mata lentamente sem provocar alucinações e outros baratos ou caros que modificam a percepção dos consumidores. Aí pode.
O cigarro é a pior das drogas. Mata sem fazer alarde e ainda afeta quem estiver por perto e nem for fumante.
Um liberal coerente deve pedir a liberação de todas as drogas. Ou, se tiver argumentos, a proibição de todas.
Fico pensando, por outro lado, nos carrascos, os seres humanos que aceitam executar um homem a mando do Estado. Que pessoas repugnantes! Que destinos infelizes! O que pode levar alguém a aceitar esse ofício?
Quase tão triste quanto isso é o aplauso de “pessoas de bem” a uma execução com base nas falácias do
“que serva de exemplo”, “lei é lei” ou “ele sabia que lá tráfico da pena de morte”. Muitas dessas pessoas são as mesmas que cometem infrações de trânsito e não querem pagar a multa. Nesse caso, lei não é lei.
O argumento do livre arbítrio – ele escolheu seu destino – favorece a tese da liberação das drogas: adultos devem poder decidir o que querem fazer com seus corpos sem que o Estado lhes imponha limites.
O Estado deve existir para me proteger de outros, não de mim mesmo e de minhas decisões.
Cabe ao Estado, como faz com o álcool, proteger menores.
Qual a diferença entre álcool e cocaína? Ambos matam, destroem famílias, comprometem destinos. O álcool, por ser liberado, não carrega as mortes do tráfico e da corrupção. Bastam-lhe as do trânsito e das brigas de bar.
O cigarro é o assassino silencioso. Paga impostos, gera empregos. Pode. É fato consumado.
Em qualquer situação, o Estado matar um homem imobilizado é a negação da civilização.
Os aplausos revelam o pior da humanidade em cada um: ressentimento, gosto de sangue e simplismo.
Juremir Machado da Silva é escritor gaúcho, jornalista e professor universitário.
Postado no Blog Juremir Machado da Silva em 18/01/2015
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