Conselho Tutelar capta o espírito do tempo e ganha 2ª temporada
Bruno Viterbo
Foram cinco episódios para mostrar, mais uma vez, que a Record larga na frente na produção seriada na TV aberta.
A Record se aproveita daquilo que sua maior concorrente não conseguiu captar: o espírito do tempo e, com isso, garantindo muito mais qualidade do que quantidade.
Com Conselho Tutelar, a Record lançou luz a um tema que é jogado para escanteio no noticiário.
Em cinco episódios, o drama de crianças que sofrem maus tratos foram desmembrados de maneira tocante, sem ser piegas, além de expandir o tema para outros males da sociedade.
Assim como Plano Alto, que não foi uma só uma série sobre política (leia aqui), Conselho Tutelar não foi uma série somente sobre os dramas vividos pelas crianças.
Os casos envolveram todas as camadas da sociedade: pobres, brancos, ricos, pretos, médicos, viciados, mostrando que não importa a origem social.
O drama dos viciados em crack e a falta de condições para criar os pequenos em um ambiente insalubre, a mulher que vende a própria filha, a mãe que cria a filha como um animal…
Casos inspirados na vida real, que acontecem cotidianamente. Para ir às lágrimas foi um pulo.
Dentre todas as qualidades de Conselho Tutelar, a maior delas é, sem dúvida, o trabalho dramatúrgico realizado com aquelas crianças. Foi de uma realidade pouco vista em trabalhos desse tipo no Brasil, seja no cinema ou na TV.
A série teve fluidez e manteve a atenção até o fim. Seus episódios, densos, poderiam afugentar o telespectador. Porém, a estrutura dos episódios não davam brechas para fuga.
Escolher dois casos por episódio deu uma outra cara a esse tipo de série (procedural). Ligadas ao gênero policial/investigativo, essas séries geralmente tratam um caso por episódio, e seus desdobramentos (a investigação, suspeitos, conclusão).
Em Conselho Tutelar, os dois casos por dia eram intercalados com os dramas pessoais dos conselheiros Sereno (Roberto Bomtempo) e César (Paulo Vilela). O primeiro, o dilema entre proteger crianças e se dedicar à família e ao filho. O segundo, impulsivo, quer solucionar os casos para por uma pedra no passado, quando sofreu abuso sexual na infância.
O arco dramático da série foi exposto de maneira como poucos na TV brasileira.
Não gosto muito de falar sobre a história: ela tem que ser vista em sua íntegra.
É um trabalho dos mais importantes na história da TV brasileira.
O último episódio e suas cenas finais me deixaram apreensivo. Sereno na sala do juiz Brito (Paulo Gorgulho) e César prestes a por uma pedra (literalmente) no seu passado. A tela fica preta e, aí, é anunciada a segunda temporada da melhor série já exibida na TV.
Com isso, é provável que Plano Alto não tenha uma segunda temporada, pelo menos no primeiro semestre. Gorgulho, do jeito que Plano Alto acabou, teria grande destaque. Em Conselho Tutelar, também tem um papel importante.
A série merece todos os elogios e prêmios não somente por sua qualidade de produção, mas por prestar um relevante serviço para a sociedade brasileira ao abordar um tema tão delicado e que deve ser posto em debate. Considerando que a audiência correspondeu — a série deu mais de 7 pontos —, um detalhe mais importante que isso: a #ConselhoTutelar esteve, sempre, entre os assuntos mais comentados do twitter. Uma surpresa. Uma grata e bem vinda surpresa.
No mais, fica a já aguardadíssima segunda temporada de Conselho Tutelar, e espero também que a Record olhe com carinho para uma próxima de Plano Alto.
A emissora merece todo o reconhecimento pelo esforço em entregar produtos de qualidade e muito mais próximos de nossa realidade, e o público merece se ver na tela.
Postado no site Medium em 06/12/2014
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