Nos últimos dias tenho que deparado com inúmeras conversas onde o tema naturalmente converge para a polêmica: sentimentos, relacionamentos, alegrias e decepções amorosas que aparecem e misteriosamente somem da vida das pessoas.
Dessa forma devo corrigir a última afirmação. Saem as "decepções amorosas" e entram, posso assim dizer as "decepções da paixão".
Sim, pois o substantivo, verbo, adjetivo, pronome, ou seja lá qual a categoria gramatical da palavra "amor" vai muito além de algo passageiro. O amor é um sentimento sublime, que ou dura para toda vida, ou que demoramos a vida toda para compreender, e com sorte encontrar.
Já diria Renato Russo, quem inventou o amor explica por favor. Já diriam incontáveis poetas e compositores, como é bom o amor, e como dói não ser correspondido, ou mesmo perder um grande amor.
São tantas músicas e demais expressões artísticas que falam sobre o tema, que fico me perguntando até que ponto o real significado do amor está presente. Concordo com Renato Russo pois ele deixa o sentimento pairando no ar.
Se pegarmos suas composições, ele não personifica o sentimento. Ao contrário de artistas que morrem de amor, ou então vivem um grande amor em uma composição de três minutos, a ideia de amor abstrato denotada por ele via de encontro com o que penso.
O amor é polimórfico, se transforma. O amor é abstrato, é diferente para cada alma que existe no universo. Ouvimos uma expressão de fé muito comum: "Deus é amor".
Essa é a base para muitas crenças. Motivo que leva muitos a idolatrarem uma religião. Mas não seria mais justo invertermos a expressão? Sim, o amor é um Deus, ou uma Deusa, visto que sexo também não se mistura com amor. Esse sentimento sublime é algo que só pode ser explicado se a pessoa entender o real motivo de vivê-lo.
O grande problema de se falar em amor, é que diariamente somos bombardeados por falsas explicações de amor.
Tudo o que nos passam é que o amor está em outra pessoa. Que você só será feliz se encontrar o amor da sua vida. Obrigatoriamente nos fazem acreditar que o amor vai se materializar em alguém. E nós, na grande maiorias mesquinhos, acreditamos.
Logo em seguida dizem que para encontrar o amor precisamos de um bom carro, uma boa casa, uma boa bebida, enfim, o amor vira uma moeda de troca. E isso estimula o amor... mas o amor ao capitalismo. O amor às coisas. O amor ao ter, ao invés de o amor ao ser. Duvida? Pense um pouco a respeito.
Escrevo isso pois fico desapontado em ver a grande maioria das pessoas em uma perseguição frenética pelo amor, que já começa pela busca no lugar errado.
Para estes, a busca pelo amor, obrigatoriamente, deve começar por uma paixão.
Aqui já existe uma grande chance da pessoa se frustrar. Sim, pois uma paixão é um sentimento implacável, rápido, rasteiro, arrebatador. Mas uma paixão é temporal, é como um dia, uma estação. Ela sempre acaba. Sim, ela sempre acaba. Estar apaixonado é uma das melhores sensações do mundo.
Mas, infelizmente, todas as boas sensações acabam. E quando uma paixão acaba, da mesma forma como uma droga, ela causa dependência. Ela exige que uma nova dose seja servida. Acontece que uma paixão não vem seguida de outra, pois são duas almas que precisam estar em sintonia.
Nesse momento a pessoa precisa extrapolar sua frustração. A paixão acabou, e ela insiste em achar que ali existia o amor. E como acabou, com o tempo ela passa a repudiar o amor. Talvez uma das formas mais básicas de enganar a si mesmo.
Sentimentos temporais jamais devem ser comparados, ou equiparados ao sentimento do amor.
Uma vez um amigo me disse: "eu já amei, perdi e hoje vivo frustrado com outra pessoa. Amar é uma sensação louca. Eu estava com ela e me sentia surfando nas ondas do Hawaí. Eu voltava, e depois me sentia saltando de um avião sem para-quedas. E sem medo algum de chegar ao solo". Confesso que gostei da maneira como expressou o sentimento. E confesso também que não senti algo parecido.
Certa vez me deparei com uma obra de filosofia onde o autor falava da escalada na escada do amor sublime.
Não me recordo ao certo todos os passos, mas ele dizia que primeiro tendemos a acreditar que o amor está na beleza. Mas este é só o primeiro degrau da escada. Lá pelo sexto ou sétimo degraus ele fala do amor sublime. Aquele sentimento que finalmente converge para nossa missão no universo. Aquele momento onde entendemos o porque tudo foi como foi. Entendemos que tudo foi como era para ter sido. Exatamente preciso, simples assim.
Como ouvimos das religiões, dos adivinhos, e dos artistas: na vida tudo tem um porquê. Resta-nos ter a curiosidade de descobrir e vivenciar as sensações a ponto de realmente fazermos por merecer chegar ao topo da escada sublime do amor. Não fiquemos eternamente no primeiro degrau.
Possivelmente saberemos que não amamos mais que uma vez. O amor é um fluxo que vai se estabelecendo aos poucos, e não depende, necessariamente, de outra pessoa.
O resto são sentimentos menores que confundimos com este ato sublime, amar.
Postado no blog Colono.com em 10/11/2012
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