Dia dos Professores


Recebi a seguinte mensagem carinhosa de minha amiga carioca, a Professora Glória Moraes, exemplo de abnegação:
Aos meus colegas, pelo Dia dos Professores,
Não queria ser professora, mas meu pai me impôs como se cursar o Instituto de Educação fosse servir à Pátria. Não me propus a educar crianças, dar-lhes limites, pois tenho a convicção de que esta é uma das funções da família, cabendo ao professor prepará-las para compreender o mundo. No curso Normal, li Paulo Freire e eu me encantei quando me dei conta de que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Que ninguém educa ninguémninguém educa a si mesmo, mas que nós nos educamos e nos formamos mediados por nossas relações, com os outros e com o mundo.
Depois, já no Ensino Superior, tive o privilégio de ter grandes mestres e eles me mostraram que não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino, e que aprender a pensar era antes de tudo saber questionar nossas certezas. Que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Em ambiente elitizado, como é o da Economia, eu me convenci de que a teoria sem a prática vira ‘verbalismo’, assim como a prática sem teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade. Mas não queria ser professora, e eu me formei disposta a conhecer ainda mais o mundo.
E andei por muitos caminhos, e me dei conta de que me movia como uma educadora, porque como me ensinou Paulo Freire, primeiro, “a gente se move como gente”. E creio que ninguém ignora tudoNinguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso, aprendemos sempre. E eu me dei conta de que a educação sozinha não transforma a sociedade, mas sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho se não viver a nossa opção.
Foi um longo caminho, e creio que muito há a percorrer. Procurando diminuir a distância entre o que digo e o que sinto; entre o que transmito e o que penso; ganho a vida como professora. Com todos os percalços dessa profissão, em País em que a sociedade não valoriza o conhecimento e o saber. Não! Não é o “governo”, este “ente abstrato” que desvaloriza a profissão. Somos nós, as famílias, nós que constituímos isto que se convencionou chamar sociedade que deixamos que o conhecimento e a curiosidade sobre os nossos semelhantes, sobre os nossos vizinhos, sobre a natureza e sobre o mundo se desvanecessem. Sucumbimos sob a pressão dos padrões de consumo e de comportamento e do que se convencionou chamar de entretenimento. Nossos filhos, em grande parte, não sentem o prazer de aprender.
Sinto um gosto de solidão às vésperas do Dia dos Professores. É como se a tristeza batesse à minha porta, pedindo para entrar. Gosto de ensinar quando me percebo capaz de apresentar um jeito diferente de se olhar o mundo, e gosto de aprender. Pode ser sobre um autor novo, sobre um tempero que faz uma comida ser mais saborosa, sobre a agilidade de minhas gatinhas tentando abocanhar um pássaro, sobre uma nova planta que floresce em meu jardim.
Durante muitos anos acreditei que a humanidade se movimentava pela curiosidade. Mas perdi a inocência, pois a ingenuidade não combina com a idade. Mas não quero perder a alegria, pois ela não chega apenas no enco ntro do achadomas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura,  fora da boniteza e da alegria.
Com toda licença, do Professor Paulo Freire, a quem tantos textos tomei emprestado, que consigamos trabalhar com alegria e esperança. Bom descanso no Dia dos Professores!
Meu carinho,
Glorinha Moraes.
Postado no blog Outas Mídias em 14/10/2012

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