Rio+20: duas visões



A Rio+20 é o inimigo (ou: contra a sustentabilidade)



por André Forastieri





A Rio+20 é uma idiotice, desperdício de tempo e dinheiro, e contraproducente. Não vai dar em rigorosamente nada. Nem teria por quê. Não há o que debater. Os parâmetros pré-determinados para o debate garantem o fracasso da conferência.


A imprensa mundial trata o evento com a desimportância que merece. Um giro minutos atrás por BBC, CNN, Guardian, New York Times e El País não mostrou uma linha sobre a Rio+20. Le Monde tem um artigo escondidinho — mas só usa o gancho da conferência para cutucar Dilma, explicando sua moleza com os ruralistas na história do novo Código Florestal.

A razão do fracasso da Rio+20 não é a ausência de Barack Obama, presidente do país mais poluidor e poderoso, ou Angela Merkel, líder do país que dá as cartas na eurolândia. Nem os vagalhões que solapam a economia do mundo em suas premissas fundamentais.

A Rio+20 não vai dar em nada porque é planejada cuidadosamente para não dar em nada. No que deu a Eco 92? O protocolo de Kyoto? As metas do milênio? Nada. São só relações públicas, propaganda para enganar os trouxas.

Os chefes de Estado vêm, posam para as fotos e tchau. Os diplomatas debatem colchetes, como se discutissem quantos anjos cabem na ponta de uma agulha, para justificar os salários. Estudantes e ongueiros fazem manifestações e eventos paralelos. Deve ser bom para arrumar namorada/o, ou pelo menos alguém para passar a noite, como aqueles antigos encontros da UNE.

A Rio+20 começa estúpida pelo nome: Conferência pelo Desenvolvimento Sustentável. Como disse o amigo André Barcinski, a próxima vez que alguém proferir a palavra "sustentabilidade" perto de mim, enforco o infeliz com uma sacola plástica. É um conceito impreciso, inútil e ofensivo.

Pergunte para a pessoa ao seu lado o que significa. Ninguém sabe. "Sustentabilidade" é um saladão de boas intenções, premeditadamente vago o suficiente para que todos possam assinar embaixo sem se comprometer de fato com nada, políticos, empresas, instituições, indivíduos.

A melhor alocação de nossos recursos naturais já é fato. Tudo que há na Terra, inclusive nós, somos alocados da maneira mais eficiente que conseguimos, para a geração dos maiores lucros possíveis. O nome disso é capitalismo. Deu certo para muitas coisas, errado para tantas outras. Permitiu o crescimento e enriquecimento explosivos da população do planeta, o que não foi nada mal. Há consequências e, palavra importante, externalidades.

O capitalismo financeiro do século 21 se alimenta dos recursos naturais - incluindo nós — a la Matrix, viu o filme? Como no clássico de ficção-científica que fechou com chave de ouro o século passado, o sistema (olha ele aí!) sua a energia dos nossos corpos, e nossos cérebros se distraem com um mundo virtual, aparentemente lógico, em que as decisões parecem tomadas livremente por seres humanos, baseados em premissas racionais.

É tudo mentira. A máquina devora o planeta e defeca lucro. Ponto.

Desliga essa TV, fecha esse jornal, e esquece essa babaquice de Rio+20. O que você precisa saber é urgente e é o seguinte: nos próximos quarenta anos a população do planeta Terra vai aumentar cinquenta por cento. A maioria esmagadora de escurinhos, em países pobres, dos quais muitos vão querer migrar para países mais abastados, naturalmente.

Se você acha que tua cidade está engarrafada, fedorenta, poluída e perigosa, vai se preparando. Se em 2012 o capitalismo não dá conta nem de garantir a subsistência dos aposentados na pacata Eurolândia, que dirá arrumar emprego, comida, água, casa e remédios para mais três bilhões de pessoas...



Que venha a Rio+40!

por Marco Antonio Araujo

Começou a Rio+20. Mas também podia estar acabando, tanto faz. Esse evento é a maior prova de que a humanidade não tem salvação. O ser humano, quando não é malévolo, é ingênuo. No fim, o resultado é sempre o mesmo.

Todos os supostos avanços ecológicos foram frutos da necessidade e do interesse das grandes corporações. O gás CFC, aquele dos aerossóis e refrigedores, não foi eliminado das linhas de produção por ser nefasto à natureza, mas simplesmente para que a indústria pudesse faturar bilhões substituindo aparelhos inofensivos.

O chamado discurso verde já foi incorporado pelo sistema, pelo establishment, tornou-se a grande coqueluche do status quo. Quem se acha um rebelde revolucionário por defender soluções sustentáveis para o planeta não passa de um palerma bem intencionado.

Observem como vão se desdobrar as “negociações” da Rio+20. Será um teatro do começo ao fim. Cada um dos agentes envolvidos sabe seu papel de cor. O planeta não sairá um milímetro de sua órbita inexorável.

O que parece um grande conflito entre nações ricas e pobres, com seus heróis e vilões, é somente uma opereta monótona repleta de bufões. Se Obama estará ausente ou não, convenhamos, não tem a menor influência nos protocolos que continuam inalterados desde a Rio 92. A humanidade não muda, ora pois.

Pois que venha a Rio+40. O planeta não está nem um pouco preocupado. Ele não corre nenhum risco. A Terra sabe se defender de piolhos e parasitas. Quem tem os dias contados, bem sabemos, somos nós, pobres mortais. Não somos recicláveis.

Postado no portal R7 em 13/06/2012

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