Tem gente que não consegue fechar a boca, fala pelos cotovelos, dá palpite em tudo e sobre tudo. Conhece, ou pensa conhecer, física quântica, música indiana, biologia marítima ou as regras do beisebol.
Conheci alguns tipos assim.
Um deles costumava almoçar com a gente, quando trabalhei numa revista no centro de São Paulo. À mesa, monopolizava a conversa. Queria dar a palavra final, fosse qual fosse o assunto. Com o tempo, saíamos da redação de fininho, sem que ele nos visse, para ter alguns minutos de paz enquanto comíamos.
Outro era tão chato que até a rodinha formada para discutir futebol se dispersava minutos depois que ele chegava e começava a pontificar, como um egrégio professor, seus pontos de vista sobre esquemas táticos, fundamentos do esporte e essas coisas que o torcedor comum odeia.
Ao observar o comportamento dos ministros do Supremo Tribunal Federal na sequência das acusações de Gilmar Mendes contra o ex-presidente Lula imediatamente me lembrei desses velhos colegas boquirrotos. Os nossos juristas são tal e qual eles: não conseguem se conter, têm a necessidade de opinar sobre qualquer tema, desde os mais triviais até os mais cabeludos - incluindo mesmo aqueles que são objeto de seu trabalho, ou seja, casos que ainda não foram julgados pela Corte.
É incrível como esses homens, que atingiram o mais alto posto na carreira que escolheram, não têm a menor noção sobre o comportamento público que devem adotar.
Basta ver uma câmera de televisão ou algum jornalista para que saiam palpitando como se estivessem com os amigos num botequim.
Eles agem como se fossem algum tipo de celebridade, dessas que recheiam as páginas da revista "Caras". Se lhes derem um banquinho, são capazes de subir nele e ficar discursando sem parar...
Pelo que falaram sobre o affair Mendes-Lula alguns desses ministros deveriam ser impedidos de julgar o tal "mensalão". O próprio Gilmar Mendes é um deles. Teve outro que se referiu ao caso como um "escândalo" - o que é isso senão um juízo de valor?
Um pouco mais de sobriedade não faria mal nenhum aos nossos dignos juízes.
Será que eles não percebem que, quanto mais famosos, quanto mais expostos ao público, quanto mais aparecerem nesses programas de entrevistas, quanto mais declarações derem sobre seja lá o que for, estarão dificultando a sua missão de preservar o escopo jurídico-institucional da nação?
O homem é um animal político, já disseram, mesmo que muitos jurem que não querem nada com a política. O magistrado deveria saber que a sua opinião sobre qualquer assunto tem um peso maior que a do cidadão comum e que tudo o que diz pode ser interpretado como uma sentença.
E sentenças não são para se dar fora do tribunal. Pelo menos numa república democrática, jovem ainda, mas com instituições já fortes.
Postado no blog Crônicas do Motta em 01/06/2012
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