Um texto interessante de Matheus Pichonelli, publicado na revista Carta Capital, fala de dois filmes com estéticas cinematográficas próprias, completamente distintos à primeira vista mas que, em sua particularidade, se unem por um tema comum: o doce desespero causado pelo primeiro amor e, ao mesmo tempo, o poder de sedução e destruição que têm algumas mulheres capazes de marcar um homem e mudar sua história.
O primeiro filme de que fala Matheus é Sete Dias com Marilyn, de Simon Curtis. Dispensável falar do que Marilyn desempenhou e ainda desempenha no imaginário masculino. Muito bem comparada pelo autor do texto à personagem Remédios Beundía, de Gabriel Garcia Márquez em Cem Anos de Solidão, que provocava um “insuportável estado de íntima calamidade” à sua passagem, Marilyn também possuía esse dom raro, sendo uma espécie de caminho para a destruição, como escreveu o escritor colombiano. Mas Marilyn, diferentemente de Remédios, era consciente “da aura inquietante em que se movimentava” e tal poder afetava não só os homens ao seu redor, mas ela própria.
Um dos personagens do filme é justamente o terceiro assistente de direção, o inglês Colin (Eddie Redmayne), com quem Marilyn vive breves e intensos dias de amor que marcarão para sempre a sua vida. Colin a conhece de perto, sem maquiagem, e a intimidade faz com seu encanto e fascínio aumentem ainda mais. No entanto, a distância entre a mulher que Marilyn gostaria de ser e aquela que ela foi realmente, a grande atriz do cinema americano é revelada pelo filme e Colin termina condenado apenas às suas lembranças, entregue ao doce desespero renovado a cada vez que tivesse que vê-la de novo.
O outro filme é brasileiro, dono de um título único e belo, que chama a atenção logo de cara. Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, de Beto Brant e Renato Ciasca, é inspirado no romance de mesmo nome de Marçal Aquino, e tem como paisagem o sul do Pará, quente e chuvoso, ao contrário da fria Londres de Marilyn, e a mulher destruidora de agora é a misteriosa Lavínia, interpretada por Camila Pitanga.
Ex-prostituta, esposa de um pastor, Lavínia também protagoniza um caso de amor com Cauby (Gustavo Machado), um fotógrafo que vai à Amazônia “conhecer o seu país mais profundo”. As questões nacionais latentes no sul do Pará, seus conflitos, sua violência, sua fé e suas traições, são marcas externas do filme que ecoam na violência de Lavínia como mulher e na violência do próprio amor.
O grande material dos filmes parece ser o amor, refletido na paisagem brasileira ou arrastando-se desesperado por uma Londres mais “dura”, mas o mesmo amor que, quando provocado por lindos lábios, é sempre uma ferida doce!
Postado no blog Educação Política em 09/05/2012
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