por Paulo Tamburro
A casa é grande.
Fica no subúrbio carioca ,tem jardim,quintal , mangueira,jaqueira ,cachorros, cinco filhos rebeldes e uma turma de vizinhos que à primeira vista se poderia pensar tratar-se de menores infratores, mas que nada, apenas uma horda de meninos e meninas que povoa a casa do casal, mais conhecido na redondeza.
E exatamente, pela imensa casa que habitam, e por permitirem que praticamente a criançada da rua invada seus espaços familiares, transformando aquilo num verdadeiro clube, que eles são muitos queridos por toda a vizinhança.
O casal trabalha fora e as mães dos sócios daquele imenso parque de diversões ajudam a vigiar aquela tribo ensandecida de pirralhos que vivem entrando e saindo dali.
A mãe dos cinco filhos é a médica veterinária Marta Helena e o pai um conceituado advogado da região que já livrou muita gente de incríveis confusões o Dr.Plinio Sapopemba, de uma tradicional família do bairro.
Ela, muito generosa com os animais não admite vê-los sofrendo nas ruas e ganha dinheiro no seu consultório e faz caridade na rua, onde ao passar por um animal carente ,desnutrido e com cara de menor abandonado, leva para casa,alimenta,cuida da saúde deles e os coloca na rua novamente.
Só que a bicharada, que não é boba nem nada, volta sempre para a casa da veterinária,afinal que não gosta de um aconchego?
Então, temos além de uma quantidade enorme de convivas dos filhos deles, ainda muitos outros animais da casa e convidados fortuitos e inesperados.
Uma balburdia!
Dr. Plínio Sapopemba, numa das causas que ganhou e por ter salvado da falência um próspero comerciante local,além dos polpudos honorários recebidos, mereceu a gratidão do cliente que ainda o presenteou com um quadro de um pintor francês do século dezoito, uma verdadeira raridade e de um colorido maravilhoso e por incrível que pareça, sem um único objeto concreto nele pintado, apenas curvas,borrões,manchas e misturas de tintas de uma beleza deslumbrante.
É a atração dos visitantes que ali aportam e admiram o quadro demoradamente, pela sua beleza de formas absolutamente abstratas e por esta razão, exposto a múltiplas interpretações críticas.
Num sábado ensolarado o casal resolveu pegar o carro e sozinhos dedicarem um dia, a si próprios, longe de filhos,vizinhos menores quase infratores,cachorros , gatos, maritacas com seus berros infernais, e outros bichos.
Um dia do casal e somente do casal.
Ao sair no entanto, a mãe veterinária já com os olhinhos marejados de uma saudade inexplicável reuniu a tropa e recomendou;
- Docinhos queridos da mãe, fiquem quietos, não mexam em nada por favor , em nada entenderam? Nada,nada,nada!
Lógico que entenderam tudo!
À noite ao voltarem a casa estava quase destruída , absolutamente desarrumada e até alguns quadros do Dr. Plinio Sapopemba tirados da parede para servirem de telhado para as casinhas dos futuros arquitetos daquela gang dos quase marginais infantis.
Imagens que fariam até o Cristo Redentor,chorar.
Apavorada ela ameaçou simplesmente espancar todo mundo, mas resolver partir para o diálogo:
- O que vocês fizeram aqui nessa casa? Esta tudo bagunçado, quase destruído, parece que passou um tsumani, por aqui ,seus selvagens trogloditas desumanos.
O filho mais velho usando da prerrogativa de líder ,partiu em defesa da gang e falou:
- Mãe fizemos exatamente o que senhora falou- defendeu-se o representante dos anarquistas
- Eu disse para não mexerem em nada e repeti, nada,nada,nada várias vezes, para vocês não esquecerem e olha como esta essa casa.
- Então mãe, foi a senhora mesmo quem disse quando eu lhe perguntei quando o pai ganhou esse quadro o que ele significava e a senhora disse que aquela porcaria não era nada.
Pô mãe, veja bem, nós nem tocamos no quadro.Não seja injusta, não mexemos em nada.Nada está lá direitinho, exatamente como a senhora pediu e só brincamos com o resto. Nem se lembra do que falou, mãe?
Postado no Blog Humor em Textos
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