61% da sociedade espanhola acredita que
o juiz Baltasar Garzón é vítima de perseguição.
Por Redação de El País [10.02.2012 15h02]
Tradução de Idelber Avelar
Várias centenas de pessoas se convocaram de forma improvisada na
Puerta del Sol para protestar
contra a expulsão de Baltasar Garzón da carreira judicial. Entre acusações
bem duras contra os juízes da Suprema Corte, o grito mais repetido pelos
manifestantes foi o de “vergonha”. No protesto, estavam representadas várias
associações de vítimas do franquismo. Na verdade, ao estilo das mães da Praça
de Maio que davam várias voltas em torno a um monólito todas as quintas-feiras
durante a ditadura argentina, vários grupos de pessoas, com cartazes reclamando
justiça e fotos de algumas vítimas da repressão franquista, davam voltas à
estátua de Carlos III no centro da Puerta del Sol.
A
indignação contra os juízes do Supremo foi
crescendo na medida em que mais gente ia se concentrando na praça. Os oradores
vincularam, a todo momento, o caso das escutas de Gurtel com a investigação da
repressão franquista. “Provoca indignação que um juiz que destapa o caso seja,
pelo menos até agora, o único condenado por Gurtel. Parece que neste Judiciário
os juízes independentes que queiram acabar com a corrupção incomodam”, apontava
um dos oradores, membro da Plataforma contra a impunidade.
“Chega de máfia judicial”, gritava o público. “Depuração dos
juízes franquistas” ou “fora franquistas do Tribunal Supremo”. “Temos memória,
queremos justiça”. Os cartazes levados por muitos dos manifestantes também iam
na mesma linha: “Espanha ao revés, corruptos e fascistas julgam o juiz”.
“Escondem seus crimes botando Garzón pra fora”.
A
condenação a 11 anos de inabilitação ao
juiz Baltasar Garzón por parte do Tribunal Supremo não é
compartilhada nem compreendida por parte de uma ampla maioria da sociedade
espanhola. A decisão do Supremo, que implica a expulsão do magistrado da
carreira judicial, não foi recebida como um veredito justo, e sim como a
culminação de uma perseguição contra ele. Uma pesquisa de urgência da Metroscopia, realizada nesta
quinta-feira para El País, constata que só 36% considera que havia motivos
suficientes para julgá-lo, enquanto que 61% afirma que Garzón “está sendo
objeto de uma perseguição”.
Ante a sentença que o considera prevaricador por autorizar
gravações das conversas na prisão dos indiciados da trama Gurtel com seus
advogados, 65% dos pesquisados opina que um juiz deve poder interceptar estas
conversas se considera que o que dizem extrapola o estrito direito à defesa. A
tese contrária é compartilhada por 30%.
A decisão tomada pelo Supremo é só a primeira das três que
recairão sobre o ex-magistrado, processado também porinvestigar os crimes do
franquismo e por supostos
pagamentos irregulares recebidos por cursos em Nova York. Uma enorme
maioria (77%) afirma que não pode ser considerado um delito interrogar
judicialmente os crimes cometidos pelo lado franquista na Guerra Civil. Só 18%
dos consultados aponta que Garzón deve ser condenado.
Os processos abertos contra o juiz pelas escutas de Gurtel, os
crimes franquistas e as supostas cobranças irregulares danificaram muito a
opinião dos cidadãos sobre a justiça espanhola em geral – para 65%, ela piorou
– e sobre o Supremo em particular – 62% tem agora uma opinião pior sobre ele.
Postado no Blog Revista Fórum em 10/02/2012
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