Inimigas da fé
A dúvida, a desconfiança, a angústia e a desesperança são as grandes inimigas da fé, este sentimento de crença total, sem limites ou explicação. Todos, em algum momento, tivemos fé em alguém ou ainda temos. Esse não é um sentimento exclusivo de místicos e religiosos. Acreditamos profundamente em pais, professores, amigos, amores e outros tantos que se transformam em nossos ídolos.
Quantas vezes aceitamos sem questionar mentiras, desculpas bobas e até traições, porque temos fé em que as pratica? Mas, quando os bichinhos da dúvida e da desconfiança se instalam em nossas mentes, a fé começa a morrer. A morte vem com a angústia e a desesperança. Reconheçamos: é triste quando isso acontece. Ainda crianças, choramos ao descobrir que o Papai Noel e o coelhinho da Páscoa não existem e não podem resolver os nossos problemas. E tínhamos tanta fé neles!
Na adolescência, o pior de tudo é não acreditar mais de olhos fechados no nosso primeiro amor. É terrível descobrir que ele não é tudo aquilo que idealizamos. Põe desilusão nisso! Que desesperança! O futuro se transforma num túnel sem luz. Pior ainda é deixar de ter fé num amigo. Descobrir que fomos apunhalados pelas costas. Aí chegamos ao inferno.
A fé, no entanto, se renova. Aos poucos, vai sendo depositada em outras pessoas, outros sonhos, outras realizações. Há muito tempo, tive um belo papo com um padre mexicano, que lecionava num seminário de Cuba. Ele havia conseguido uma licença especial do governo cubano para visitar sua mãe doente, na Cidade do México. Nos encontramos no aeroporto de Havana. E seguimos a conversa durante o voo. Chegou um momento em que ele, triste pela situação da mãe, me disse:
– Uma vez perdi a fé.
Para ele, perder a fé era realmente assustador. Representava não acreditar mais em Deus. Eu não disse nada. Apenas ouvia seu desabafo.
– Fui falar com meu superior. Queria deixar o sacerdócio. Ele me disse: “Fica aí. Vai levando a vida, fazendo o teu trabalho. Não fala nada para ninguém. E não te preocupa com isso. Todos passamos por esse momento”.
Foi o que o mexicano fez. No melhor estilo Zeca Pagodinho, deixou se levar pela vida. Pessoa alegre, bem falante, até mesmo um pouco espalhafatoso, ele seguiu com seu trabalho, conversando com quem passava pela sua frente, sem, no entanto, assumir a perda da fé.
– Um dia – disse o padre – me dei conta que a fé estava naquilo que eu fazia, nas pessoas com quem me relacionava, na alegria das crianças, na natureza.
É isso aí. Mesmo ateus e agnósticos podem ter fé. Ela é a prova de que não apenas estamos vivos, mas também sabemos viver, desfrutar de tudo o que compõe o nosso mundo.
Postado por Núbia Silveira no Blog Sul21 em 10/01/2012
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